Caíque
Fecho a porta da nossa nova casa e, por um momento, tudo fica em silêncio. Só eu e ela. Respiro fundo, ainda com emoção em meu peito, quando tive a imagem da Mayara vestida de noiva, sorrindo para mim enquanto caminhava até mim. A cerimônia foi emocionante, a festa cheia de alegria, e mesmo amando cada minuto de como estava sendo o nosso casamento, eu não via a hora de estarmos sozinhos. E agora, chegou esse momento.
— Finalmente — murmuro, puxando Mayara pela cintura.
Ela ri baixinho e envolve meus ombros com os braços.
— Cansado? — ela pergunta, encostando a testa na minha.
— Nem um pouco. Estou cheio de energia. — Sorrio e deixo um beijo leve no canto dos lábios dela.
— Então você está em vantagem. Acho que eu poderia dormir por uma semana inteira. — Finge abrir a boca de sono e ga
Meses depoisMayaraEu sabia que alguma coisa estava errada desde ontem. Passei o dia no trabalho, com mal-estar. Pensei que ao acordar estaria melhor, mas acordei com aquela mesma sensação de enjoo, mais forte, o que começou a me preocupar. Imaginei ser nervosismo pelo novo projeto que está sendo implementado no escritório e que com isso, tive um certo aumento de trabalho, ou talvez, fosse algo que comi, mesmo não tendo comido nada diferente.— Mãe, você tá bem? — Gustavo me pergunta, os olhos curiosos enquanto coloco o café na mesa.— Tô, sim, filho. Só um pouco enjoada.Ele faz uma careta engraçada, como se tentasse entender o que isso significa. Passo a mão pelo seu cabelo, tentando disfarçar, não querendo preocupá-lo. Talvez seja só uma indisposição passageira.Depois de deixar Gustavo na escola, volto para casa e me jogo no sofá, tentando acalmar meu estômago com um chá de camomila. Mas nada parece ajudar. Minha cabeça está cheia de pensamentos desconexos, tentando entender o qu
MayaraÉ impossível não sorrir ao olhar para o meu reflexo no espelho. O vestido azul-claro realça a curva da minha barriga redonda. A cerimônia de casamento da Gabi e do Daniel é hoje, e eu estou prestes a acompanhar a minha melhor amiga até o altar.Passei o dia com ela, assim como ela esteve comigo na minha vez. Vim para casa para me arrumar e conferir que Gu e Caíque estariam prontos no horário.— Mãe, você tá linda! — Gustavo comenta, entrando no quarto com o olhar curioso.— Você acha? — pergunto, ajeitando o cabelo preso em um coque elegante.— Sim! E seu vestido brilha!Solto uma risada, tocando o tecido acetinado. Gustavo está usando um terno minúsculo mais uma vez, e é a coisa mais fofa que já vi. Caíque aparece logo atrás, também de terno, com um sorriso encantador.— Prontos para o casamento? — ele pergunta, me puxando pela cintura e me dando um beijo rápido na testa.— Prontíssimos — respondo, sentindo meu coração bater mais forte ao lembrar do nosso próprio casamento, qu
CaíqueAcordo com um toque leve no meu braço e, no mesmo instante, sinto um aperto no peito. Olho para o lado e vejo Mayara sentada na beira da cama, respirando fundo.— O que foi? — pergunto, já me sentando em alerta.— Acho que… — Ela faz uma pausa e segura minha mão com força. — Acho que chegou a hora.Meu coração dispara. Não sei se estou pronto para esse momento. Na verdade, ninguém está realmente pronto para isso, né? Mas não tem escolha. É agora.— Tudo bem, tudo bem — digo, tentando manter a calma, mas sinto minha voz trêmula. — Vamos para o hospital.Levanto rapidamente e ando pela casa, confuso no que devo fazer. Começo a pegar as malas que deixamos prontas há semanas no quarto infantil que decoramos há meses.— Caíque? — Mayara me chama suavemente. Deixo tudo para trás e corro até ela. Quando me aproximo dela, segura minha mão de novo, e eu percebo que ela está mais calma do que eu. — Vai dar tudo certo, Caíque — ela sussurra, como se precisasse me tranquilizar.— Claro que
GustavoEstou esperando no pátio da escola, chutando uma pedrinha de um lado para o outro enquanto vejo os outros pais chegarem para buscar seus filhos. Todo mundo já foi embora, e eu começo a ficar preocupado. Será que esqueceram de mim?Minha mãe e meu pai não me trouxeram para a escola. Precisaram ir no médico. Tio Dan me trouxe e falou que estava tudo bem, então achei que meus pais iam me buscar, né?Mas ninguém veio ainda. Olho para os lados quando meus últimos amigos vão embora, é quando vejo o tio Daniel vindo em minha direção, com aquele sorriso grande que ele sempre tem. Ele acena para mim, e eu corro para ele.— E aí, carinha! — ele diz, bagunçando meu cabelo.— Oi, tio! Cadê a mamãe e o papai? — pergunto, meio desconfiado.Ele se abaixa na minha frente e coloca as mãos nos meus ombros.— Tenho uma supernovidade para você! — ele diz, fazendo uma cara misteriosa.Arqueio as sobrancelhas, curioso.— O que é?— Seus pais foram para o hospital porque sua irmãzinha vai nascer!Me
MayaraA brisa da tarde entra suave pela janela da sala, balançando as cortinas com um ritmo preguiçoso. O sol espalha um dourado quente pelos cantos da casa, iluminando os brinquedos espalhados, os desenhos coloridos colados na geladeira e os diversos porta-retratos nos móveis que contam parte de nossa história.Como faço sempre que me aproximo dos registros de nossas lembranças, observo cada fotografia com um sorriso no rosto e felicidade em meu coração. Acompanho o crescimento do meu filho. O desenvolver da minha filha. Fotos com Caíque, do nosso casamento, festas, encontros com amigos e familiares, diversos momentos felizes. Aqui está o refletido o passar do tempo para nossa família. E é lindo.O som da caneca no fogo, me avisa que o meu chá está pronto. Vou até lá e me sirvo da bebida. Sento no sofá com uma xícara de chá ainda quente entre as mãos. Posso ouvir as risadas vindo do quintal. Caíque está com as crianças lá fora, brincando de pega-pega com Gustavo e a pequena Isabela,
CaíqueAs manhãs aqui em casa são barulhentas, bagunçadas e incrivelmente vivas. O despertador raramente é necessário, porque Isabela é sempre a primeira a pular na nossa cama, rindo e fazendo bagunça, falando um monte de histórias e pedindo panquecas. Gustavo já se acostumou com a nova rotina, agora que é o irmão mais velho, acha que tem a missão de ajudar em tudo, nos afazeres diários e cuidados com a caçula. E eu, bom, eu acordo todos os dias pensando na sorte que tive por ter escolhido ficar. Na verdade, a sorte começou quando conheci a Mayara.Agora mesmo estamos na cozinha. Mayara veste uma roupa simples e um avental florido, cabelo preso em um coque alto malfeito com alguns fios bagunçados, sorriso largo no rosto. Com o braço ágil, ela mexe a massa na tigela enquanto canta baixinho uma música infantil, dessas que ela ouviu quando Isabela pediu para assistir na televisão enquanto dançava. Isabela está sentada no seu cadeirão, balançando as pernas e batendo as mãos na bandeja, ob
GustavoTem dias em que tudo parece meio em câmera lenta. Tipo hoje. O sol tá se pondo devagar lá fora, pintando o céu de laranja, e eu tô sentado na escada da varanda, com os cotovelos nos joelhos e a cabeça cheia de coisa. A casa tá cheia do barulho de sempre — risada da minha irmã, panela batendo na cozinha, meu pai cantando desafinado alguma música antiga. É tudo muito normal. Mas, ao mesmo tempo… sei lá. Nada é só normal quando você presta atenção de verdade.— Gu, olha só! — a voz da Isadora corta meus pensamentos, aguda como sempre. Ela corre na minha direção com um copo na mão, metade cheio de alguma poção maluca feita com groselha, leite e, provavelmente, sabão.— Não me dá isso. Da última vez quase vomitei — digo, fazendo careta. Ela ri como se fosse a melhor piada do mundo.— É só groselha! Tá, talvez tenha um pouquinho de pimenta…Reviro os olhos, mas sorrio. A Isa tem sete anos, mas às vezes parece que ela veio com o dobro de energia e criatividade. Meu pai diz que ela pu
No passado…CaíqueO sino da última aula ecoa pelos corredores da escola, anunciando o fim de mais um dia cansativo de estudos, julgamentos silenciosos e comentários maldosos da grande maioria dos alunos que se orgulham de serem os melhores. Demoro a guardar meu material na mochila, esperando que todos saiam para seguir o caminho já tão habitual.Saio da sala de aula e, a cada passo que dou pelo corredor, sinto meu coração bater acelerado. Ao mesmo tempo, tento controlar meus pensamentos a mil e o nervosismo aparente, sem querer chamar a atenção dos outros alunos e professores.À distância, tenho o vislumbre da sua silhueta e confirmo que ela já me espera. Em um canto pouco frequentado, atrás de uma porta entreaberta que leva a um antigo depósito, Mayara está sentada em uma poltrona desgastada.Acelero os passos e, ao me aproximar, é como se nada mais importasse. Passo pela porta e, devagar, fecho-a o máximo que consigo. Mayara se levanta e vem ao meu encontro. Nossos olhos se encontr