Virgínia Depois de desligar o telefone com Laura e Gustavo, uma sensação de alívio tomou conta de mim. Senti uma onda de calor e esperança, uma sensação rara desde que Gabriela se foi. Sempre soube que, apesar de estarmos todos diferentes, nossa família ainda tinha muito amor para oferecer. Não importa o que o futuro trouxesse, nós estaríamos juntos, e isso era o que mais importava. Foi com esse pensamento que me preparei para fazer a última ligação do dia. Henrique ainda estava em casa, mas sabia que ele precisava de um empurrão. Ele precisava entender que não estava sozinho, que a família dele, e agora Mariana e Isabela, estavam em um círculo de proteção. Um círculo que, eu sabia, seria inquebrável. Peguei o telefone, dei uma olhada para o retrato de Gabriela que ainda estava sobre a mesinha na sala, e discando o número do meu filho. O telefone tocou por alguns segundos até que ele atendeu. A voz dele estava cansada, mas eu sabia que ele ainda não tinha percebido o que sign
Clara A tensão na sala estava insuportável. Marcelo, o nosso advogado, sentou-se à nossa frente, seu semblante sério e profissional, como sempre, enquanto tentava nos acalmar diante do impasse que se apresentava. A recusa de Mariana em fornecer o material genético de Isabela de forma voluntária era um obstáculo inesperado. Eu já estava nervosa, e Leonardo parecia ainda mais abalado. Marcelo abriu a pasta, tirou alguns papéis e, com um suspiro, começou a explicar a situação. — O que temos agora é que Mariana se recusou a fornecer o material genético de Isabela, como discutido anteriormente. Para conseguirmos isso, será necessário entrar com um pedido formal de reconhecimento de paternidade. Isso significa que teremos que recorrer ao tribunal. Leonardo ficou em silêncio, processando a informação. Seu olhar estava fixo em Marcelo, a frustração tomando conta de seu rosto. — Como assim, Mariana não quer dar o material? — ele perguntou, a voz baixa, como se não acreditasse no que estav
Leonardo Clara estava visivelmente irritada, seu rosto vermelho de raiva enquanto ficava de pé, andando de um lado para o outro no pequeno quarto do hotel. Eu, por outro lado, estava inquieto, tentando analisar a situação de uma maneira mais racional. Não que eu não estivesse tão frustrado quanto ela – estava, mas as palavras de Clara me atingiam de uma forma que me fazia sentir que tudo estava fora de controle.Ela parou diante de mim, parando abruptamente ao me encarar com os olhos cheios de fogo.— Nós temos que ir até o apartamento de Mariana, — Clara disse, a voz tensa, o tom de comando claro em suas palavras. — Devemos convencê-la a entregar Isabela de uma maneira amigável, Leonardo.Eu suspirei, tentando manter a calma, mas a frustração já estava transbordando em mim. As coisas não estavam saindo do jeito que planejávamos, e eu não sabia mais o que fazer. Mariana se recusou a fornecer o material genético, e isso só mostrava o quanto ela e
Mariana Eu sempre soube que minha vida não seria fácil, mas ser mãe solteira aos 22 anos me trouxe uma realidade que eu nunca imaginei. Minha filha, Isabela, nasceu há quatro meses e trouxe uma alegria imensa para o meu coração, mas também trouxe muitas dificuldades. Eu sabia que ser mãe jovem, sem um parceiro ao meu lado, não seria fácil, mas a felicidade que Isabela me dava fazia tudo valer a pena. Eu me levantava todos os dias com um sorriso no rosto, por ela. Ela era a razão da minha existência agora, a razão pela qual eu lutava todos os dias. Naquela manhã, no entanto, algo estava diferente. Eu estava cansada, exausta, e o corpo não parecia responder como antes. Eu sentia uma dor estranha, uma pressão no peito que me fazia parar de vez em quando, como se estivesse tendo dificuldades para respirar. Mas, claro, como mãe, eu apenas empurrei para o fundo da minha mente e continuei com minha rotina. Isabela não iria esperar, ela precisava de mim. Mas o cansaço não passava. A do
Mariana O som suave da respiração de Isabela preenchia o quarto naquela manhã. Ela dormia em meu colo, com os bracinhos jogados para o lado e a boquinha ligeiramente aberta. Fiquei observando cada detalhe dela: os cílios pequenos, as bochechas rosadas e os dedos minúsculos que se moviam como se estivessem sonhando. Uma mistura de amor e angústia dominava meu coração. Eu a segurei com cuidado, tentando não acordá-la, mas precisava me levantar. A consulta no centro oncológico seria hoje. Era um passo difícil, mas eu sabia que precisava de ajuda para enfrentar o que vinha pela frente. — Meu amor, a mamãe vai cuidar de você... sempre que puder. — Sussurrei, beijando sua testa delicadamente. A pequena se mexeu, abrindo os olhos e olhando para mim com aquele brilho inocente que iluminava os cantos mais escuros da minha alma. Ela sorriu e estendeu a mãozinha, tocando meu rosto. — Você nem sabe o quanto me dá força, Isa. — Sorri, tentando disfarçar a dor que carregava. Depois de
Dr. HenriqueMeu nome é Henrique Duarte, tenho 38 anos, e sou oncologista. Para muitos, minha profissão parece ser um trabalho pesado demais, cheio de histórias tristes e desafios que testam os limites emocionais de qualquer um. Mas, para mim, ser oncologista nunca foi apenas uma escolha profissional. Foi uma promessa. Uma forma de transformar minha dor em algo maior, em algo que pudesse fazer diferença.Quando entrei na faculdade de medicina, como muitos jovens, eu queria salvar vidas. Mas a verdade é que ainda não sabia como faria isso. Não sabia que minha especialidade seria escolhida no momento mais doloroso da minha vida. Gabriela, minha esposa, era o meu mundo. Minha companheira, meu equilíbrio, meu futuro. Quando ela foi diagnosticada com câncer de pâncreas em estágio avançado, tudo que eu conhecia como certo desmoronou.Eu tinha apenas 27 anos. Estava cheio de sonhos e planos ao lado dela. Mas, de repente, nossa vida foi tomada por exames, consultas e tratamentos. Foi uma guer
Mariana Quando entrei em casa, o cheiro familiar de café me envolveu, e pude ouvir a risada suave de Karina vindo da sala. Ela estava lá, como sempre, me esperando com a paciência de uma amiga que se importa, cuidando da minha pequena, Isabela, enquanto eu estava no médico. Isabela estava com ela no sofá, brincando com um ursinho de pelúcia, feliz e tranquila, sem perceber a tempestade que estava se formando na minha vida. Karina levantou-se e me cumprimentou com um sorriso acolhedor, mas logo percebeu que meu humor estava longe de ser bom. Não precisei dizer nada. Ela sabia. — Como foi? — ela perguntou, a preocupação evidente na voz. Eu respirei fundo antes de responder, sentando-me no sofá ao lado dela. O olhar de Karina era como uma âncora, me mantendo ali, me fazendo sentir que não estava sozinha. Mas, no fundo, eu me sentia. Eu estava sozinha nessa batalha, sem saber como ia enfrentar o tratamento, como conseguiria cuidar de Isabela e lidar com essa doença ao mesmo tempo. —
KarinaMeu nome é Karina Oliveira, tenho 27 anos e trabalho como auxiliar administrativa em uma pequena empresa de logística. A vida nunca foi fácil, mas também nunca fui de reclamar. Apesar de ganhar pouco, consigo manter minha independência e ajudar Mariana, minha melhor amiga, que sempre pode contar comigo nos momentos difíceis. Eu a conheci há alguns anos, quando começamos a trabalhar juntas em uma antiga empresa de telemarketing. Desde então, nossa amizade se fortaleceu, e hoje sou quase uma tia para a pequena Isabela, a filha dela, que tem apenas quatro meses.Naquela manhã, enquanto fazia minha mala para uma viagem de trabalho, meus pensamentos estavam em Mariana. A doença dela me preocupava profundamente. Eu sabia que ela estava tentando ser forte, mas era visível o quanto ela estava assustada. O tratamento contra o câncer não seria barato, e, mesmo que ela tentasse esconder, eu sabia que estava enfrentando dificuldades financeiras.A viagem era curta, apenas dois dias em outr