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06. Proposta irrecusável

Mariana tamborila os dedos em cima da mesa do escritório e olha para a tela em branco, sinal de sua fadiga e estresse.

Aquilo sim era uma ironia, já que o escritório ficava na sua casa, e que supostamente, trabalhar dentro do lar era a solução adequada para mantê-la calma.

Já fazia uma semana desde o terrível incidente na sala do senhor Jones, e toda vez que se lembrava do semblante de tristeza, choque, nojo e vontade de morrer que se passou no rosto do chefe, ela se sentia vermelha de vergonha.

A consulta ao pré-natal daquela semana ainda iria acontecer. Mariana não queria saber o sexo do bebê. Só de saber que ele seria saudável, e que teria uma vida mais digna do que ela mesmo teve…

A moça suspira. Ela se levanta e vai para o jardim observar as flores.

Sua mãe havia sido muito mais generosa do que ela jamais pensou. Quando contou para ela o que o cafajeste de seu ex-marido havia feito, e em qual situação Mariana se encontrava, a mesma fez questão de deixá-la ficar com o imóvel que usava para locações. 

Agora, além de ter um trabalho e um cantinho, a mesma só precisava descansar e não vomitar nas pessoas. Parecia fácil.

Suas lembranças divagam até o dia em que saiu da casa de Maximilian, há três meses atrás. Ela já estava entrando na décima quarta semana de gestação.

Como se soubesse que era ele a fonte de seus pensamentos, o bebê de Mariana a chutou.

“Ei, danadinho”, ela fala com o neném, colocando a mão em cima da própria barriga.”

A moça passa mais alguns minutos encarando o próprio jardim florido. Aquela sensação de paz era incrível.

Mariana volta ao trabalho. Enquanto ajusta alguns formulários, ela recebe um e-mail em sua caixa de entrada.

O endereço eletrônico é desconhecido pela mesma. Ela minimiza a notificação e continua trabalhando. Talvez se tratasse de algum spam ou anúncio.

Depois de cinco minutos, no entanto, Mariana se dá por vencida. A mulher volta a ver sua caixa de entrada e procura o e-mail mais recente. 

Mariana clica.

Assim que Mariana abre o e-mail, seu coração acelera. 

Mariana,

Espero que esta mensagem a encontre bem. Você deve se lembrar de mim. Fiquei sabendo da sua gravidez e da… situação difícil que você tem enfrentado nos últimos meses.

Apesar de nunca termos sido exatamente próximas, sei que você precisa de suporte. Não apenas conselhos e parabenizações, é claro, mas algo que realmente possa agregar na sua vida. Principalmente agora.

Eu gostaria de ajudar. Sei que é difícil confiar em alguém que não faz menção de se identificar, mas acredite, isso é apenas para minha e sua proteção.

Eu estou genuinamente disposta a fazer o que for necessário para remediar a situação. Tenho recursos financeiros que posso disponibilizar para garantir que você e seu filho tenham uma vida digna. No entanto, peço que possamos primeiro conversar pessoalmente.

Estou na sua cidade, e também sei seu local de trabalho. Não se preocupe, no entanto. Não irei invadir sua casa. Amanhã às quatro e meia da tarde estarei na cafeteria local. Encontro com você lá.

Com sinceridade, Um Amigo.

Mariana fica sem palavras diante da mensagem. 

Mariana relê o e-mail várias vezes, tentando absorver o conteúdo e processar a surpresa que ele traz. Quem poderia ser esse "Amigo" misterioso, e como ele ficou sabendo de sua gravidez e situação difícil?

Uma mistura de curiosidade e cautela invade Mariana. Ela considera as palavras cuidadosamente escolhidas no e-mail e pondera sobre a possibilidade de aceitar o encontro proposto. 

Embora a ideia de receber ajuda financeira e suporte seja tentadora, Mariana também está ciente dos riscos envolvidos em encontrar uma pessoa desconhecida.

Por um momento, ela se pergunta se isso poderia ser algum tipo de armadilha ou golpe. No entanto, ao lembrar-se da referência ao conhecimento de seu local de trabalho, Mariana fica ainda mais intrigada. Quem teria acesso a essas informações?

As únicas pessoas que sabiam sobre sua gravidez eram James, o homem que a ajudou a sair da casa de Maximilian e o único que tinha real fé em seu potencial, e a própria mãe. Nenhum deles a trairia daquele jeito. A própria ideia era inconcebível.

Ligeiramente trêmula, mas fazendo de tudo para ficar calma novamente, Mariana fecha o e-mail e volta ao ritmo de trabalho. 

No entanto, mesmo dando o seu máximo para se concentrar nos números, nomes e as mais diversas informações que são digitadas rapidamente em seu computador, ela não consegue de jeito nenhum de pensar naquela mensagem.

. . . . . . . . . . . . . .

No dia seguinte, Mariana cumpre com sua escala, desliga o computador e checa as horas em seu relógio de pulso. Quatro horas da tarde.

Ela tenta especular sobre quem poderia ser esse "Amigo" misterioso. Seria alguém do seu passado que ela não reconheceu pelo endereço de e-mail? Ou talvez alguém que conhecia sua situação por meio de terceiros?

A moça respira fundo.

Era arriscado, mas ela não tinha muita alternativa além daquela.

Depois de vestir um lindo vestido preto, pentear os cabelos e calçar suas sapatilhas prediletas, Mariana sai de casa e caminho a passos moderados até a cafeteria a três quadras dali.

Da última vez em que ela aceitou o convite de um desconhecido para tomar um cafezinho, não acabou muito bem.

Respirando fundo e lutando contra o próprio nervosismo, Mariana chegou no ambiente ligeiramente lotado e olhou em volta. Não havia nenhum rosto familiar.

A moça fez de tudo para não surtar ao sentar-se em uma das mesas perto da janela. Se o seu “Amigo” fosse alguém cujo rosto se lembrava, aquele era um excelente lugar para espiá-lo.

Mas os planos dela não deram exatamente certo.

Pois uma pessoa se senta bem à sua frente, colocando a bolsa chique em cima da mesa de madeira.

Mariana nem mesmo tenta fingir que está extremamente chocada.

Pois o tal “Amigo” era ninguém mais que Isabella Philips, a mãe de Maximilian.

“Olá, querida.”

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