Mariana Eu entrei no consultório de Henrique com uma mistura de ansiedade e esperança. Desde que começamos a nos aproximar, ele vinha sendo meu porto seguro em meio ao caos. Ainda assim, o medo de receber uma sentença definitiva me fazia hesitar. Isabela precisava de mim. Eu precisava estar bem por ela. Henrique me recebeu com aquele sorriso que conseguia aliviar parte do peso que eu carregava nos ombros, mas hoje meu coração parecia teimoso, batendo descompassado. Ele sabia que aquele momento era decisivo. — Mariana, que bom que você veio — ele disse, gesticulando para que eu me sentasse. Ajeitei-me na cadeira, tentando aparentar uma calma que não existia. Ele pegou a pasta com os exames e passou os olhos pelos papéis por alguns segundos que pareceram horas. — Recebemos os resultados completos — ele começou, erguendo o olhar para mim. — Mariana, você está com câncer, mas tenho boas notícias. Meu coração deu um salto. Bons resultados? Eu não estava pronta para ouvir algo assim.
Henrique Depois de sair do consultório, a minha cabeça estava a mil por hora. Eu sabia que Mariana estava lidando com muita coisa, mas ouvir aquilo sobre o Leonardo, sobre a forma como ele estava tentando fazer um pedido de reconhecimento de paternidade, me deixou com um peso no peito. E mais ainda, depois de tudo o que ela me contou sobre a situação dele com a esposa. Não dava para ignorar o que estava acontecendo. A minha preocupação com Mariana cresceu, e por mais que eu tentasse me concentrar nas boas notícias sobre o câncer, meu pensamento voltava para o que ela me revelou. O Leonardo não era um homem qualquer. Eu sabia disso. O fato dele querer mexer com a vida da Mariana, agora, depois de tanto tempo, me soava como uma jogada suja. Eu precisava descobrir mais. No caminho de volta para a minha casa, liguei para um amigo, o Marcos, que trabalhava com investigação. Ele estava acostumado a lidar com casos delicados e, talvez, ele pudesse me ajudar a entender melhor o que estava
Henrique O telefone pesava na minha mão, como se carregasse o peso da decisão que eu precisava tomar. Olhei para o visor, vendo o nome de Mariana brilhando ali. Ela precisava saber a verdade. Tudo o que eu descobri sobre Clara e as reais intenções de Leonardo precisavam ser ditos sem rodeios. Mas, além disso, eu tinha uma solução. Algo que poderia protegê-la, proteger a Isabela.Respirei fundo antes de apertar o botão de chamada. O telefone chamou algumas vezes antes de Mariana atender.— Oi, Henrique. Aconteceu alguma coisa? — A voz dela carregava um tom de preocupação.Fechei os olhos por um instante, tentando organizar as palavras para que saíssem da melhor forma possível.— Sim, Mariana. Eu descobri algo importante e você precisa saber disso agora.O silêncio do outro lado indicava que ela estava atenta, esperando que eu continuasse.— Sobre o Leonardo... e a esposa dele, Clara. Ela sofreu um acidente há alguns anos. Foi grave, Mariana. No hospital, ela perdeu o útero.Ela ficou
MarianaAssim que Henrique desligou, fiquei parada no meio da sala, segurando o telefone com força. Meu coração martelava no peito, e minha cabeça parecia rodar. Eu queria acreditar que tudo isso era um grande engano, que era apenas uma paranoia minha, mas não era. Henrique não falaria algo assim se não tivesse certeza.Eles queriam minha filha. Minha filha!Meu corpo tremia, e as lágrimas começaram a arder nos meus olhos antes mesmo que eu percebesse. Minhas pernas perderam a força, e eu me sentei no sofá, tentando processar tudo.Isso não pode estar acontecendo. Isso não pode estar acontecendo.Eu precisava falar com alguém. Eu precisava de Karina.Com mãos trêmulas, disquei o número dela. O telefone chamou algumas vezes antes de ela atender.— Amiga? Tá tudo bem? — A voz dela veio preocupada do outro lado da linha.Eu tentei responder, mas um soluço escapou da minha garganta antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa.— Mariana? Fala comigo! O que aconteceu?Tentei respirar fund
Karina Eu nunca fui de perder a cabeça fácil. Sempre fui aquela que pensa antes de agir, que tenta manter a calma mesmo quando tudo tá desmoronando. Mas quando a Mariana me contou sobre essa história absurda, sobre esse desgraçado do Leonardo querendo tirar a Isabela dela, eu vi vermelho. No momento em que desliguei o telefone, eu já estava calçando os sapatos e pegando a chave do carro. Meu coração batia tão forte que eu sentia o sangue latejando nos ouvidos. Eu queria socar alguma coisa. Não, eu queria socar alguém. Pisei fundo no acelerador, cortando as ruas como se minha raiva fosse combustível. O trânsito noturno ajudava, não tinha quase ninguém na rua, o que só me fazia acelerar ainda mais. Quem esse canalha pensa que é? Depois de todo esse tempo sem olhar na cara da Mariana, sem dar um centavo pra filha, ele de repente decide que tem direito sobre a menina? Agora que a mulher dele não pode ter filhos, ele acha que pode roubar a Is
Mariana Estava difícil respirar enquanto caminhava em direção ao centro oncológico com Karina ao meu lado. O coração estava apertado, e as mãos suavam. Hoje era o dia. O tratamento começaria, e eu não sabia o que esperar. Isabela estava quietinha nos meus braços, quase como se sentisse o peso do que estava por vir. — Vai dar tudo certo, Mariana. Você vai ver. Eu estou aqui com você, como sempre estive. — Karina falou baixinho, como se tentasse me acalmar, mas, na verdade, não estava nada calma por dentro. Eu não queria que ela visse meu medo. Era quase como se, ao encarar a realidade da minha doença, eu estivesse me enfraquecendo. Mas não podia esconder mais. Eu estava com medo. Medo do tratamento, medo do futuro, medo de tudo o que poderia acontecer com Isabela. Ao chegar ao consultório, Henrique estava sentado atrás da mesa. Ele levantou rapidamente ao nos ver entrar, e, ao ver Isabela nos meus braços, seus olhos brilhara
MarianaA sala estava fria e silenciosa. Eu estava sentada na cadeira, esperando que o técnico se preparasse para o que estava por vir. Radioterapia, ele tinha dito, me explicando com calma e paciência sobre o processo. Mas nada me preparou para o que realmente sentiria.Meus olhos estavam fixos nas paredes, tentando não pensar no que estava prestes a acontecer. Eu estava com medo. Medo de tudo que estava por vir, de sentir cada etapa do tratamento e, principalmente, medo de que não fosse o suficiente. O câncer estava ali, como uma sombra, e a radioterapia era a minha única esperança de combatê-lo.A enfermeira entrou novamente, com um sorriso simpático no rosto, tentando me transmitir calma, mas eu sentia o coração bater forte, querendo escapar do meu peito. Ela me pediu para deitar na maca, para me posicionar corretamente, de acordo com a área que seria tratada. Eu segui as instruções dela, tentando não mostrar o nervosismo que estava tomando conta de mi
MarianaSaí da sala de radioterapia sentindo o peso do mundo sobre mim. Meu corpo parecia exausto, como se eu tivesse corrido uma maratona sem preparação alguma. Eu só queria ir para casa e me deitar, esquecer de tudo por algumas horas. Mas eu sabia que isso não ia acontecer. Sabia que o tratamento estava apenas começando e que os próximos dias seriam um teste para a minha resistência.Karina estava lá fora, me esperando com aquela preocupação que ela tentava disfarçar, mas eu conhecia bem. Ela abriu um sorriso pequeno quando me viu, mas seus olhos escuros me analisavam, como se quisessem encontrar qualquer sinal de fraqueza.— Como foi? — Ela perguntou, enquanto se aproximava.Eu queria mentir, queria dizer que tinha sido tranquilo, que estava bem. Mas não consegui.— Cansativo — respondi, respirando fundo. — Acho que ainda não caiu a ficha de que isso é só o começo.Ela assentiu e segurou minha mão.— Você vai conseguir passar por isso, Mari. Eu sei que vai.Eu queria acreditar niss