“O mundo era como uma bomba-relógio, prestes a explodir.” Luna Ferreira : Luna caminhava descalça pelas ruas da cidade, os pés desprotegidos tocando o asfalto frio, sentindo cada pedrinha como um lembrete de sua própria vulnerabilidade. O céu estava encoberto, carregado, como se refletisse seu estado de espírito. Sentia-se esmagada por uma solidão que não pedia licença, uma presença constante que a seguia por onde quer que fosse. O peso do desespero se agarrava a seus ombros, tornando cada passo uma luta silenciosa. O bullying na escola havia se tornado uma rotina cruel, um ciclo sem fim. Risadinhas abafadas nos corredores, mensagens maldosas deixadas em sua mesa, empurrões discretos que os professores fingiam não ver. A indiferença dos adultos era o que mais a fería. Não era apenas o desprezo dos colegas — era o silêncio cúmplice daqueles que deveriam protegê-la. Era como gritar em um quarto vazio, esperando que alguém ouvisse. Chegar em casa não trazia alívio. O apartamento
A casa estava em silêncio. Luna sentia o coração disparado como se estivesse prestes a cometer um crime. A fantasia de coelha, guardada no fundo do armário desde os tempos em que as festas pareciam um sonho distante, agora era sua única armadura. Ela a vestiu com mãos trêmulas. A meia arrastão subiu devagar por suas pernas pálidas. O body preto moldava suas curvas com precisão e as orelhas de pelúcia no topo da cabeça conferiam um ar de doçura dissonante com a tensão que preenchia o quarto. A câmera foi posicionada de modo que seu rosto permanecesse oculto pelas sombras e pelos efeitos suaves do aplicativo. O corpo, no entanto, era protagonista. A pele alva, o quadril marcado, os gestos tímidos a princípio. Mas com o passar dos minutos, algo nela começou a mudar. A transmissão começou. As notificações de espectadores apareciam como pequenas batidas no coração. Ela passou a mão pelos próprios braços, depois pelo pescoço, descendo lentamente até os seios cobertos apenas por renda. Se
Luna permaneceu imóvel por longos segundos depois que a live foi encerrada. A respiração ofegante ainda martelava contra o silêncio do quarto. As mãos, agora paradas sobre os próprios joelhos, tremiam levemente — não de medo, mas de uma excitação nova, diferente de tudo o que já sentira. Um tipo de poder pulsando sob a pele. Ela nunca imaginara que o toque sobre si mesma, transmitido por uma câmera barata e embalado por uma fantasia de coelha, pudesse provocar tamanha reação — não só em quem a assistia, mas nela própria. O corpo ainda vibrava com os ecos do prazer, mas era a mente que parecia em combustão. Ela se levantou devagar, tirando a meia arrastão como quem desfaz um feitiço. A roupa colava à pele úmida, e quando passou o tecido frio de um lenço umedecido entre as pernas, estremeceu de novo, lembrando-se do momento exato em que percebeu… havia alguém do outro lado que realmente a via. A notificação tinha surgido entre centenas. Um valor alto, acompanhado de uma frase simples
A manhã nasceu abafada, típica de um fim de primavera que se arrasta preguiçosamente até o verão. Luna saiu de casa com os cabelos presos num coque frouxo e uma mochila surrada pendendo de um ombro. O uniforme escolar — amassado, ajustado com pequenos remendos — parecia um lembrete silencioso de todas as vezes que ela precisou se virar sozinha. Era seu último dia de aula. Um peso e um alívio. Ela caminhava pela calçada tentando manter o olhar baixo. O som das risadas de um grupo ao longe já bastava para fazer seu estômago se contrair. As valentonas — sempre em grupo, sempre maquiadas como se estivessem indo a um desfile — ainda estavam por ali. Luna evitou o corredor central e seguiu pelos fundos do prédio, atravessando a quadra de cimento rachado. Por fora, ninguém dizia nada. Por dentro, ela contava os segundos. Luna sabia que deveria estar empolgada. O mundo se abria em possibilidades, mas, pela primeira vez em muito tempo, ela sentia-se perdida. A faculdade parecia um horizon
Fazia três dias desde a última live. Luna ainda sentia a eletricidade daquela noite correr por sua pele, como se cada centímetro de seu corpo tivesse memorizado os olhares invisíveis que a observavam pela câmera. Mas depois daquilo, ela precisou de silêncio — um respiro. O jantar completo foi como um rito de passagem. Assou o frango com carinho, saboreou cada garfada como se fosse um banquete, brindou consigo mesma com o vinho barato. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se adulta. Sentiu-se viva. Mas agora, o vazio digital começava a doer. Seu perfil estava lotado de mensagens, curtidas e uma chuva de novas inscrições. Entre todas, um nome brilhava com frequência: LadyInSilk. Não mandava palavras, só reações, doações generosas, curtidas rápidas. Silêncio carregado de expectativa. E algo mais. Algo que Luna começava a reconhecer… desejo de posse. Na manhã do terceiro dia, acordou decidida. Entrou num site de bolsas estudantis e, após muita pesquisa e uma madrugada insone, fez
A respiração de Sophia pesava. Os olhos não piscavam. O corpo, agora espraiado pelo sofá, era só calor, arrepio e impulso. O som da live enchia o ambiente com sussurros e gemidos cristalinos — cada um penetrando fundo, tocando lugares que ela mantinha trancados sob a couraça de sua vida corporativa. As luzes do apartamento estavam baixas, o gelo do gin derretia devagar. Sophia afastou a saia do vestido, deixou a bebida sobre a mesinha de centro e escorregou os dedos por debaixo da calcinha preta de seda. Sentiu a pele úmida, quente, receptiva. Na tela, Luna ofegava, os lábios entreabertos, o dildo ainda pulsando entre as pernas, agora mais devagar, como se saboreasse a própria rendição. A câmera tremia um pouco — talvez pelas mãos instáveis da garota, talvez pela intensidade do momento. — Gostaram de me ver assim, hein…? — Luna sorriu, meio sem fôlego. — Nunca tinha sentido isso antes… foi diferente. Sophia mordeu o lábio. Estava prestes a atravessar aquela linha tênue entre espe
O sol da manhã cortava as nuvens como uma lâmina dourada, e o ar fresco carregava uma promessa que Luna quase não soube nomear: liberdade.Vestia jeans escuro, tênis branco limpo e uma camiseta simples com estampa retrô. Cabelos soltos, leves, com aroma de lavanda. Sua mochila — velha, mas firme — balançava no ombro a cada passo, carregando um caderno novo, uma caneta favorita e o coração, meio aflito, meio esperançoso.Era o primeiro dia na faculdade.A Faculdade de Tecnologia parecia um mundo à parte. Os corredores eram amplos, luminosos, com estudantes de todos os tipos — uns sérios demais, outros descolados, outros invisíveis como ela fora por tanto tempo. Mas ali… ninguém a encarava com desprezo. Ninguém a empurrava ou sussurrava ofensas ao seu passar.Ela respirou fundo.No pátio, sentou-se num banco de concreto e fingiu checar o celular, enquanto observava tudo ao redor. Foi quando uma garota de cabelo curto, moletom largo e óculos grandes parou ao lado dela com um sorriso aber
A semana passou como um feitiço silencioso, envolta em rotina nova, pequenos rituais de descoberta e uma brisa de liberdade que Luna jamais experimentara. As manhãs começavam com café preto, pão tostado e um sorriso discreto. Ela acordava cedo, penteava os cabelos com cuidado, prendia os fios com uma tiara de tecido lilás e escolhia suas roupas com uma atenção quase reverente. Saias jeans, camisetas com estampa de animes, um moletom oversized que comprara no centro com o troco da última live. Com o dinheiro que juntara, pagou as contas atrasadas da casa, comprou uma mochila nova de couro sintético azul-marinho, um par de tênis confortáveis e decorou seu quarto com pequenas luzes de LED e uma cortina lilás que ondulava suavemente na janela. Mandou trançar seus cabelos numa trança embutida com mechas coloridas discretas — um toque de identidade que finalmente ousava assumir. A faculdade já não era um mistério. Agora, era território conhecido. Andava com Julia, Davi e Paula pelos corr