Capítulo 6: Entre a Dor e as Sombras

A noite caíra sobre a mansão da família Castellano, envolvendo tudo em um manto de escuridão. Domenic estava sozinho em seu quarto, deitado em sua cama com o corpo dorido e cansado. As feridas infligidas por Lorenzo ainda latejavam, cada movimento era uma agonia agonizante que o consumia por dentro.

Lorenzo e Vittorio não haviam cuidado dele, deixando-o à mercê de suas próprias dores. Domenic estava acostumado a cuidar de si mesmo, mas desta vez, a dor era insuportável. Ele se contorcia na cama, gemendo baixinho com cada movimento.

Enquanto a noite avançava, Domenic mergulhou em um estado de semi-consciência, sua mente oscilando entre a realidade e a escuridão. Ele teve vislumbres de seus pais, Giovanni e Isabella, mas não eram lembranças reconfortantes. Em vez disso, eram imagens distorcidas, distorcidas pelo peso de sua ausência e traição. Seus rostos estavam cobertos por sombras, suas vozes sussurravam palavras de desdém e desapontamento.

Domenic tentou afastar as alucinações, mas elas o perseguiram implacavelmente. Ele se viu cercado por uma névoa escura, lutando para encontrar uma saída. Seus pais pairavam sobre ele, seus olhares frios e distantes cortando como facas afiadas.

A dor física de suas feridas se misturava à dor emocional de sua solidão e abandono. Ele se sentia perdido, como se estivesse à deriva em um mar de escuridão sem fim. Cada momento era uma batalha contra as sombras que o cercavam, uma luta pela sobrevivência física e mental.

À medida que a noite avançava, os sonhos de Domenic se tornavam cada vez mais perturbadores. Ele se via preso em um labirinto de escuridão, correndo desesperadamente para escapar das sombras que o rodeavam. Seus pais surgiam diante dele, suas vozes ecoando como sussurros sinistros em sua mente.

–  Você não é digno, Domenic, –  sussurrava a voz de Giovanni, carregada de desapontamento e desdém. –

–  Você é fraco, indigno do nome Castellano.

As palavras cortavam como lâminas afiadas, perfurando a alma de Domenic com uma dor lancinante. Ele tentava gritar, mas sua voz estava presa em sua garganta, sufocada pelo peso de sua própria angústia.

Isabella emergiu das sombras, seus olhos frios e distantes como pedras de gelo.

–  Você é um fardo, Domenic, –  ela murmurava, sua voz ecoando como um eco distante.

– Um fardo que nunca deveríamos ter carregado.

As palavras atingiam Domenic como um golpe no estômago, arrancando o ar de seus pulmões. Ele se sentia pequeno e indefeso diante das figuras sombrias de seus pais, seu coração pesado de dor e desespero.

Mas mesmo no auge de sua angústia, uma voz suave e familiar cortou a escuridão. Era a voz de Sofia, sua irmãzinha, um farol de luz em meio à escuridão.

–  Não acredite neles, Domenic, – ela sussurrava, suas palavras cheias de ternura e compaixão.

– Você é forte, você é corajoso. Você é um Castellano de verdade.

As palavras de Sofia inundaram Domenic com uma sensação de calor e conforto. Ele se agarrou a elas como uma âncora em meio à tempestade, permitindo que a luz de sua irmã dissipasse as sombras que o cercavam.

Quando finalmente despertou, o sol já estava nascendo no horizonte, espalhando seus raios dourados pela mansão adormecida. Domenic sentou-se na cama, sentindo-se exausto e frágil, mas também renovado em sua determinação.

Domenic levantou-se com cautela da cama, sentindo cada fibra de seu corpo protestar contra o movimento. Cada músculo parecia gritar de dor, uma lembrança constante dos tormentos que havia suportado nas mãos de Lorenzo. No entanto, mesmo em sua fraqueza física, sua determinação permanecia inabalável.

Com passos hesitantes, ele se aproximou da janela do quarto, observando os primeiros raios de sol banharem a paisagem italiana. O cenário pitoresco contrastava com a escuridão que ainda assombrava sua mente, mas ele se recusava a deixar que as sombras o consumissem.

O rosto de Sofia surgiu em sua mente, um raio de luz em meio à escuridão. Ele se agarrou à imagem dela, deixando sua presença confortá-lo e fortalecê-lo. Ela era sua âncora, sua razão para continuar lutando, não importava quão difícil o caminho pudesse ser.

Com um suspiro determinado, Domenic se afastou da janela e começou a se preparar para o dia que se estendia diante dele. Cada movimento era uma batalha contra a dor que o consumia, mas ele se recusava a desistir. Ele se vestiu com cuidado, cobrindo as marcas de sua agonia com roupas impecáveis e uma máscara de determinação.

Ao descer as escadas da mansão, Domenic encontrou-se cara a cara com Vittorio, cujos olhos expressavam uma mistura de preocupação e respeito. Domenic olhou para o mordomo, seu coração pesado com a dor que ele havia suportado nas mãos de Lorenzo.

–  Por que vocês não cuidaram de mim?, –  perguntou ele, sua voz um sussurro rouco de dor e desconfiança.

Vittorio entrou no quarto, e olhou para Domenic com uma expressão séria e pesarosa. Ele compreendeu a dor e a desconfiança nos olhos do jovem e suspirou antes de responder.

– Domenic, meu jovem, o que Lorenzo fez foi doloroso e injusto. Mas há uma razão por trás disso tudo. Na vida que levamos, na posição que ocupamos, às vezes enfrentamos situações terríveis. Situações que exigem força não apenas física, mas também mental. O que você suportou hoje pode muito bem prepará-lo para desafios futuros. É necessário que você conheça a dor, que compreenda como agir sob tortura, para que, se isso acontecer novamente, você saiba como resistir.

As palavras de Vittorio eram como um soco no estômago para Domenic. Ele queria rejeitar a ideia de que a tortura poderia ser justificada de qualquer maneira, mas uma parte dele entendia a lógica fria e pragmática por trás das palavras do mordomo.

No entanto, isso não diminuía a dor que ele sentia, nem a sensação de traição que o consumia. Ele olhou para Vittorio, lutando para encontrar uma resposta para suas palavras.

– Mas por que você não me disse? – ele perguntou, sua voz carregada de frustração e angústia.

– Por que você não me avisou sobre o que estava por vir? Por que me deixar sofrer assim?

Vittorio abaixou os olhos, sua expressão pesarosa.

– Às vezes, Domenic, as lições mais difíceis são aquelas que aprendemos por nós mesmos. Eu sabia que você era forte o suficiente para suportar, mesmo quando você próprio duvidava disso. Eu sabia que você poderia emergir desta provação mais forte e mais resiliente do que nunca. Mas saiba que nunca quis vê-lo sofrer.

Domenic se viu lutando para aceitar as palavras de Vittorio. A ideia de que sua dor era parte de algum plano maior parecia injusta e cruel. No entanto, ele também entendia que, na vida da máfia, não havia espaço para fraqueza ou autoindulgência.

Com um suspiro resignado, Domenic assentiu, aceitando a explicação de Vittorio, por mais difícil que fosse.

– Eu entendo – murmurou ele, sua voz um sussurro rouco.

– Eu só espero que valha a pena.

Vittorio colocou uma mão reconfortante no ombro de Domenic, oferecendo um pequeno sorriso de apoio.

– Eu também, meu jovem. Eu também.

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