Leonardo Chegamos ao hotel em completo silêncio. Clara não disse uma palavra no caminho, mas eu sabia que ela estava fervendo por dentro. O jeito como ela respirava fundo e mantinha o olhar fixo na estrada denunciava sua fúria. Assim que entramos no quarto, ela jogou a bolsa no sofá e começou a andar de um lado para o outro, visivelmente abalada. De repente, Clara soltou um grito e deu um soco na parede. — Aquela desgraçada! Como ela tem coragem de rir na minha cara? Ela passou as mãos pelo cabelo, tentando controlar o choro, mas as lágrimas desceram mesmo assim. — Ela disse que eu nunca vou ser mãe. Que Deus tirou isso de mim porque sou uma pessoa miserável. Suspirei e esfreguei o rosto. Eu já sabia que esse momento ia chegar. Clara não lidava bem com rejeição, e ouvir algo assim da Mariana foi como jogar gasolina em um incêndio. — Clara, você precisa parar com isso. — Falei, m
LEONARDO O silêncio do hotel era cortado apenas pelo som do relógio na parede. Tic-tac. Tic-tac. Como se estivesse contando o tempo que eu tinha antes de tudo desmoronar de vez. Eu sabia que Clara era instável, sabia que ela não desistiria dessa briga, mas agora... agora as coisas estavam saindo completamente do controle. Eu olhava para a porta do quarto, esperando que ela voltasse, ela saiu com raiva.Uma parte de mim sabia que, quando Clara decidia algo, nada a fazia mudar de ideia. E isso me preocupava. O telefone vibrou na minha mão. Dr. Marcelo. — Leonardo, precisamos conversar. — Fala. — A Mariana já entrou com um pedido de liminar para garantir a guarda de Isabela enquanto o exame não sai. Me levantei num pulo. — O quê? — Ela não quer correr riscos. Se conseguir essa liminar, qualquer tentativa nossa de reverter depois será um inferno. Passei a mão no rosto, sentindo o suor se formar na testa. Isso estava indo rápido demais. Eu precisava ganhar tempo. — Dá pra impedir
Leonardo O sangue fervia nas minhas veias. Eu mal conseguia enxergar direito de tanta raiva. Quando eu cheguei ao hospital, a imagem da Clara chorando me voltava à cabeça. As palavras da Mariana também. A arrogância dela. A maneira como ela riu de mim e da Clara, como se ela tivesse vencido. E agora isso. Descobrir que esse médico, esse tal de Henrique, esse cara que aparece como o bonzinho da história, está por trás de tudo. Ele está manipulando tudo. Se metendo onde não foi chamado. Eu só precisava de um minuto. Só um. Entrei no hospital determinado. As pessoas me olhavam enquanto eu passava pelos corredores, mas eu não ligava. Não estava ali pra agradar ninguém. Eu queria uma conversa direta com esse sujeito. Nada de conversa fiada. Vi ele saindo de uma das salas, de jaleco, cumprimentando uma paciente. A calma no rosto dele me deu mais raiva ainda. Ele me viu e deu um passo pra trás, talvez percebendo a tensão no meu rosto. Eu fui direto. Sem pensar, sem avisar, sem medir, a
HenriqueA mão ainda doía. O gosto amargo da raiva e da frustração não passava, mesmo depois de lavar o rosto três vezes na pia do consultório. Eu olhava o próprio reflexo no espelho do banheiro do hospital e sentia um nó na garganta. Leonardo tinha passado de todos os limites. Invadir meu local de trabalho, me agredir fisicamente, me expor na frente de pacientes, colegas… aquilo não era só absurdo, era criminoso.Respirei fundo, tentando manter a calma, mas a verdade é que eu nunca me senti tão desrespeitado em toda a minha vida profissional. Ele veio com tudo, sem dar tempo para eu entender o que estava acontecendo. Aquele soco não foi só contra mim. Foi contra Mariana, contra Isabela, contra tudo que estamos construindo juntos.Saí do hospital com o apoio da segurança, que ainda estava em estado de alerta. Todos ficaram em choque. Alguns pacientes até começaram a chorar. Uma confusão completa. Fui direto para a delegacia, ainda com a ficha meio bagunçada. No caminho, liguei para Ma
HenriqueEu entrei em casa sentindo a tensão ainda correndo pelas veias, os nós nos ombros denunciando o peso do que havia acontecido naquele dia. O silêncio confortável da nossa casa contrastava com o caos que tinha vivido horas atrás. Eu só queria abraçar a Mariana, sentir Isabela nos meus braços e lembrar a mim mesmo que tudo isso tinha um propósito: protegê-las.Mariana estava sentada no sofá da sala com Isabela no colo, ninando ela com suavidade. Quando me viu, seu olhar se encheu de preocupação.— Amor… — ela se levantou devagar, ajeitando a pequena nos braços. — O que aconteceu? Você tá estranho… aconteceu alguma coisa?Suspirei fundo, tirei o paletó e joguei no encosto do sofá. Me aproximei, beijei a testa da minha filha, e depois olhei para Mariana com o semblante sério.— Aconteceu. E foi sério.Ela franziu o cenho, sentando-se novamente com Isabela no colo.— Fala logo, Henrique. Você tá me assustando.— O Leonardo foi até o hospital.— O quê? — Ela arregalou os olhos. — O
LeonardoEu ainda sentia a mão latejando do soco que dei naquele desgraçado. Não me arrependia. Aliás, já devia ter feito isso antes. Só que agora a merda estava feita — e a consequência veio mais rápido do que eu esperava.O celular tocou pela terceira vez em menos de meia hora. Era o Marcelo de novo. Respirei fundo antes de atender. Já sabia que vinha bronca.— Leonardo, pelo amor de Deus, você tá maluco?A voz dele ecoou pelo viva-voz do carro enquanto eu dirigia pelas ruas da cidade. Clara estava no banco do passageiro, muda, com o olhar fixo na janela.— Você foi até o hospital agredir o Henrique? — ele esbravejou. — Você perdeu o juízo?— Ele bateu na minha mulher! — rebati, segurando o volante com mais força.— E você devia ter ido na delegacia registrar uma queixa, não ir lá dar um soco no meio de um ambiente cheio de paciente e câmera de segurança! — a voz dele estava carregada de indignação.— Eu perdi a cabeça.— Pois é. E agora vai perder mais do que isso. — ele suspirou a
ClaraO silêncio no carro era ensurdecedor, e mesmo depois de chegar no hotel, aquele peso no meu peito não aliviava. Leonardo trancado no quarto, provavelmente remoendo a própria impulsividade. E eu… sentada na beirada da cama, com a cabeça entre as mãos, tentando encontrar um plano. Um maldito plano que salvasse tudo isso.Eu jurei que conseguiríamos. Que tomaríamos a Isabela daquela mulher e colocaríamos ela nos nossos braços como deveria ter sido desde o início. Mas a verdade é que, a cada novo passo, a gente cavava mais fundo o próprio buraco.Peguei o celular, desbloqueei com a digital tremendo, e abri o Instagram — não sei por quê. Talvez pra tentar fugir da confusão dentro da minha cabeça. Talvez pra fingir que a vida dos outros podia me distrair da minha. Mas bastou abrir o aplicativo e lá estava.A notificação piscando em vermelho."VOCÊ FOI MARCADA EM UM VÍDEO"Meu coração parou. E quando cliquei no link, veio o soco no estômago. Literalmente.O vídeo mostrava Leonardo no h
HenriqueUm mês depoisO som dos talheres batendo nos pratos, as risadas misturadas às vozes animadas da minha família… tudo parecia em perfeita harmonia naquela tarde de domingo. Estávamos na casa da minha mãe, celebrando o simples fato de estarmos juntos. A mesa estava farta, cheia de pratos que ela fazia questão de cozinhar quando sabia que todos estariam presentes.Mariana estava sentada ao meu lado, mas eu já vinha percebendo, há alguns minutos, que ela não estava bem. Ela sorria, mas havia um brilho estranho nos olhos dela. Um cansaço que não condizia com a tranquilidade da tarde. A mão dela repousava na minha coxa, como se buscasse firmeza.— Tá tudo bem? — sussurrei, me inclinando até o ouvido dela.Ela apenas assentiu com a cabeça, forçando um sorriso.Foi no momento em que meu irmão falava alguma besteira sobre casamento que tudo aconteceu. Do nada, senti a mão dela escorregar da minha perna. Quando olhei, ela já e