Mariana tamborila os dedos em cima da mesa do escritório e olha para a tela em branco, sinal de sua fadiga e estresse.
Aquilo sim era uma ironia, já que o escritório ficava na sua casa, e que supostamente, trabalhar dentro do lar era a solução adequada para mantê-la calma.
Já fazia uma semana desde o terrível incidente na sala do senhor Jones, e toda vez que se lembrava do semblante de tristeza, choque, nojo e vontade de morrer que se passou no rosto do chefe, ela se sentia vermelha de vergonha.
A consulta ao pré-natal daquela semana ainda iria acontecer. Mariana não queria saber o sexo do bebê. Só de saber que ele seria saudável, e que teria uma vida mais digna do que ela mesmo teve…
A moça suspira. Ela se levanta e vai para o jardim observar as flores.
Sua mãe havia sido muito mais generosa do que ela jamais pensou. Quando contou para ela o que o cafajeste de seu ex-marido havia feito, e em qual situação Mariana se encontrava, a mesma fez questão de deixá-la ficar com o imóvel que usava para locações.
Agora, além de ter um trabalho e um cantinho, a mesma só precisava descansar e não vomitar nas pessoas. Parecia fácil.
Suas lembranças divagam até o dia em que saiu da casa de Maximilian, há três meses atrás. Ela já estava entrando na décima quarta semana de gestação.
Como se soubesse que era ele a fonte de seus pensamentos, o bebê de Mariana a chutou.
“Ei, danadinho”, ela fala com o neném, colocando a mão em cima da própria barriga.”
A moça passa mais alguns minutos encarando o próprio jardim florido. Aquela sensação de paz era incrível.
Mariana volta ao trabalho. Enquanto ajusta alguns formulários, ela recebe um e-mail em sua caixa de entrada.
O endereço eletrônico é desconhecido pela mesma. Ela minimiza a notificação e continua trabalhando. Talvez se tratasse de algum spam ou anúncio.
Depois de cinco minutos, no entanto, Mariana se dá por vencida. A mulher volta a ver sua caixa de entrada e procura o e-mail mais recente.
Mariana clica.
Assim que Mariana abre o e-mail, seu coração acelera.
“Mariana,
Espero que esta mensagem a encontre bem. Você deve se lembrar de mim. Fiquei sabendo da sua gravidez e da… situação difícil que você tem enfrentado nos últimos meses.
Apesar de nunca termos sido exatamente próximas, sei que você precisa de suporte. Não apenas conselhos e parabenizações, é claro, mas algo que realmente possa agregar na sua vida. Principalmente agora.
Eu gostaria de ajudar. Sei que é difícil confiar em alguém que não faz menção de se identificar, mas acredite, isso é apenas para minha e sua proteção.
Eu estou genuinamente disposta a fazer o que for necessário para remediar a situação. Tenho recursos financeiros que posso disponibilizar para garantir que você e seu filho tenham uma vida digna. No entanto, peço que possamos primeiro conversar pessoalmente.
Estou na sua cidade, e também sei seu local de trabalho. Não se preocupe, no entanto. Não irei invadir sua casa. Amanhã às quatro e meia da tarde estarei na cafeteria local. Encontro com você lá.
Com sinceridade, Um Amigo.”
Mariana fica sem palavras diante da mensagem.
Mariana relê o e-mail várias vezes, tentando absorver o conteúdo e processar a surpresa que ele traz. Quem poderia ser esse "Amigo" misterioso, e como ele ficou sabendo de sua gravidez e situação difícil?
Uma mistura de curiosidade e cautela invade Mariana. Ela considera as palavras cuidadosamente escolhidas no e-mail e pondera sobre a possibilidade de aceitar o encontro proposto.
Embora a ideia de receber ajuda financeira e suporte seja tentadora, Mariana também está ciente dos riscos envolvidos em encontrar uma pessoa desconhecida.
Por um momento, ela se pergunta se isso poderia ser algum tipo de armadilha ou golpe. No entanto, ao lembrar-se da referência ao conhecimento de seu local de trabalho, Mariana fica ainda mais intrigada. Quem teria acesso a essas informações?
As únicas pessoas que sabiam sobre sua gravidez eram James, o homem que a ajudou a sair da casa de Maximilian e o único que tinha real fé em seu potencial, e a própria mãe. Nenhum deles a trairia daquele jeito. A própria ideia era inconcebível.
Ligeiramente trêmula, mas fazendo de tudo para ficar calma novamente, Mariana fecha o e-mail e volta ao ritmo de trabalho.
No entanto, mesmo dando o seu máximo para se concentrar nos números, nomes e as mais diversas informações que são digitadas rapidamente em seu computador, ela não consegue de jeito nenhum de pensar naquela mensagem.
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No dia seguinte, Mariana cumpre com sua escala, desliga o computador e checa as horas em seu relógio de pulso. Quatro horas da tarde.
Ela tenta especular sobre quem poderia ser esse "Amigo" misterioso. Seria alguém do seu passado que ela não reconheceu pelo endereço de e-mail? Ou talvez alguém que conhecia sua situação por meio de terceiros?
A moça respira fundo.
Era arriscado, mas ela não tinha muita alternativa além daquela.
Depois de vestir um lindo vestido preto, pentear os cabelos e calçar suas sapatilhas prediletas, Mariana sai de casa e caminho a passos moderados até a cafeteria a três quadras dali.
Da última vez em que ela aceitou o convite de um desconhecido para tomar um cafezinho, não acabou muito bem.
Respirando fundo e lutando contra o próprio nervosismo, Mariana chegou no ambiente ligeiramente lotado e olhou em volta. Não havia nenhum rosto familiar.
A moça fez de tudo para não surtar ao sentar-se em uma das mesas perto da janela. Se o seu “Amigo” fosse alguém cujo rosto se lembrava, aquele era um excelente lugar para espiá-lo.
Mas os planos dela não deram exatamente certo.
Pois uma pessoa se senta bem à sua frente, colocando a bolsa chique em cima da mesa de madeira.
Mariana nem mesmo tenta fingir que está extremamente chocada.
Pois o tal “Amigo” era ninguém mais que Isabella Philips, a mãe de Maximilian.
“Olá, querida.”
A primeira coisa que se passa na mente de Mariana é simplesmente levantar e ir embora, sem dizer uma única palavra.A segunda coisa é sorrir, acenar e mandar aquela velha para o inferno e, então sim, levantar e ir embora.Mas o nervosismo, a confusão e a hesitação fazem com que a moça simplesmente fique boquiaberta por alguns segundos antes de dizer:"Olá", responde Mariana, tentando manter a compostura, embora seus pensamentos estejam acelerados. Ela observa a expressão serena no rosto de Isabella. Como aquela mulher tinha a encontrado? Apesar de estar tentando manter a calma, Mariana quer muito segurá-la pela gola da blusa e sacudí-la enquanto a enche de perguntas.Isabella sorri gentilmente e diz: "Espero que não se importe por eu ter mantido o anonimato. Prezei pela minha segurança e também pela sua ao escolher esse método. Tenho acompanhado a situação difícil pela qual você está passando e senti que era hora de intervir."Mariana franze a testa, ainda processando a revelação. E
Maxwell Philips olha para Mariana com um sorriso sarcástico nos lábios. Seus olhos frios e penetrantes parecem analisá-la de cima a baixo, como se estivesse estudando um objeto de experimento."Surpresa em me ver aqui, cunhada?" ele diz, sua voz carregada de desprezo.Mariana tenta disfarçar a perturbação que sente ao ver Maxwell ali. Ela sabia que ele odiava Maximilian, mas não conseguia entender completamente os motivos. Agora, diante dessa situação inesperada, sua mente se enche de dúvidas e receios."O que você quer, Maxwell?" ela pergunta, lutando para manter a compostura.Maxwell dá um passo mais perto, seus olhos fixos nos dela. "Eu vim oferecer um acordo", ele responde com um tom sinistro. “Você já deve ter falado com a minha mãe.”Atrás dela, Isabella se aproxima e coloca uma das mãos na cintura.“Bem, filho, você sabe que eu sempre tento a diplomacia antes de tudo.”“E nós dois sabemos que Mariana sempre preferiu as coisas do jeito mais difícil, não?”, ele ri, cúmplice.Sent
Mariana se encolhe no canto do beco, tentando controlar sua respiração acelerada e abafar os soluços de choro. Ela se agarra à esperança de que as vozes e passos que ouve não sejam de Maxwell ou Isabella, mas o medo a consome, e ela não pode deixar de temer o pior.Os ruídos se tornam mais altos, indicando que as pessoas estão se aproximando rapidamente. Mariana pressiona uma das mãos contra a boca para conter qualquer som que possa traí-la. Seu coração bate forte em seu peito, e a tensão aumenta a cada segundo.De repente, um vulto passa pelo beco, e Mariana prende a respiração. Ela se encolhe ainda mais, tentando se fundir às sombras, esperando que não seja vista. Os passos param bem próximos ao seu esconderijo, e a moça fecha os olhos, esperando o pior."Você viu alguém correndo por aqui?", pergunta uma voz masculina."Não, não vi ninguém", responde outra voz, feminina. "Provavelmente só foi nossa imaginação. Esse beco é meio escuro e dá um arrepio."Mariana não reconhece as vozes,
“Não gosto disso, Mariana.” Caminhando ao seu lado, estava James, o homem que a encontrou no dia em que a moça descobriu a traição; o homem que havia salvado sua vida. Ele repete com mais ênfase:“Não gosto nada disso!”“Eu sei, James, eu também não. Mas acredite em mim, é o único jeito.”“Mariana-”“Vai ficar tudo bem.”“Como vai ficar tudo bem? Porque do nada sua ex-sogra e seu ex-cunhado querem se aproximar de você? Você mesma me disse que-”“Sim, James, mas você precisa confiar em mim. Eu sei o que estou fazendo, não vai acontecer nada de mal comigo.”“Se não vai acontecer nada de mal com você, então porque você se sentiu na obrigação de me trazer como testemunha?”Mariana para de andar. Os dois estão há minutos de chegarem no parque, o local do encontro combinado entre Mariana, Isabella e Maxwell.“Você confia em mim?’“Eu-”“Confia ou não?”Vencido pelo cansaço, James suspira profundamente antes de responder:“Sim.”“Obrigada.”Mariana dá um abraço apertado no amigo. Os dois vo
Sozinho dentro da enorme e cada dia mais solitária casa, o empresário Maximilian Philips, jogado no chão com uma garrafa de uísque ao lado, olha para o teto.O candelabro é radiante, imponente e por si só já demonstrava todo um luxo que, um dia, o homem fizera questão de ostentar.Mas agora, o que era aquilo além de um punhado de vidro lapidado com lâmpadas em seu interior?Max toma mais um gole de uísque.A nova empregada, Lanis, bate duas vezes na porta antes de entrar;“Senhor Philips, o senhor tem visita.“Mande embora”, ele retruca. Sua voz está pastosa devido ao consumo excessivo de álcool.“Mas, senhor Phillips, é a-”“Já mandei mandar embora!”“Sim, senhor.”É claro que depois do divórcio, mulheres apaixonadas por ele, que sempre o desejaram e suspiravam quando o mesmo passava pelos corredores, iriam atrás dele como abelhas iam para o mel.Mas Maximilian não queria nenhuma delas.O zangão tinha perdido sua abelha-rainha. E pior: por causa de seu próprio mal-caratismo.Cambalea
Duas semanas se passaram desde o terrível encontro no parque.Duas semanas se passaram após Isabella entrar mais uma vez em contato, e dizer que estava tudo pronto para o nascimento de Elena e Hector.Ou seja, tudo estava pronto para Mariana e James saírem de cena.A moça chorou e implorou para que o amigo que recuasse, que não fizesse isso consigo. Ele tinha uma carreira brilhante, amigos que gostavam dele. Mas desde o início ele sempre deixou claro que, por Mariana, ele iria até o fim do mundo.Afinal, o mesmo deixou a cidade natal para ficar mais próximo da amiga, menos de um mês depois que a deixou na rodoviária.A notícia falsa já havia sido forjada. Todos estavam comentando sobre o crime horrível cometido alguns dias antes, onde um grupo desconhecido de criminosos sequestrou, torturou e destruiu as vítimas de forma tão horrível, que mal dava para reconhecer os corpos.E quase ao mesmo tempo, Elena, uma secretária de uma empresa fantasma, comprava um belo apartamento no canto mai
Para a sorte eterna de Isabella Philips, a roupa escura e sofisticada, as luvas negras e o chapéu com grinalda que cobria boa parte de seus olhos, escondiam a verdadeira expressão que, às vezes, teimava em surgir em seu rosto: um sorriso de triunfo. Ao redor, muitas pessoas. A maioria eram antigos conhecidos e parentes de Mariana. A mãe dela, uma mulher que Isabella sempre achou fraca e bastante cafona, tinha desmaiado e não voltou mais. "Cuidado, mamãe”, um homem sussurrou em seu ouvido. Ela reconhece imediatamente a voz de Maxwell. “Lembre-se que estamos tristes e terrivelmente chocados com a perda repentina da nossa pobre Mariana.” “Você nunca deixa de reparar em nada, não é?” “Acredito que esse seja um dos meus maiores dons.” O irmão de Maximilian também tem dificuldades para manter uma expressão tristonha, mas é claro que ele jamais admitiria isso. O caixão está fechado no centro da enorme câmara, e cortinas azuis parcialmente fechadas estão ao seu redor, onde o funeral acon
Maxmilian fica atônito diante das palavras e do gesto da mãe de James. Sua expressão de dor e fúria se transforma em surpresa e confusão. Ainda ensandecida, a mulher tosse antes de continuar gritando:“Meu filho era um homem bom! Um homem íntegro! Nunca se envolveu em confusão, sempre foi responsável. Tinha um excelente emprego, era o meu maior orgulho! E então VOCÊ entrou no caminho dele… E ele morreu!”Isabella, por sua vez, rapidamente reage à situação, intervindo para acalmar a mulher enfurecida."Por favor, senhora Simpson, contenha-se! A senhora está no velório da minha nora, que como o seu filho, foi uma vítima de um crime horrendo! O que está insinuando? Meu filho não tem nada a ver com isso.!A mulher, com os olhos marejados de lágrimas, encara Isabella com um misto de dor e raiva. Ela respira fundo antes de falar, sua voz embargada pelo pesar."A esposa desse… Desse monstro que você chama de filho… Ela estava grávida dele e ele a abandonou!”Todos ao redor parecem chocados