Capítulo 2

Eduardo,

Examino o meu pequeno paciente, que está com bronquiolite. Ele é um menino de 3 anos e está acompanhado de sua mãe. Olho para a minha bela enfermeira, mas ela parece imune à minha beleza; como pode não me enxergar?

Depois que ela coloca o soro nele, ela se aproxima de mim e me mostra o prontuário dele.

— Aqui está, doutor. Já coloquei o soro, e ele acabou de sair do oxigênio. Está se recuperando bem; a mãe está fazendo a lavagem nasal a cada três horas, e ele está bem melhor.

— Muito bom, esse rapazinho logo estará em casa. Enfermeira, posso falar com você lá fora?

— Sim, senhor. Eu tenho mais pacientes para mostrar ao senhor.

Sorrio, pois não é de paciente que quero falar com ela, e sim dela comigo, nós dois, depois que o plantão acabar. Fecho a pasta do prontuário do pequeno e sigo para fora. Ela vem atrás de mim, fechando a porta.

— Pode falar, doutor Eduardo.

— Te vi ontem na festa e me interessei muito por você. Você aceita sair comigo assim que o plantão terminar?

Ela faz uma cara de desentendida, me deixando até sem graça. Ainda por cima, demora um ano para responder, e quando responde, não me agrada nada.

— Sinto muito, doutor, mas eu não saio com meus colegas de trabalho. Saio como amigos, mas nada além disso. Não misturo emprego com relacionamento; isso nunca dá certo.

— Não estou falando de relacionamento, e sim de uma noite de prazer. Prometo que você não vai se arrepender.

Anne: — Vou me arrepender se aceitar. Desculpa, mas a minha resposta é não. Agora vamos, como eu disse, tem muitos pacientes para lhe mostrar.

Ela fala e vira as costas, e eu fico parado, sem entender bem o que aconteceu. Eu nunca levei um fora de mulher nenhuma, nunca fui rejeitado por ninguém. Quem essa mulher pensa que é? Uma Coca-Cola gelada?

Pigarreio a garganta e a acompanho, sem demonstrar o quanto frustrado eu fiquei pela sua resposta. Ela passa de quarto em quarto, de leito em leito, me apresentando a todos os pacientes que estão sob o meu comando agora no meu plantão. Quando ela chega ao último, eu pego todas as pastas e sigo para minha sala. Sento-me na cadeira e começo a avaliar todos os casos.

Tem uma bebê de um ano e dois meses que caiu da cama e quebrou o bracinho. A bebê está aqui há uma semana e acabou ficando doentinha aqui dentro do hospital. Dedico-me primeiro ao caso dela; ela só fez um raio-X durante todo esse tempo e, depois que enfaixaram, não fizeram mais nada além de dar medicamento para dor.

Me levanto da minha cadeira e chamo a Anne para me acompanhar até o quarto da bebê. Falo novamente com a mãe. Ela está com raiva, pois a bebê nunca tinha ficado gripada, e pelo tempo que está esperando para ter alguma resposta ou mesmo uma avaliação médica, a filha dela está com chiado no peito. Peço para deitá-la no bercinho, já que ela se encontrava no colo da mãe, e começo a examinar.

— Enfermeira, peça um novo raio-X do tórax e do bracinho dela. Vamos ver como está a situação. Se estiver bem, eu posso dar alta, mas vai depender de como está a situação do braço dela, tudo bem, mamãe?

— Eles até tiraram a tala, doutor, deixaram só a faixa.

— Isso é bom, mas o ruim é que não fizeram um raio-X para poder tirar. Mas hoje vamos ver como ela está. Te prometo que só vou embora quando tiver tudo em mãos. Quem sabe a alta venha.

A mãe fica aliviada com a situação; é uma dor muito grande ver seu filho sofrendo, e pior ainda, sofrer em um lugar como esse. Saio do quarto dela e volto para minha sala, onde continuo a ver os casos que estão há mais tempo no hospital. Tem vários; parece que os médicos aqui só trabalham pelo dinheiro. A maioria dos pacientes está sendo mantida aqui sem necessidade, apenas recebendo soro e remédio para dor. Isso é um absurdo.

Ainda bem que essas crianças têm um médico como eu, e eu vou cuidar de todas elas. As que apresentarem melhoras, vou dar alta, e as que estiverem em situações mais críticas, vou dar um tratamento mais intenso. Viro a noite toda nesse caso, até o raio X da bebê chegar. Anne me traz pessoalmente, e eu avalio para ver como está o ossinho e o pulmão.

— Está com um pouco de catarro no pulmão, mas nada que uma inalação com oxigênio e um remédio não resolva. O bracinho dela está quase colado; podemos deixar a faixa mais uma semana. Mas não vejo necessidades de ela ficar aqui por mais que um dia. Pode cuidar disso, enfermeira?

— Vou colocar ela no oxigênio, e quando terminar, chamo o senhor para examiná-la.

— Muito bom. Tem certeza de que não quer nem tomar um café comigo? Posso ser amigável também.

— Com licença, doutor. — Ela fala e sai. Estou começando a odiar as enfermeiras por causa dela. Oh, mulherzinha difícil, meu Deus!

Termino de ver os outros pacientes, e tem mais uma que já pode levar alta; essa pode continuar o tratamento em casa sem nenhum problema. Me levanto e vou dar a notícia para a mãe, e parece que ela ganhou na loteria, só pela felicidade de ver seu filho tendo alta do hospital.

Nesse plantão, 3 crianças tiveram alta com o quadro instável, mas sempre deixo avisado para a mãe que, caso tenha algum problema, que volte ao pronto-socorro. Mas essas que eu dei alta não vão precisar; estavam aqui só para garantir o salário dos médicos.

As outras crianças deixei no quadro de melhoras. Se eu fizesse outro turno seguido, com certeza elas teriam alta no final do dia. Mas, como eu trabalho 12/24, eu não vou estar aqui à noite.

Arrumo as minhas coisas para sair e dou de cara com a minha enfermeira. Ela está totalmente diferente: mais bonita, mais elegante, e tento mais uma vez chamá-la para sair. Porém...

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