Quinta-feira à noite / Apartamento de Sophia Luna subiu os últimos degraus até o apartamento de Sophia com o coração martelando no peito. Não quis esperar o elevador. Nem pensou em mandar mensagem. Só foi. Precisava acabar com aquilo. Com o nó que se apertava mais a cada dia, mais a cada mensagem não enviada, mais a cada olhar cruzado sem coragem. O corredor estava silencioso. Um tapete elegante diante da porta de madeira escura. E, por um momento, ela hesitou. Mas era tarde demais pra recuar. Então bateu. Três toques firmes. Passos suaves do outro lado. E então a porta se abriu. Sophia estava ali, de moletom e camiseta, os cabelos soltos e os olhos um pouco cansados — mas ainda assim intensos, quase furiosos de beleza. Surpresa. — Luna? — a voz saiu quase um sussurro. — Eu preciso falar com você. Agora. — Ela não esperou resposta. Entrou. Sophia fechou a porta devagar, virando-se com o corpo tenso. — Aconteceu alguma coisa? Luna virou-se para ela, os olhos brilhando com uma
Quinta-feira à noite / Apartamento de Sophia (continuação) O beijo recomeçou com mais urgência, sem palavras, só respiração e toque. As mãos de Luna subiram pela camiseta de Sophia, sentindo a pele quente, os músculos tensos. Sophia gemeu baixinho quando os dedos finos alcançaram suas costas, as unhas arranhando de leve, como se quisessem marcar território. — Você tem certeza? — Sophia perguntou entre beijos, ofegante. — Nunca tive tanta. — Luna respondeu, empurrando-a gentilmente até o sofá. A queda foi suave. Sophia caiu sentada, os olhos fixos nos dela, e Luna subiu em seu colo, devagar, como uma gata selvagem. O espartilho sob a roupa apertava seus seios num desenho provocante, e quando ela tirou o casaco, Sophia prendeu a respiração. — Você veio pronta pra isso? — ela murmurou, as mãos pousando nas coxas de Luna. — Eu vim pronta pra você. — Luna desceu os lábios até o pescoço dela, beijando com doçura e crueldade ao mesmo tempo. Sophia segurou sua cintura com força, os ded
Sexta-feira / Início da manhã — Apartamento de Sophia O sol filtrava-se pelas cortinas com delicadeza. Era uma luz tímida, dourada e serena, como se soubesse que ali dentro repousavam duas mulheres que, pela primeira vez em semanas, dormiam em paz. Luna despertou antes. Estava deitada de lado, os olhos presos no contorno do rosto de Sophia. Os cabelos desalinhados, a boca entreaberta, uma expressão de abandono completo. Vulnerável e, ainda assim, inacreditavelmente poderosa. Ela sorriu sozinha, puxando o lençol até os ombros, como se o gesto pudesse preservar o calor daquela noite. Seu corpo ainda doía de leve — não de desconforto, mas de presença. Como se tivesse sido tocada de dentro pra fora. Desviou os olhos para o teto, o coração calmo, e pela primeira vez em muito tempo, sem medo. Sophia se mexeu, devagar, como quem tenta acordar sem perder o sonho. — Já acordada? — murmurou, rouca de sono. — Não sei se dormi de verdade. — Luna riu baixo. — Acho que passei a noite tentan
Segunda-feira / Tarde — Empresa Stuart & Co. O elevador subia devagar. Luna ajeitou o blazer sobre os ombros e respirou fundo. Era a primeira vez que voltava à empresa desde… tudo. Desde a apresentação, desde o bloqueio, desde a noite em que contou a verdade e se despiu por inteiro. Por dentro e por fora. Agora, Sophia sabia. E, ainda assim, quis ficar. A porta do elevador se abriu, revelando o saguão corporativo. Vidros, aço, silêncio. O clique dos saltos dela era como um metrônomo num lugar onde tudo precisava estar no ritmo certo. Mas Luna nunca foi de seguir o ritmo. E agora, menos ainda. Ela caminhou até a sala de reuniões onde os ex-estagiários haviam sido convidados para apresentar os dados da primeira semana do aplicativo lançado. Estavam todos lá: Isadora, Bruno, Kelvin, Letícia. E Sophia, é claro — mais distante, como deveria ser. Mas com os olhos nela. O tempo todo. — Luna! — Isadora a puxou para um abraço. — Tava sumida! Tá tudo bem? — Agora tá — ela respondeu, sorr
“O mundo era como uma bomba-relógio, prestes a explodir.” Luna Ferreira : Luna caminhava descalça pelas ruas da cidade, os pés desprotegidos tocando o asfalto frio, sentindo cada pedrinha como um lembrete de sua própria vulnerabilidade. O céu estava encoberto, carregado, como se refletisse seu estado de espírito. Sentia-se esmagada por uma solidão que não pedia licença, uma presença constante que a seguia por onde quer que fosse. O peso do desespero se agarrava a seus ombros, tornando cada passo uma luta silenciosa. O bullying na escola havia se tornado uma rotina cruel, um ciclo sem fim. Risadinhas abafadas nos corredores, mensagens maldosas deixadas em sua mesa, empurrões discretos que os professores fingiam não ver. A indiferença dos adultos era o que mais a fería. Não era apenas o desprezo dos colegas — era o silêncio cúmplice daqueles que deveriam protegê-la. Era como gritar em um quarto vazio, esperando que alguém ouvisse. Chegar em casa não trazia alívio. O apartamento
A casa estava em silêncio. Luna sentia o coração disparado como se estivesse prestes a cometer um crime. A fantasia de coelha, guardada no fundo do armário desde os tempos em que as festas pareciam um sonho distante, agora era sua única armadura. Ela a vestiu com mãos trêmulas. A meia arrastão subiu devagar por suas pernas pálidas. O body preto moldava suas curvas com precisão e as orelhas de pelúcia no topo da cabeça conferiam um ar de doçura dissonante com a tensão que preenchia o quarto. A câmera foi posicionada de modo que seu rosto permanecesse oculto pelas sombras e pelos efeitos suaves do aplicativo. O corpo, no entanto, era protagonista. A pele alva, o quadril marcado, os gestos tímidos a princípio. Mas com o passar dos minutos, algo nela começou a mudar. A transmissão começou. As notificações de espectadores apareciam como pequenas batidas no coração. Ela passou a mão pelos próprios braços, depois pelo pescoço, descendo lentamente até os seios cobertos apenas por renda. Se
Luna permaneceu imóvel por longos segundos depois que a live foi encerrada. A respiração ofegante ainda martelava contra o silêncio do quarto. As mãos, agora paradas sobre os próprios joelhos, tremiam levemente — não de medo, mas de uma excitação nova, diferente de tudo o que já sentira. Um tipo de poder pulsando sob a pele. Ela nunca imaginara que o toque sobre si mesma, transmitido por uma câmera barata e embalado por uma fantasia de coelha, pudesse provocar tamanha reação — não só em quem a assistia, mas nela própria. O corpo ainda vibrava com os ecos do prazer, mas era a mente que parecia em combustão. Ela se levantou devagar, tirando a meia arrastão como quem desfaz um feitiço. A roupa colava à pele úmida, e quando passou o tecido frio de um lenço umedecido entre as pernas, estremeceu de novo, lembrando-se do momento exato em que percebeu… havia alguém do outro lado que realmente a via. A notificação tinha surgido entre centenas. Um valor alto, acompanhado de uma frase simples
A manhã nasceu abafada, típica de um fim de primavera que se arrasta preguiçosamente até o verão. Luna saiu de casa com os cabelos presos num coque frouxo e uma mochila surrada pendendo de um ombro. O uniforme escolar — amassado, ajustado com pequenos remendos — parecia um lembrete silencioso de todas as vezes que ela precisou se virar sozinha. Era seu último dia de aula. Um peso e um alívio. Ela caminhava pela calçada tentando manter o olhar baixo. O som das risadas de um grupo ao longe já bastava para fazer seu estômago se contrair. As valentonas — sempre em grupo, sempre maquiadas como se estivessem indo a um desfile — ainda estavam por ali. Luna evitou o corredor central e seguiu pelos fundos do prédio, atravessando a quadra de cimento rachado. Por fora, ninguém dizia nada. Por dentro, ela contava os segundos. Luna sabia que deveria estar empolgada. O mundo se abria em possibilidades, mas, pela primeira vez em muito tempo, ela sentia-se perdida. A faculdade parecia um horizon