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EM BUSCA DO SEU PERDÃO
EM BUSCA DO SEU PERDÃO
Por: Daia Muller
Capítulo 1 - No Refúgio Escondido

No passado…

Caíque

O sino da última aula ecoa pelos corredores da escola, anunciando o fim de mais um dia cansativo de estudos, julgamentos silenciosos e comentários maldosos da grande maioria dos alunos que se orgulham de serem os melhores. Demoro a guardar meu material na mochila, esperando que todos saiam para seguir o caminho já tão habitual.

Saio da sala de aula e, a cada passo que dou pelo corredor, sinto meu coração bater acelerado. Ao mesmo tempo, tento controlar meus pensamentos a mil e o nervosismo aparente, sem querer chamar a atenção dos outros alunos e professores.

À distância, tenho o vislumbre da sua silhueta e confirmo que ela já me espera. Em um canto pouco frequentado, atrás de uma porta entreaberta que leva a um antigo depósito, Mayara está sentada em uma poltrona desgastada.

Acelero os passos e, ao me aproximar, é como se nada mais importasse. Passo pela porta e, devagar, fecho-a o máximo que consigo. Mayara se levanta e vem ao meu encontro. Nossos olhos se encontram num silêncio que diz mais do que qualquer palavra poderia expressar.

— Mayara, eu… — inicio, hesitante, com a voz carregada de emoção. O que poderia dizer? Qual desculpa seria aceitável dessa vez para não entrar em contato? Ela acreditaria que eu estava de castigo sem acesso ao meu celular por não ser o primeiro lugar em uma competição composta por filhos de magnatas?

Ela sorri, um sorriso tímido, mas repleto de significado e esperança.

— Eu sabia que você viria.

Mayara se lança em meus braços e eu a abraço com força. O tempo parece desacelerar durante nosso abraço. Nesse breve instante em que a tenho em meus braços e a giro no ar, o ambiente se transforma; o mundo complicado em que vivemos é deixado do lado de fora. Ali, naquele recanto esquecido, conseguimos ser nós mesmos, sem influências ou críticas. Naquele cubículo, encontramos o conforto e a segurança para nos encontrar discretamente e viver um amor que, embora seja considerado proibido, sabemos ser intenso e verdadeiro.

Coloco-a no chão e noto que ela tenta conter o riso, refletindo o meu sorriso discreto. Pego os fios escuros de seus longos cabelos que estão por todo o lado e os jogo para trás. Com delicadeza, seguro seu rosto delicado entre as minhas mãos e tiro um tempo para observá-la na penumbra. Mesmo com o semblante marcado pelo cansaço de sua rotina, ela é linda: os longos cílios que emolduram seus olhos escuros e redondos, as sobrancelhas bem definidas, o nariz esculpido, as bochechas salientes e os lábios convidativos.

Aproximo-me e, suavemente, roço meus lábios contra os dela, enquanto ela fecha os olhos devagar. Com um suspiro, beijo-a, tentando transmitir toda a saudade que senti dela, de nós. Ela retribui com a mesma intensidade em um beijo urgente.

— Parabéns para nós. — sussurro.

— Parabéns! Um ano! — ela diz, envolvendo seus braços finos em minha cintura e me abraçando apertado.

— É, um ano. — Beijo sua testa. — Sinto muito por ter sido um ano difícil para nós… — começo a me desculpar, mas ela me interrompe.

— Logo tudo isso passa. Em alguns meses, vamos nos formar no ensino médio, meu aniversário se aproxima e poderemos ir embora. — Concordo. — Não desista dos nossos planos.

— Não vou desistir de nós. Não desista também. — Ela sorri e, com um brilho nos olhos, acena. — Trouxe algo para você.

— O que é?

Abro minha mochila e retiro uma caixa com trufas de chocolate.

— Aqui está. Não consegui te trazer algo maior, pois chamaria atenção. — Estendo a caixa para ela que aceita.

— Está perfeito! — Mayara me dá um beijo rápido. — Eu não consegui te trazer nada. Você sabe, ainda não recebi o pagamento do café… — Refere-se ao serviço meio período em que trabalha. Ela está com pagamento atrasado e mesmo que não estivesse, sei que todo o valor já está comprometido com os gastos de sua casa.

— Não se preocupe com isso. Estar com você é o melhor presente que eu poderia receber. — Digo, enquanto a aconchego em meus braços de novo.

Sento na poltrona e a coloco em meu colo. Em meio a trocas de carinho, conversamos em sussurros, confidenciando nossos sonhos, medos e repassamos os planos traçados ao longo deste ano. Em cada palavra trocada, a nossa cumplicidade cresce, sendo fortalecida pela certeza de que, naquele lugar escondido, somos livres para ser exatamente quem queremos.

Aqui, com minha namorada, encontro uma rara sensação de liberdade. Só com ela posso ser eu mesmo, sem julgamentos; com ela, tudo fica mais leve, mesmo quando o mundo é difícil.

Os minutos se transformam em preciosos instantes de intimidade, nos quais, por um breve período, nos permitimos curtir o momento e esquecemos todas as barreiras e dificuldades. Mas o tempo insiste em correr como sempre acontece quando estamos juntos.

— Nossa, preciso ir! — Confere as horas na tela do meu celular quando ele se ilumina com uma notificação de mensagem da minha mãe.

— Eu também. Não vou conseguir ir ao café hoje, tenho cursinho.

— Tudo bem, eu entendo. — Ela se levanta do meu colo e pega sua mochila do chão.

— Mas amanhã, trago alguns materiais do cursinho para você. Falei para minha mãe que ia doar para um colega de sala.

— Obrigada! Vou estudar um pouco mais por dia antes de dormir. — Recebo mais um abraço. — Agora e preciso mesmo ir. Até amanhã!

— Até! Eu e amo.

— Eu te amo também.

Mayara coloca mais um chocolate na boca e me dá um beijo rápido, nos despedimos com promessas de nos encontrarmos no dia seguinte e ela sai primeiro. Enquanto aguardo um tempo para sair, respondo à mensagem da minha mãe com a mentira de que estou a caminho de casa.

Após seus passos se afastarem, eu também saio dali e caminho devagar para dar tempo de não nos encontrarmos. Sem olhar para trás, deixo nosso refúgio para trás, saindo pela porta do prédio escolar e retornando ao mundo frio e sufocante que me aguardava lá fora – um mundo repleto de olhares atentos e expectativas irreais da minha família.

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