Clara
Fechei a mala com força, como se cada zíper carregasse toda a minha frustração. Eu já sabia que ia acabar assim. Não deveria ter esperado tanto para agir. Leonardo nunca foi capaz de lidar com situações difíceis. Desde o momento em que ele me ligou dizendo que Mariana não deixou ele ver Isabela, ficou claro que ele não conseguiria resolver nada sozinho. Eu não posso ficar parada enquanto minha filha está lá, vivendo uma mentira. Peguei minha bolsa e os documentos. Não precisava de mais nada. Liguei para um táxi e desci as escadas com passos firmes. Não sentia medo ou hesitação, apenas uma raiva surda, misturada com a necessidade urgente de colocar um fim em tudo aquilo. O caminho até o aeroporto foi rápido, mas na minha cabeça cada minuto parecia uma eternidade. Meu único pensamento era Isabela. Quanto mais tempo eu perco esperando Leonardo agir, mais Mariana a prende em uma realidade que não é dela. Ela é minha filhaA manhã começou movimentada para Clara. Após a chegada na cidade no dia anterior, ela sabia que o próximo passo seria agir de forma prática. Não era mais uma questão de ressentimentos ou mágoas – isso já havia ficado para trás quando Leonardo confessara tudo. Agora, tratava-se de garantir que Isabela tivesse um futuro estável, seguro e digno.Leonardo acreditava que poderia convencer Mariana a ceder a guarda de maneira amigável, mas Clara não compartilhava desse otimismo. A situação de Mariana era frágil, sim, mas Clara sabia que nem sempre isso seria suficiente para convencer alguém a abrir mão do próprio filho. Ela queria agir rápido e garantir que Isabela fosse protegida antes que qualquer complicação tornasse o processo ainda mais difícil.Após tomar um café rápido, Clara fez algumas ligações e marcou um horário com um dos advogados mais renomados da cidade. Vestiu-se com cuidado – um tailleur elegante que transmitia confiança e determinação – e saiu
O dia estava quase no fim quando Clara voltou para o hotel. Ela havia passado algumas horas com o advogado, recolhendo as informações necessárias para dar o próximo passo em sua estratégia. A mente dela estava ocupada, as decisões já tomadas, e a frustração crescendo com a lentidão das coisas.Ao entrar no saguão do hotel, viu Leonardo sentado no sofá do lobby, com o celular na mão. Quando ele a viu, levantou-se rapidamente, a expressão preocupada. Ela sentiu um frio na espinha, mas não era o tipo de preocupação que ela queria ver nele.— Onde você estava? — ele perguntou, a voz carregada de uma mistura de dúvida e preocupação.Clara respirou fundo, já cansada daquela conversa, e se dirigiu ao elevador, sem olhar para trás. Ele a seguiu, sem perder a oportunidade de perguntar novamente.— Clara, por que sumiu? O que você foi fazer?Ela parou na porta do elevador e virou para ele, o olhar direto, cortante.— Fui conversa
O sol começava a se levantar quando Leonardo e Clara chegaram ao escritório do advogado, o Dr. Marcelo. Eles entraram juntos, um pouco cansados, mas com a determinação estampada nos rostos. A conversa de ontem havia sido pesada, mas ambos sabiam que estavam começando a agir de verdade. Agora, o próximo passo era crucial, e não havia mais espaço para hesitação.O Dr. Marcelo estava à sua espera. Com uma expressão séria, ele os cumprimentou e indicou que tomassem assento em frente à sua mesa. O ambiente estava silencioso, com a luz suave da manhã entrando pelas janelas. Clara, sentada ao lado de Leonardo, se sentia mais confiante agora que tudo estava tomando forma. Eles não tinham mais tempo a perder.— Bom dia, Dr. Marcelo — Leonardo começou, ainda um pouco tenso. — Como estamos avançando com o processo?O advogado respirou fundo, olhando para os dois, antes de começar a falar, sua voz calma, mas firme.— A situação é complicada, ma
Mariana O barulho irritante da notificação no meu celular me tirou dos poucos minutos de paz que eu tinha conseguido naquela tarde. Luna estava dormindo, finalmente, depois de horas chorando sem motivo aparente. Eu sabia que não era fácil para ela — para nenhuma de nós duas, na verdade. Mas ainda assim, quando olhei para aquela tela, senti que o mundo estava prestes a desabar mais uma vez. Era uma mensagem do advogado. Não precisei abrir para saber do que se tratava. Eu sabia que Leonardo não ia me deixar em paz por muito tempo. O peso da ansiedade apertou meu peito, mas respirei fundo e deslizei o dedo para desbloquear a tela. "Prezada Mariana, venho informar que Leonardo entrou com um pedido amigável para realização de exame de DNA com relação à paternidade de Luna. Por gentileza, entre em contato para discutirmos a melhor forma de proceder." Li a mensagem umas três vezes, como se as palavras fossem mudar de significado. Mas não mudaram. Era isso. Ele estava disposto a levar a s
Mariana Eu entrei no consultório de Henrique com uma mistura de ansiedade e esperança. Desde que começamos a nos aproximar, ele vinha sendo meu porto seguro em meio ao caos. Ainda assim, o medo de receber uma sentença definitiva me fazia hesitar. Isabela precisava de mim. Eu precisava estar bem por ela. Henrique me recebeu com aquele sorriso que conseguia aliviar parte do peso que eu carregava nos ombros, mas hoje meu coração parecia teimoso, batendo descompassado. Ele sabia que aquele momento era decisivo. — Mariana, que bom que você veio — ele disse, gesticulando para que eu me sentasse. Ajeitei-me na cadeira, tentando aparentar uma calma que não existia. Ele pegou a pasta com os exames e passou os olhos pelos papéis por alguns segundos que pareceram horas. — Recebemos os resultados completos — ele começou, erguendo o olhar para mim. — Mariana, você está com câncer, mas tenho boas notícias. Meu coração deu um salto. Bons resultados? Eu não estava pronta para ouvir algo assim.
Henrique Depois de sair do consultório, a minha cabeça estava a mil por hora. Eu sabia que Mariana estava lidando com muita coisa, mas ouvir aquilo sobre o Leonardo, sobre a forma como ele estava tentando fazer um pedido de reconhecimento de paternidade, me deixou com um peso no peito. E mais ainda, depois de tudo o que ela me contou sobre a situação dele com a esposa. Não dava para ignorar o que estava acontecendo. A minha preocupação com Mariana cresceu, e por mais que eu tentasse me concentrar nas boas notícias sobre o câncer, meu pensamento voltava para o que ela me revelou. O Leonardo não era um homem qualquer. Eu sabia disso. O fato dele querer mexer com a vida da Mariana, agora, depois de tanto tempo, me soava como uma jogada suja. Eu precisava descobrir mais. No caminho de volta para a minha casa, liguei para um amigo, o Marcos, que trabalhava com investigação. Ele estava acostumado a lidar com casos delicados e, talvez, ele pudesse me ajudar a entender melhor o que estava
Henrique O telefone pesava na minha mão, como se carregasse o peso da decisão que eu precisava tomar. Olhei para o visor, vendo o nome de Mariana brilhando ali. Ela precisava saber a verdade. Tudo o que eu descobri sobre Clara e as reais intenções de Leonardo precisavam ser ditos sem rodeios. Mas, além disso, eu tinha uma solução. Algo que poderia protegê-la, proteger a Isabela.Respirei fundo antes de apertar o botão de chamada. O telefone chamou algumas vezes antes de Mariana atender.— Oi, Henrique. Aconteceu alguma coisa? — A voz dela carregava um tom de preocupação.Fechei os olhos por um instante, tentando organizar as palavras para que saíssem da melhor forma possível.— Sim, Mariana. Eu descobri algo importante e você precisa saber disso agora.O silêncio do outro lado indicava que ela estava atenta, esperando que eu continuasse.— Sobre o Leonardo... e a esposa dele, Clara. Ela sofreu um acidente há alguns anos. Foi grave, Mariana. No hospital, ela perdeu o útero.Ela ficou
MarianaAssim que Henrique desligou, fiquei parada no meio da sala, segurando o telefone com força. Meu coração martelava no peito, e minha cabeça parecia rodar. Eu queria acreditar que tudo isso era um grande engano, que era apenas uma paranoia minha, mas não era. Henrique não falaria algo assim se não tivesse certeza.Eles queriam minha filha. Minha filha!Meu corpo tremia, e as lágrimas começaram a arder nos meus olhos antes mesmo que eu percebesse. Minhas pernas perderam a força, e eu me sentei no sofá, tentando processar tudo.Isso não pode estar acontecendo. Isso não pode estar acontecendo.Eu precisava falar com alguém. Eu precisava de Karina.Com mãos trêmulas, disquei o número dela. O telefone chamou algumas vezes antes de ela atender.— Amiga? Tá tudo bem? — A voz dela veio preocupada do outro lado da linha.Eu tentei responder, mas um soluço escapou da minha garganta antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa.— Mariana? Fala comigo! O que aconteceu?Tentei respirar fund