MarianaDepois que Leonardo foi embora, fechei a porta devagar, tentando acalmar meu coração que parecia querer sair do peito. Apoiei as costas na madeira fria, olhando para o teto enquanto sentia as lágrimas ameaçando cair. A presença dele ainda pairava no ambiente, como um peso que eu não conseguia ignorar. Mesmo após todos esses anos, a chegada de Leonardo conseguia virar meu mundo de cabeça para baixo em poucos minutos.Levantei o rosto e passei a mão pelos olhos antes que as lágrimas caíssem. Não podia me permitir fraquejar, não agora. Caminhei até a sala, onde Henrique estava sentado com Isabela no colo. A pequena parecia totalmente alheia ao que acabara de acontecer, brincando com o ursinho de pelúcia que ele havia lhe dado. Henrique levantou os olhos para mim assim que entrei.— Ele foi embora? — perguntou, baixinho, como quem não queria invadir meu espaço.— Foi. — Cruzei os braços e suspirei, tentando organizar os pensamentos. — Mas deixou claro que vai voltar.Henrique não
Clara Fechei a mala com força, como se cada zíper carregasse toda a minha frustração. Eu já sabia que ia acabar assim. Não deveria ter esperado tanto para agir. Leonardo nunca foi capaz de lidar com situações difíceis. Desde o momento em que ele me ligou dizendo que Mariana não deixou ele ver Isabela, ficou claro que ele não conseguiria resolver nada sozinho. Eu não posso ficar parada enquanto minha filha está lá, vivendo uma mentira. Peguei minha bolsa e os documentos. Não precisava de mais nada. Liguei para um táxi e desci as escadas com passos firmes. Não sentia medo ou hesitação, apenas uma raiva surda, misturada com a necessidade urgente de colocar um fim em tudo aquilo. O caminho até o aeroporto foi rápido, mas na minha cabeça cada minuto parecia uma eternidade. Meu único pensamento era Isabela. Quanto mais tempo eu perco esperando Leonardo agir, mais Mariana a prende em uma realidade que não é dela. Ela é minha filha
A manhã começou movimentada para Clara. Após a chegada na cidade no dia anterior, ela sabia que o próximo passo seria agir de forma prática. Não era mais uma questão de ressentimentos ou mágoas – isso já havia ficado para trás quando Leonardo confessara tudo. Agora, tratava-se de garantir que Isabela tivesse um futuro estável, seguro e digno.Leonardo acreditava que poderia convencer Mariana a ceder a guarda de maneira amigável, mas Clara não compartilhava desse otimismo. A situação de Mariana era frágil, sim, mas Clara sabia que nem sempre isso seria suficiente para convencer alguém a abrir mão do próprio filho. Ela queria agir rápido e garantir que Isabela fosse protegida antes que qualquer complicação tornasse o processo ainda mais difícil.Após tomar um café rápido, Clara fez algumas ligações e marcou um horário com um dos advogados mais renomados da cidade. Vestiu-se com cuidado – um tailleur elegante que transmitia confiança e determinação – e saiu
O dia estava quase no fim quando Clara voltou para o hotel. Ela havia passado algumas horas com o advogado, recolhendo as informações necessárias para dar o próximo passo em sua estratégia. A mente dela estava ocupada, as decisões já tomadas, e a frustração crescendo com a lentidão das coisas.Ao entrar no saguão do hotel, viu Leonardo sentado no sofá do lobby, com o celular na mão. Quando ele a viu, levantou-se rapidamente, a expressão preocupada. Ela sentiu um frio na espinha, mas não era o tipo de preocupação que ela queria ver nele.— Onde você estava? — ele perguntou, a voz carregada de uma mistura de dúvida e preocupação.Clara respirou fundo, já cansada daquela conversa, e se dirigiu ao elevador, sem olhar para trás. Ele a seguiu, sem perder a oportunidade de perguntar novamente.— Clara, por que sumiu? O que você foi fazer?Ela parou na porta do elevador e virou para ele, o olhar direto, cortante.— Fui conversa
O sol começava a se levantar quando Leonardo e Clara chegaram ao escritório do advogado, o Dr. Marcelo. Eles entraram juntos, um pouco cansados, mas com a determinação estampada nos rostos. A conversa de ontem havia sido pesada, mas ambos sabiam que estavam começando a agir de verdade. Agora, o próximo passo era crucial, e não havia mais espaço para hesitação.O Dr. Marcelo estava à sua espera. Com uma expressão séria, ele os cumprimentou e indicou que tomassem assento em frente à sua mesa. O ambiente estava silencioso, com a luz suave da manhã entrando pelas janelas. Clara, sentada ao lado de Leonardo, se sentia mais confiante agora que tudo estava tomando forma. Eles não tinham mais tempo a perder.— Bom dia, Dr. Marcelo — Leonardo começou, ainda um pouco tenso. — Como estamos avançando com o processo?O advogado respirou fundo, olhando para os dois, antes de começar a falar, sua voz calma, mas firme.— A situação é complicada, ma
Mariana O barulho irritante da notificação no meu celular me tirou dos poucos minutos de paz que eu tinha conseguido naquela tarde. Luna estava dormindo, finalmente, depois de horas chorando sem motivo aparente. Eu sabia que não era fácil para ela — para nenhuma de nós duas, na verdade. Mas ainda assim, quando olhei para aquela tela, senti que o mundo estava prestes a desabar mais uma vez. Era uma mensagem do advogado. Não precisei abrir para saber do que se tratava. Eu sabia que Leonardo não ia me deixar em paz por muito tempo. O peso da ansiedade apertou meu peito, mas respirei fundo e deslizei o dedo para desbloquear a tela. "Prezada Mariana, venho informar que Leonardo entrou com um pedido amigável para realização de exame de DNA com relação à paternidade de Luna. Por gentileza, entre em contato para discutirmos a melhor forma de proceder." Li a mensagem umas três vezes, como se as palavras fossem mudar de significado. Mas não mudaram. Era isso. Ele estava disposto a levar a s
Mariana Eu entrei no consultório de Henrique com uma mistura de ansiedade e esperança. Desde que começamos a nos aproximar, ele vinha sendo meu porto seguro em meio ao caos. Ainda assim, o medo de receber uma sentença definitiva me fazia hesitar. Isabela precisava de mim. Eu precisava estar bem por ela. Henrique me recebeu com aquele sorriso que conseguia aliviar parte do peso que eu carregava nos ombros, mas hoje meu coração parecia teimoso, batendo descompassado. Ele sabia que aquele momento era decisivo. — Mariana, que bom que você veio — ele disse, gesticulando para que eu me sentasse. Ajeitei-me na cadeira, tentando aparentar uma calma que não existia. Ele pegou a pasta com os exames e passou os olhos pelos papéis por alguns segundos que pareceram horas. — Recebemos os resultados completos — ele começou, erguendo o olhar para mim. — Mariana, você está com câncer, mas tenho boas notícias. Meu coração deu um salto. Bons resultados? Eu não estava pronta para ouvir algo assim.
Henrique Depois de sair do consultório, a minha cabeça estava a mil por hora. Eu sabia que Mariana estava lidando com muita coisa, mas ouvir aquilo sobre o Leonardo, sobre a forma como ele estava tentando fazer um pedido de reconhecimento de paternidade, me deixou com um peso no peito. E mais ainda, depois de tudo o que ela me contou sobre a situação dele com a esposa. Não dava para ignorar o que estava acontecendo. A minha preocupação com Mariana cresceu, e por mais que eu tentasse me concentrar nas boas notícias sobre o câncer, meu pensamento voltava para o que ela me revelou. O Leonardo não era um homem qualquer. Eu sabia disso. O fato dele querer mexer com a vida da Mariana, agora, depois de tanto tempo, me soava como uma jogada suja. Eu precisava descobrir mais. No caminho de volta para a minha casa, liguei para um amigo, o Marcos, que trabalhava com investigação. Ele estava acostumado a lidar com casos delicados e, talvez, ele pudesse me ajudar a entender melhor o que estava