Anne,Corro pro banheiro e me tranco. Lavo meu rosto e me olho no espelho. Eu tenho que parar com isso, com esse medo todo, mas eu não consigo. Toda vez que vejo qualquer coisa que seja ligada a cirurgia e morte, eu travo por completo.Respiro fundo, esperando meu corpo se normalizar, e saio do banheiro. Pego a minha prancheta e vou até a recepção para fazer a ficha da bebê. Depois da ficha pronta, levo para a mãe o papel de acompanhante e entrego para ela assinar. Depois, volto para a recepção e entrego para eles.Depois disso, subo na ambulância e me sento no banco do passageiro. O Beto entra e fala que temos um homem para levar a outro hospital. Balanço a cabeça concordando, e saímos. Olho pelo retrovisor e vejo o doutor Eduardo olhando para todos os lados, até olhar para a ambulância e colocar a mão na cintura.Será que ele mudou os dias do plantão dele? O que ele tá fazendo aqui hoje, sendo que ele trabalha nos mesmos dias que eu?— Está tudo bem, Anne?— Estou sim, só um pouco c
Anne,Ela morde o canto dos lábios e me deixa desesperada.— Você prometeu, Helen...— Calma, eu não disse que você era pediatra, só disse que você tem um trauma. Ele falou com tanta preocupação, que eu fiquei com dó.— E ele não perguntou que trauma?— Perguntou, mas eu não disse. Falei que ele teria que tirar isso de você.Respiro aliviada. Pelo menos agora ele não vai mais me incomodar para entrar numa sala de cirurgia e vai me ajudar quando alguém tentar fazer. Bom, é isso que eu espero dele, já que ele me defendeu de um pai que queria me bater.Ele sai do quarto e passa por nós duas, me olhando e sorrindo. Agora que virei atração principal dele mesmo, meu Deus me ajude. Me levanto para ir medicar as crianças que precisam das medicações e percebo o quadro clínico de uma instável. Essa já pode receber alta sem problemas, mas, como não sou médica, vou levar isso para o doutor Eduardo e deixar ele avaliar.Volto para minha mesa e coloco as coisas lá. Vou até a sala dele e bato na por
Eduardo,Ela me surpreendeu, e minha cabeça deu até um bug. Será que ela já namorou algum médico? Por isso sabe sobre a toracotomia? Esse é um estudo avançado dos médicos; uma enfermeira não saberia assim.O monitor cardíaco ecoava o ritmo frenético do coração do paciente, enquanto a Helen e eu seguimos com ele pelo elevado até a sala de tomografia. Com mãos firmes e mente focada, avancei para a beira da maca, onde o paciente estava, pálido e em agonia.— Manda preparar a sala de cirurgia imediatamente; não vai dar tempo de ir para a tomografia, vamos direto para a cirurgia.Enquanto a Helen corria para seguir minhas instruções, eu me inclinei sobre o paciente, avaliando rapidamente sua condição. A hemorragia interna no tórax era evidente, e o tempo estava se esgotando.Seguimos correndo para a sala de cirurgia, e a equipe médica já começa a se preparar. Lavo bem as minhas mãos, coloco o avental, as luvas e me posiciono ao lado dele. Respiro fundo e começo.Sem hesitar, fiz uma incisã
Anne,Respiro fundo, tentando acalmar o meu corpo. Sei que fui baixa ao beijá-lo só para que ele parasse com as perguntas e eu conseguisse pegar a chave para sair, mas eu não tive outra escolha. Depois, vendo-o passar parecendo que estava com raiva, me fez repensar o que eu fiz.Tomara que ele entenda que foi apenas um beijo e que, além de não se repetir, não vamos levar isso adiante. Ele volta olhando para mim e soltando um sorriso irônico. Onde será que esse homem foi que voltou animado desse jeito? Deve ter ido dar uma namoradinha. Safado.Depois de alguns minutos, ele volta arrumado. Olho na hora para ver se já acabou o nosso plantão, mas ainda são 02:00, e o plantão vai até às 7:00 da manhã. Onde ele pensa que vai?— Doutor, você não pode sair do hospital.— Vou resolver um problema; daqui a pouco eu volto. Cuida de tudo aí até eu voltar.— Não pode sair; pode acontecer alguma emergência. — Levanto-me e ele vai indo para o elevador, e eu o sigo.— Eu sei que você dará conta, Anne
Anne,O turno acaba, e eu procuro por ele para tomarmos café e eu já falar tudo, pois eu não vou na casa dele, pois a noite eu trabalho como socorrista. Mas ele sumiu, foi embora antes de mim. Troco de roupa e vou para minha casa, e capoto na cama.Acordo com uma buzina chata na porta da minha casa, e quando eu olho a hora, já são 18:30. Me levanto e abro a janela, vejo que está bem na minha porta, e pelo modelo do carro, é o doutor Eduardo. Corro para o banheiro, faço a minha higiene, e abro a porta para ele. Ele só desce o vidro do carro, e me chama com o dedo. Encosto a porta e vou até ele.— Entra no carro, eu disse que íamos conversar na minha casa.— Você é muito abusado, eu não vou. As 20:00 eu tenho que ir trabalhar.— Temos uma hora e meia, então vamos jantar na minha casa, e você me conta tudo. Já leva sua roupa de trabalho, que de lá você vai direto.Olho para ele desacreditada, e ele manda eu ir logo, já que o tempo está passando. Mas, como ele falou em jantar eu vou, mesm
Eduardo,Fiz tudo bonito, comprei a comida, uma mesa linda, e ela diz agora que tem que ir embora? Eu não aceito, e vou usar todo o meu charme para ela ficar. Pois a noite é toda nossa, e depois dessa confissão dela, nada melhor que terminar a noite com chave de ouro.— Anne, podemos curtir a noite só nós dois, então fica, por favor?— Eu não posso ficar, Eduardo. Você não vai me ganhar fazendo essa carinha de cachorro sem dono. Eu tenho os meus princípios, e isso não inclui dormir com você. E outra, eu tenho que ir trabalhar no SAMU.— Eu tenho certeza que não vão te mandar embora se você faltar só um dia. Fica. Posso fazer a sua noite ser a melhor que você já teve em toda sua vida. — Me aproximo mais dela, e ela volta a fugir de mim. Que droga de mulher difícil.— Não é isso... — Ela solta um suspiro pesado, e eu a olho tentando entender o que é que está acontecendo, que ela não está aceitando os meus investimentos. — Olha, eu não sou o tipo de mulher com que você está acostumado. A
Eduardo,Entramos na lanchonete e nos sentamos na mesma mesa da outra vez. Ela pede de novo o chocolate quente e um pão de queijo. Eu peço um café e um pão de queijo também, já que ela vai pagar dessa vez. Vou extrapolar, vou ensinar ela como não falar daquele jeito comigo.— O motorista da ambulância, ele é seu namorado? — Pergunto, temendo a resposta, pois eles podem ter começado a namorar, por isso ela me deu um chega pra lá.— O Beto? Não, ele não é meu namorado, ele é meu colega de trabalho. Eu já disse, e mesmo que você não acredite, eu estou falando a verdade. Eu nunca namorei com ninguém.— Desculpa a pergunta, mas é porque vocês estavam tão íntimos, você rindo para ele igual uma hiena. — Falo contra gosto, pois não gostei do jeito dos dois.— Eu não estava rindo assim. Eu estava dando risada de uma piada que ele me contou, porque ele sabe como levantar o meu astral quando eu estou triste.— Isso é uma direta para mim? Eu não sei fazer você rir? E sim, você estava rindo como u
Eduardo,Levo ela até os feridos do carro, onde tem dois adultos no banco da frente e uma criança no banco de trás. Mando as outras pessoas que não estão ligadas ao acidente para ligarem para uma ambulância.— Quer olhar a criança, e eu olho os adultos? — Ela fica só olhando. — Anne, eles precisam de você. Por favor, me ajuda. Eu não vou dar conta sozinho, e sei que você pode fazer isso. Pode me ajudar?Ela concorda com a cabeça, mas não fala nada. Ela faz uma certa força para abrir a porta, puxando com tudo. Ela deixa a criança no banco e começa a examiná-la. Respiro aliviado ao ver que ela acordou do seu bloqueio e está me ajudando. Deito um pouco o banco do motorista e examino o pai primeiro. Apesar de estar desmaiado, ele está respirando, e aparentemente está bem. Apenas com um corte na cabeça, que aparentemente foi feito pelos estilhaços do vidro, e não parece profundo.Passo para o outro lado, dando a volta no carro, e vejo como está a mulher. A situação dela está um pouco mais