Eduardo,
Ela nega mais uma vez, e eu já não sei o que fazer para que ela aceite sair comigo. Vou parar de pegar no pé dela; isso deve estar inflando o seu ego. Entro no meu carro e sigo para o meu apartamento; já chega de humilhação. Tomo um banho e me deito para dormir. Hoje à noite, eu vou sair, vou beber e catar mulheres fora do hospital, assim eu não me prejudico novamente, igual no Rio de Janeiro. Tiro um sono até que gostoso, porque dormir durante o dia não é igual a dormir durante a noite. E até o corpo acostumar, eu fico parecendo mais cansado do que quando me deitei. Me levanto, tomo banho e me arrumo, ficando bem bonito para a minha noite de caçada. Pego meu carro e sigo para a primeira casa de shows daqui de São Paulo, a famosa Arena Show. Entro admirando o espaço; é gostoso, apesar do som alto. Dá para pegar algumas mulheres aqui. Olho para todos os lados, apaixonado pelas belas mulheres com seus vestidos curtos, onde toda hora são obrigadas a baixar, pois mostram a poupa das bundas. Eu nem preciso olhar para o rosto delas, pois tudo que me interessa está bem ali. Me sento no bar e peço uma bebida. Tento chegar em algumas mulheres, mas a maioria já está acompanhada, e outras já estão um tanto bêbadas; essas posso apostar que saíram beijando a boca de todo mundo da balada. Isso chega a ser nojento. Miro a porta, na esperança de que entre alguma mulher que não tenha sido usada por todos aqui e que seja bonita, claro. Quando uma mulher entra, sou empurrado para frente, e, ao me virar para xingar, vejo que dois caras estão se quebrando na porrada. Saio de perto e vejo os seguranças vindo para separar a briga, mas um deles quebra uma garrafa e acerta a taça na cara do outro, fazendo sangue jorrar para todos os lados. A multidão grita; alguns tentam correr para fora, e fico pasmo com o que uma pessoa pode fazer com a outra assim. Pelo que entendi, a briga começou porque um passou a mão na bunda da mulher do outro. Como sou médico, me aproximo do ferido e começo a examinar o machucado dele, mandando chamar uma ambulância. O agressor é retirado do salão, e, em poucos minutos, a equipe de ambulância chega. E quem é a socorrista? Exatamente, a minha querida enfermeira. Nem posso acreditar! Estou doido para tirar a mulher da cabeça, e ela vem até aqui. Nossos olhos se encontram, e ela parece tão surpresa quanto eu. — Você faz tudo, é? É médica também? — Não. — Ela responde rápido e começa a cuidar do ferido. — Você vai acompanhá-lo até o hospital? — Sim, vou sim. — Nem conheço o cara, mas só de estar na mesma ambulância que ela já vale minha noite toda. Entramos na ambulância, e ela coloca o cinto em mim. Eu posso sentir o seu perfume, que já me deixa doidão para sentir mais. Ela manda o motorista seguir, e eu não consigo parar de olhar para ela. É como um ímã que me prende em sua beleza. Olha eu, disse que não ia mais me humilhar, e estou aqui, perdido nessa mulher. Eduardo: — Você tem namorado, Anne? Anne: — Não, eu não tenho tempo para namorados. Eduardo: — Percebi, você trabalha todos os dias? Anne: — Sim, nos dias ímpares no hospital e, nos dias pares, como socorrista. Tenho muitas contas a pagar. — Ela sorri, e pela primeira vez vejo seu lindo e meigo sorriso. Eduardo: — Por isso não aceitou sair comigo, porque você não tem tempo, não é? Anne: — Olha, doutor, eu vou deixar que você pense assim, pois só assim você vai me deixar em paz, não é? O que ela quis dizer com isso? Droga, isso fica martelando na minha mente até chegarmos ao hospital. Ela desce e pede os documentos do homem. Pergunto a ele onde estão, e ele coloca a mão embaixo, no bolso. Eu pego e entrego para ela, e ela manda eu aguardar. Ela demora a voltar, e quando volta, vem com uma equipe médica. Assim que elas tiram a toalha do rosto dele, posso ver o estrago que ficou. Foi só uma passada de garrafa, mas se ele não pagar por um bom cirurgião, vai ter uma cicatriz para o resto da vida. Eles somem, e agora percebo que meu carro ficou lá na balada. Olho para um lado e para o outro e não faço a menor ideia de onde estou. Ela não trouxe ele para o hospital onde trabalhamos, o que dificulta a minha vida nesse momento. Procuro por ela e já não a encontro mais, somente o motorista e a ambulância que estão do lado de fora. Espero um pouco para ver se ela vem, mas nada. Então, peço um aplicativo de carro, e assim que ele chega, dou o endereço da casa de shows. Pego meu carro e volto para minha casa. Me deito na minha cama e fico pensando: será que a minha vida vai se basear na vida de Anne? Será que eu serei sempre um abestalhado quando estiver perto dela? Pois, quando estou longe, eu fico falando sozinho que não vou mais tentar nada. Mas basta eu ver a danada que logo me perco no desejo ardente que ela me me faz sentir. — Droga, Eduardo, você já foi melhor que isso, cara. Você nunca teve uma mulher te dominando; que porra é essa agora? Acorda, velho! Acorda e vai procurar outras mulheres, pois quando uma não quer, tem quem queira. É você que tem que recusar, e não elas. Anne é só uma enfermeira das mulheres que existem aqui no Brasil, para de ser cadelinha. — falo comigo mesmo batendo em uma cabeça. Fecho os meus olhos com esses pensamentos e, mais uma vez, sei que será um fracasso ao vê-la. Mas, enquanto não a vejo, vou detonar ela na minha mente. Quem sabe assim ela vire uma mulher feia e eu desista de levá-la para a minha cama. Droga.Anne,Minha vida toda foi estudar. Ouvia muito do meu pai que os estudos eram o que nos levaria a ter uma boa vida, e só depois que eu tivesse no conforto, pensaria em namorar, casar e ter filhos. Segui os conselhos dele, pois via o sofrimento que ele passava para me criar. Minha mãe morreu no meu parto, e ele teve que se desdobrar para cuidar de mim.Então, não queria decepcionar meu pai e segui estudando, tirando as melhores notas na escola. Nunca levei nenhuma dor de cabeça para ele, apenas orgulho. Quando terminei os estudos, participei de um concurso e ganhei uma bolsa integral na faculdade de medicina. Estudei muito e me tornei pediatra, profissão que mais admiro, pois sou apaixonada por crianças.Fui nomeada uma das melhores pediatras do país várias vezes. Os casos na minha clínica eram resolvidos facilmente, e nos diagnósticos e cirurgias, eu era a rainha da medicina. Nunca falhei e nunca perdi nenhum paciente.Mas minha vida desmoronou de um dia para o outro quando recebi a n
Anne,Passo direto, enquanto ele fica flertando com ela. Sento na minha cadeira e começo a colocar os prontuários dos pacientes em ordem. Pelo canto dos olhos, vejo-o saindo e indo atrás da enfermeira, e quando olho, vejo-o com um braço na parede e ela encostada. O clima entre os dois é de puro desejo. E eu volto minha atenção para os prontuários.Levanto-me e vou de quarto em quarto avaliar as crianças. Na volta, separo em cada gaveta os medicamentos que cada criança tem que tomar. Depois de tudo organizado, começo meu trabalho. Tinha que passar para ele, mas não vou interromper o momento romântico dele, ou ele vai achar que estou com ciúmes; aí pronto, não vai mais sair do meu pé.Depois de uma hora e meia, já mediquei todos os pacientes e volto para minha cadeira. Vejo os dois saindo do quarto dos médicos, ela com o cabelo todo bagunçado e ele fechando o zíper da calça. Balanço a cabeça, negando, e vou anotando o próximo horário das medicações que precisarão ser aplicadas.— Que mé
Eduardo, Estou fazendo a higienização das minhas mãos quando a Anne entra. Bom, pensei que era ela até olhar os olhos da enfermeira.— Cadê a Anne? — pergunto com revolta, pois foi ela quem mandei vir para cá. Anne às vezes me provoca com suas refeições.— Ela não pode vir, houve um chamado para ela e ela teve que ir, mas me mandou aqui para ajudar o senhor. — Fecho os meus olhos e tento controlar a raiva que está me consumindo por dentro. Por que ela tem tanto prazer em recusar tudo que eu peço?Sei que ela é uma enfermeira, que a maioria nem entra numa sala de cirurgia, mas as duas são enfermeiras circulantes, ou seja, fazem tudo no hospital. Fora que eu tinha chamado ela primeiro. Quando eu sair daqui, vou atrás de quem a chamou, vou falar que a Anne tem que estar à minha disposição, e não do hospital todo.Seguimos para a sala de cirurgia, onde o ambiente estava preparado com todo o cuidado e a equipe médica aguardava em posição. A tensão entre eles era grande, já que ninguém me
Eduardo, Ela fixa os olhos na enfermeira e se aproxima dela, como se eu não estivesse aqui. Anne respira e solta um suspiro, até que enfim começa a falar:— Eu... eu... estava ocupada, tenho muitos pacientes para cuidar. A Helen acompanhou o doutor e eu tive que cuidar dos pacientes sozinha. Sabe que no andar só ficam nós duas e o doutor; eles saíram e sobrou tudo para mim.— Então você ficou sozinha com os pacientes, que interessante — pergunto, e ela concorda com a cabeça. Como pode ser assim?Sorrio com a sua mentira; ela não quis entrar comigo na cirurgia e agora está se fazendo de vítima. Tanto os internos como os enfermeiros sonham com essa oportunidade de fazer parte de uma cirurgia, ainda mais na cabeça de uma criança. Mas ela parece que não liga muito para isso.— Viu, doutor, ela estava na ala infantil. Não a chamamos para cá. Talvez o senhor tenha ouvido errado, ou ela não pôde entrar por algum motivo. — Olho bem fixamente para ela, que me olha desviando o olhar.Balanço a
Eduardo,Ele sobe os olhos para mim, e eu aperto mais o seu punho, colocando toda a minha força. Já que quer medir forças com uma mulher, melhor que seja com um homem e que seja do seu tamanho.— Eu tenho certeza que o senhor não quer fazer isso, mas caso insista, eu sou obrigado a tomar providências que poderiam até mesmo me fazer perder o meu poder de exercer medicina, mas farei isso com o maior orgulho.— Eu só quero levar a minha filha embora, e essa enfermeira não está deixando. Eu sou o pai dela e sei o que é melhor para ela. Eu posso levá-la embora quando eu quiser. — ele responde frio, com raiva, tentando puxar suas mãos do meu aperto, mas eu aperto com mais força.— Não pode, como a enfermeira disse, ela está correndo risco de morte. Se você não entende isso, não está sendo um bom pai. Chame a mãe para ficar com ela como acompanhante, e saia do hospital, antes que eu chame a polícia para você, pois eu não vou assinar a alta dela e você está proibido de levá-la embora.Ele ser
Eduardo,Vou até a minha sala com o prontuário dela e começo a marcar tudo o que tem que fazer. Quero um raio-x do tórax e do rostinho, pois alguns casos o catarro fixa preso ali, e a sinusite também é um caso complicado para se tratar. Deixo marcado a administração do (remédio), para ser administrado no horário certinho que eu indicar, até quando eu voltar à noite para fazer a avaliação.Me levanto e saio da minha sala indo em busca da Anne. Entrego a ficha para ela, pois ela já deixa tudo arrumado para os próximos plantonistas. Deixo avisado que isso é de extrema importância, pois só depois de todos os resultados que vou poder avaliar melhor ela, já que parece que os plantonistas que receberam ela aqui não fizeram muita coisa.Volto no quarto do pai dela, com a Anne, para dar a primeira dose da medicação. Ela nem se quer olha para o pai, e ele fica todo sem jeito olhando para ela e para mim. Não vou obrigar ele a pedir desculpas agora, pois sei que ele quer ver a filha melhor, mas e
Eduardo,Dou risada, me escorando na cadeira, e balanço a cabeça, negando. Não tem como eu me apaixonar por ela, uma mulher cheia de segredos e que vive me desprezando.— Eu só acredito na atração e não em sentimentos sem sentido. Dizem que o amor vem do coração, mas ele é apenas um órgão igual a todos os outros. Eu te amo, mas o amor que sinto vem do órgão de baixo e não do de cima.— Não acredita no amor? — Balanço a cabeça, negando, levando a xícara até os meus lábios. — Agora entendo por que você é rodado, fica com uma, com outra... Isso é apenas um escudo para não se apaixonar de verdade, não é, doutor?— Quer saber do meu segredo? Me conte o seu primeiro, que eu conto o meu. Por que fugiu da cirurgia? E por que tem tanto medo dessa palavra quando ela é mencionada?Ela se encolhe na cadeira, desfazendo os sorrisos vitoriosos que estavam em seus lábios. Acho que encontrei o seu ponto fraco; acertei bem no alvo. Todos nós temos coisas a esconder, por isso não é bom ficar tirando sa
Eduardo Ando um pouco mais rápido e consigo alcançar ele, principalmente porque ele para bem na mesa da enfermagem.— Sabe o que eu acho mais engraçado, doutor, é que eu tenho pegado casos aqui que estavam fáceis de tratar, e você não deu a devida atenção para dar alta. Agora a menina que está mal, você quer dar alta. Por quê?— Faça o seu trabalho, doutor, e eu faço o meu. Eu não venho aqui no seu plantão para te criticar e nem opinar nas suas decisões, então se coloque em seu lugar e trate de vir somente quando for chamado.Incrível sua ignorância, prefiro nem discutir com esse tipo de gente para não perder a minha sanidade. Esse tipo de médico é aqueles que só estão aqui por amor ao dinheiro, e não amor pela profissão ou pelas crianças. Finjo que nem ouvi os seus desaforos e dou a volta, sem responder o que ele merece ouvir.Volto a entrar no quarto do pai e avalio a menina. O chiado no pulmão está mais baixo, mas ainda está comprometido. Peço para a enfermeira trazer o aparelho d