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05. Revelação Indigesta

“Mariana?”

A moça tira os olhos da tela do computador e observa sua colega, Ruth, que segura nas mãos uma prancheta.

“O senhor Jones quer falar com você.”

A moça bufa audivelmente.

“Mesmo? O que ele quer?”

“Não sei. Mas ele me pediu para te passar esse recado. Depois do expediente, dá uma passadinha na sala dele.”

“Claro. Obrigada, Ruth.”

A mulher vai embora para tomar conta dos próprios afazeres. Mariana tenta se concentrar no trabalho à sua frente, mas não consegue.

O que o seu chefe queria? Desde que chegou na cidade e conseguiu o emprego, modéstia à parte, ela era a funcionária mais competente daquele escritório. Sempre chegou no horário, e quando necessário, ficava até mais tarde para ajudar algum outro funcionário.

Irritada, a mulher fez cara feia e resmungou:

“É melhor que seja uma oportunidade de promoção.”

Quando finalmente o relógio digital em cima da sua mesa lhe mostrou o horário de saída, Mariana finalizou suas atividades, colocou seu casaco, pegou sua bolsa e, ao invés de ir direto para casa e tomar um bom banho, caminhou a passos rápidos para o escritório de seu chefe.

A primeira e última vez que esteve lá foi para, com lágrimas nos olhos, implorar por um trabalho. Nem sempre Mariana foi dona de casa: ela fez cursos antes do casamento fracassado, e se saía bem com planilhas e formulários.

Depois de fazer um teste para que pudessem ver o quão bem ela poderia se sair, Mariana foi contratada. Aquilo a salvou de mais humilhações e apelos emocionais em outras empresas, já que ela precisava desesperadamente de um trabalho.

Ao chegar na porta de mogno da sala do presidente, Mariana sentiu um pequeno desconforto. Mas como ela já estava enjoando há tempos, já não fazia tanta diferença.

Ela bateu três vezes na porta e esperou pacientemente para que seu chefe a abrisse.

“Olá, Mariana, obrigado por vir”, ele disse ao atender.

A sala do senhor Jones ainda parecia a mesma: o mesmo cheiro de café com toques de cigarro, cortinas pretas ligeiramente sujas que fizeram Mariana espirrar da primeira vez em que esteve ali, a mesma mesa repleta de blocos de anotações e canetas sem tampa…

“Sente-se, por favor.”

Ela faz o que ele pede. O chefe de Mariana senta-se na própria cadeira, entrelaça as mãos e pergunta, sem rodeios:

“Porque não contou a mim que estava grávida?”

A mulher parece um pouco em choque. Antes que possa responder, ele continua:

“Sabemos o quanto tem se dedicado ao trabalho, Mariana, e sempre foi uma funcionária exemplar. Mas, como chefe, preciso ser informado sobre eventos significativos na vida dos meus colaboradores. Descobrir sobre sua gravidez por meio de terceiros não é a forma ideal de lidarmos com essa situação."

Mariana sente uma mistura de surpresa e incômodo com a abordagem direta de seu chefe. Ela reúne seus pensamentos e responde com calma:

"Desculpe, senhor Jones. Eu não tinha a intenção de ocultar minha gravidez, mas também não achava que era uma informação relevante para o trabalho. Além disso, ainda estava no início da gestação e queria ter certeza de que tudo estava bem antes de compartilhar."

O chefe acena com a cabeça, demonstrando compreensão, mas ainda com uma expressão séria no rosto.

"Entendo sua perspectiva, Mariana. No entanto, como líder da equipe, é importante que eu esteja ciente dessas situações para garantir um ambiente de trabalho adequado e para que possamos fazer os devidos ajustes, se necessário."

O homem alto, de cabelos escuros e encaracolados e olhos verdes fica de pé. Ele pega um café em sua máquina pessoal. Diziam pelos corredores que o chefe era realmente viciado, e se ficasse vinte e quatro horas sem café, ficava irritado e com muitos outros sintomas reais de abstinência.

“Não quero soar grosseiro, Mariana, mas já estava óbvio para muitos. As roupas largas, o enjoo, os vômitos de três em três horas. E também-"

A moça está fazendo cara feia. O senhor Jones percebe que ela olha para o copo de café na mão do homem.

“Me desculpe. Esse cheiro está te fazendo enjoar?”

Sem graça, a moça faz um sinal afirmativo com a cabeça.

“Bem, isso é desconcertante. Acho que seria mais prudente considerar algumas coisas… Você sabe. Sobre o seu trabalho.”

Mariana percebe que talvez não tenha considerado completamente as consequências de sua escolha de não informar antecipadamente sobre sua gravidez. Será que ele iria despedi-la?

A mulher precisa tomar um pouco de ar antes de forçar naturalidade e tranquilidade, ao menos na medida do possível.

"Compreendo, senhor Jones, e peço desculpas novamente pela falta de comunicação. Eu gostaria de assegurar que continuarei me dedicando ao trabalho da melhor forma possível e estou disposta a discutir quaisquer ajustes necessários durante a minha gestação para garantir a produtividade da equipe."

Mariana respira fundo e tenta não pensar em vomitar. Ela está acostumada com o cheiro de café, mas de alguma forma, naquele momento, parece insuportável. Ela olha para seu chefe e força um sorriso.

“Você está bem?”, pergunta ele, dando a volta e indo até ela, apoiando a mão em seu ombro de forma amigável.

"Está tudo bem, senhor Jones. Apenas um pouco enjoada, mas vou ficar bem."

O chefe parece aliviado com a resposta e continua:

"Eu entendo que pode ser um momento delicado, mas quero que saiba que estamos aqui para apoiá-la. Se precisar de qualquer coisa, não hesite em falar comigo ou com a RH."

“Claro, senhor Jones. Obrigada por falar comigo.”

“Vamos discutir alguns detalhes sobre sua carga horária, esquema de folgas, licença maternidade… E por falar nisso, por favor, sei que a senhorita gosta de ficar depois da hora para ajudar os outros. Acho que não preciso dizer o porquê disso não ser mais uma opção.

“Não, senhor.”

Ela respira fundo. A ânsia de vômito está ficando cada vez pior.

Mariana precisa sair de lá antes que…

“Amanhã poderemos discutir isso com mais calma. Eu espero que sua gestação seja tranquila e-”

O chefe da moça para de falar na mesma hora.

Porque, em um rompante incontrolável, Mariana vomitou…

Bem em cima do terno caríssimo do homem.

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