Capítulo 5

Anne,

Passo direto, enquanto ele fica flertando com ela. Sento na minha cadeira e começo a colocar os prontuários dos pacientes em ordem. Pelo canto dos olhos, vejo-o saindo e indo atrás da enfermeira, e quando olho, vejo-o com um braço na parede e ela encostada. O clima entre os dois é de puro desejo. E eu volto minha atenção para os prontuários.

Levanto-me e vou de quarto em quarto avaliar as crianças. Na volta, separo em cada gaveta os medicamentos que cada criança tem que tomar. Depois de tudo organizado, começo meu trabalho. Tinha que passar para ele, mas não vou interromper o momento romântico dele, ou ele vai achar que estou com ciúmes; aí pronto, não vai mais sair do meu pé.

Depois de uma hora e meia, já mediquei todos os pacientes e volto para minha cadeira. Vejo os dois saindo do quarto dos médicos, ela com o cabelo todo bagunçado e ele fechando o zíper da calça. Balanço a cabeça, negando, e vou anotando o próximo horário das medicações que precisarão ser aplicadas.

— Que médico, meu Deus, quase não saio do quarto. Tá calor aqui, né? — Ela fala, sentando-se ao meu lado, já que as cadeiras das enfermeiras ficam uma do lado da outra.

— A temperatura está boa, e você é que está com fogo. — Respondo sem olhar para ela.

— Pode ser, me chamo Helen, e você?

— Anne, prazer. — Levanto-me e vou até a última criança; essa eu tenho que colocar no oxigênio, pois seu pulmãozinho está bastante comprometido com catarro.

Assim que entro, o doutor entra também. Seu cabelo está molhado, indicando que tomou banho. Ele pega o prontuário e lê, enquanto eu ajusto o oxigênio da criança.

— Você ainda está aqui, pequeno? Vou cuidar do seu caso em especial. Vamos liberar todo esse catarro do seu pulmão para você voltar para casa logo, está bem? Enfermeira, aplique o (remédio) na veia e espere até ver a reação. Depois de duas horas, aplique novamente. Mamãe, você vai fazer a lavagem nasal a cada uma hora para fazer a limpeza geral. Vamos deixar esse pequeno novinho em folha.

Não posso negar, ele é um bom médico. O outro que estava aqui antes dele mandava eu apenas colocar no oxigênio. Tem médico que parece gostar de ver o paciente no hospital sofrendo, e o doutor Eduardo, quando chega, só sai quando o paciente está bom e faz de tudo para melhorar.

Ele escreve no prontuário dele e sai falando que vai visitar os outros pacientes, enquanto eu administro o remédio no pequeno. Assim, eu faço: coloco no acesso e explico para a mamãe que pode dar sonolência, e, caso ele durma, é para deixá-lo descansar. Coloco o soro e volto para minha mesa.

Assim que me sento, o doutor se escora nela. A Helen está do outro lado, e pelo canto dos olhos vejo-a olhando para ele, mas ele está fixo olhando para o meu computador.

— Anne, o paciente do leito 59 tem que fazer uma tomografia. Ele caiu da bicicleta, bateu a cabeça e desmaiou. Ele deve ficar de dieta até sabermos se há algum edema.

— Sim, senhor. A médica do outro plantão deixou a tomografia pronta, mas como ele ainda está no soro, ela deixou marcado que era para fazer quando terminasse.

— Não, pode fechar o soro e fazer a tomografia; depois coloca de novo. Se houver algum problema, vamos ver na hora.

Concordo com ele e me levanto, indo até o quarto do menino. Pensei que ele ia fechar com a Helen, mas ele me seguiu até o quarto. Converso com a mãe do menino e fecho o soro. Retiro o acesso dele e puxo a cama para irmos à sala de tomografia; ele até me ajuda a empurrar a cama.

Me posiciono ao lado do pequeno, enquanto o médico especialista se concentra intensamente nas imagens que surgem na tela junto com o doutor. O pequeno, com seus olhos pesados de cansaço, luta contra o sono. Suas pálpebras oscilam, tentando se manter abertas, mas a sonolência é mais forte.

Com uma voz suave e tranquilizante, eu o encorajo a se entregar ao sono, apenas lembrando-o da importância de permanecer imóvel durante o processo do exame. Seu corpo relaxa, e ele parece mais à vontade, enquanto o aparelho de tomografia continua a trabalhar.

Finalmente, o procedimento é concluído. Com cuidado, ajudo o pequeno a voltar para a cama com a ajuda de outro enfermeiro, e levamos ele de volta para o quarto. A luz suave do corredor ilumina nosso caminho, enquanto o doutor se retira para sua sala, carregando consigo as imagens e informações que irão ajudá-lo em seu diagnóstico.

Retorno para minha mesa. Meus olhos estão fixos na porta dele, aguardando o doutor sair para ver o que fazer com o pequeno. Alguns minutos depois, ele vem, ainda olhando as imagens, e se aproxima de mim.

— Houve um rompimento de uma veia; o cérebro dele está inchando. Vou ter que levá-lo para a cirurgia. Prepare-se, Anne, você vai entrar comigo para me auxiliar.

— Eu não posso entrar na sala de cirurgia — falo, levantando-me da mesa, com os olhos arregalados.

— E por que não? Que eu saiba, vocês enfermeiras podem entrar, não podem? — Droga, como vou dizer a ele?

— Po... porque não. Chame a Helen, ela é muito boa e vai te auxiliar melhor que eu.

— Estou chamando você. Não coloque dificuldade, apenas me obedeça. Te espero na sala de cirurgia em 10 minutos.

Ele fala indo em direção ao quarto do pequeno. Olho para a Helen com os olhos suplicantes.

— Helen, me ajuda, te devo uma se você for no meu lugar.

— E se ele brigar?

— Ele é médico aqui, e não o dono do hospital. Ele pode até brigar, mas não pode nos mandar embora. Por favor, me ajuda.

— Só se você me falar por que você não quer ir.

— Te conto na volta, agora vai, antes que ele venha aqui me puxar pelo braço. — Ela se levanta e vai para a sala de cirurgia, e eu vou ao banheiro me esconder por um tempo, para que o doutor não venha me buscar.

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