Mariana
A sala estava fria e silenciosa. Eu estava sentada na cadeira, esperando que o técnico se preparasse para o que estava por vir. Radioterapia, ele tinha dito, me explicando com calma e paciência sobre o processo. Mas nada me preparou para o que realmente sentiria.Meus olhos estavam fixos nas paredes, tentando não pensar no que estava prestes a acontecer. Eu estava com medo. Medo de tudo que estava por vir, de sentir cada etapa do tratamento e, principalmente, medo de que não fosse o suficiente. O câncer estava ali, como uma sombra, e a radioterapia era a minha única esperança de combatê-lo.A enfermeira entrou novamente, com um sorriso simpático no rosto, tentando me transmitir calma, mas eu sentia o coração bater forte, querendo escapar do meu peito. Ela me pediu para deitar na maca, para me posicionar corretamente, de acordo com a área que seria tratada. Eu segui as instruções dela, tentando não mostrar o nervosismo que estava tomando conta de miMarianaSaí da sala de radioterapia sentindo o peso do mundo sobre mim. Meu corpo parecia exausto, como se eu tivesse corrido uma maratona sem preparação alguma. Eu só queria ir para casa e me deitar, esquecer de tudo por algumas horas. Mas eu sabia que isso não ia acontecer. Sabia que o tratamento estava apenas começando e que os próximos dias seriam um teste para a minha resistência.Karina estava lá fora, me esperando com aquela preocupação que ela tentava disfarçar, mas eu conhecia bem. Ela abriu um sorriso pequeno quando me viu, mas seus olhos escuros me analisavam, como se quisessem encontrar qualquer sinal de fraqueza.— Como foi? — Ela perguntou, enquanto se aproximava.Eu queria mentir, queria dizer que tinha sido tranquilo, que estava bem. Mas não consegui.— Cansativo — respondi, respirando fundo. — Acho que ainda não caiu a ficha de que isso é só o começo.Ela assentiu e segurou minha mão.— Você vai conseguir passar por isso, Mari. Eu sei que vai.Eu queria acreditar niss
MarianaEu não consegui dormir naquela noite. Depois da proposta absurda de Henrique, minha mente girava sem parar. Casamento? Como se isso fosse algo tão simples assim. Como se fosse apenas assinar um papel e pronto, problema resolvido.Mas ao mesmo tempo, seria isso mesmo?Eu já sabia que minha situação financeira e minha doença pesariam contra mim na justiça. E Henrique tinha razão: com ele ao meu lado, sendo um homem estável, rico e respeitado, eu teria mais chances de manter a guarda de Isabela.Mas isso significava me casar com um homem que eu mal conhecia direito.Eu virei de um lado para o outro na cama, o travesseiro abafando minha frustração. O quarto estava escuro, mas minha cabeça estava um caos. Será que eu estava sendo orgulhosa? Será que realmente importava se o casamento fosse de mentira, se no final das contas minha filha ficasse comigo?A verdade era que eu estava desesperada. E o desespero faz a gente considerar coisas que nunca imaginaria.---Na manhã seguinte, Ka
MarianaPassei o resto do dia com um nó no peito. Eu tinha acabado de ouvir uma proposta que poderia mudar completamente minha vida e a de Isabela. Mas, ao mesmo tempo, parecia que eu estava prestes a fazer um pacto com consequências que ainda nem conseguia imaginar.Karina não atendeu minhas ligações, o que era esperado. Ela estava furiosa e provavelmente precisava de um tempo para não explodir de vez. Então, eu estava sozinha com meus pensamentos, encarando o teto do meu quarto enquanto Isabela dormia tranquila ao meu lado.Eu queria poder ter essa mesma tranquilidade.Mas a verdade era que minha cabeça estava um caos.E se eu aceitasse?Seria mesmo a melhor decisão?Ou eu estaria me jogando em uma situação ainda pior?Mas qual outra opção eu tinha?Meus olhos ardiam de tanto pensar, de tanto me preocupar. A realidade era dura: eu não tinha dinheiro suficiente para um bom advogado, estava doente e ainda vulnerável. Sozinha, eu tinha poucas chances contra Leonardo.Henrique era minha
Henrique Sentei na sala da casa dos meus pais, sentindo a tensão crescer dentro do meu peito. Eu nunca fui um homem de grandes discursos, mas sabia que aquela conversa precisava acontecer. Meu pai estava no sofá, com uma xícara de café nas mãos, observando-me com sua costumeira expressão séria. Meu irmão, Daniel, estava ao lado dele, folheando um jornal, mas eu sabia que ele estava atento. E minha mãe… bem, minha mãe me olhava como se já soubesse o que estava por vir. Respirei fundo. — Preciso falar com vocês sobre algo importante. Os três me encararam. — Eu vou me casar. Minha mãe arregalou os olhos, Daniel abaixou o jornal e meu pai franziu a testa. O silêncio foi quase ensurdecedor. — Como é? — Daniel foi o primeiro a falar. — Você vai se casar? Assim, do nada? — Não é do nada — corrigi, tentando manter a calma. — Mas não é exatamente por amor. Minha mãe inclinou a cabeça, claramente confusa. — Henrique, do que você está falando? Suspirei, passando as mão
Virgínia Depois que Henrique saiu, me sentei no sofá e respirei fundo. Meus pensamentos estavam a mil. Meu filho estava prestes a enfrentar uma batalha difícil, e eu sabia que ele precisaria de toda a ajuda possível. Mas ele não estava sozinho. Nossa família sempre foi unida, sempre se apoiou nos momentos difíceis, e dessa vez não seria diferente. Se Henrique escolheu lutar por Mariana e Isabela, nós iríamos lutar com ele. Mas havia mais pessoas que precisavam saber disso. Peguei o telefone e disquei um número que conhecia de cor. Não demorou muito para que a ligação fosse atendida. — Alô? A voz do outro lado me trouxe uma onda de nostalgia e carinho. Era Laura, mãe de Gabriela. — Laura, sou eu. — Querida! Que surpresa boa! Como você está? Como está Henrique? Engoli em seco antes de responder. — Ele está bem… Mas eu liguei porque preciso contar algo importante. Ela ficou em silêncio por um momento, mas sua respiração indicava que estava atenta. — O que aconteceu? Respi
Virgínia Depois de desligar o telefone com Laura e Gustavo, uma sensação de alívio tomou conta de mim. Senti uma onda de calor e esperança, uma sensação rara desde que Gabriela se foi. Sempre soube que, apesar de estarmos todos diferentes, nossa família ainda tinha muito amor para oferecer. Não importa o que o futuro trouxesse, nós estaríamos juntos, e isso era o que mais importava. Foi com esse pensamento que me preparei para fazer a última ligação do dia. Henrique ainda estava em casa, mas sabia que ele precisava de um empurrão. Ele precisava entender que não estava sozinho, que a família dele, e agora Mariana e Isabela, estavam em um círculo de proteção. Um círculo que, eu sabia, seria inquebrável. Peguei o telefone, dei uma olhada para o retrato de Gabriela que ainda estava sobre a mesinha na sala, e discando o número do meu filho. O telefone tocou por alguns segundos até que ele atendeu. A voz dele estava cansada, mas eu sabia que ele ainda não tinha percebido o que sign
Clara A tensão na sala estava insuportável. Marcelo, o nosso advogado, sentou-se à nossa frente, seu semblante sério e profissional, como sempre, enquanto tentava nos acalmar diante do impasse que se apresentava. A recusa de Mariana em fornecer o material genético de Isabela de forma voluntária era um obstáculo inesperado. Eu já estava nervosa, e Leonardo parecia ainda mais abalado. Marcelo abriu a pasta, tirou alguns papéis e, com um suspiro, começou a explicar a situação. — O que temos agora é que Mariana se recusou a fornecer o material genético de Isabela, como discutido anteriormente. Para conseguirmos isso, será necessário entrar com um pedido formal de reconhecimento de paternidade. Isso significa que teremos que recorrer ao tribunal. Leonardo ficou em silêncio, processando a informação. Seu olhar estava fixo em Marcelo, a frustração tomando conta de seu rosto. — Como assim, Mariana não quer dar o material? — ele perguntou, a voz baixa, como se não acreditasse no que estav
Leonardo Clara estava visivelmente irritada, seu rosto vermelho de raiva enquanto ficava de pé, andando de um lado para o outro no pequeno quarto do hotel. Eu, por outro lado, estava inquieto, tentando analisar a situação de uma maneira mais racional. Não que eu não estivesse tão frustrado quanto ela – estava, mas as palavras de Clara me atingiam de uma forma que me fazia sentir que tudo estava fora de controle.Ela parou diante de mim, parando abruptamente ao me encarar com os olhos cheios de fogo.— Nós temos que ir até o apartamento de Mariana, — Clara disse, a voz tensa, o tom de comando claro em suas palavras. — Devemos convencê-la a entregar Isabela de uma maneira amigável, Leonardo.Eu suspirei, tentando manter a calma, mas a frustração já estava transbordando em mim. As coisas não estavam saindo do jeito que planejávamos, e eu não sabia mais o que fazer. Mariana se recusou a fornecer o material genético, e isso só mostrava o quanto ela e