A princípio, Mariana realmente acredita que tudo acabou.Ela vê o rosto pálido, marcado pelas lágrimas e cheio de ódio da ex-secretária, o jeito que ela rosna e chora. A arma não fica parada mirando em um ponto específico, pois a mão que a segura também está terrivelmente trêmula.Então, num espaço de tempo que poderiam ser horas, dias, minutos ou segundos, Michele puxa o gatilho.Mas Mariana não sente nada. Sequer alguma queimação ou princípio de dor.Porque ela não foi atingida.Num ímpeto de coragem gritante, aliado à uma altíssima velocidade e coordenação, Maxmilian empurrou o corpo vacilante da ruiva, fazendo com que ela errasse, e muito, o alvo.Um grito masculino alto ecoa por todo o cômodo quando Maxwell, segurando com força o ombro esquerdo, cai em cima do próprio joelho. Sangue escorre pela camisa dele, espalhando-se rapidamente.“Sua desgraçada!”, grita o ex-cunhado de Mariana.Mariana assiste em choque enquanto o caos se desenrola diante de seus olhos. Ouvir o disparo da a
Mariana já tinha sentido medo muitas vezes.Ela se lembrava de como era assustador quando, ao dormir, todas as luzes da casa eram apagadas. A escuridão fazia sua cabeça doer de tanto pânico, e muitas vezes, pesadelos a atordoavam sem misericórdia.A moça também sentia um medo incomum por borboletas, apesar de jamais ter contado aquilo pra alguém. Quando elas alçavam voo, batendo suas asas coloridas pelo céu, todos ao redor achavam lindo. Ela só queria sair correndo.Mas Mariana nunca tinha sentido tanto medo quanto naquele momento, ao ver a quantidade de sangue que descia por suas pernas e saber que sim, ela estava perdendo seu bebê.Maxmilian imediatamente solta Michele, que sai correndo para a porta dos fundos da casa como se sua vida dependesse disso.Isabella grita e faz menção de ir atrás dela, mas hesita ao enxergar o ferimento de Maxwell.Mariana está tão chocada e imersa na perda, no luto e na dor que não consegue se mexer. Maxmilian segura os dois lados do seu corpo e a abraç
Maxmilian chega ao hospital sujo, não apenas de sangue, mas de terra.Seu andar é pesado e difícil. Um dos olhos está parcialmente fechado e inchado devido a enorme quantidade de socos que levou.A única coisa que o alegrava, e mesmo assim, em parte, era a de que Maxwell nunca mais iria ser problema para ninguém.Michele havia desaparecido. Como ela era a dona daquele imóvel feito para ser inóspito e de difícil acesso, provavelmente sua ex-amante sabia bem sobre as rotas de fuga e o jeito mais complicado de ser localizada.O próprio teve muitas dificuldades para sair daquele labirinto, andando em direções que sabia serem erradas, mas sem escolha. Então, depois de finalmente ofegar e tropeçar, Maxmilian conseguiu achar uma estrada de terra que, minutos depois, se tornou de asfalto.Foi um homem que cedeu uma carona a ele, assim que viu o estado que Max se encontrava. Quando o desconhecido deixou-o na porta do hospital, o empresário retirou do bolso um pequeno maço de mil dólares e disc
Mariana simplesmente não consegue absorver a grande quantidade de informações que tomam sua mente.As palavras, imagens e atitudes das últimas horas estão gravadas a ferro e fogo na sua mente, e por mais que tente, a moça revive cada frame e cada segundo daquele que poderia ser um filme de ação, drama e, definitivamente, uma tragédia.Em meros meses, sua vida tinha se transformado numa bagunça total e completa. E agora…E agora ela estava ali, naquele hospital, depois de mais uma vez quase perder seu filho: seu bem mais precioso.O monitor cardíaco naquele momento, entretanto, sinalizava que tudo estava bem… Ao menos por enquanto.A porta do quarto se abriu.E… Ali estava ele.Sua situação era deplorável: sangue e terra ainda cobriam sua pele em alguns pontos: um dos olhos estava seriamente avariado… Mas o brilho dos olhos, daqueles olhos, ainda permaneciam.Mariana permaneceu imóvel, tentando em vão parecer indiferente em relação à Maxmilian, mas falhou. Seu filho se remexeu na barri
As palavras de Mariana atingem Maxmilian como um soco no estômago. Ele sente um nó se formando em sua garganta e seus olhos se enchem de lágrimas novamente. As esperanças que haviam começado a florescer são abafadas pela realidade dolorosa.Ele olha para ela, buscando palavras que possam expressar sua dor e arrependimento."Mariana... Eu sei que fui um péssimo marido. Sei que fiz coisas terríveis. Eu não tiro a sua razão, você deve estar morrendo de raiva de mim, e no seu lugar, eu-""No meu lugar? Você não tem ideia do que é estar no meu lugar! Não tinha antes e não tem agora!""Mariana-""Eu fui sequestrada! Fui feita de refém. E pior ainda, pela SUA família! Tive que fingir a minha própria morte, e ainda arrastei uma pessoa inocente no processo. James, que mal me conhecia, teve muito mais consideração e empatia pela minha vida do que você, Maxmilian. Não há NADA que você possa dizer ou fazer. Absolutamente nada. A verdade é essa."As palavras de Mariana são como flechas diretas no
Mariana está com trinta e duas semanas de gestação. Perdida em pensamentos, ela acaricia a barriga e suspira, fechando os olhos em seguida.Batidas na porta. Ela se vira quando um homem entra, sorridente, e a beija na testa."Como está, querida?", ele pergunta."Bem. Só um pouco ansiosa.""Pela chegada da nossa criança?""Sim...", Mariana murmura, voltando a olhar para a janela, "Sim, é nisso que estou pensando."James cruza os braços."Sabia que você é uma péssima mentirosa?"A moça revira os olhos, mas não discorda. Ao invés disso, a passos curtos e pesados, a gestante se senta na cama do enorme quarto."Amor", murmura James, sentando-se ao lado dela.Como se simplesmente não conseguisse suportar a ideia de vê-lo ou encará-lo diretamente, Mariana apenas continua encarando o nada. Em seguida, ela mais uma vez começa a acariciar a própria barriga."Amor", o homem insiste."O quer que eu diga?""A verdade."Ela não diz nada. James continua:"É sobre ele, não é?"Apesar de não dizer nen
Mariana sentiu como se uma enorme fenda se abrisse no chão, arrastando-a para as profundezas, quando abriu a porta do escritório de seu marido.A moça de expressivos olhos verdes, cabelos negros na altura do ombro e pele pálida como a lua não sabia o que fazer ou dizer, tampouco acreditar naquilo que os seus olhos estavam mostrando.Em cima da mesa de madeira da sala do homem, havia mais do que uma pequena placa amarela com o nome "Maximilian Phillips”. Na verdade, havia uma moça linda, alta, de cabelos vermelhos amarrados num coque apertado. Ela vestia, ou ao menos vestia em parte, uma roupa social preta.Segurando a ruiva, ávido de desejo, estava Maximilian. Os dois se beijavam como se o resto do mundo não existisse. Estavam tão entretidos um pelo outro que sequer ouviram a porta sendo aberta.Os lábios de Mariana tremiam enquanto a moça tentava conter o choro, o grito, o pânico e o ódio; todos os sentimentos que tomavam conta de seu sangue, causando espasmos nos dedos de suas mãos.
Tudo acontece de forma rápida e devagar ao mesmo tempo.Primeiro, Mariana vê que o carro está quase encostando em seu corpo, e ela aceita que será arremessada pelo impacto do atropelamento. Seu reflexo é fechar os olhos e em vão tentar se proteger erguendo os braços.Braços fortes e rápidos, mas muito rápidos, mesmo, a puxam para trás instantaneamente, tirando-a da trajetória do veículo.Uma freada brusca se faz ouvir. Assustada, Mariana olha para o carro. O motorista conseguiu pará-lo, mas muito mais longe do que deveria. Ou seja, se não fosse pelo salvador estranho…Um homem musculoso, de cabelos cacheados presos num rabo de cavalo frouxo e olhos azuis segura em seus ombros, ajudando-a a se levantar.“Moça, a senhorita precisa tomar cuidado. Você está bem?”Ele nota os olhos verdes como oliva repletos de tristeza, assim como o rosto molhado de lágrimas e o nariz inchado.“Venha, vamos sair da rua.”Ele a leva para a calçada. Passantes e curiosos observam a moça, que coloca as duas m