A tela do celular piscou com a notificação: “Você venceu o topo da live. Prepare-se para a chamada exclusiva.” Sophia sentiu o estômago revirar — não de medo, mas de uma excitação pura, quase feroz. Sentada na beira da cama, com o roupão de seda aberto até a cintura, ela respirou fundo. A taça de gin estava ao lado da tela, e a luz suave da luminária transformava seu quarto em um santuário do desejo. Ela não sabia o nome da garota. Não conhecia sua voz real, nem seus olhos por completo. Mas, naquela noite, ela teria um momento só para si. Um toque. Um rosto. Um suspiro. • Luna ajeitou os cabelos em frente à câmera, tremendo discretamente. Ela havia feito diversas lives desde que entrou na plataforma, mas aquela seria diferente. Íntima. Direta. Uma vídeo chamada privada com quem mais doou. Uma recompensa prometida — e agora, inevitável. Vestia uma versão luxuosa da fantasia de Jinx, do League of Legends, com cabelos tingidos de azul em longas tranças artificiais. Meias arr
Sophia acordou com o corpo ainda febril, como se a madrugada anterior tivesse deixado traços em sua pele. Ela levou os dedos até os lábios, lembrando do gosto do próprio prazer, e os olhos demoraram segundos a mais na tela do celular. Nenhuma nova notificação. Nenhuma nova mensagem daquela que a fizera perder o controle. “Qual é o nome dela?” Era uma pergunta simples. Mas carregada de tempestades. Levantou-se lentamente, ignorando o café da manhã. A cabeça girava entre o desejo bruto e a sombra do mistério. Havia algo naquela garota… algo além da carne e da performance. Um tipo de dor. De vazio disfarçado. Uma familiaridade que fazia o coração de Sophia bater fora do compasso. “Eu preciso saber quem ela é.” No trabalho, o mundo parecia embaçado. As reuniões soavam distantes, como se os números e gráficos não tivessem mais peso. Jacqueline notou a expressão perdida da chefe e, pela primeira vez, hesitou em interromper: — Sophia… está tudo bem? — Claro. Apenas pensando —
A tarde se escoava lentamente entre as sombras elegantes da sede da Stuart & Co., e a última imagem que ficou em Sophia, mesmo depois da despedida formal, foi a de Luna segurando seu caderno de anotações com as unhas pintadas de azul. A mesma cor da luz neon que banhava a pele da sua musa anônima nas lives. A coincidência martelava na cabeça de Sophia como um tambor tribal, primitivo, lascivo. Ela voltou à sua sala com passos controlados, porém rápidos, como se fugir dos próprios pensamentos fosse uma opção. Sentou-se na cadeira giratória de couro, girou levemente para encarar a paisagem urbana pela parede de vidro, mas sua mente já não estava ali. “Luna Ferreira.” Repetiu o nome, em voz baixa. Soava comum demais para ser a mesma mulher das fantasias. Mas… e o olhar? E a presença? E a leve tremedeira que ela teve quando viu Sophia? — Jacqueline — chamou de repente. — Sim, senhora? — Quero os arquivos de todos os alunos que apresentaram hoje. Dados de inscrição, currículos, e per
A semana começou como um vendaval. A apresentação final havia terminado, e os nomes dos vencedores já circulavam nos corredores da faculdade com o mesmo fervor de boatos perigosos. Luna e sua equipe foram anunciados como a proposta mais promissora — com direito a um estágio remunerado dentro da Stuart & Co. O momento em que Jacqueline ligou para ela foi breve, formal, mas mudou tudo: — Luna Ferreira? Aqui é da Stuart & Co. Estamos muito felizes em dizer que você foi selecionada. Poderia vir até a sede amanhã para preencher os papéis e conhecer o time? Luna demorou segundos preciosos para responder. Sua garganta estava seca, e sua mente rodava. — Claro… claro que posso. Obrigada. Obrigada mesmo. Desligou, e ficou encarando a tela escura do celular por um tempo, com um sorriso tímido no canto dos lábios. Era real. Estava acontecendo. — No outro extremo da cidade, Sophia apertava a caneta com força, encarando o vazio da sala de reuniões. Ela ainda não havia escolhido pessoalmente
As manhãs de Luna agora tinham outro ritmo. Ela acordava cedo, preparava um café simples — pão com manteiga e café preto forte —, e vestia as roupas novas que havia comprado no fim de semana com sua amiga Isadora. A rotina que antes era sufocante agora tinha pequenas luzes: o primeiro estágio, a faculdade de tecnologia, os almoços improvisados no pátio e, claro, as lives noturnas que a mantinham financeiramente estável. Naquela sexta-feira, ela se encontrou com Isadora logo após a aula. — Amiga, você precisa de mais do que duas blusas e uma calça pra trabalhar numa empresa como a Stuart — brincou Isadora, puxando-a pelo braço em direção ao shopping. — Eu nem ia acreditar que ia conseguir… ainda me sinto como se estivesse sonhando. — Acorda pra realidade então. Vai ser a gostosa mais bem vestida do setor de desenvolvimento criativo, isso sim. As duas riram. Luna provava peças no provador com Isadora do lado de fora opinando alto: — Essa te deixa com cara de CEO! — Agora essa… no
Sophia despertou naquela manhã com o peso das decisões martelando em sua mente. A mesa em seu escritório minimalista exibia apenas uma pilha de relatórios do programa Nova Geração e um tablet com os perfis dos candidatos à liderança do projeto. Ela passou as mãos pelos cabelos, ainda bagunçados pelo sono agitado. Era a hora de escolher quem guiaria a próxima fase da incubadora jovem — a chance de ouro de encontrar uma “cara nova” capaz de traduzir o ímpeto inovador que ela buscava. Chegou cedo ao trabalho. O prédio reluzia refletindo as primeiras luzes do dia, mas Sophia não se distraiu com o movimento externo. Convidou Jacqueline para seu salão de reuniões particular, com uma jarra de água e copos de vidro. — Jacqueline — começou, abrindo os arquivos digitais —, preciso de um parecer: quem, na nossa equipe de estagiários, se destacou mais na apresentação do Redoma? Quem tem coragem pra assumir um projeto de grande visibilidade? Jacqueline, impecável como sempre, tocou na tela do t
O sol matinal atravessava as persianas do décimo andar, desenhando faixas claras sobre a grande mesa de reunião onde Luna montara seu cenário de apresentação. Os notebooks estavam alinhados, os protótipos do Redoma em exibição, amostras de interface desenhadas em papel e um gravador pronto para captar sugestões. O ar suave de condicionador de ar mantinha a sala na temperatura ideal — mas, para Luna, o coração batia rápido de excitação e apreensão. Às 9h00 em ponto, Sophia entrou, com Jacqueline logo atrás, trazendo café e água mineral. Usava um tailleur verde-escuro que acentuava a silhueta e um colar discreto de prata. Seus olhos encontraram os de Luna antes de descerem até os papéis sobre a mesa: não havia formalidade — apenas um reconhecimento contido. — Bom dia, pessoal — disse Sophia, na voz firme de sempre, mas com um tom mais suave do que nos primeiros dias de estagiária. — Hoje vamos testar, juntos, a primeira versão do Redoma. Quero ouvir tudo: críticas, elogios, bugs e id
A noite caíra leve sobre o apartamento de Luna. Ela fechou os livros de TI, deixou o computador em modo de hibernação e trocou seu uniforme discreto por algo completamente diferente. No espelho, ajustou as longas mechas turquesa da peruca de Hatsune Miku, encaixou as presilhas de alho‑poro (recriadas em silicone macio para combinar com o vibrador temático) e calçou uma saia xadrez curta, meias até a coxa e um top metálico que colava como segunda pele. Em cima da cama, alinhou cuidadosamente seus brinquedos: o vibrador “Allium” (formato de alho‑poro), lubrificantes coloridos e o controle remoto que sincronizaria cada pulso à generosidade dos doadores. Fechou as cortinas, acendeu as luzes de LED verde‑água e aproximou-se da câmera. — Konbanwa, meus Vocaloids preferidos — murmurou, com voz suave e um leve sotaque japonês encenado. — A Miku está aqui para cantar… mas hoje vai dançar com o desejo. Ela ligou a transmissão. No primeiro segundo, o chat explodiu com emojis de notas musicais