Leonardo O sangue fervia nas minhas veias. Eu mal conseguia enxergar direito de tanta raiva. Quando eu cheguei ao hospital, a imagem da Clara chorando me voltava à cabeça. As palavras da Mariana também. A arrogância dela. A maneira como ela riu de mim e da Clara, como se ela tivesse vencido. E agora isso. Descobrir que esse médico, esse tal de Henrique, esse cara que aparece como o bonzinho da história, está por trás de tudo. Ele está manipulando tudo. Se metendo onde não foi chamado. Eu só precisava de um minuto. Só um. Entrei no hospital determinado. As pessoas me olhavam enquanto eu passava pelos corredores, mas eu não ligava. Não estava ali pra agradar ninguém. Eu queria uma conversa direta com esse sujeito. Nada de conversa fiada. Vi ele saindo de uma das salas, de jaleco, cumprimentando uma paciente. A calma no rosto dele me deu mais raiva ainda. Ele me viu e deu um passo pra trás, talvez percebendo a tensão no meu rosto. Eu fui direto. Sem pensar, sem avisar, sem medir, a
HenriqueA mão ainda doía. O gosto amargo da raiva e da frustração não passava, mesmo depois de lavar o rosto três vezes na pia do consultório. Eu olhava o próprio reflexo no espelho do banheiro do hospital e sentia um nó na garganta. Leonardo tinha passado de todos os limites. Invadir meu local de trabalho, me agredir fisicamente, me expor na frente de pacientes, colegas… aquilo não era só absurdo, era criminoso.Respirei fundo, tentando manter a calma, mas a verdade é que eu nunca me senti tão desrespeitado em toda a minha vida profissional. Ele veio com tudo, sem dar tempo para eu entender o que estava acontecendo. Aquele soco não foi só contra mim. Foi contra Mariana, contra Isabela, contra tudo que estamos construindo juntos.Saí do hospital com o apoio da segurança, que ainda estava em estado de alerta. Todos ficaram em choque. Alguns pacientes até começaram a chorar. Uma confusão completa. Fui direto para a delegacia, ainda com a ficha meio bagunçada. No caminho, liguei para Ma
HenriqueEu entrei em casa sentindo a tensão ainda correndo pelas veias, os nós nos ombros denunciando o peso do que havia acontecido naquele dia. O silêncio confortável da nossa casa contrastava com o caos que tinha vivido horas atrás. Eu só queria abraçar a Mariana, sentir Isabela nos meus braços e lembrar a mim mesmo que tudo isso tinha um propósito: protegê-las.Mariana estava sentada no sofá da sala com Isabela no colo, ninando ela com suavidade. Quando me viu, seu olhar se encheu de preocupação.— Amor… — ela se levantou devagar, ajeitando a pequena nos braços. — O que aconteceu? Você tá estranho… aconteceu alguma coisa?Suspirei fundo, tirei o paletó e joguei no encosto do sofá. Me aproximei, beijei a testa da minha filha, e depois olhei para Mariana com o semblante sério.— Aconteceu. E foi sério.Ela franziu o cenho, sentando-se novamente com Isabela no colo.— Fala logo, Henrique. Você tá me assustando.— O Leonardo foi até o hospital.— O quê? — Ela arregalou os olhos. — O
LeonardoEu ainda sentia a mão latejando do soco que dei naquele desgraçado. Não me arrependia. Aliás, já devia ter feito isso antes. Só que agora a merda estava feita — e a consequência veio mais rápido do que eu esperava.O celular tocou pela terceira vez em menos de meia hora. Era o Marcelo de novo. Respirei fundo antes de atender. Já sabia que vinha bronca.— Leonardo, pelo amor de Deus, você tá maluco?A voz dele ecoou pelo viva-voz do carro enquanto eu dirigia pelas ruas da cidade. Clara estava no banco do passageiro, muda, com o olhar fixo na janela.— Você foi até o hospital agredir o Henrique? — ele esbravejou. — Você perdeu o juízo?— Ele bateu na minha mulher! — rebati, segurando o volante com mais força.— E você devia ter ido na delegacia registrar uma queixa, não ir lá dar um soco no meio de um ambiente cheio de paciente e câmera de segurança! — a voz dele estava carregada de indignação.— Eu perdi a cabeça.— Pois é. E agora vai perder mais do que isso. — ele suspirou a
ClaraO silêncio no carro era ensurdecedor, e mesmo depois de chegar no hotel, aquele peso no meu peito não aliviava. Leonardo trancado no quarto, provavelmente remoendo a própria impulsividade. E eu… sentada na beirada da cama, com a cabeça entre as mãos, tentando encontrar um plano. Um maldito plano que salvasse tudo isso.Eu jurei que conseguiríamos. Que tomaríamos a Isabela daquela mulher e colocaríamos ela nos nossos braços como deveria ter sido desde o início. Mas a verdade é que, a cada novo passo, a gente cavava mais fundo o próprio buraco.Peguei o celular, desbloqueei com a digital tremendo, e abri o Instagram — não sei por quê. Talvez pra tentar fugir da confusão dentro da minha cabeça. Talvez pra fingir que a vida dos outros podia me distrair da minha. Mas bastou abrir o aplicativo e lá estava.A notificação piscando em vermelho."VOCÊ FOI MARCADA EM UM VÍDEO"Meu coração parou. E quando cliquei no link, veio o soco no estômago. Literalmente.O vídeo mostrava Leonardo no h
HenriqueUm mês depoisO som dos talheres batendo nos pratos, as risadas misturadas às vozes animadas da minha família… tudo parecia em perfeita harmonia naquela tarde de domingo. Estávamos na casa da minha mãe, celebrando o simples fato de estarmos juntos. A mesa estava farta, cheia de pratos que ela fazia questão de cozinhar quando sabia que todos estariam presentes.Mariana estava sentada ao meu lado, mas eu já vinha percebendo, há alguns minutos, que ela não estava bem. Ela sorria, mas havia um brilho estranho nos olhos dela. Um cansaço que não condizia com a tranquilidade da tarde. A mão dela repousava na minha coxa, como se buscasse firmeza.— Tá tudo bem? — sussurrei, me inclinando até o ouvido dela.Ela apenas assentiu com a cabeça, forçando um sorriso.Foi no momento em que meu irmão falava alguma besteira sobre casamento que tudo aconteceu. Do nada, senti a mão dela escorregar da minha perna. Quando olhei, ela já e
Mariana Eu sempre soube que minha vida não seria fácil, mas ser mãe solteira aos 22 anos me trouxe uma realidade que eu nunca imaginei. Minha filha, Isabela, nasceu há quatro meses e trouxe uma alegria imensa para o meu coração, mas também trouxe muitas dificuldades. Eu sabia que ser mãe jovem, sem um parceiro ao meu lado, não seria fácil, mas a felicidade que Isabela me dava fazia tudo valer a pena. Eu me levantava todos os dias com um sorriso no rosto, por ela. Ela era a razão da minha existência agora, a razão pela qual eu lutava todos os dias. Naquela manhã, no entanto, algo estava diferente. Eu estava cansada, exausta, e o corpo não parecia responder como antes. Eu sentia uma dor estranha, uma pressão no peito que me fazia parar de vez em quando, como se estivesse tendo dificuldades para respirar. Mas, claro, como mãe, eu apenas empurrei para o fundo da minha mente e continuei com minha rotina. Isabela não iria esperar, ela precisava de mim. Mas o cansaço não passava. A do
Mariana O som suave da respiração de Isabela preenchia o quarto naquela manhã. Ela dormia em meu colo, com os bracinhos jogados para o lado e a boquinha ligeiramente aberta. Fiquei observando cada detalhe dela: os cílios pequenos, as bochechas rosadas e os dedos minúsculos que se moviam como se estivessem sonhando. Uma mistura de amor e angústia dominava meu coração. Eu a segurei com cuidado, tentando não acordá-la, mas precisava me levantar. A consulta no centro oncológico seria hoje. Era um passo difícil, mas eu sabia que precisava de ajuda para enfrentar o que vinha pela frente. — Meu amor, a mamãe vai cuidar de você... sempre que puder. — Sussurrei, beijando sua testa delicadamente. A pequena se mexeu, abrindo os olhos e olhando para mim com aquele brilho inocente que iluminava os cantos mais escuros da minha alma. Ela sorriu e estendeu a mãozinha, tocando meu rosto. — Você nem sabe o quanto me dá força, Isa. — Sorri, tentando disfarçar a dor que carregava. Depois de