A primeira coisa que se passa na mente de Mariana é simplesmente levantar e ir embora, sem dizer uma única palavra.
A segunda coisa é sorrir, acenar e mandar aquela velha para o inferno e, então sim, levantar e ir embora.
Mas o nervosismo, a confusão e a hesitação fazem com que a moça simplesmente fique boquiaberta por alguns segundos antes de dizer:
"Olá", responde Mariana, tentando manter a compostura, embora seus pensamentos estejam acelerados.
Ela observa a expressão serena no rosto de Isabella. Como aquela mulher tinha a encontrado? Apesar de estar tentando manter a calma, Mariana quer muito segurá-la pela gola da blusa e sacudí-la enquanto a enche de perguntas.
Isabella sorri gentilmente e diz:
"Espero que não se importe por eu ter mantido o anonimato. Prezei pela minha segurança e também pela sua ao escolher esse método. Tenho acompanhado a situação difícil pela qual você está passando e senti que era hora de intervir."
Mariana franze a testa, ainda processando a revelação. Ela tinha dificuldade em acreditar que Isabella, a mãe de seu ex-marido, estivesse oferecendo ajuda e apoio neste momento crucial de sua vida.
Isabella continua, notando a surpresa de Mariana:
"Eu sei que nossa relação no passado não foi das melhores, mas como mãe, não posso ignorar a situação em que você se encontra. Eu vi o quão infeliz meu filho fez você e como ele deixou você em uma situação difícil."
Mariana balança a cabeça, sem palavras. Ela nunca esperou receber ajuda ou compaixão de Isabella, principalmente porque, segundo Maxmilian, sua ex-sogra nunca viu com bons olhos aquele casamento.
Mas será que Max estava mentindo? Será que ele propositalmente havia minado a relação das duas, apenas para que a moça se sentisse ainda mais sozinha?
Isabella percebe a hesitação de Mariana e continua:
"Eu entendo suas dúvidas e preocupações. Eu não estou pedindo para que você confie em mim cegamente. Mas gostaria de lhe oferecer uma oportunidade de mudar sua vida, de garantir que você e seu filho tenham um futuro melhor. Posso fornecer recursos financeiros, suporte e tudo o que você precisar para construir uma vida digna para vocês dois."
A proposta de Isabella é tentadora, mas Mariana permanece cautelosa. Afinal de contas, aquela história estava muito estranha.
"Como você ficou sabendo da minha gravidez e da minha situação atual? E por que agora, depois de tanto tempo?"
Isabella olha para Mariana com compaixão em seus olhos e responde:
"Eu tenho meus contatos e minha maneira de obter informações. Quanto ao timing, é verdade que demorei a tomar uma atitude. Talvez tenha sido minha própria culpa por não perceber o quão tóxico meu filho era. Mas agora estou aqui, disposta a fazer a diferença. Eu quero compensar pelo que meu filho fez a você."
Mais uma vez: a desconfiança era grande demais. Durante os anos em que foi casada, Isabella jamais tinha tentado se aproximar dela. E agora, meses depois do divórcio, ela queria ser amiga da mulher?
Cavalo dado não se olha os dentes, é verdade. Mas aquilo estava mais para um cavalo de troia.
Mariana respira fundo antes de tentar abrir um sorriso afável, embora duvidasse que tinha conseguido, e diz educadamente:
"Eu aprecio a oferta e entendo suas intenções, mas preciso de um tempo para considerar tudo isso. Preciso ter certeza de que é a melhor decisão para mim e para o meu filho. Posso entrar em contato com você mais tarde?"
Isabella assente com compreensão. "Claro, querida. Eu entendo que é uma decisão importante. E também já vim preparada para essa resposta.”
Lívida, a moça observa enquanto a mulher pega o celular da bolsa e digita algo.
“Não me leve a mal, querida. Não é que eu discorde de suas decisões. Na verdade, acredito que se separar do meu marido tenha sido uma ótima coisa.”
Ela inclina a cabeça para o lado e brinca com um dos brincos de argola da sua orelha.
“Mas… Fugir do meu filho carregando um bebê dele… Acho que isso não foi muito inteligente da sua parte.”
Isabella diz aquilo sorrindo, mas Mariana consegue sentir o veneno escorrendo pelos lábios dela.
“Eu não engravidei de propósito.”
“Claro que não.”
“Estou falando sério! Eu costumava me cuidar, tomava o anticoncepcional. Mas agora eu amo o meu filho e quero cuidar dele, e bem longe do Maxmilian.”
“Isso é o que você diz agora. Mas, entenda, depois que você foi embora, o meu filho está um pouco… Como direi isso?” Isabella coça um dos olhos e volta a relaxar a postura, como se estivesse comentando sobre o tempo. “Ele anda bastante afastado de mim. Quase não retorna as minhas ligações, e dá desculpas esfarrapadas para não comparecer mais às reuniões de família.
“E o que eu tenho a ver com isso?”
“Acredito que ele esteja um tanto quanto chocado com o divórcio, e não parece estar aceitando a nova realidade.”
“Escuta, Isabella.”
“Não, Mariana. Me escute você.”
O olhar simpático e caridoso de outrora desaparece. Agora a mulher grisalha e linda à sua frente está com a expressão rígida tal qual um sargento do quartel.
“Você vai ter esse bebê. Vai criá-lo com todo o amor do mundo, e os dois serão felizes para sempre. Mas Maxmilian nunca, em hipótese alguma, vai suspeitar da existência dessa criança.”
Mariana quer estapear a mulher, mas se controla ao máximo e diz, com a maior educação que ainda lhe resta:
“Pode deixar, Isabella. A ideia era exatamente essa.”
“Ótimo.”
“Mas guarde seu dinheiro. Não quero ter nenhum laço com você, muito menos aceitar esse seu suborno sujo.”
A mulher se levanta, fazendo o melhor possível para não parecer extremamente abalada e magoada.
“Você perdeu o seu tempo. Assim como Max, quero você fora da minha vida. E da do meu filho também.”
Ela anda a passos rápidos para a porta da cafeteria, soltando fumaça pelo nariz de tanto ódio.
E esbarra com um homem alto, de terno, muito parecido com Maximilian.
“Cunhada.”
“Isso só pode ser uma brincadeira”, ela resmunga.
Sim, era Maxwell Philips.
Maxwell Philips olha para Mariana com um sorriso sarcástico nos lábios. Seus olhos frios e penetrantes parecem analisá-la de cima a baixo, como se estivesse estudando um objeto de experimento."Surpresa em me ver aqui, cunhada?" ele diz, sua voz carregada de desprezo.Mariana tenta disfarçar a perturbação que sente ao ver Maxwell ali. Ela sabia que ele odiava Maximilian, mas não conseguia entender completamente os motivos. Agora, diante dessa situação inesperada, sua mente se enche de dúvidas e receios."O que você quer, Maxwell?" ela pergunta, lutando para manter a compostura.Maxwell dá um passo mais perto, seus olhos fixos nos dela. "Eu vim oferecer um acordo", ele responde com um tom sinistro. “Você já deve ter falado com a minha mãe.”Atrás dela, Isabella se aproxima e coloca uma das mãos na cintura.“Bem, filho, você sabe que eu sempre tento a diplomacia antes de tudo.”“E nós dois sabemos que Mariana sempre preferiu as coisas do jeito mais difícil, não?”, ele ri, cúmplice.Sent
Mariana se encolhe no canto do beco, tentando controlar sua respiração acelerada e abafar os soluços de choro. Ela se agarra à esperança de que as vozes e passos que ouve não sejam de Maxwell ou Isabella, mas o medo a consome, e ela não pode deixar de temer o pior.Os ruídos se tornam mais altos, indicando que as pessoas estão se aproximando rapidamente. Mariana pressiona uma das mãos contra a boca para conter qualquer som que possa traí-la. Seu coração bate forte em seu peito, e a tensão aumenta a cada segundo.De repente, um vulto passa pelo beco, e Mariana prende a respiração. Ela se encolhe ainda mais, tentando se fundir às sombras, esperando que não seja vista. Os passos param bem próximos ao seu esconderijo, e a moça fecha os olhos, esperando o pior."Você viu alguém correndo por aqui?", pergunta uma voz masculina."Não, não vi ninguém", responde outra voz, feminina. "Provavelmente só foi nossa imaginação. Esse beco é meio escuro e dá um arrepio."Mariana não reconhece as vozes,
“Não gosto disso, Mariana.” Caminhando ao seu lado, estava James, o homem que a encontrou no dia em que a moça descobriu a traição; o homem que havia salvado sua vida. Ele repete com mais ênfase:“Não gosto nada disso!”“Eu sei, James, eu também não. Mas acredite em mim, é o único jeito.”“Mariana-”“Vai ficar tudo bem.”“Como vai ficar tudo bem? Porque do nada sua ex-sogra e seu ex-cunhado querem se aproximar de você? Você mesma me disse que-”“Sim, James, mas você precisa confiar em mim. Eu sei o que estou fazendo, não vai acontecer nada de mal comigo.”“Se não vai acontecer nada de mal com você, então porque você se sentiu na obrigação de me trazer como testemunha?”Mariana para de andar. Os dois estão há minutos de chegarem no parque, o local do encontro combinado entre Mariana, Isabella e Maxwell.“Você confia em mim?’“Eu-”“Confia ou não?”Vencido pelo cansaço, James suspira profundamente antes de responder:“Sim.”“Obrigada.”Mariana dá um abraço apertado no amigo. Os dois vo
Sozinho dentro da enorme e cada dia mais solitária casa, o empresário Maximilian Philips, jogado no chão com uma garrafa de uísque ao lado, olha para o teto.O candelabro é radiante, imponente e por si só já demonstrava todo um luxo que, um dia, o homem fizera questão de ostentar.Mas agora, o que era aquilo além de um punhado de vidro lapidado com lâmpadas em seu interior?Max toma mais um gole de uísque.A nova empregada, Lanis, bate duas vezes na porta antes de entrar;“Senhor Philips, o senhor tem visita.“Mande embora”, ele retruca. Sua voz está pastosa devido ao consumo excessivo de álcool.“Mas, senhor Phillips, é a-”“Já mandei mandar embora!”“Sim, senhor.”É claro que depois do divórcio, mulheres apaixonadas por ele, que sempre o desejaram e suspiravam quando o mesmo passava pelos corredores, iriam atrás dele como abelhas iam para o mel.Mas Maximilian não queria nenhuma delas.O zangão tinha perdido sua abelha-rainha. E pior: por causa de seu próprio mal-caratismo.Cambalea
Duas semanas se passaram desde o terrível encontro no parque.Duas semanas se passaram após Isabella entrar mais uma vez em contato, e dizer que estava tudo pronto para o nascimento de Elena e Hector.Ou seja, tudo estava pronto para Mariana e James saírem de cena.A moça chorou e implorou para que o amigo que recuasse, que não fizesse isso consigo. Ele tinha uma carreira brilhante, amigos que gostavam dele. Mas desde o início ele sempre deixou claro que, por Mariana, ele iria até o fim do mundo.Afinal, o mesmo deixou a cidade natal para ficar mais próximo da amiga, menos de um mês depois que a deixou na rodoviária.A notícia falsa já havia sido forjada. Todos estavam comentando sobre o crime horrível cometido alguns dias antes, onde um grupo desconhecido de criminosos sequestrou, torturou e destruiu as vítimas de forma tão horrível, que mal dava para reconhecer os corpos.E quase ao mesmo tempo, Elena, uma secretária de uma empresa fantasma, comprava um belo apartamento no canto mai
Para a sorte eterna de Isabella Philips, a roupa escura e sofisticada, as luvas negras e o chapéu com grinalda que cobria boa parte de seus olhos, escondiam a verdadeira expressão que, às vezes, teimava em surgir em seu rosto: um sorriso de triunfo. Ao redor, muitas pessoas. A maioria eram antigos conhecidos e parentes de Mariana. A mãe dela, uma mulher que Isabella sempre achou fraca e bastante cafona, tinha desmaiado e não voltou mais. "Cuidado, mamãe”, um homem sussurrou em seu ouvido. Ela reconhece imediatamente a voz de Maxwell. “Lembre-se que estamos tristes e terrivelmente chocados com a perda repentina da nossa pobre Mariana.” “Você nunca deixa de reparar em nada, não é?” “Acredito que esse seja um dos meus maiores dons.” O irmão de Maximilian também tem dificuldades para manter uma expressão tristonha, mas é claro que ele jamais admitiria isso. O caixão está fechado no centro da enorme câmara, e cortinas azuis parcialmente fechadas estão ao seu redor, onde o funeral acon
Maxmilian fica atônito diante das palavras e do gesto da mãe de James. Sua expressão de dor e fúria se transforma em surpresa e confusão. Ainda ensandecida, a mulher tosse antes de continuar gritando:“Meu filho era um homem bom! Um homem íntegro! Nunca se envolveu em confusão, sempre foi responsável. Tinha um excelente emprego, era o meu maior orgulho! E então VOCÊ entrou no caminho dele… E ele morreu!”Isabella, por sua vez, rapidamente reage à situação, intervindo para acalmar a mulher enfurecida."Por favor, senhora Simpson, contenha-se! A senhora está no velório da minha nora, que como o seu filho, foi uma vítima de um crime horrendo! O que está insinuando? Meu filho não tem nada a ver com isso.!A mulher, com os olhos marejados de lágrimas, encara Isabella com um misto de dor e raiva. Ela respira fundo antes de falar, sua voz embargada pelo pesar."A esposa desse… Desse monstro que você chama de filho… Ela estava grávida dele e ele a abandonou!”Todos ao redor parecem chocados
Isabella está a menos de seis passos de distância da mãe de James, que ainda está encolerizada e falando barbaridades a respeito de Maxmilian para os outros presentes, quando sente alguém puxando seu braço.“Enlouqueceu?”, Maxwell praticamente rosna no ouvido dela, falhando miseravelmente em manter as feições do rosto neutras.A mãe do homem se solta, também enfurecida.“O que pensa que está fazendo?”“Engraçado, eu poderia te fazer a mesma droga de pergunta.“Estou tomando uma atitude em relação a este ultraje, é claro! Se essa mulher continuar falando, poderemos ter problemas.”“Esquece essa velha, temos coisas piores pra lidar”, diz Maxwell, os olhos assustados.Isabella imediatamente fica preocupada.“O que aconteceu?”, ela pergunta, olhando para os lados antes de acrescentar: “Elena e Hector estão nos dando problemas?”“Não. Maxmilian acabou de entrar na área restrita do salão.”“O quê?!”“Ele acabou de atravessar as cortinas, mamãe.”Exasperada, a mulher dá um passo em direção a