Silêncios que gritam

Fazia três dias desde a última live.

Luna ainda sentia a eletricidade daquela noite correr por sua pele, como se cada centímetro de seu corpo tivesse memorizado os olhares invisíveis que a observavam pela câmera. Mas depois daquilo, ela precisou de silêncio — um respiro. O jantar completo foi como um rito de passagem. Assou o frango com carinho, saboreou cada garfada como se fosse um banquete, brindou consigo mesma com o vinho barato. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se adulta. Sentiu-se viva.

Mas agora, o vazio digital começava a doer.

Seu perfil estava lotado de mensagens, curtidas e uma chuva de novas inscrições. Entre todas, um nome brilhava com frequência: LadyInSilk. Não mandava palavras, só reações, doações generosas, curtidas rápidas. Silêncio carregado de expectativa. E algo mais. Algo que Luna começava a reconhecer… desejo de posse.

Na manhã do terceiro dia, acordou decidida. Entrou num site de bolsas estudantis e, após muita pesquisa e uma madrugada insone, fez sua escolha: Faculdade de Tecnologia da Informação. O mundo era digital. E ela aprenderia a dominá-lo.

No mesmo dia, passou por uma sex shop pequena, com vitrines discretas e vitrôs embaçados. Saiu de lá com uma sacolinha preta que escondia dois dildos de silicone — um liso, o outro com textura. Mais um salto. Mais uma ousadia.

Na noite que se seguiu, Luna vestiu uma fantasia de Sailor Moon que comprara por impulso num brechó virtual. Era justa, brilhante e insinuava curvas que, até então, ela própria não havia enxergado com tanto fascínio. Frente ao espelho, ajeitou as meias brancas até o meio das coxas, prendeu os cabelos num par de rabos altos e experimentou sorrisos que não usava há muito tempo.

Do outro lado da cidade, Sophia amargava um dia miserável.

Desde que acordara no motel, naquela manhã de ressaca moral, seu corpo carregava um cansaço que nem o café mais forte conseguia combater. As reuniões do dia foram um desfile de ideias medíocres, soluções repetitivas e apresentações sem alma. Seus próprios pitches soavam vazios aos próprios ouvidos.

Jacqueline notou, mas não comentou. Sophia estava com o olhar nublado, o humor ácido e a criatividade bloqueada.

— Nada do que vocês estão propondo presta — disse, ao final da última reunião. — Quero algo novo. Algo ousado. Algo que me faça sentir alguma coisa. Tudo isso aqui… parece papel molhado.

Fechou o notebook e saiu da sala sem esperar resposta.

No fim do expediente, recusou convites para jantar, ignorou as notificações do celular e dirigiu para casa em silêncio. Ao entrar no apartamento, jogou os saltos para longe, soltou o cabelo e serviu-se de um gin tônica com duas rodelas finas de pepino e uma pitada de manjericão. O ritual era uma tentativa de controle.

Mas nada no mundo a preparou para o que aconteceu a seguir.

O celular vibrou. Uma notificação. Um alerta do aplicativo de streaming:

“Sua musa iniciou uma live.”

Sophia congelou. Sentiu a espinha esquentar. O copo ainda na mão, virou-se lentamente para a televisão da sala. Em poucos segundos, espelhou a tela do celular no aparelho. As imagens começaram a aparecer em alta definição — e o coração dela, a bater num ritmo fora de compasso.

Luna ajeitou a câmera. A luz suave de LED criava um brilho tênue na pele. A saia curta da fantasia subia perigosamente quando ela se inclinava para frente, o top branco destacava o busto e o lacinho vermelho no centro atraía o olhar como um ímã.

— Olá de novo — disse, com um sorriso carregado de mistério. — Senti falta de vocês…

A sala encheu-se de reações. Corações, foguetes, moedas. Entre eles, como sempre, estava LadyInSilk, agora com a primeira mensagem enviada:

“Estava contando os segundos.”

Luna sorriu. Os olhos brilharam.

— Então… vamos tornar essa noite memorável?

Ela se deitou sobre a cama com movimentos lentos. As pernas dobradas, o rosto levemente de lado, encarando a câmera. Pegou o primeiro dildo — o liso, azul-claro — e o acariciou com as pontas dos dedos, como se apresentasse um segredo ao público.

Começou a se tocar com suavidade. Os dedos dançavam entre suas coxas, o dildo passava entre os lábios úmidos, deslizando sem pressa. Gemidos sutis escapavam de sua boca, o corpo arqueava, a fantasia de Sailor Moon se contorcia contra a pele.

— Vocês gostam de meninas mágicas? — murmurou, a voz rouca. — Porque essa aqui… tem muito mais que varinhas encantadas.

O segundo dildo entrou em cena. Rosa-choque, com textura de nervuras suaves. Luna o introduziu com delicadeza, o corpo se curvando, os seios arfando sob o tecido apertado do top.

Foi então que ela sentiu algo diferente.

A respiração acelerou, os músculos retesaram e, com um movimento mais profundo, ela atingiu um clímax inédito. Um gemido longo, contido — e então, o esguicho. Seu corpo reagiu com intensidade, como se um véu fosse rasgado de dentro para fora.

Ela riu, surpresa com a própria potência. Cobriu a boca com a mão, os olhos arregalados.

— Acho que… fui longe demais, não é?

A sala explodiu em reações. A tela parecia pegar fogo.

Sophia, diante da televisão, respirava fundo.

A taça de gin tremia em sua mão.

— Você é irreal… — sussurrou, sentando-se no sofá como se estivesse diante de uma divindade.

Passou os dedos pela própria coxa, os olhos fixos na tela. As pernas se abriram devagar, como num reflexo involuntário.

E pela primeira vez em muitos anos, Sophia não sentiu o peso do mundo sobre os ombros. Apenas o peso do desejo.

E a certeza de que aquela garota — seja lá quem fosse — agora morava em sua pele.

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