O ar condicionado gelava a sala, mas o calor que subia pela espinha de Luna era outro. Ela entrou com a equipe, os passos firmes mas alertas. Sophia já estava ali — cabelo solto, camisa de seda escura, decote sutil. Os olhos que a seguiram quando entrou eram impossíveis de ignorar.— Vamos começar — disse Sophia, cruzando as pernas com uma elegância calculada.Apresentações se sucederam. Gráficos. Argumentos. Código. A voz de Luna foi a última — segura, mas carregada de uma tensão que ninguém ali captava. Só Sophia.— …e a IA interna se adapta com base no histórico emocional, o que garante uma experiência personalizada e eficiente — concluiu Luna.Silêncio. Sophia sorriu.— Impressionante.Olhou para os demais diretores.— Temos aprovação unânime?Todos assentiram.Sophia se levantou, caminhando pela sala com passos lentos.— Então está aprovado. Parabéns, equipe.Virou-se para Luna. O olhar era brasa pura.— Luna, pode ficar um instante?O grupo se retirou. Luna permaneceu. Sophia tr
Quinta-feira / Tarde abafada no campus O céu estava cinza e pesado sobre a cidade, como se a qualquer momento fosse desabar em chuva. O campus da faculdade fervilhava com a rotina de sempre — alunos correndo entre prédios, grupos sentados em bancos discutindo trabalhos, cafés descartáveis nas mãos, fones nos ouvidos. Luna atravessava o pátio com a mochila pendurada em um ombro e a blusa de manga arregaçada até o cotovelo. Seus passos eram rápidos, mas os pensamentos vagavam. Tinha uma entrega de relatório na disciplina de UX e uma apresentação oral dali a dois dias, mas o foco estava distante. O foco… estava sempre voltando para Sophia. A maneira como ela desviava o olhar quando a tensão era demais. O toque suave, acidental, quando lhe entregava um relatório impresso. As palavras que nunca foram ditas. As noites silenciosas desde o fim do estágio. Desde que Luna tentou cortar o laço. A faculdade, agora, era o único espaço onde Luna podia respirar sem medo de ser descoberta. Ma
Dois dias depois / Sexta-feira de tarde Luna caminhava pelo corredor da faculdade com os olhos baixos, os fones no ouvido tocando uma playlist suave. Seus dedos tamborilavam contra a lateral do celular, mas nada distraía o nó que sentia no estômago desde a visita de Sophia. Desde aquele olhar. Ela não deveria se sentir assim. Tinha feito a escolha certa, racional: cortar o contato, seguir com a vida, proteger o que precisava ser protegido. Mas tudo nela ainda vibrava com a lembrança do perfume, da presença, do toque que nunca aconteceu — e talvez nunca fosse acontecer. Na tela do celular, uma notificação do app adulto piscou brevemente: “LadyInSilk, sua live de ontem foi a mais comentada da semana.” Luna suspirou. Como se pudesse apagar aquela parte dela só porque Sophia estava por perto. Como se pudesse ser só “a menina do estágio” novamente. Mas ela não era. E Sophia… agora sabia disso. Ou quase. Escritório da Stuart & Co. / Final do dia Sophia estava senta
Quinta-feira à noite / Apartamento de Sophia Luna subiu os últimos degraus até o apartamento de Sophia com o coração martelando no peito. Não quis esperar o elevador. Nem pensou em mandar mensagem. Só foi. Precisava acabar com aquilo. Com o nó que se apertava mais a cada dia, mais a cada mensagem não enviada, mais a cada olhar cruzado sem coragem. O corredor estava silencioso. Um tapete elegante diante da porta de madeira escura. E, por um momento, ela hesitou. Mas era tarde demais pra recuar. Então bateu. Três toques firmes. Passos suaves do outro lado. E então a porta se abriu. Sophia estava ali, de moletom e camiseta, os cabelos soltos e os olhos um pouco cansados — mas ainda assim intensos, quase furiosos de beleza. Surpresa. — Luna? — a voz saiu quase um sussurro. — Eu preciso falar com você. Agora. — Ela não esperou resposta. Entrou. Sophia fechou a porta devagar, virando-se com o corpo tenso. — Aconteceu alguma coisa? Luna virou-se para ela, os olhos brilhando com uma
Quinta-feira à noite / Apartamento de Sophia (continuação) O beijo recomeçou com mais urgência, sem palavras, só respiração e toque. As mãos de Luna subiram pela camiseta de Sophia, sentindo a pele quente, os músculos tensos. Sophia gemeu baixinho quando os dedos finos alcançaram suas costas, as unhas arranhando de leve, como se quisessem marcar território. — Você tem certeza? — Sophia perguntou entre beijos, ofegante. — Nunca tive tanta. — Luna respondeu, empurrando-a gentilmente até o sofá. A queda foi suave. Sophia caiu sentada, os olhos fixos nos dela, e Luna subiu em seu colo, devagar, como uma gata selvagem. O espartilho sob a roupa apertava seus seios num desenho provocante, e quando ela tirou o casaco, Sophia prendeu a respiração. — Você veio pronta pra isso? — ela murmurou, as mãos pousando nas coxas de Luna. — Eu vim pronta pra você. — Luna desceu os lábios até o pescoço dela, beijando com doçura e crueldade ao mesmo tempo. Sophia segurou sua cintura com força, os ded
Sexta-feira / Início da manhã — Apartamento de Sophia O sol filtrava-se pelas cortinas com delicadeza. Era uma luz tímida, dourada e serena, como se soubesse que ali dentro repousavam duas mulheres que, pela primeira vez em semanas, dormiam em paz. Luna despertou antes. Estava deitada de lado, os olhos presos no contorno do rosto de Sophia. Os cabelos desalinhados, a boca entreaberta, uma expressão de abandono completo. Vulnerável e, ainda assim, inacreditavelmente poderosa. Ela sorriu sozinha, puxando o lençol até os ombros, como se o gesto pudesse preservar o calor daquela noite. Seu corpo ainda doía de leve — não de desconforto, mas de presença. Como se tivesse sido tocada de dentro pra fora. Desviou os olhos para o teto, o coração calmo, e pela primeira vez em muito tempo, sem medo. Sophia se mexeu, devagar, como quem tenta acordar sem perder o sonho. — Já acordada? — murmurou, rouca de sono. — Não sei se dormi de verdade. — Luna riu baixo. — Acho que passei a noite tentan
Segunda-feira / Tarde — Empresa Stuart & Co. O elevador subia devagar. Luna ajeitou o blazer sobre os ombros e respirou fundo. Era a primeira vez que voltava à empresa desde… tudo. Desde a apresentação, desde o bloqueio, desde a noite em que contou a verdade e se despiu por inteiro. Por dentro e por fora. Agora, Sophia sabia. E, ainda assim, quis ficar. A porta do elevador se abriu, revelando o saguão corporativo. Vidros, aço, silêncio. O clique dos saltos dela era como um metrônomo num lugar onde tudo precisava estar no ritmo certo. Mas Luna nunca foi de seguir o ritmo. E agora, menos ainda. Ela caminhou até a sala de reuniões onde os ex-estagiários haviam sido convidados para apresentar os dados da primeira semana do aplicativo lançado. Estavam todos lá: Isadora, Bruno, Kelvin, Letícia. E Sophia, é claro — mais distante, como deveria ser. Mas com os olhos nela. O tempo todo. — Luna! — Isadora a puxou para um abraço. — Tava sumida! Tá tudo bem? — Agora tá — ela respondeu, sorr
“O mundo era como uma bomba-relógio, prestes a explodir.” Luna Ferreira : Luna caminhava descalça pelas ruas da cidade, os pés desprotegidos tocando o asfalto frio, sentindo cada pedrinha como um lembrete de sua própria vulnerabilidade. O céu estava encoberto, carregado, como se refletisse seu estado de espírito. Sentia-se esmagada por uma solidão que não pedia licença, uma presença constante que a seguia por onde quer que fosse. O peso do desespero se agarrava a seus ombros, tornando cada passo uma luta silenciosa. O bullying na escola havia se tornado uma rotina cruel, um ciclo sem fim. Risadinhas abafadas nos corredores, mensagens maldosas deixadas em sua mesa, empurrões discretos que os professores fingiam não ver. A indiferença dos adultos era o que mais a fería. Não era apenas o desprezo dos colegas — era o silêncio cúmplice daqueles que deveriam protegê-la. Era como gritar em um quarto vazio, esperando que alguém ouvisse. Chegar em casa não trazia alívio. O apartamento