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Capítulo 5 - Desentendimentos

Mayara

O meu dia já começa em meio a provações diárias. Na verdade, os últimos dias têm sido difíceis. Faz uma semana que não vejo o Caíque, uma semana que parece uma eternidade. Tento me convencer de que tudo está bem, que ele tem seus motivos e que eu não deveria me preocupar tanto. Afinal, ele já ficou sem entrar em contato outras vezes. Mas é impossível não sentir o vazio deixado por seu silêncio, ainda mais porque esta é a primeira vez que ele demora tanto para dar um sinal de vida. Ele simplesmente desapareceu. E o pior de tudo: sem me dar nenhuma explicação.

Ainda lembro da última vez que nos vimos. Ele estava dentro de um dos carros de sua família, passando pelo meu bairro. Nossa troca de olhares foi breve, mas intensa. Eu voltava da vendinha com algumas compras e, por sorte, segurava firme as sacolas, porque, no susto, poderia ter derrubado tudo no chão. Não sei para onde ele estava indo, nem o que estava pensando. Depois da discussão no café mais cedo, fui para a cozinha me recompor e para esperar a poeira baixar. Quando voltei, ele e os amigos já tinham ido embora. Depois disso, nenhuma mensagem, nenhuma ligação. E, por mais que tentasse me convencer de que ele estava ocupado, de que talvez fosse algo relacionado à família, as dúvidas me corroíam.

Quero entender o lado dele, mas a raiva também me consome. Como ele pode sumir assim, sem nem ao menos me avisar que está bem? Só sei que ele está vivo porque ouvi alguns clientes no café comentando que ele estava resfriado e, por isso, não foi à escola nem ao cursinho.

É como se a confiança que depositei nele tivesse se esfarelado, deixando apenas cacos de um relacionamento que eu mesma idealizei demais. Não parece certo. Não me parece justo.

Talvez, eu esteja exagerando. A sobrecarga na escola, trabalho, e em casa, devem estar me deixando dessa forma.

Mas deixo de me culpar quando pela manhã, ele entra na sala de aula acompanhado de várias meninas, que conversam animadas sobre alguma festa. Meu sangue ferve. Eu aqui, preocupada, e ele falando sobre festa?

Respiro fundo e o ignoro. Permaneço sentada de frente para a lousa, como sempre, e não olho para trás nenhuma vez para não vê-lo. No fim do dia, espero que ele saia e sigo para o nosso esconderijo. Quando chego, aperto as mãos em punho, tentando controlar meu nervosismo e o coração acelerado. Caíque já está lá, de cabeça baixa, como se soubesse que eu viria, mas não tivesse coragem de me enfrentar.

— O que aconteceu, Caíque? — pergunto de uma vez, tentando conter a raiva na minha voz. Mas, ao mesmo tempo, a angústia me sufoca.

Ele me olha, um pouco surpreso com minha atitude, e se levanta. Sua expressão está tensa, como se preparasse para dizer algo que sabia que eu não gostaria de ouvir.

— Eu… — hesita. Passa a mão pelos cabelos, encara o chão e, por fim, olha nos meus olhos. — Eu não queria te magoar, Mayara. Mas minha mãe está de olho em mim. Pegou meu celular, viu nossas últimas mensagens, que esqueci de apagar, e me pressionou para saber quem era você. Eu não soube o que fazer.

Então ele sumiu por causa da mãe dele? Em vez de ter coragem de falar comigo, preferiu se esconder atrás da pressão dela?

— Então, é por isso? Por que sua mãe pegou seu celular? — A raiva transborda agora. Meu tom de voz escapa do controle. — O que eu sou para você, Caíque? Custava me avisar que estava bem? Poderia ser um bilhete, um recado, qualquer coisa. Pensei que a gente tivesse algo, mas, aparentemente, estava enganada.

Ele tenta se aproximar, mas dou um passo para trás. Não quero que ele me alcance agora. Não depois de tudo isso. A sensação de traição está estampada no meu rosto, mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim ainda quer ouvir uma explicação. Quero que ele diga que é só uma fase, mas sei que não é. Ele não foi transparente.

— Mayara, não é isso… — insiste, com a voz suave, tentando alcançar meu olhar. — Eu só não queria te envolver mais nisso. Minha mãe está me pressionando de todas as formas. Eu sei que errei, mas preciso de tempo para organizar as coisas.

Respiro fundo, tentando conter as lágrimas que ameaçam cair. Como ele pode me pedir para aceitar uma situação em que nem sei onde fico no seu mundo?

— Tempo? — repito, com um sorriso amargo nos lábios. — O que você espera, Caíque? Que eu me contente com essas migalhas de explicação, enquanto você aparece rodeado de meninas e planejando festas? — Seguro a voz, que começa a embargar. — Eu sempre te apoiei, sempre disse que tudo isso ia passar. Mas, antes, você me incluía na sua vida de alguma forma. Agora, não mais.

Ele parece prestes a dizer algo, mas me viro e começo a caminhar para a saída. Estou tão cansada de me importar, de tentar entender alguém que não está disposto a me incluir na sua vida de verdade.

Saio primeiro do esconderijo, mas ele vem atrás, em completo silêncio. Caminhamos pela rua: eu à frente, ele um pouco atrás, empurrando a bicicleta. Mesmo que tente me acompanhar, sinto a distância entre nós crescer.

Quando passamos pelas ruas mais quietas, o vento frio me corta ainda mais. Quero estar sozinha, longe desse peso no peito. Então, uma lágrima cai, e eu a deixo escorrer. Não tento segurá-la como antes. Sei que não conseguiria. É como se aquele silêncio e toda essa distância tivessem se transformado em um mar de sentimentos que não podem mais ser contidos.

Em nenhum momento olho para trás. Sei que, se olhasse, veria o olhar dele, a culpa estampada em seu rosto. Mas estou cansada. Cansada de esperar por respostas que talvez nunca cheguem.

Continuo caminhando, deixando a tristeza me envolver, enquanto a distância entre nós aumenta.

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