Leonardo Eu entrei no quarto com o coração apertado, sabendo que a conversa com Clara não seria fácil. Ela estava organizando algumas roupas no armário, mas, assim que me viu, sua expressão mudou. Eu já sabia o que vinha a seguir. — O que foi agora, Leonardo? — ela perguntou, sem nem me dar tempo de falar. — Você está com essa cara de quem vai dizer alguma coisa que eu não vou gostar. Respirei fundo antes de começar. — Amanhã eu vou viajar — disse, tentando manter a voz calma. Ela parou o que estava fazendo e me olhou fixamente, cruzando os braços. — Viajar? Pra onde? — Pra cidade da Mariana. O silêncio que veio depois foi quase insuportável. — E por que você precisa ir até lá? — ela perguntou, cada palavra carregada de desconfiança. — Porque eu preciso falar com ela pessoalmente — respondi, tentando me manter firme. — Quero resolver isso do jeito certo. — Resolver o quê, Leonardo? Já sabemos que ela está doente. Ela não tem condições de cuidar de uma criança. Por que você
Mariana Era uma daquelas manhãs frescas que pareciam convidar a gente a sair de casa. Depois de dias tão pesados, com consultas e exames, eu decidi que Isabela merecia um pouco de ar fresco. Preparei o carrinho dela, peguei a bolsa com as coisas que sempre levo e saímos para o parque. A caminhada foi tranquila. O parque estava calmo, com poucas pessoas aproveitando o início do dia. Algumas mães estavam sentadas em bancos, conversando, enquanto os filhos brincavam próximos a elas. Outros caminhavam ou corriam ao redor da pista. Havia algo de pacífico ali, algo que me fez respirar mais fundo e sentir um pouco de alívio. Empurrando o carrinho, observei Isabela mexendo as mãozinhas e sorrindo para o céu, completamente entretida com as folhas que balançavam acima. — Você gosta disso, não é? — perguntei, ajeitando a mantinha dela. E então eu o vi. Não era difícil reconhecer o Dr. Henrique, mesmo sem o jaleco. Ele estava correndo pela pista, os passos firmes e cadenciados, vestindo roup
Henrique No hospital, a ideia de visitar Mariana e Isabela não saía da minha cabeça. Peguei o celular e mandei uma mensagem para Luiza, a recepcionista: — Oi, Luiza. Tudo bem? Preciso de um favor. Consegue me passar o endereço da paciente Mariana Nunes? Poucos minutos depois, ela respondeu com o endereço. Respirei fundo. Não queria parecer invasivo, mas sentia que precisava fazer algo por elas. Saí mais cedo e, antes de ir para o apartamento, fiz algumas paradas. Primeiro, entrei em uma loja de brinquedos. Depois de andar pelos corredores, escolhi um mordedor colorido, com formato divertido, ideal para bebês como Isabela. De lá, segui para uma floricultura. Escolhi um buquê simples, mas elegante, com lírios e rosas brancas. Pensei em como flores sempre trazem um toque de leveza e alegria a qualquer ambiente.
MarianaEu estava tão nervosa enquanto arrumava tudo na cozinha. O jantar com Henrique tinha sido um turbilhão de emoções, e agora, estava ali, esperando a Karina chegar. O pensamento de contar a ela o que aconteceu naquela noite me fazia apertar o estômago de ansiedade, mas ao mesmo tempo, sabia que não havia outra pessoa a quem eu pudesse confiar mais. Karina era a minha amiga, e sempre soube exatamente o que dizer.A campainha tocou e eu pulei da cadeira. Abri a porta, e lá estava ela, com aquele sorriso curioso e os olhos brilhando, esperando ouvir cada detalhe.— Como foi? – ela perguntou assim que entrou, sem rodeios, mas com aquele olhar que só ela sabia dar, como se soubesse que havia algo a mais na história.Eu a conduzi até a sala e me sentei no sofá, cruzando as pernas, tentando controlar a ansiedade. Respirei fundo, e então, comecei.— Karina... Foi tudo muito... intenso, sabe? Não sei nem como começar.Karina sentou
Leonardo Cheguei ao bairro dela com o coração batendo mais forte do que eu esperava. Era um lugar simples, um contraste enorme com o mundo que eu conhecia, mas ao mesmo tempo tinha uma sensação de acolhimento no ar. As ruas estreitas, as casas modestas, tudo parecia ter uma história, mas nenhuma delas era a minha. O prédio onde ela morava era pequeno, de fachada simples e portão de ferro, como tantos outros por ali. Quando bati na porta, o som ecoou no corredor, e minha mente ficou a mil. Não sabia o que ela ia dizer ou fazer. O passado pesava sobre nós, e eu não tinha certeza de como seria recebido. Mas a única coisa que eu sabia era que precisava estar lá, precisava vê-la, e principalmente, ver minha filha. Quando a porta se abriu, meu estômago deu um nó. Mariana estava ali, com aquele olhar que me confundia, mas o que me pegou de surpresa foi a presença de um homem ao lado dela. Ele estava com Isabela nos braços, minha filha, e aquilo me paralisou por um segundo. O homem olhou
Leonardo Estava sentado no banco do carro, o celular na mão e a cabeça a mil por hora. A visita à casa de Mariana não tinha saído como eu esperava. Ela me afastou com um simples gesto de repulsa, e o que vi dentro daquele apartamento só fez a raiva crescer. Mariana estava com um homem – não apenas qualquer um, mas um tipo de homem que parecia importante. Ele estava com minha filha no colo, e Isabela, que até então eu acreditava que nunca teria uma ligação com outro homem, parecia confortável com ele, sorrindo, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Eu tentei me controlar, mas a impotência tomava conta de mim. Mariana me afastado. E esse homem – quem era ele? Karina não mencionou ninguém, e agora ali estava ele, com minha filha, compartilhando momentos que eu deveria estar vivendo. A sensação de traição me corroeu por dentro, mas eu sabia que não podia agir por impulso. A situação não era simples, e por mais que eu quisesse, não seria fácil afastar Isabela de Mariana. Resp
MarianaDepois que Leonardo foi embora, fechei a porta devagar, tentando acalmar meu coração que parecia querer sair do peito. Apoiei as costas na madeira fria, olhando para o teto enquanto sentia as lágrimas ameaçando cair. A presença dele ainda pairava no ambiente, como um peso que eu não conseguia ignorar. Mesmo após todos esses anos, a chegada de Leonardo conseguia virar meu mundo de cabeça para baixo em poucos minutos.Levantei o rosto e passei a mão pelos olhos antes que as lágrimas caíssem. Não podia me permitir fraquejar, não agora. Caminhei até a sala, onde Henrique estava sentado com Isabela no colo. A pequena parecia totalmente alheia ao que acabara de acontecer, brincando com o ursinho de pelúcia que ele havia lhe dado. Henrique levantou os olhos para mim assim que entrei.— Ele foi embora? — perguntou, baixinho, como quem não queria invadir meu espaço.— Foi. — Cruzei os braços e suspirei, tentando organizar os pensamentos. — Mas deixou claro que vai voltar.Henrique não
Clara Fechei a mala com força, como se cada zíper carregasse toda a minha frustração. Eu já sabia que ia acabar assim. Não deveria ter esperado tanto para agir. Leonardo nunca foi capaz de lidar com situações difíceis. Desde o momento em que ele me ligou dizendo que Mariana não deixou ele ver Isabela, ficou claro que ele não conseguiria resolver nada sozinho. Eu não posso ficar parada enquanto minha filha está lá, vivendo uma mentira. Peguei minha bolsa e os documentos. Não precisava de mais nada. Liguei para um táxi e desci as escadas com passos firmes. Não sentia medo ou hesitação, apenas uma raiva surda, misturada com a necessidade urgente de colocar um fim em tudo aquilo. O caminho até o aeroporto foi rápido, mas na minha cabeça cada minuto parecia uma eternidade. Meu único pensamento era Isabela. Quanto mais tempo eu perco esperando Leonardo agir, mais Mariana a prende em uma realidade que não é dela. Ela é minha filha