Acordei pleníssima em um quarto deslumbrante, como se alguém tivesse materializado os sonhos mais luxuosos. Sou parte de uma família abastada; meus pais, que estejam nos céus, deixaram-me uma fortuna incalculável. Essa riqueza é administrada pelo meu querido tio Arthur, que sacrificou sua vida para cuidar da minha criação.— Steph, meu amor, seu café está pronto. Vai querer comer no quarto ou na mesa? — Minha eterna babá, Carolzita, uma figura adorável que me conhece desde sempre, age como minha mãe.— Carolzita, vou me arrumar e fazer minha refeição na cozinha mesmo.— Tudo bem, minha princesa. Estou te aguardando lá embaixo. Se precisar de mim, é só gritar.— Pode deixar, meu amor.Como mencionei, Carol e eu temos um vínculo que se assemelha ao de mãe e filha, o que causa um certo incômodo na filha dela, que mora na favela e sente ciúmes do nosso relacionamento.Dou uma espreguiçada e me dirijo ao meu closet, que é mais como um outro quarto. Aqui, encontro de tudo, desde roupas até
No dia seguinte, desci as escadas após cumprir todo o meu ritual matinal. A noite reservava uma pequena apresentação no teatro municipal, e minha empolgação era evidente. Quando passei pela sala, deparei-me com meu tio, que estava lendo um jornal.— Minha sobrinha linda, como você está? – Ele perguntou tirando os olhos do jornal por alguns instantes. — Me sentindo abandonada por você, tio. – Disse sorrindo. — Lembrou que tem uma casa e uma sobrinha para cuidar? – Perguntei a ele que sorriu divertido.— Adoro o seu senso de humor, sabia? – Ele respondeu, dando-me três beijos na face. — Em breve você fará 21 anos e terá acesso total a sua herança e não precisará mais de mim. — Eu sempre vou precisar de você tio, porque é a única família sanguínea que me sobrou.Convidei-o para tomar café na cozinha, mas ele recusou, dizendo que apenas os serviçais comiam lá, o que considerei uma tolice, já que os tais serviçais que meu tio se refere são as pessoas que cuidam de mim desde a morte dos m
Um mês passou desde minha apresentação. Meu tio estava viajando com mais frequência ultimamente. Tomei meu café e avisei a Jarbas que não precisava me acompanhar, pois sairia com Luanna. Assim que ela buzinou, corri me despedindo de Carol.— O que vamos fazer, gata? — Luanna perguntou, e me afundei em seu banco.— Miga, já estou sentindo sua falta. Não acredito que você vai passar um ano na França. — Disse, emburrada.— Steph, um ano passa rapidinho, você vai ver.Fomos ao clube, chamamos nossos namorados, que chegaram rapidamente. Trocamos de roupa e fomos para a área da piscina pegar um bronzeado. Na hora do almoço, meu celular vibrou, mas João Miguel não me deixou atender, insistindo que eu desse atenção a ele. No final da tarde, fomos para uma loja da Tiffany, onde comprei algumas coisas que estava precisando, incluindo sapatos exclusivos. Voltei para casa contente.Me despedi da minha amiga e prometi levá-la para o aeroporto mais tarde. Enquanto estava na área de embarque, brinca
— Steph, vem comer alguma coisa. – Jarbas me chamou, mas eu neguei. — Quero apenas um suco de laranja com mel. – Respondi e fechei os olhos.Um tempo depois, Carol se aproximou e me entregou o copo. Ela disse que eu precisava comer algo, mas mais uma vez disse que não estava com fome. Tomei o suco e entreguei o copo de volta a ela. Peguei meu celular para enviar uma mensagem para João, mas ele disse que não podia falar no momento, pois estava em reunião. Pensei em ligar para minha amiga, mas ela estava tão feliz com a oportunidade que não queria incomodá-la. Felizmente, tenho Jarbas e Carol comigo, senão me sentiria ainda mais sozinha. Olhava para o teto quando Manuella chegou, jogou a bolsa na cama e antes de sair se virou para mim, surpresa.— O que você está fazendo aqui? – Ela perguntou, fazendo careta.— Pelo que sei, agora moro aqui – respondi, mas Manuella saiu batendo a porta do quarto e logo ouvi sua voz alta brigando com seus pais.Levantei-me e fui para a sala, onde ela es
Já se passou um mês desde o golpe que sofri, e eu permanecia na cama, mal comia, mal dormia. Perdi todas as minhas amizades, exceto Luanna, que queria voltar para ficar comigo, mas eu recusei. Disse a ela que deveria seguir seu sonho, afinal, ela lutou muito para consegui-lo. Carol e Jarbas tentavam me animar, mas nada que eles falavam parecia surtir efeito. Jarbas conseguiu um novo emprego como motorista, e Carol continuava procurando emprego, me sinto tão culpada por tê-los deixado sem emprego, sabe, os dois sempre foram maravilhosos comigo e agora aconteceu isso com eles, minha vida está um verdadeiro caos, tenho vontade de jogar tudo para alto e xingar tudo e a todos, logo mudei meu pensamento, pois lembrei que meus pais diziam que por mais que as coisas estivem difíceis não poderia ser hostil com as pessoas, vocês me fazem tanta falta, tenho certeza que se estivessem aqui nada disso estaria acontecendo. Estava deitada quando Carol tocou meu ombro e pediu para eu buscar pão. Ela m
Guilhermo (Gui)*Aí, patrão, o morro tá sussa, os canas já levaram o dinheiro.* – Rak me avisou e o mandei ir para uma biqueira fazer a cobrança. As pessoas acham que ser dono de um morro e líder de uma facção criminosa é fácil, mas isso é fácil. Há quem me estereotipe pensando que sou um criminoso que não sabe falar português, mas, ao contrário do que pensam, sou alguém que estudou muito. No começo, tentei não me envolver com essas coisas, mas quando um morro rival matou covardemente meu pai, soube que esse era o meu destino.Meu pai batalhou muito por este morro, e eu não posso simplesmente deixá-lo para qualquer filho da puta tomar. Minha mãe era uma vadia qualquer que nos abandonou a mim e a minha irmã sem pensar duas vezes. Meu pai, mesmo sendo traficante, cuidou de nós e foi um pai bom e presente. Ele amava este morro mais do que a própria vida.Estudei, fiz cursos, faculdade. Enfim, sou alguém bem preparado. Hoje estou animado, pois minha irmã finalmente está voltando após doi
Stephanny GiacomelliColoquei todas as minhas dores para fora, sentada em um meio-fio com um cara completamente estranho. Olhei para a camiseta dele, molhada pelas minhas lágrimas, e me desculpei.— Não sei por que tudo isso está acontecendo comigo. Sou uma boa pessoa, nunca ri de pessoas pobres, sempre ajudei os menos favorecidos, fiz doações para o Criança Esperança e o Teleton. Por que estou sendo punida pelo universo? Não posso ser tão ruim assim, não é? – Perguntei, percebendo que estava falando demais, e me desculpei mais uma vez.— Não tem problema, gata. Me chamo Guilhermo Fernandes.— Muito prazer, sou Stephanny Giacomelli Duarte. – Limpei minhas lágrimas com as costas da mão. — Devo estar parecendo um urso panda, não é?Perguntei a ele, que negou, mas tinha certeza de que estava mentindo. Proibi minhas lágrimas de rolarem e me levantei, mas logo senti uma dor no joelho e me sentei novamente. Quando percebi, meu joelho estava ralado, assim como meus braços. Senti dor em algum
— Sei que você é dono do morro, mas tem que trazer esse trambolho para a mesa – Ju diz soltando uma lufada de ar, e nesse momento fico ainda mais perdida. — Acho que meu irmão esqueceu de te contar que ele é dono do morro.— Você é o tal do Gui que todos falam? – Pergunto surpresa e ele confirma. — Você é muito diferente do que imaginei.— Pois é, as pessoas acham que todo dono de morro usa correntes de ouro gigantescas e não sabem falar o português de maneira correta. – Nesse momento, fiquei muito sem jeito, pois era exatamente isso que eu pensava, Julia viu o meu semblante e soltou uma gargalhada o que me deixou ainda mais desconfortavel. — Relaxa, Steph, você está acostumada ao que vê nos filmes, é normal e compreensível. — Minha irmã está certa. – Gui sorriu para mim o que me deixou um pouco mais tranquila, imagina se eu falo algo inapropriado e ele me mata? Realmente não dá para julgar um livro pela capa. — Você também não é o tipo de patricinha que os filmes retratam. – Ju, d