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Capítulo 3 - Apresentação Henrique.

Dr. Henrique

Meu nome é Henrique Duarte, tenho 38 anos, e sou oncologista. Para muitos, minha profissão parece ser um trabalho pesado demais, cheio de histórias tristes e desafios que testam os limites emocionais de qualquer um. Mas, para mim, ser oncologista nunca foi apenas uma escolha profissional. Foi uma promessa. Uma forma de transformar minha dor em algo maior, em algo que pudesse fazer diferença.

Quando entrei na faculdade de medicina, como muitos jovens, eu queria salvar vidas. Mas a verdade é que ainda não sabia como faria isso. Não sabia que minha especialidade seria escolhida no momento mais doloroso da minha vida. Gabriela, minha esposa, era o meu mundo. Minha companheira, meu equilíbrio, meu futuro. Quando ela foi diagnosticada com câncer de pâncreas em estágio avançado, tudo que eu conhecia como certo desmoronou.

Eu tinha apenas 27 anos. Estava cheio de sonhos e planos ao lado dela. Mas, de repente, nossa vida foi tomada por exames, consultas e tratamentos. Foi uma guerra, mas uma guerra desigual. O câncer levou tudo, e eu me senti impotente. Gabriela lutou com uma coragem que eu nunca tinha visto, mas, no fim, não houve remédio ou cirurgia que pudesse salvá-la.

Ela faleceu nos meus braços, e naquele momento fiz uma promessa a ela e a mim mesmo: dedicaria minha vida a ajudar outras pessoas a enfrentar essa doença. Eu sabia que não poderia mudar o que aconteceu com Gabriela, mas talvez pudesse evitar que outras famílias passassem pela mesma dor.

Escolhi a oncologia com o coração pesado, mas determinado. Eu sabia que seria difícil, mas, ao mesmo tempo, sabia que cada vitória, por menor que fosse, valeria a pena. E elas valem. Não há sensação melhor do que ver um paciente superar o câncer. É como vencer uma guerra ao lado dele. Porque é isso que o câncer é: uma guerra silenciosa, cruel, onde o inimigo é o próprio corpo da pessoa.

Depois que Gabriela se foi, minha vida mudou completamente. Eu mergulhei na profissão, me afastei de tudo que não fosse o trabalho. Tive alguns relacionamentos, é claro. Mas nunca permiti que eles se aprofundassem. Era mais fácil assim. Eu dizia a mim mesmo que era por causa do trabalho, que minha rotina não permitia. Mas, no fundo, eu sabia que era mais do que isso. Era medo. Medo de perder outra pessoa, medo de me abrir e reviver aquela dor.

Hoje, sentado no meu consultório, penso em tudo isso enquanto analiso os exames de Mariana. Ela entrou aqui algumas horas atrás, trazendo consigo uma presença que era impossível ignorar. Quando a vi pela primeira vez, pensei que talvez ela fosse apenas mais uma paciente. Mas agora, não consigo tirá-la da cabeça.

Mariana é jovem, muito jovem, e carrega uma beleza natural que chama atenção sem esforço. Mas não foi isso que me marcou. Foi o jeito como ela falou sobre a filha. Isabela. Apenas quatro meses de vida.

É impossível não pensar em como é cruel que alguém tão jovem, com tanto pela frente, esteja enfrentando um diagnóstico tão devastador. Um câncer terminal. É o que os exames dizem. Mas algo dentro de mim se recusa a aceitar isso como verdade absoluta.

Olho para os resultados mais uma vez. Há algo neles que me incomoda. Talvez seja instinto, ou talvez seja minha vontade de dar a Mariana um pouco de esperança. Antes de iniciar qualquer tratamento ou planejar os próximos passos, decido que vamos refazer tudo. Todos os exames. Quero ter certeza absoluta de que estamos lidando com o diagnóstico certo.

Enquanto organizo os pedidos de novos exames, me pego pensando em Mariana de novo. No olhar dela, que misturava medo e coragem. No tom de voz que ela usou ao falar sobre Isabela, como se a filha fosse a única coisa que a mantinha de pé.

É estranho. Em tantos anos de profissão, conheci centenas de pacientes. Alguns me marcaram, é verdade. Mas Mariana… Mariana já é diferente. Talvez seja porque ela me lembra Gabriela. Talvez seja porque, ao ouvir sobre Isabela, me peguei imaginando como seria ter uma filha.

Eu não tenho filhos. Nunca quis. Depois da morte de Gabriela, nunca mais me permiti pensar nisso. Mas, vendo Mariana lutar por tempo, por mais momentos ao lado da filha, percebo o quanto isso deve ser importante.

Respiro fundo e termino de organizar os pedidos. Quando olho para o relógio, percebo que já passou da hora de encerrar meu expediente. Mas isso não importa. Não para mim. Nunca importou.

Levanto-me da cadeira, pego os exames de Mariana e os guardo com cuidado. Amanhã, começaremos do zero. Quero oferecer a ela não só um tratamento, mas a esperança de que ainda há algo que pode ser feito.

E, enquanto apago as luzes do consultório, não consigo evitar um pensamento que surge, inesperado, mas persistente: “Será que vou conseguir ajudar Mariana? Será que posso fazer diferença na vida dela?”

Eu não sei a resposta. Mas, por ela, por Isabela, e por tudo o que prometi a Gabriela, estou disposto a tentar.

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