Mariana está sentada na enorme cama de casal, onde repousam duas enormes malas, roupas, itens de maquiagem e alguns livros. Secando mais uma das insistentes lágrimas, ela coloca mais alguns itens na mala da direita.
Que vergonha tinha passado naquela cafeteria! Alguns segundos depois que James e Maximilian começaram a se socar, três funcionários do local precisaram separá-los, e a briga de verdade só teve fim depois que ameaçaram chamar a polícia.
Max saiu do lugar, chutando algumas mesas e cadeiras. James acompanhou Mariana até fora do local, e depois a abraçou e lhe ofereceu seu ombro para que chorasse até não aguentar mais.
Ele ainda não tinha dado sinal de vida. Depois de conversar mais um pouco, pedir desculpas e agradecer pelo convite de James, Mariana voltou se sentindo derrotada pra casa.
Aquele episódio era o que ela precisava para tomar uma decisão. Não tinha mais tempo a perder. A moça nunca mais seria humilhada daquele jeito.
Não, Mariana não permitiria que ninguém lhe tratasse daquela forma tão cruel e desrespeitosa.
Ela já tinha telefonado para a mãe e lhe contado tudo. Também pediu segredo e prometeu que iria manter contato assim que as coisas estivessem resolvidas.
Agora tudo o que ela precisava fazer era acabar com aquelas malditas bagagens.
O que ela estava prestes a fazer era arriscado demais, mas talvez fosse a única chance de sobreviver àquele inferno em que sua vida havia se tornado.
Naquela manhã, Mariana se sentiu assustada, feliz e esperançosa ao descobrir que havia uma vida crescendo em sua barriga. No entanto, em pouquíssimo tempo, todo aquele sonho foi se desfazendo como água.
Seus pensamentos são interrompidos quando as portas duplas do quarto são abertas.
Maximilian está mais ou menos vestido, já que tanto a camisa quanto a calça estão aos pedaços.
Em outra vida, se a circunstância fosse outra, Mariana correria até ele e perguntaria o que havia acontecido, se estava machucado ou ferido.
Mas agora, tudo o que ela fez foi lhe lançar um olhar gélido e voltar a fazer o que estava fazendo.
"Saí para beber no bar do Timmy", ele murmura.
A moça nem mesmo diminui o ritmo da arrumação. Max continua:
"Acabei exagerando na dose. Arrumei uma briga e fui roubado. Tive que vir andando até aqui. Peguei um atalho pelos becos da cidade e fui atacado por alguns cachorros." Ele aponta para as próprias roupas. "Foi por isso que fiquei assim."
Mariana não diz ou fala nada.
As portas se fecham e Maximilian chega mais perto da mulher. Parece que só então ele se dá conta do que ela está fazendo.
"O que é isso?"
"Duas malas."
"E para quê?"
"Para mim."
Max parece não entender muito bem. Ele olha mais uma vez para as malas, sendo que uma delas estava quase lotada, e para os demais itens espalhados pela cama. O homem ergue uma das sobrancelhas.
"Você vai viajar?"
"Vou."
"E quando iria me contar isso?"
"Eu não ia."
Silêncio.
"Mariana, que droga está acontecendo?"
A moça finalmente fecha o zíper de uma das malas e a apoia no chão. Ela prende o cabelo escuro num rabo de cavalo apertado antes de se concentrar na segunda mala e perguntar:
"O que parece que está acontecendo?"
"Parece que você queria ir embora sem me contar."
"Como é esperto. Não à toa é um grande empresário."
Maximilian não está agressivo como antes na cafeteria, e suas veias não estão saltadas. É mais como se sua perplexidade estivesse alcançando níveis estratosféricos.
"Por quê?"
"Preciso mesmo responder?"
"Olha, eu... Sei que fui um total babaca. Não deveria ter falado aquelas coisas. Estava com raiva e nervoso e... Quando te vi com aquele cara-"
O olhar gélido da moça faz com que ele pare de falar, vacilando no meio da frase. Quando Mariana volta a se concentrar na mala restante, Maximilian tosse antes de dizer:
"Eu não tenho nenhuma justificativa para isso. Não tenho nenhuma desculpa. E sim, você está completamente certa em querer viajar sem mim, espairecer um pouco. Eu entendo."
A mulher não diz nada. O homem continua:
"Sei que em breve nós vamos estar bem de novo. Somos um casal forte. Sempre... Bom, nós sempre superamos todas as dificuldades juntos."
Ele abre um sorriso forçado, mas medo está presente em sua expressão. Mariana não corresponde ao sorriso, mas começa a encará-lo praticamente sem piscar.
Maximilian engole em seco.
"E quando você volta? Sem pressão, é claro. Apenas para eu me preparar."
"Nunca."
Mais segundos de silêncio. Nervoso, ele dá uma gargalhada estranha, tossindo no final.
"Nossa, Mariana, como você é engraçada. Mas não brinque com essas coisas, tá bem? Agora diga." Ele coça o nariz. "Quando você volta?"
"Eu já disse. Nunca."
A frieza na voz dela faz com que os olhos dele fiquem ainda mais vítreos. Ela estava mesmo falando sério.
"Ei. Que isso. Você não está-"
"Eu estou falando muito sério."
Mariana apoia a segunda e última mala no chão.
"Vou partir essa noite. Os papéis de divórcio estão na cozinha. Peço que você os assine e me mande uma cópia por e-mail ou correspondência. Meu advogado entrará em contato com você daqui a alguns dias."
"Mariana."
"Peço que, se possível, você assine os papéis rapidamente. Assim poderemos evitar mais desconforto na vida um do outro, e seguirmos com nossas vidas."
"Mariana!!!"
"Não haverá uma conversa. Não haverá discussão. Eu já te perdoei no passado, sempre tentando entender o seu lado e sendo a melhor pessoa possível pra você."
Ela dá um passo em direção a ele. Há lágrimas nos olhos do homem, mas a moça não se abala ou se deixa comover com elas.
"E tudo o que eu ganhei em troca foi a sua rispidez, sua falta de respeito e total falta de comprometimento. Ainda tive que escutar aquelas barbaridades mais cedo, em público, como se fosse algum tipo de..." Ela fecha os olhos e cerra os punhos, voltando a se controlar. "Bem, essa foi a última vez. Adeus."
Mariana pega as duas malas e começa a arrastá-las enquanto sai do quarto.
Ela desce as escadas com um pouco de dificuldade, e quando já está atravessando a sala de estar, ouve Maximilian gritando:
"NÃO FAÇA ISSO COMIGO, MARIANA!"
O grito está cheio de dor e medo, medo como Mariana nunca tinha escutado na voz dele antes. Mas mesmo assim, ela continua firme e inabalável. Há um carro preto esperando por ela mais a frente, do lado de fora da propriedade.
Chegando perto do enorme portão, a mão de Maximilian segura sem seu ombro firmemente, sem machucar. Ela olha para trás. O homem está ofegante e vermelho, mas os olhos escuros não demonstram rancor ou fúria.
Não, aquilo era pânico. Pânico total.
"Não faça isso", ele murmura, ofegante. "Por favor, fique. Vamos conversar. Não faça isso comigo, Mariana."
Um choro dolorido e sincero toma conta das feições dele. Mariana apenas observa.
"Eu vou mudar. Te juro, Mariana, juro por qualquer coisa, por qualquer pessoa. Mas por favor, não me deixa..."
Ele se ajoelha nas pernas dela, abraçando-a e molhando sua roupa com as lágrimas. Ela jamais tinha o visto tão emotivo.
Mesmo assim, ela foi firme. Tirou os braços fortes de Maximilian do próprio corpo, olhou para ele e sussurrou pela última vez:
"Adeus."
E saiu andando em disparada para o carro preto.
"NÃO!!!! MARIANA!!!!"
O som de passos rápidos indicava que Max estava correndo atrás dela. Ela apressou ainda mais o passo, amaldiçoando o peso das próprias malas.
"MARIANA!!!!"
Chorando, a moça finalmente entrou no carro, que já estava destrancado.
No volante, James não perdeu tempo com perguntas estúpidas. Apenas acelerou em direção à rodoviária; o último favor que Mariana havia lhe pedido assim que chegou em casa, antes de arrumar as malas.
Ainda muito chorosa, ela olhou para trás. Max corria atrás do carro, também aos prantos.
O desespero fez com que o homem continuasse, incansável, gritando o nome de sua esposa sem parar; cada apelo era pior que o outro.
Mas depois ele se cansou. E caiu, exausto, no meio do caminho.
Mariana chorou o trajeto inteiro até a rodoviária, onde estaria o ônibus que a levaria para sua cidade natal...
... Onde recomeçaria sua vida.
Com seu bebê a caminho.
“Mariana?”A moça tira os olhos da tela do computador e observa sua colega, Ruth, que segura nas mãos uma prancheta.“O senhor Jones quer falar com você.”A moça bufa audivelmente.“Mesmo? O que ele quer?”“Não sei. Mas ele me pediu para te passar esse recado. Depois do expediente, dá uma passadinha na sala dele.”“Claro. Obrigada, Ruth.”A mulher vai embora para tomar conta dos próprios afazeres. Mariana tenta se concentrar no trabalho à sua frente, mas não consegue.O que o seu chefe queria? Desde que chegou na cidade e conseguiu o emprego, modéstia à parte, ela era a funcionária mais competente daquele escritório. Sempre chegou no horário, e quando necessário, ficava até mais tarde para ajudar algum outro funcionário.Irritada, a mulher fez cara feia e resmungou:“É melhor que seja uma oportunidade de promoção.”Quando finalmente o relógio digital em cima da sua mesa lhe mostrou o horário de saída, Mariana finalizou suas atividades, colocou seu casaco, pegou sua bolsa e, ao invés d
Mariana tamborila os dedos em cima da mesa do escritório e olha para a tela em branco, sinal de sua fadiga e estresse.Aquilo sim era uma ironia, já que o escritório ficava na sua casa, e que supostamente, trabalhar dentro do lar era a solução adequada para mantê-la calma.Já fazia uma semana desde o terrível incidente na sala do senhor Jones, e toda vez que se lembrava do semblante de tristeza, choque, nojo e vontade de morrer que se passou no rosto do chefe, ela se sentia vermelha de vergonha.A consulta ao pré-natal daquela semana ainda iria acontecer. Mariana não queria saber o sexo do bebê. Só de saber que ele seria saudável, e que teria uma vida mais digna do que ela mesmo teve…A moça suspira. Ela se levanta e vai para o jardim observar as flores.Sua mãe havia sido muito mais generosa do que ela jamais pensou. Quando contou para ela o que o cafajeste de seu ex-marido havia feito, e em qual situação Mariana se encontrava, a mesma fez questão de deixá-la ficar com o imóvel que u
A primeira coisa que se passa na mente de Mariana é simplesmente levantar e ir embora, sem dizer uma única palavra.A segunda coisa é sorrir, acenar e mandar aquela velha para o inferno e, então sim, levantar e ir embora.Mas o nervosismo, a confusão e a hesitação fazem com que a moça simplesmente fique boquiaberta por alguns segundos antes de dizer:"Olá", responde Mariana, tentando manter a compostura, embora seus pensamentos estejam acelerados. Ela observa a expressão serena no rosto de Isabella. Como aquela mulher tinha a encontrado? Apesar de estar tentando manter a calma, Mariana quer muito segurá-la pela gola da blusa e sacudí-la enquanto a enche de perguntas.Isabella sorri gentilmente e diz: "Espero que não se importe por eu ter mantido o anonimato. Prezei pela minha segurança e também pela sua ao escolher esse método. Tenho acompanhado a situação difícil pela qual você está passando e senti que era hora de intervir."Mariana franze a testa, ainda processando a revelação. E
Maxwell Philips olha para Mariana com um sorriso sarcástico nos lábios. Seus olhos frios e penetrantes parecem analisá-la de cima a baixo, como se estivesse estudando um objeto de experimento."Surpresa em me ver aqui, cunhada?" ele diz, sua voz carregada de desprezo.Mariana tenta disfarçar a perturbação que sente ao ver Maxwell ali. Ela sabia que ele odiava Maximilian, mas não conseguia entender completamente os motivos. Agora, diante dessa situação inesperada, sua mente se enche de dúvidas e receios."O que você quer, Maxwell?" ela pergunta, lutando para manter a compostura.Maxwell dá um passo mais perto, seus olhos fixos nos dela. "Eu vim oferecer um acordo", ele responde com um tom sinistro. “Você já deve ter falado com a minha mãe.”Atrás dela, Isabella se aproxima e coloca uma das mãos na cintura.“Bem, filho, você sabe que eu sempre tento a diplomacia antes de tudo.”“E nós dois sabemos que Mariana sempre preferiu as coisas do jeito mais difícil, não?”, ele ri, cúmplice.Sent
Mariana se encolhe no canto do beco, tentando controlar sua respiração acelerada e abafar os soluços de choro. Ela se agarra à esperança de que as vozes e passos que ouve não sejam de Maxwell ou Isabella, mas o medo a consome, e ela não pode deixar de temer o pior.Os ruídos se tornam mais altos, indicando que as pessoas estão se aproximando rapidamente. Mariana pressiona uma das mãos contra a boca para conter qualquer som que possa traí-la. Seu coração bate forte em seu peito, e a tensão aumenta a cada segundo.De repente, um vulto passa pelo beco, e Mariana prende a respiração. Ela se encolhe ainda mais, tentando se fundir às sombras, esperando que não seja vista. Os passos param bem próximos ao seu esconderijo, e a moça fecha os olhos, esperando o pior."Você viu alguém correndo por aqui?", pergunta uma voz masculina."Não, não vi ninguém", responde outra voz, feminina. "Provavelmente só foi nossa imaginação. Esse beco é meio escuro e dá um arrepio."Mariana não reconhece as vozes,
“Não gosto disso, Mariana.” Caminhando ao seu lado, estava James, o homem que a encontrou no dia em que a moça descobriu a traição; o homem que havia salvado sua vida. Ele repete com mais ênfase:“Não gosto nada disso!”“Eu sei, James, eu também não. Mas acredite em mim, é o único jeito.”“Mariana-”“Vai ficar tudo bem.”“Como vai ficar tudo bem? Porque do nada sua ex-sogra e seu ex-cunhado querem se aproximar de você? Você mesma me disse que-”“Sim, James, mas você precisa confiar em mim. Eu sei o que estou fazendo, não vai acontecer nada de mal comigo.”“Se não vai acontecer nada de mal com você, então porque você se sentiu na obrigação de me trazer como testemunha?”Mariana para de andar. Os dois estão há minutos de chegarem no parque, o local do encontro combinado entre Mariana, Isabella e Maxwell.“Você confia em mim?’“Eu-”“Confia ou não?”Vencido pelo cansaço, James suspira profundamente antes de responder:“Sim.”“Obrigada.”Mariana dá um abraço apertado no amigo. Os dois vo
Sozinho dentro da enorme e cada dia mais solitária casa, o empresário Maximilian Philips, jogado no chão com uma garrafa de uísque ao lado, olha para o teto.O candelabro é radiante, imponente e por si só já demonstrava todo um luxo que, um dia, o homem fizera questão de ostentar.Mas agora, o que era aquilo além de um punhado de vidro lapidado com lâmpadas em seu interior?Max toma mais um gole de uísque.A nova empregada, Lanis, bate duas vezes na porta antes de entrar;“Senhor Philips, o senhor tem visita.“Mande embora”, ele retruca. Sua voz está pastosa devido ao consumo excessivo de álcool.“Mas, senhor Phillips, é a-”“Já mandei mandar embora!”“Sim, senhor.”É claro que depois do divórcio, mulheres apaixonadas por ele, que sempre o desejaram e suspiravam quando o mesmo passava pelos corredores, iriam atrás dele como abelhas iam para o mel.Mas Maximilian não queria nenhuma delas.O zangão tinha perdido sua abelha-rainha. E pior: por causa de seu próprio mal-caratismo.Cambalea
Duas semanas se passaram desde o terrível encontro no parque.Duas semanas se passaram após Isabella entrar mais uma vez em contato, e dizer que estava tudo pronto para o nascimento de Elena e Hector.Ou seja, tudo estava pronto para Mariana e James saírem de cena.A moça chorou e implorou para que o amigo que recuasse, que não fizesse isso consigo. Ele tinha uma carreira brilhante, amigos que gostavam dele. Mas desde o início ele sempre deixou claro que, por Mariana, ele iria até o fim do mundo.Afinal, o mesmo deixou a cidade natal para ficar mais próximo da amiga, menos de um mês depois que a deixou na rodoviária.A notícia falsa já havia sido forjada. Todos estavam comentando sobre o crime horrível cometido alguns dias antes, onde um grupo desconhecido de criminosos sequestrou, torturou e destruiu as vítimas de forma tão horrível, que mal dava para reconhecer os corpos.E quase ao mesmo tempo, Elena, uma secretária de uma empresa fantasma, comprava um belo apartamento no canto mai