Algumas pessoas presentes observavam discretamente o pequeno escândalo. Maximilian está com as veias saltando pelo pescoço e testa. James se levanta.
"O que está acontecendo aqui?"
"O que está acontecendo?!" Max está transtornado. "Estou aqui para consertar o meu casamento e recuperar a mulher que me ama! Ou pelo menos, que acreditei que me amasse!"
"O que disse?!" Mariana também se põe de pé, sentindo mais uma vez os tremores voltando.
"Eu vim atrás de você, Mariana. Vim atrás de você porque te amo, e porque quero que nós fiquemos bem. Mas no primeiro instante que você se vê livre, já está num encontro com um completo estranho!"
"Como ousa-"
"Eu deveria saber. Todos esses anos te deixando dentro de casa, te impedindo de trabalhar, de ter que suar ou deixar essas mãos... Oh, essas lindas mãos intactas... Tudo isso foi em vão, não é? Porque essa é a sua natureza."
"Você não pode estar falando sério!"
James observa tudo em silêncio, chocado. Maximilian está vermelho de raiva.
"É claro que estou falando sério! Eu estou falando o que meus olhos estão vendo, Mariana. Você queria que eu fosse cego, não é? Ou mudo. Queria que eu fosse um... Um homem submisso e castrado que fizesse todas as suas vontades!"
"Um idiota, é isso o que você é, entendeu? Um completo e total idiota!" Mariana sente as lágrimas voltando a descer pelo rosto. "Você estava literalmente me traindo com a secretária, seu desgraçado, e eu nem tenho ideia de há quanto tempo você faz isso! E agora está aí, me acusando de coisas horríveis, quando você é o canalha dessa relação!"
"Escuta aqui-"
"Eu não vou escutar nada! Você que vai me escutar, entendeu bem? Há três anos atrás, você me disse que iria cuidar de mim na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, e que a única coisa que iria nos separar seria a morte. Você fez um juramento, não apenas perante a Deus, mas a todos que estavam ali reunidos. Você se lembra disso, Maximilian?!"
As mãos de Mariana tremem tanto que ela teme passar mal e desmaiar ali mesmo. Chocada e revoltada, ela percebe que algumas pessoas, além de estarem comentando e fofocando, estão mesmo filmando com seus celulares.
Era um pesadelo. Só poderia ser um pesadelo horrível, da qual ela não conseguia acordar.
"Já disse que cometi um erro, Mariana. Assim que você foi embora, no exato segundo em que saiu, eu expulsei Michelle da minha sala! Não só da minha sala, mas da minha vida. Eu estava louco, completamente alucinado, mas consegui enxergar tudo! Você é a mulher da minha vida!"
Mariana solta uma gargalhada sarcástica, mas cada nota proferida é repleta de dor. As pessoas ao redor nem mesmo tentam fingir que não estão completamente absortas em meio àquele bafafá.
"Certo, agora eu sou a mulher da sua vida. Depois que eu descobri sua verdadeira face, não é? Bom, agora é tarde demais."
"O que quer dizer com isso?"
"Você tem sorte por eu não ser uma pessoa vingativa, sabia, Max? Porque eu poderia te destruir agora mesmo. Poderia soltar ao vento informações tão escandalosas que você seria no mínimo preso!"
Maximilian avança e coloca um dedo em riste ao falar para a até então esposa:
"Nem mais uma palavra, ouviu bem?"
"Ou o quê?" Mariana, com a voz trêmula, ergue o queixo para passar superioridade, embora seja bem menor que o então marido. "O que vai fazer, hein? Vamos, quero que fale em alto e bom som. Quero que todos ouçam quem você é de verdade. Chega de fingimentos. Chega de máscaras!"
O homem se afasta. James, constrangido porém sério, pigarreia e diz:
"Escutem, sei que vocês estão muito nervosos, mas eu peço que se acalmem e conversem entre si. Tudo isso pode ser resolvido com diálogo."
Tanto Mariana quanto Max olham para o redator como se ele tivesse cometido um sacrilégio. James ergue as mãos num gesto apaziguador, mantendo a voz calma:
"Sei que é difícil, mas vocês precisam realmente falar sério, agora. Ainda mais porquê ela está-"
A moça arregala os olhos e articula a palavra "não" várias vezes. Ela não quer que Maximilian saiba da gravidez.
James hesita. Então completa a frase:
"Ainda mais porquê vocês estão juntos há um tempo, não é como se tivessem acabado de se conhecer."
"O seu amante fala bem, Mariana. Até parece que ele está torcendo por nós", debocha o empresário, abrindo um enorme sorriso de sarcasmo logo em seguida.
A voz de James está controlada, mas sua paciência já chegou ao limite. Mariana sabe que a qualquer momento, uma bomba maior ainda pode explodir.
"Não sou amante dela. Na verdade, nós nos conhecemos hoje."
Os olhos de Max estão tomados por fúria.
"Então isso piora ainda mais as coisas. Você nem teve a chance de dormir com ela pra saber se vale a pena defendê-la tanto assim."
"Agora já chega", murmura Mariana, olhando para os lados. Algumas das pessoas estão de olhos arregalados e cochilando, mas outras parecem estar se divertindo.
Sim, ela tinha se tornado alvo de risadas. Aquela tragédia que acontecia diante de seus olhos estava sendo ENGRAÇADO para o bando de abutres.
"É isso o que eu ganho por ter acreditado em você, não é, Mariana? É tudo isso que eu mereço por ter amado cada detalhe em você, de seu corpo e de sua alma! Por ter acreditado que você seria minha, e só minha, Mariana!"
"Cala sua boca!"
"Sabia que toda a minha família era contra o nosso casamento? Principalmente a minha mãe. Ela vivia tentando me alertar a dor de cabeça que você me daria no futuro. Ela até mesmo disse que, se eu não me casasse com você, iria me colocar como seu único herdeiro! E eu não teria que dividir nada com Maxwell. Sabia disso?!"
A moça não consegue dizer nada. Maximilian odiava o irmão, embora ele nunca dissesse o porquê. Saber que ele o escolheu ao invés de se vingar... Ela não sabia como se sentia.
James tenta intervir, mas é solenemente ignorado. Max continua:
"Tudo o que eu queria, minha adorada e amada esposa, era que fôssemos felizes. Queria você em casa, sempre linda e radiante, sem se estressar e sem precisar se meter em brigas. Queria você sorridente, realizada! E faria qualquer coisa para manter tudo exatamente dessa maneira."
Mariana engole em seco. Ela estava tão constrangida, se sentindo tão mal...
A voz de seu esposo fica muito diferente quando ele volta a falar, quase como se a raiva que estivesse sentindo mudasse totalmente sua personalidade:
"Eu realmente pensei que você fosse diferente, sabe? Quando nós nos conhecermos. Você nunca foi interesseira, sempre soube qual era seu lugar, e não me desafiava. Achei mesmo que tinha ganhado na loteria. Mas essa é a sua natureza, não é? A natureza das mulheres."
A moça de cabelos escuros não consegue dizer absolutamente nada, tomada pela mágoa de ouvir coisas tão terríveis. Ele segura seu rosto e lhe faz uma carícia, apenas para soltá-la no segundo seguinte e dizer:
"Acho que fui ingênuo demais. Não se pode combater a natureza. Alguma hora você teria que ceder aos seus próprios instintos, não é? Alguma hora você teria que dar vazão a isso tudo."
Ele faz uma ligeira pausa, abrindo outro sorriso cruel:
"Você teria que ceder aos apelos emocionais que existe em seu subconsciente de fêmea e virar a vagabunda que sempre foi."
Mariana deixa escapar um soluço. Aquele pesadelo não parecia ter fim. Ela ouve um pequeno som de risada ao fundo, provavelmente de algum adolescente.
"Pois é, Mariana. Vim aqui me humilhar e pedir por perdão, mas não vou fazer isso "
Maximilian olha diretamente para James e pisca um dos olhos.
"Afinal de contas, vadias não merecem ser tratadas com respeito."
A mulher quase pula para trás quando, num ímpeto extremamente rápido e totalmente imprevisível, James acerta um soco no olho de Max.
E os dois começam a rolar pelo chão, batendo um no outro sem parar, como num verdadeiro ringue.
Mariana está sentada na enorme cama de casal, onde repousam duas enormes malas, roupas, itens de maquiagem e alguns livros. Secando mais uma das insistentes lágrimas, ela coloca mais alguns itens na mala da direita. Que vergonha tinha passado naquela cafeteria! Alguns segundos depois que James e Maximilian começaram a se socar, três funcionários do local precisaram separá-los, e a briga de verdade só teve fim depois que ameaçaram chamar a polícia. Max saiu do lugar, chutando algumas mesas e cadeiras. James acompanhou Mariana até fora do local, e depois a abraçou e lhe ofereceu seu ombro para que chorasse até não aguentar mais. Ele ainda não tinha dado sinal de vida. Depois de conversar mais um pouco, pedir desculpas e agradecer pelo convite de James, Mariana voltou se sentindo derrotada pra casa. Aquele episódio era o que ela precisava para tomar uma decisão. Não tinha mais tempo a perder. A moça nunca mais seria humilhada daquele jeito. Não, Mariana não permitiria que ninguém lhe
“Mariana?”A moça tira os olhos da tela do computador e observa sua colega, Ruth, que segura nas mãos uma prancheta.“O senhor Jones quer falar com você.”A moça bufa audivelmente.“Mesmo? O que ele quer?”“Não sei. Mas ele me pediu para te passar esse recado. Depois do expediente, dá uma passadinha na sala dele.”“Claro. Obrigada, Ruth.”A mulher vai embora para tomar conta dos próprios afazeres. Mariana tenta se concentrar no trabalho à sua frente, mas não consegue.O que o seu chefe queria? Desde que chegou na cidade e conseguiu o emprego, modéstia à parte, ela era a funcionária mais competente daquele escritório. Sempre chegou no horário, e quando necessário, ficava até mais tarde para ajudar algum outro funcionário.Irritada, a mulher fez cara feia e resmungou:“É melhor que seja uma oportunidade de promoção.”Quando finalmente o relógio digital em cima da sua mesa lhe mostrou o horário de saída, Mariana finalizou suas atividades, colocou seu casaco, pegou sua bolsa e, ao invés d
Mariana tamborila os dedos em cima da mesa do escritório e olha para a tela em branco, sinal de sua fadiga e estresse.Aquilo sim era uma ironia, já que o escritório ficava na sua casa, e que supostamente, trabalhar dentro do lar era a solução adequada para mantê-la calma.Já fazia uma semana desde o terrível incidente na sala do senhor Jones, e toda vez que se lembrava do semblante de tristeza, choque, nojo e vontade de morrer que se passou no rosto do chefe, ela se sentia vermelha de vergonha.A consulta ao pré-natal daquela semana ainda iria acontecer. Mariana não queria saber o sexo do bebê. Só de saber que ele seria saudável, e que teria uma vida mais digna do que ela mesmo teve…A moça suspira. Ela se levanta e vai para o jardim observar as flores.Sua mãe havia sido muito mais generosa do que ela jamais pensou. Quando contou para ela o que o cafajeste de seu ex-marido havia feito, e em qual situação Mariana se encontrava, a mesma fez questão de deixá-la ficar com o imóvel que u
A primeira coisa que se passa na mente de Mariana é simplesmente levantar e ir embora, sem dizer uma única palavra.A segunda coisa é sorrir, acenar e mandar aquela velha para o inferno e, então sim, levantar e ir embora.Mas o nervosismo, a confusão e a hesitação fazem com que a moça simplesmente fique boquiaberta por alguns segundos antes de dizer:"Olá", responde Mariana, tentando manter a compostura, embora seus pensamentos estejam acelerados. Ela observa a expressão serena no rosto de Isabella. Como aquela mulher tinha a encontrado? Apesar de estar tentando manter a calma, Mariana quer muito segurá-la pela gola da blusa e sacudí-la enquanto a enche de perguntas.Isabella sorri gentilmente e diz: "Espero que não se importe por eu ter mantido o anonimato. Prezei pela minha segurança e também pela sua ao escolher esse método. Tenho acompanhado a situação difícil pela qual você está passando e senti que era hora de intervir."Mariana franze a testa, ainda processando a revelação. E
Maxwell Philips olha para Mariana com um sorriso sarcástico nos lábios. Seus olhos frios e penetrantes parecem analisá-la de cima a baixo, como se estivesse estudando um objeto de experimento."Surpresa em me ver aqui, cunhada?" ele diz, sua voz carregada de desprezo.Mariana tenta disfarçar a perturbação que sente ao ver Maxwell ali. Ela sabia que ele odiava Maximilian, mas não conseguia entender completamente os motivos. Agora, diante dessa situação inesperada, sua mente se enche de dúvidas e receios."O que você quer, Maxwell?" ela pergunta, lutando para manter a compostura.Maxwell dá um passo mais perto, seus olhos fixos nos dela. "Eu vim oferecer um acordo", ele responde com um tom sinistro. “Você já deve ter falado com a minha mãe.”Atrás dela, Isabella se aproxima e coloca uma das mãos na cintura.“Bem, filho, você sabe que eu sempre tento a diplomacia antes de tudo.”“E nós dois sabemos que Mariana sempre preferiu as coisas do jeito mais difícil, não?”, ele ri, cúmplice.Sent
Mariana se encolhe no canto do beco, tentando controlar sua respiração acelerada e abafar os soluços de choro. Ela se agarra à esperança de que as vozes e passos que ouve não sejam de Maxwell ou Isabella, mas o medo a consome, e ela não pode deixar de temer o pior.Os ruídos se tornam mais altos, indicando que as pessoas estão se aproximando rapidamente. Mariana pressiona uma das mãos contra a boca para conter qualquer som que possa traí-la. Seu coração bate forte em seu peito, e a tensão aumenta a cada segundo.De repente, um vulto passa pelo beco, e Mariana prende a respiração. Ela se encolhe ainda mais, tentando se fundir às sombras, esperando que não seja vista. Os passos param bem próximos ao seu esconderijo, e a moça fecha os olhos, esperando o pior."Você viu alguém correndo por aqui?", pergunta uma voz masculina."Não, não vi ninguém", responde outra voz, feminina. "Provavelmente só foi nossa imaginação. Esse beco é meio escuro e dá um arrepio."Mariana não reconhece as vozes,
“Não gosto disso, Mariana.” Caminhando ao seu lado, estava James, o homem que a encontrou no dia em que a moça descobriu a traição; o homem que havia salvado sua vida. Ele repete com mais ênfase:“Não gosto nada disso!”“Eu sei, James, eu também não. Mas acredite em mim, é o único jeito.”“Mariana-”“Vai ficar tudo bem.”“Como vai ficar tudo bem? Porque do nada sua ex-sogra e seu ex-cunhado querem se aproximar de você? Você mesma me disse que-”“Sim, James, mas você precisa confiar em mim. Eu sei o que estou fazendo, não vai acontecer nada de mal comigo.”“Se não vai acontecer nada de mal com você, então porque você se sentiu na obrigação de me trazer como testemunha?”Mariana para de andar. Os dois estão há minutos de chegarem no parque, o local do encontro combinado entre Mariana, Isabella e Maxwell.“Você confia em mim?’“Eu-”“Confia ou não?”Vencido pelo cansaço, James suspira profundamente antes de responder:“Sim.”“Obrigada.”Mariana dá um abraço apertado no amigo. Os dois vo
Sozinho dentro da enorme e cada dia mais solitária casa, o empresário Maximilian Philips, jogado no chão com uma garrafa de uísque ao lado, olha para o teto.O candelabro é radiante, imponente e por si só já demonstrava todo um luxo que, um dia, o homem fizera questão de ostentar.Mas agora, o que era aquilo além de um punhado de vidro lapidado com lâmpadas em seu interior?Max toma mais um gole de uísque.A nova empregada, Lanis, bate duas vezes na porta antes de entrar;“Senhor Philips, o senhor tem visita.“Mande embora”, ele retruca. Sua voz está pastosa devido ao consumo excessivo de álcool.“Mas, senhor Phillips, é a-”“Já mandei mandar embora!”“Sim, senhor.”É claro que depois do divórcio, mulheres apaixonadas por ele, que sempre o desejaram e suspiravam quando o mesmo passava pelos corredores, iriam atrás dele como abelhas iam para o mel.Mas Maximilian não queria nenhuma delas.O zangão tinha perdido sua abelha-rainha. E pior: por causa de seu próprio mal-caratismo.Cambalea