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Capítulo 6 - Proibido

Caíque

Estar de castigo aos dezessete anos me parece um absurdo, mas aqui estou eu, preso dentro de casa. Pelo menos é assim que me sinto, enjaulado, e a sensação é além das paredes que me cercam. Desde que minha mãe pegou meu celular e viu a minha última troca de mensagens com a Mayara, minha vida virou um inferno. Ela surtou, fez um interrogatório digno de filme policial e, no fim, decretou meu castigo: sem celular, sem internet, sem sair de casa e sem direito a discutir. Nenhuma mensagem, nenhum contato com o mundo lá fora.

Minha mãe nem sequer quer olhar na minha cara depois dessa confusão. Todos estão me tratando com a mesma frieza.

Foi um erro meu ter esquecido de apagar as mensagens da Mayara. Não que houvesse algo tão comprometedor, mas minha mãe tem essa mania de querer controlar tudo ao meu redor e quando pegou o celular e leu as mensagens, ficou furiosa. Disse que eu estava “me desviando”, que eu estava me envolvendo com pessoas que poderiam “atrapalhar meu futuro”. Como se ela soubesse alguma coisa sobre mim.

Ela não me deixou explicar. Só gritou, confiscou o celular e decretou o castigo com a desculpa de:

— Você precisa focar nos estudos, Caíque. E eu não quero mais esse tipo de amizade para você.

“Esse tipo de amizade”.

A frase ainda ecoa na minha mente. Mayara não é um problema, estar com ela é a solução. Mas minha mãe a vê como um obstáculo, como algo que pode me desviar do caminho que ela mesma traçou para mim. Um caminho que eu nunca escolhi.

Nos primeiros dias, tentei argumentar e até mentir. Disse que ela era só uma amiga, que não tinha nada de mais. Mas minha mãe não é burra. Ela leu as mensagens, sentiu o tom nas entrelinhas, viu além das palavras escritas. E, pior, deixou claro que não aprovava nenhuma aprovação com alguém de fora do nosso meio. Segundo ela, eu devia focar nos estudos, na família, no meu futuro. Como se eu não tivesse o direito de decidir nada sobre minha própria vida.

E o que mais me irrita nisso tudo é a hipocrisia. Meus pais vivem falando sobre fazer parte da família, mas quando se trata de me ouvir, de entender o que quero, não existe diálogo. Só regras, ordens e expectativas.

Para piorar, fiquei gripado. Por dias, não tive forças para sair da cama e ir à escola ou ao cursinho.

Quando melhorei e voltei para a minha rotina, me arrependi assim que Mayara me ignorou pela manhã. A escola pareceu pior sem meu celular para me distrair entre as aulas e o acúmulo de atividades perdidas, me desanimaram. E, cada vez que vejo Mayara de longe, com aquele olhar que mistura raiva e decepção, sinto um aperto no peito. Eu queria falar com ela, explicar tudo. Mas como, se estou sendo vigiado o tempo todo?

Quando o sinal tocou, arrisquei e fui para o nosso esconderijo. Mayara também foi. Ela estava chateada comigo, e com razão. Não quis me ouvir, e achei melhor só respeitar sua vontade. Acompanhei-a até o trabalho e, mesmo à distância, sabia que ela chorava. Por minha culpa.

Eu me sentia ainda pior.

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— Mesmo que você não ande merecendo, vamos fazer uma festa para o seu aniversário — minha mãe anuncia assim que apareço na cozinha para tomar o café da manhã.

Não adianta ir contra seus planos. Será um daqueles eventos onde todo mundo da família aparece: primos distantes, tios que mal conheço, parceiros de negócios dos meus pais. Ela fala como se fosse algo incrível, mas eu sei que é só uma desculpa para exibir a casa e nossos bens para a grande elite e mostrar para todo mundo como somos a “família perfeita”.

— Quero você bem arrumado, e nada de ficar de cara fechada — ela continua enquanto desdobra seu guardanapo de tecido e o leva ao colo. — E, claro, sem celular.

Reviro os olhos. Como se eu precisasse desse lembrete.

Enquanto ela fala sobre os detalhes da festa, uma ideia surge na minha mente.

— Mãe — começo calmo, tentando parecer casual. — Posso levar alguém na festa?

Ela para de falar e me lança um olhar desconfiado.

— Quem?

Dou de ombros, tentando parecer despreocupado.

— Sei lá, algum amigo da escola.

— Não sei se é uma boa ideia. Você não tem muitos amigos que frequentam nossa casa e tem saído pouco. Melhor interagir com a família.

— Justamente por isso — retruco. — Não vejo meus poucos amigos há dias. Nem que seja só um. É o meu aniversário.

Ela suspira, pensativa com a minha cartada final. Sei que estou forçando a barra, mas preciso tentar. Se puder trazer alguém, talvez consiga falar com Mayara e convidá-la. É o meu aniversário de dezoito anos, estou bem perto de pôr os nossos planos em jogo. Quem sabe, se eles conhecessem ela, vissem o quão inteligente, linda e educada ela é, mudariam de ideia?

Seria mais fácil se eles aceitassem, não é? Posso ser sonhador nesse quesito, mas do jeito que estou, não dá mais. Estou exausto. Se não der certo como desejo, ao menos um recado eu vou dar: eu escolho com quem fico.

— Tudo bem — ela cede, por fim. — Mas quero saber exatamente quem é. Nada de surpresas.

Forço um sorriso.

— Beleza.

— Já sabe quem vai trazer?

Engulo em seco.

— Sim.

Ela arqueia a sobrancelha.

— E quem é?

Se eu disser Mayara, ela vai surtar.

— Gabriel — solto o primeiro nome que me vem à cabeça.

Ela suspira, parecendo aliviada.

— Ah, o Gabriel é um bom menino e de boa família. Tudo bem, pode convidá-lo. Talvez eu chame os pais dele também.

Forço um sorriso.

Agora só preciso conversar com Mayara. Quem sabe, agora, ela queira me ouvir. Também preciso convencê-la a vir à festa. E torcer para que a noite não vire outro desastre.

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