07. Veneno de cobra

A primeira coisa que se passa na mente de Mariana é simplesmente levantar e ir embora, sem dizer uma única palavra.

A segunda coisa é sorrir, acenar e mandar aquela velha para o inferno e, então sim, levantar e ir embora.

Mas o nervosismo, a confusão e a hesitação fazem com que a moça simplesmente fique boquiaberta por alguns segundos antes de dizer:

"Olá", responde Mariana, tentando manter a compostura, embora seus pensamentos estejam acelerados. 

Ela observa a expressão serena no rosto de Isabella. Como aquela mulher tinha a encontrado? Apesar de estar tentando manter a calma, Mariana quer muito segurá-la pela gola da blusa e sacudí-la enquanto a enche de perguntas.

Isabella sorri gentilmente e diz: 

"Espero que não se importe por eu ter mantido o anonimato. Prezei pela minha segurança e também pela sua ao escolher esse método. Tenho acompanhado a situação difícil pela qual você está passando e senti que era hora de intervir."

Mariana franze a testa, ainda processando a revelação. Ela tinha dificuldade em acreditar que Isabella, a mãe de seu ex-marido, estivesse oferecendo ajuda e apoio neste momento crucial de sua vida.

Isabella continua, notando a surpresa de Mariana: 

"Eu sei que nossa relação no passado não foi das melhores, mas como mãe, não posso ignorar a situação em que você se encontra. Eu vi o quão infeliz meu filho fez você e como ele deixou você em uma situação difícil."

Mariana balança a cabeça, sem palavras. Ela nunca esperou receber ajuda ou compaixão de Isabella, principalmente porque, segundo Maxmilian, sua ex-sogra nunca viu com bons olhos aquele casamento.

Mas será que Max estava mentindo? Será que ele propositalmente havia minado a relação das duas, apenas para que a moça se sentisse ainda mais sozinha?

Isabella percebe a hesitação de Mariana e continua: 

"Eu entendo suas dúvidas e preocupações. Eu não estou pedindo para que você confie em mim cegamente. Mas gostaria de lhe oferecer uma oportunidade de mudar sua vida, de garantir que você e seu filho tenham um futuro melhor. Posso fornecer recursos financeiros, suporte e tudo o que você precisar para construir uma vida digna para vocês dois."

A proposta de Isabella é tentadora, mas Mariana permanece cautelosa. Afinal de contas, aquela história estava muito estranha.

"Como você ficou sabendo da minha gravidez e da minha situação atual? E por que agora, depois de tanto tempo?"

Isabella olha para Mariana com compaixão em seus olhos e responde: 

"Eu tenho meus contatos e minha maneira de obter informações. Quanto ao timing, é verdade que demorei a tomar uma atitude. Talvez tenha sido minha própria culpa por não perceber o quão tóxico meu filho era. Mas agora estou aqui, disposta a fazer a diferença. Eu quero compensar pelo que meu filho fez a você."

Mais uma vez: a desconfiança era grande demais. Durante os anos em que foi casada, Isabella jamais tinha tentado se aproximar dela. E agora, meses depois do divórcio, ela queria ser amiga da mulher?

Cavalo dado não se olha os dentes, é verdade. Mas aquilo estava mais para um cavalo de troia.

Mariana respira fundo antes de tentar abrir um sorriso afável, embora duvidasse que tinha conseguido, e diz educadamente:

"Eu aprecio a oferta e entendo suas intenções, mas preciso de um tempo para considerar tudo isso. Preciso ter certeza de que é a melhor decisão para mim e para o meu filho. Posso entrar em contato com você mais tarde?"

Isabella assente com compreensão. "Claro, querida. Eu entendo que é uma decisão importante. E também já vim preparada para essa resposta.”

Lívida, a moça observa enquanto a mulher pega o celular da bolsa e digita algo.

“Não me leve a mal, querida. Não é que eu discorde de suas decisões. Na verdade, acredito que se separar do meu marido tenha sido uma ótima coisa.”

Ela inclina a cabeça para o lado e brinca com um dos brincos de argola da sua orelha.

“Mas… Fugir do meu filho carregando um bebê dele… Acho que isso não foi muito inteligente da sua parte.”

Isabella diz aquilo sorrindo, mas Mariana consegue sentir o veneno escorrendo pelos lábios dela. 

“Eu não engravidei de propósito.”

“Claro que não.”

“Estou falando sério! Eu costumava me cuidar, tomava o anticoncepcional. Mas agora eu amo o meu filho e quero cuidar dele, e bem longe do Maxmilian.”

“Isso é o que você diz agora. Mas, entenda, depois que você foi embora, o meu filho está um pouco… Como direi isso?” Isabella coça um dos olhos e volta a relaxar a postura, como se estivesse comentando sobre o tempo. “Ele anda bastante afastado de mim. Quase não retorna as minhas ligações, e dá desculpas esfarrapadas para não comparecer mais às reuniões de família.

“E o que eu tenho a ver com isso?”

“Acredito que ele esteja um tanto quanto chocado com o divórcio, e não parece estar aceitando a nova realidade.”

“Escuta, Isabella.”

“Não, Mariana. Me escute você.”

O olhar simpático e caridoso de outrora desaparece. Agora a mulher grisalha e linda à sua frente está com a expressão rígida tal qual um sargento do quartel.

“Você vai ter esse bebê. Vai criá-lo com todo o amor do mundo, e os dois serão felizes para sempre. Mas Maxmilian nunca, em hipótese alguma, vai suspeitar da existência dessa criança.”

Mariana quer estapear a mulher, mas se controla ao máximo e diz, com a maior educação que ainda lhe resta:

“Pode deixar, Isabella. A ideia era exatamente essa.”

“Ótimo.”

“Mas guarde seu dinheiro. Não quero ter nenhum laço com você, muito menos aceitar esse seu suborno sujo.”

A mulher se levanta, fazendo o melhor possível para não parecer extremamente abalada e magoada.

“Você perdeu o seu tempo. Assim como Max, quero você fora da minha vida. E da do meu filho também.”

Ela anda a passos rápidos para a porta da cafeteria, soltando fumaça pelo nariz de tanto ódio.

E esbarra com um homem alto, de terno, muito parecido com Maximilian.

“Cunhada.”

“Isso só pode ser uma brincadeira”, ela resmunga.

Sim, era Maxwell Philips.

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