Mariana sentiu como se uma enorme fenda se abrisse no chão, arrastando-a para as profundezas, quando abriu a porta do escritório de seu marido.
A moça de expressivos olhos verdes, cabelos negros na altura do ombro e pele pálida como a lua não sabia o que fazer ou dizer, tampouco acreditar naquilo que os seus olhos estavam mostrando.
Em cima da mesa de madeira da sala do homem, havia mais do que uma pequena placa amarela com o nome "Maximilian Phillips”. Na verdade, havia uma moça linda, alta, de cabelos vermelhos amarrados num coque apertado. Ela vestia, ou ao menos vestia em parte, uma roupa social preta.
Segurando a ruiva, ávido de desejo, estava Maximilian. Os dois se beijavam como se o resto do mundo não existisse. Estavam tão entretidos um pelo outro que sequer ouviram a porta sendo aberta.
Os lábios de Mariana tremiam enquanto a moça tentava conter o choro, o grito, o pânico e o ódio; todos os sentimentos que tomavam conta de seu sangue, causando espasmos nos dedos de suas mãos.
“Maximilian.”
Imediatamente, tanto a secretária do empresário quanto o próprio se desvencilham. Max abotoa a camisa, desesperado, mas a ruiva sequer tenta disfarçar o que aconteceu.
“Meu amor”, diz o homem. “O que você está fazendo aqui? Pensei que ficaria em casa o dia todo.”
E ela ficaria. Ficaria se não estivesse há uma semana sentindo enjoos matinais. Ficaria se não estivesse achando estranho a ausência de menstruação. E ficaria se não tivesse feito um teste de gravidez naquela mesma tarde.
O teste que estava dentro da sua bolsa, assinalando o sinal claro como cristal de “positivo”.
O teste que ela iria mostrar ao marido, radiante e sorridente, já que agora teriam uma família.
A mulher de cabelo vermelho olhou para Mariana. Ao contrário de Maximilian, ela apresentava um sorriso indisfarçável no canto da boca, como se estivesse orgulhosa de ter sido pega. Há quanto tempo eles estavam a enganando daquela forma?
“Não é o que você está pensando”, ele fala, ajeitando a braguilha da calça. “Mariana, meu amor-”
“Seu mentiroso desgraçado.” Lágrimas começam a cair pelo rosto pálido. “Desgraçado!”
“Espere, vamos conversar sobre isso!”
O homem de cabelos cor de trigo e olhos escuros vai até ela, mas Mariana dá um passo para trás.
“Não chegue perto de mim!”
“Mariana-”
“Como você pôde? Como pôde fazer isso comigo?”
A secretária continua no mesmo lugar, cruzando os braços e mexendo no cabelo logo em seguida. Max ergue as mãos num gesto apaziguador:
“Amor. Ouça. Isso o que você viu…” Ele morde os lábios, tentando rapidamente elaborar um argumento. “Não foi nada demais. Ela? Ela é apenas uma aventura. Um lapso. Um erro, entendeu?”
Chocada, a secretária franze o cenho e se levanta imediatamente:
“Como é que é, Maxmilian? É isso mesmo o que estou ouvindo?!”
“Quieta, Michelle!”
“Eu não ficarei quieta! Como ousa? E ainda mais na minha frente?”
Mariana continua parada no mesmo lugar, desabando em lágrimas silenciosas, enquanto os dois discutem:
“Será que você não está entendendo o que está acontecendo aqui?” Max esbraveja.
“Claro que estou!” Michelle esbraveja de volta. “Estou vendo um mentiroso salafrário e duas-caras, que me prometeu pedir o divórcio ainda no fim do mês, dizer na minha frente que sou apenas uma aventura! Qual é a droga do seu problema?”
“Michelle, cala essa boca!”
Mariana permanecia ali, parada, sem acreditar em tudo o que estava acontecendo. Ela sentiu como se seu mundo tivesse desmoronado em um instante, sem qualquer aviso prévio. O homem que ela amava estava ali, sendo não apenas desmascarado, mas exposto pela própria amante.A mulher sabia que aquilo não era um pesadelo. Se ao vislumbrar a imagem dela e Max carregando o primogênito nos braços foi como um sonho, aquilo se desenrolando na sua frente era um pesadelo.
Mas ela sabia que nada poderia mudar o que acabara de ver. A imagem da ruiva nos braços de seu marido estava gravada em sua mente, como uma cicatriz dolorosa. Ela se sentia traída, humilhada, e acima de tudo, enganada.
Não havia mais volta. Não havia perdão. Tudo o que ela acreditou até então, as palavras e declarações do empresário, eram mentira.
"Mariana, por favor, me perdoe. Eu amo você", disse Maximilian, tentando segurar sua mão.
"Não toque em mim", ela retrucou, afastando-se. "Eu não quero ouvir suas desculpas. Eu não quero nada com você."
Maximilian pareceu chocado com a resposta dela. Ele não esperava que Mariana o deixasse tão facilmente. Desconcertado, o homem tenta mais uma vez:
“Ei. Calma. Vamos conversar, está bem? Vá para a casa e fale comigo lá. Eu vou esclarecer tudo, eu-”
"Não. Acabou. Eu não quero mais nada com você", disse ela, com lágrimas nos olhos. "Eu vou embora, agora mesmo."
Mariana agarrou com força a sua bolsa e saiu pela porta, sem olhar para trás. Ela não sabia para onde iria, mas sabia que não queria estar mais naquele lugar. Ela precisava de um tempo para si mesma, para tentar entender o que tinha acontecido e como seguir em frente.
Ela faria as malas. Arranjaria outro lugar, outra casa. E um trabalho. Max sempre quis que ela se dedicasse ao lar, que não “fosse envenenada pelo terrível mundo corporativo”. Agora Mariana entendia o que ele realmente precisava - de uma esposa dócil e submissa que não descobrisse sobre suas…aventuras.
Perguntas rodopiavam em sua mente. Há quanto tempo Max a traía com a secretária? Será que era só com a ruiva, ou havia uma legião de amantes que o esperavam sair de casa todos os dias?
Enquanto caminhava pela rua, bufando de ódio e frustração, uma gotinha de esperança surgiu em seu coração: seu bebê. Mariana estava grávida, e isso era incontestável. Ela não tinha certeza do que faria com essa informação ainda, mas sabia que não queria que Maximilian soubesse.
Ela seguiu caminhando, sem rumo, deixando as lágrimas caírem livremente pelo seu rosto. Ela não sabia o que o futuro lhe reservava, mas sabia que precisava encontrar um novo caminho. Um caminho sem Maximilian Phillips.
Quando foi atravessar a rua, chorando copiosamente, ela tropeçou nos próprios pés.
E uma buzina atordoante soou bem perto, juntamente com o barulho alto de um motor.
Um carro, em alta velocidade, estava vindo em disparada em sua direção…
E não havia tempo para que o motorista freasse.
Tudo acontece de forma rápida e devagar ao mesmo tempo.Primeiro, Mariana vê que o carro está quase encostando em seu corpo, e ela aceita que será arremessada pelo impacto do atropelamento. Seu reflexo é fechar os olhos e em vão tentar se proteger erguendo os braços.Braços fortes e rápidos, mas muito rápidos, mesmo, a puxam para trás instantaneamente, tirando-a da trajetória do veículo.Uma freada brusca se faz ouvir. Assustada, Mariana olha para o carro. O motorista conseguiu pará-lo, mas muito mais longe do que deveria. Ou seja, se não fosse pelo salvador estranho…Um homem musculoso, de cabelos cacheados presos num rabo de cavalo frouxo e olhos azuis segura em seus ombros, ajudando-a a se levantar.“Moça, a senhorita precisa tomar cuidado. Você está bem?”Ele nota os olhos verdes como oliva repletos de tristeza, assim como o rosto molhado de lágrimas e o nariz inchado.“Venha, vamos sair da rua.”Ele a leva para a calçada. Passantes e curiosos observam a moça, que coloca as duas m
Algumas pessoas presentes observavam discretamente o pequeno escândalo. Maximilian está com as veias saltando pelo pescoço e testa. James se levanta."O que está acontecendo aqui?""O que está acontecendo?!" Max está transtornado. "Estou aqui para consertar o meu casamento e recuperar a mulher que me ama! Ou pelo menos, que acreditei que me amasse!""O que disse?!" Mariana também se põe de pé, sentindo mais uma vez os tremores voltando."Eu vim atrás de você, Mariana. Vim atrás de você porque te amo, e porque quero que nós fiquemos bem. Mas no primeiro instante que você se vê livre, já está num encontro com um completo estranho!""Como ousa-""Eu deveria saber. Todos esses anos te deixando dentro de casa, te impedindo de trabalhar, de ter que suar ou deixar essas mãos... Oh, essas lindas mãos intactas... Tudo isso foi em vão, não é? Porque essa é a sua natureza.""Você não pode estar falando sério!"James observa tudo em silêncio, chocado. Maximilian está vermelho de raiva."É claro q
Mariana está sentada na enorme cama de casal, onde repousam duas enormes malas, roupas, itens de maquiagem e alguns livros. Secando mais uma das insistentes lágrimas, ela coloca mais alguns itens na mala da direita. Que vergonha tinha passado naquela cafeteria! Alguns segundos depois que James e Maximilian começaram a se socar, três funcionários do local precisaram separá-los, e a briga de verdade só teve fim depois que ameaçaram chamar a polícia. Max saiu do lugar, chutando algumas mesas e cadeiras. James acompanhou Mariana até fora do local, e depois a abraçou e lhe ofereceu seu ombro para que chorasse até não aguentar mais. Ele ainda não tinha dado sinal de vida. Depois de conversar mais um pouco, pedir desculpas e agradecer pelo convite de James, Mariana voltou se sentindo derrotada pra casa. Aquele episódio era o que ela precisava para tomar uma decisão. Não tinha mais tempo a perder. A moça nunca mais seria humilhada daquele jeito. Não, Mariana não permitiria que ninguém lhe
“Mariana?”A moça tira os olhos da tela do computador e observa sua colega, Ruth, que segura nas mãos uma prancheta.“O senhor Jones quer falar com você.”A moça bufa audivelmente.“Mesmo? O que ele quer?”“Não sei. Mas ele me pediu para te passar esse recado. Depois do expediente, dá uma passadinha na sala dele.”“Claro. Obrigada, Ruth.”A mulher vai embora para tomar conta dos próprios afazeres. Mariana tenta se concentrar no trabalho à sua frente, mas não consegue.O que o seu chefe queria? Desde que chegou na cidade e conseguiu o emprego, modéstia à parte, ela era a funcionária mais competente daquele escritório. Sempre chegou no horário, e quando necessário, ficava até mais tarde para ajudar algum outro funcionário.Irritada, a mulher fez cara feia e resmungou:“É melhor que seja uma oportunidade de promoção.”Quando finalmente o relógio digital em cima da sua mesa lhe mostrou o horário de saída, Mariana finalizou suas atividades, colocou seu casaco, pegou sua bolsa e, ao invés d
Mariana tamborila os dedos em cima da mesa do escritório e olha para a tela em branco, sinal de sua fadiga e estresse.Aquilo sim era uma ironia, já que o escritório ficava na sua casa, e que supostamente, trabalhar dentro do lar era a solução adequada para mantê-la calma.Já fazia uma semana desde o terrível incidente na sala do senhor Jones, e toda vez que se lembrava do semblante de tristeza, choque, nojo e vontade de morrer que se passou no rosto do chefe, ela se sentia vermelha de vergonha.A consulta ao pré-natal daquela semana ainda iria acontecer. Mariana não queria saber o sexo do bebê. Só de saber que ele seria saudável, e que teria uma vida mais digna do que ela mesmo teve…A moça suspira. Ela se levanta e vai para o jardim observar as flores.Sua mãe havia sido muito mais generosa do que ela jamais pensou. Quando contou para ela o que o cafajeste de seu ex-marido havia feito, e em qual situação Mariana se encontrava, a mesma fez questão de deixá-la ficar com o imóvel que u
A primeira coisa que se passa na mente de Mariana é simplesmente levantar e ir embora, sem dizer uma única palavra.A segunda coisa é sorrir, acenar e mandar aquela velha para o inferno e, então sim, levantar e ir embora.Mas o nervosismo, a confusão e a hesitação fazem com que a moça simplesmente fique boquiaberta por alguns segundos antes de dizer:"Olá", responde Mariana, tentando manter a compostura, embora seus pensamentos estejam acelerados. Ela observa a expressão serena no rosto de Isabella. Como aquela mulher tinha a encontrado? Apesar de estar tentando manter a calma, Mariana quer muito segurá-la pela gola da blusa e sacudí-la enquanto a enche de perguntas.Isabella sorri gentilmente e diz: "Espero que não se importe por eu ter mantido o anonimato. Prezei pela minha segurança e também pela sua ao escolher esse método. Tenho acompanhado a situação difícil pela qual você está passando e senti que era hora de intervir."Mariana franze a testa, ainda processando a revelação. E
Maxwell Philips olha para Mariana com um sorriso sarcástico nos lábios. Seus olhos frios e penetrantes parecem analisá-la de cima a baixo, como se estivesse estudando um objeto de experimento."Surpresa em me ver aqui, cunhada?" ele diz, sua voz carregada de desprezo.Mariana tenta disfarçar a perturbação que sente ao ver Maxwell ali. Ela sabia que ele odiava Maximilian, mas não conseguia entender completamente os motivos. Agora, diante dessa situação inesperada, sua mente se enche de dúvidas e receios."O que você quer, Maxwell?" ela pergunta, lutando para manter a compostura.Maxwell dá um passo mais perto, seus olhos fixos nos dela. "Eu vim oferecer um acordo", ele responde com um tom sinistro. “Você já deve ter falado com a minha mãe.”Atrás dela, Isabella se aproxima e coloca uma das mãos na cintura.“Bem, filho, você sabe que eu sempre tento a diplomacia antes de tudo.”“E nós dois sabemos que Mariana sempre preferiu as coisas do jeito mais difícil, não?”, ele ri, cúmplice.Sent
Mariana se encolhe no canto do beco, tentando controlar sua respiração acelerada e abafar os soluços de choro. Ela se agarra à esperança de que as vozes e passos que ouve não sejam de Maxwell ou Isabella, mas o medo a consome, e ela não pode deixar de temer o pior.Os ruídos se tornam mais altos, indicando que as pessoas estão se aproximando rapidamente. Mariana pressiona uma das mãos contra a boca para conter qualquer som que possa traí-la. Seu coração bate forte em seu peito, e a tensão aumenta a cada segundo.De repente, um vulto passa pelo beco, e Mariana prende a respiração. Ela se encolhe ainda mais, tentando se fundir às sombras, esperando que não seja vista. Os passos param bem próximos ao seu esconderijo, e a moça fecha os olhos, esperando o pior."Você viu alguém correndo por aqui?", pergunta uma voz masculina."Não, não vi ninguém", responde outra voz, feminina. "Provavelmente só foi nossa imaginação. Esse beco é meio escuro e dá um arrepio."Mariana não reconhece as vozes,