APENAS UMA PARTIDA

Como uma sombra eu me movo, em silencio, imperceptível, invisível numa densa penumbra.

O filho segurou com força a mão frágil do homem apavorado cujos olhos esgazeados perfurava o ar, temendo o que pudesse estar escondido atrás de cada lâmina. De súbito, como se tivesse perdido as forças momentaneamente, afrouxou os músculos e arriou a cabeça no travesseiro, os olhos fechados com força, expulsando as lágrimas para os leitos das rugas. Todo o corpo do velho tremia em agonia. O rosto procurava recuar, tenso, congestionado.

O filho olhou o pai e sofreu, procurando os olhos do médico, que examinava com tristeza o homem moribundo. Sua dor latejou ao se perguntar como poderia dizer ao pai. Como poderia dizer, para alguém que estava para viajar, que tudo daria certo, que nunca estaria só, e que não havia escuridão? Como poderia fazê-lo ver, e acreditar, que havia luz dentro da própria morte, uma luz mais pura que qualquer outra?

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