Eduardo,Vou até a minha sala com o prontuário dela e começo a marcar tudo o que tem que fazer. Quero um raio-x do tórax e do rostinho, pois alguns casos o catarro fixa preso ali, e a sinusite também é um caso complicado para se tratar. Deixo marcado a administração do (remédio), para ser administrado no horário certinho que eu indicar, até quando eu voltar à noite para fazer a avaliação.Me levanto e saio da minha sala indo em busca da Anne. Entrego a ficha para ela, pois ela já deixa tudo arrumado para os próximos plantonistas. Deixo avisado que isso é de extrema importância, pois só depois de todos os resultados que vou poder avaliar melhor ela, já que parece que os plantonistas que receberam ela aqui não fizeram muita coisa.Volto no quarto do pai dela, com a Anne, para dar a primeira dose da medicação. Ela nem se quer olha para o pai, e ele fica todo sem jeito olhando para ela e para mim. Não vou obrigar ele a pedir desculpas agora, pois sei que ele quer ver a filha melhor, mas e
Eduardo,Dou risada, me escorando na cadeira, e balanço a cabeça, negando. Não tem como eu me apaixonar por ela, uma mulher cheia de segredos e que vive me desprezando.— Eu só acredito na atração e não em sentimentos sem sentido. Dizem que o amor vem do coração, mas ele é apenas um órgão igual a todos os outros. Eu te amo, mas o amor que sinto vem do órgão de baixo e não do de cima.— Não acredita no amor? — Balanço a cabeça, negando, levando a xícara até os meus lábios. — Agora entendo por que você é rodado, fica com uma, com outra... Isso é apenas um escudo para não se apaixonar de verdade, não é, doutor?— Quer saber do meu segredo? Me conte o seu primeiro, que eu conto o meu. Por que fugiu da cirurgia? E por que tem tanto medo dessa palavra quando ela é mencionada?Ela se encolhe na cadeira, desfazendo os sorrisos vitoriosos que estavam em seus lábios. Acho que encontrei o seu ponto fraco; acertei bem no alvo. Todos nós temos coisas a esconder, por isso não é bom ficar tirando sa
Eduardo Ando um pouco mais rápido e consigo alcançar ele, principalmente porque ele para bem na mesa da enfermagem.— Sabe o que eu acho mais engraçado, doutor, é que eu tenho pegado casos aqui que estavam fáceis de tratar, e você não deu a devida atenção para dar alta. Agora a menina que está mal, você quer dar alta. Por quê?— Faça o seu trabalho, doutor, e eu faço o meu. Eu não venho aqui no seu plantão para te criticar e nem opinar nas suas decisões, então se coloque em seu lugar e trate de vir somente quando for chamado.Incrível sua ignorância, prefiro nem discutir com esse tipo de gente para não perder a minha sanidade. Esse tipo de médico é aqueles que só estão aqui por amor ao dinheiro, e não amor pela profissão ou pelas crianças. Finjo que nem ouvi os seus desaforos e dou a volta, sem responder o que ele merece ouvir.Volto a entrar no quarto do pai e avalio a menina. O chiado no pulmão está mais baixo, mas ainda está comprometido. Peço para a enfermeira trazer o aparelho d
Anne,Corro pro banheiro e me tranco. Lavo meu rosto e me olho no espelho. Eu tenho que parar com isso, com esse medo todo, mas eu não consigo. Toda vez que vejo qualquer coisa que seja ligada a cirurgia e morte, eu travo por completo.Respiro fundo, esperando meu corpo se normalizar, e saio do banheiro. Pego a minha prancheta e vou até a recepção para fazer a ficha da bebê. Depois da ficha pronta, levo para a mãe o papel de acompanhante e entrego para ela assinar. Depois, volto para a recepção e entrego para eles.Depois disso, subo na ambulância e me sento no banco do passageiro. O Beto entra e fala que temos um homem para levar a outro hospital. Balanço a cabeça concordando, e saímos. Olho pelo retrovisor e vejo o doutor Eduardo olhando para todos os lados, até olhar para a ambulância e colocar a mão na cintura.Será que ele mudou os dias do plantão dele? O que ele tá fazendo aqui hoje, sendo que ele trabalha nos mesmos dias que eu?— Está tudo bem, Anne?— Estou sim, só um pouco c
Anne,Ela morde o canto dos lábios e me deixa desesperada.— Você prometeu, Helen...— Calma, eu não disse que você era pediatra, só disse que você tem um trauma. Ele falou com tanta preocupação, que eu fiquei com dó.— E ele não perguntou que trauma?— Perguntou, mas eu não disse. Falei que ele teria que tirar isso de você.Respiro aliviada. Pelo menos agora ele não vai mais me incomodar para entrar numa sala de cirurgia e vai me ajudar quando alguém tentar fazer. Bom, é isso que eu espero dele, já que ele me defendeu de um pai que queria me bater.Ele sai do quarto e passa por nós duas, me olhando e sorrindo. Agora que virei atração principal dele mesmo, meu Deus me ajude. Me levanto para ir medicar as crianças que precisam das medicações e percebo o quadro clínico de uma instável. Essa já pode receber alta sem problemas, mas, como não sou médica, vou levar isso para o doutor Eduardo e deixar ele avaliar.Volto para minha mesa e coloco as coisas lá. Vou até a sala dele e bato na por
Eduardo,Ela me surpreendeu, e minha cabeça deu até um bug. Será que ela já namorou algum médico? Por isso sabe sobre a toracotomia? Esse é um estudo avançado dos médicos; uma enfermeira não saberia assim.O monitor cardíaco ecoava o ritmo frenético do coração do paciente, enquanto a Helen e eu seguimos com ele pelo elevado até a sala de tomografia. Com mãos firmes e mente focada, avancei para a beira da maca, onde o paciente estava, pálido e em agonia.— Manda preparar a sala de cirurgia imediatamente; não vai dar tempo de ir para a tomografia, vamos direto para a cirurgia.Enquanto a Helen corria para seguir minhas instruções, eu me inclinei sobre o paciente, avaliando rapidamente sua condição. A hemorragia interna no tórax era evidente, e o tempo estava se esgotando.Seguimos correndo para a sala de cirurgia, e a equipe médica já começa a se preparar. Lavo bem as minhas mãos, coloco o avental, as luvas e me posiciono ao lado dele. Respiro fundo e começo.Sem hesitar, fiz uma incisã
Anne,Respiro fundo, tentando acalmar o meu corpo. Sei que fui baixa ao beijá-lo só para que ele parasse com as perguntas e eu conseguisse pegar a chave para sair, mas eu não tive outra escolha. Depois, vendo-o passar parecendo que estava com raiva, me fez repensar o que eu fiz.Tomara que ele entenda que foi apenas um beijo e que, além de não se repetir, não vamos levar isso adiante. Ele volta olhando para mim e soltando um sorriso irônico. Onde será que esse homem foi que voltou animado desse jeito? Deve ter ido dar uma namoradinha. Safado.Depois de alguns minutos, ele volta arrumado. Olho na hora para ver se já acabou o nosso plantão, mas ainda são 02:00, e o plantão vai até às 7:00 da manhã. Onde ele pensa que vai?— Doutor, você não pode sair do hospital.— Vou resolver um problema; daqui a pouco eu volto. Cuida de tudo aí até eu voltar.— Não pode sair; pode acontecer alguma emergência. — Levanto-me e ele vai indo para o elevador, e eu o sigo.— Eu sei que você dará conta, Anne
Anne,O turno acaba, e eu procuro por ele para tomarmos café e eu já falar tudo, pois eu não vou na casa dele, pois a noite eu trabalho como socorrista. Mas ele sumiu, foi embora antes de mim. Troco de roupa e vou para minha casa, e capoto na cama.Acordo com uma buzina chata na porta da minha casa, e quando eu olho a hora, já são 18:30. Me levanto e abro a janela, vejo que está bem na minha porta, e pelo modelo do carro, é o doutor Eduardo. Corro para o banheiro, faço a minha higiene, e abro a porta para ele. Ele só desce o vidro do carro, e me chama com o dedo. Encosto a porta e vou até ele.— Entra no carro, eu disse que íamos conversar na minha casa.— Você é muito abusado, eu não vou. As 20:00 eu tenho que ir trabalhar.— Temos uma hora e meia, então vamos jantar na minha casa, e você me conta tudo. Já leva sua roupa de trabalho, que de lá você vai direto.Olho para ele desacreditada, e ele manda eu ir logo, já que o tempo está passando. Mas, como ele falou em jantar eu vou, mesm