Guilhermo (Gui)
*Aí, patrão, o morro tá sussa, os canas já levaram o dinheiro.* – Rak me avisou e o mandei ir para uma biqueira fazer a cobrança.
As pessoas acham que ser dono de um morro e líder de uma facção criminosa é fácil, mas isso é fácil. Há quem me estereotipe pensando que sou um criminoso que não sabe falar português, mas, ao contrário do que pensam, sou alguém que estudou muito. No começo, tentei não me envolver com essas coisas, mas quando um morro rival matou covardemente meu pai, soube que esse era o meu destino.
Meu pai batalhou muito por este morro, e eu não posso simplesmente deixá-lo para qualquer filho da puta tomar. Minha mãe era uma vadia qualquer que nos abandonou a mim e a minha irmã sem pensar duas vezes. Meu pai, mesmo sendo traficante, cuidou de nós e foi um pai bom e presente. Ele amava este morro mais do que a própria vida.
Estudei, fiz cursos, faculdade. Enfim, sou alguém bem preparado. Hoje estou animado, pois minha irmã finalmente está voltando após dois anos fora. O curso dela finalmente terminou, e ela decidiu que era hora de voltar. Para lavar o dinheiro do tráfico, abriu uma empresa que, mesmo tendo esse intuito, até que está indo bem.
— E aí, mano, que horas você vai buscar a baixinha? – D.L perguntou, ele é meu amigo e braço direito.
— Daqui a pouco. Primeiro, preciso passar na joalheria e pegar o colar que encomendei.
— Hum! Finalmente, a Julia vai voltar, e você vai parar de ficar com cara amarrada. – Ele começou a rir, parecendo um porco morrendo.
— Vai trabalhar, filho da puta. – Joguei um pino de pó nele, que agarrou e saiu.
Apesar de ser bandido, eu não uso drogas. Meu pai sempre dizia que um bandido inteligente é aquele que não apenas vende, mas também não se vicia.
Na entrada da joalheria, esbarrei em uma morena linda. Nossos olhos se cruzaram, e ela logo se foi. Fiz o que tinha que fazer e voltei para casa, uma mansão no morro com muita segurança. Alguns dias depois, estava no aeroporto indo encontrar minha irmã, e mais uma vez esbarrei com a mesma morena. Trocamos algumas palavras, e logo fui encontrar minha "pestinha".
— Maninho! – Minha irmã gritou e me abraçou. — Estava com tanta saudade de você.
— O que aconteceu com a minha pestinha? – Disse analisando-a e notando o quanto ela cresceu nesses últimos dois anos.
— Fiquei uma gata, pode falar. – Ela disse sorridente.
— Definitivamente, minha 9 milímetros vai trabalhar bastante.
— Pare com isso e me leve para casa. Estou cansada e faminta.
Levei Júlia para casa e pensei em fazer uma festa para ela, mas à noite recebi uma mensagem dizendo que precisaria viajar por alguns dias. Porra! Justo agora que minha irmã chegou. Avisei a ela que precisaria me ausentar por um tempo, e Ju apenas concordou, dizendo que sabia cuidar de si mesma. Mesmo assim, por precaução, ordenei que a segurança a acompanhasse.
Fui para a viagem, e o que pensei que levaria dois dias acabou demorando quase quinze. Depois de resolver tudo, finalmente estava voltando para casa. Quando cheguei, peguei minha irmã em uma conversa animada com um vapor, e logo cortei o assunto. O cara, quando me viu, ficou branco como papel, enquanto minha irmã revirava os olhos.
— Já falei que você não precisa se preocupar comigo.
— Não quero você paparicando os vapores daqui, entendeu? Você merece um cara muito melhor do que esses filhos da puta.
— Não estou interessada em vapor, só estava conversando com eles.
— Espero que seja só isso mesmo. – Disse a ela, que revirou os olhos e entrou em casa.
Na manhã seguinte, resolvi todos os meus assuntos na boca de fumo e na empresa e finalmente fui à padaria comprar alguns pães doces. Ao chegar lá, esbarrei novamente na morena gostosa. Tentei puxar conversa com ela, mas a garota estava tão desanimada que desisti. Ao entrar, Giovanna sorriu para mim e perguntou o que eu queria.
— Se você encontrar o D.L, manda ele ir lá em casa mais tarde.
— Fui rebaixada de dono do morro para moleque de recados? – Perguntei, brincando, e ela revirou os olhos. Giovanna e D.L estão em um relacionamento sério há cinco anos. Fico me perguntando quando eles finalmente vão morar juntos. — Eu dou o recado, sua chata. O que aconteceu com a morena gostosa?
— A Stephanny? Em que planeta você vive? Não sabe quem ela é? – Disse que não.
— Ela é aquela ricaça que perdeu tudo. Você não viu na televisão?
— Pensei que fosse parente do Jarbas e da Carol. – Disse, franzindo o cenho.
— Eles trabalhavam para ela há anos. A Manu me contou que o namorado dela assumiu um compromisso com uma menina rica, sem contar a ela. Para piorar, ela foi afastada da companhia de dança por conta dos escândalos.
Agora entendi por que ela está diferente das outras vezes. Fui para casa e encontrei Larissa discutindo com Ju. Logo tratei de encerrar aquilo.
— Amor, a sua irmã não gosta de mim. – Larissa é um grude, e só fico com ela porque é boa na cama.
— Corta o papo de amor. Você sabe muito bem que não temos nada.
— Por que tu não me assume? – Ela perguntou.
— Porque eu não sou o D.L, para me apegar a uma única mulher. E você, para mim, é apenas uma vadia que chamo pra aplacar meu tesão.
— Um dia você vai me assumir. – Ela disse, sorrindo, e a mandei sair.
À noite, peguei minha moto para dar uma volta e estava me preparando para descer o morro quando uma garota passou correndo por mim. Ela foi descer o morro e acabou caindo. Confesso que foi engraçado a forma como ela tropeçou, e logo percebi que era a morena gostosa. Me aproximei dela e puxei conversa.
— Você é muito engraçado, o Oscar de lá ha ha. – Ela disse, fechando os olhos. Antes que eu pudesse responder, a garota começou a chorar, e isso me desconcertou. Desmontei da moto e a ajudei a sentar no meio-fio.
A garota chorava tão copiosamente que a puxei para os meus braços e a deixei encharcar a minha camiseta com suas lágrimas.
Stephanny GiacomelliColoquei todas as minhas dores para fora, sentada em um meio-fio com um cara completamente estranho. Olhei para a camiseta dele, molhada pelas minhas lágrimas, e me desculpei.— Não sei por que tudo isso está acontecendo comigo. Sou uma boa pessoa, nunca ri de pessoas pobres, sempre ajudei os menos favorecidos, fiz doações para o Criança Esperança e o Teleton. Por que estou sendo punida pelo universo? Não posso ser tão ruim assim, não é? – Perguntei, percebendo que estava falando demais, e me desculpei mais uma vez.— Não tem problema, gata. Me chamo Guilhermo Fernandes.— Muito prazer, sou Stephanny Giacomelli Duarte. – Limpei minhas lágrimas com as costas da mão. — Devo estar parecendo um urso panda, não é?Perguntei a ele, que negou, mas tinha certeza de que estava mentindo. Proibi minhas lágrimas de rolarem e me levantei, mas logo senti uma dor no joelho e me sentei novamente. Quando percebi, meu joelho estava ralado, assim como meus braços. Senti dor em algum
— Sei que você é dono do morro, mas tem que trazer esse trambolho para a mesa – Ju diz soltando uma lufada de ar, e nesse momento fico ainda mais perdida. — Acho que meu irmão esqueceu de te contar que ele é dono do morro.— Você é o tal do Gui que todos falam? – Pergunto surpresa e ele confirma. — Você é muito diferente do que imaginei.— Pois é, as pessoas acham que todo dono de morro usa correntes de ouro gigantescas e não sabem falar o português de maneira correta. – Nesse momento, fiquei muito sem jeito, pois era exatamente isso que eu pensava, Julia viu o meu semblante e soltou uma gargalhada o que me deixou ainda mais desconfortavel. — Relaxa, Steph, você está acostumada ao que vê nos filmes, é normal e compreensível. — Minha irmã está certa. – Gui sorriu para mim o que me deixou um pouco mais tranquila, imagina se eu falo algo inapropriado e ele me mata? Realmente não dá para julgar um livro pela capa. — Você também não é o tipo de patricinha que os filmes retratam. – Ju, d
Estava conversando animadamente com Giovanna quando Júlia chegou em sua moto. Ela me pediu desculpa por ter esquecido de passar seu número, e eu disse que estava tudo bem. Ju me passou um capacete e me mandou subir em sua moto, e foi o que eu fiz. Rapidamente chegamos à loja, que era bem grande. Contei toda a minha história a Fabiana, que foi super legal e me deu um emprego. Agradeci muito às duas e voltei para casa animada. Contei a novidade a Carol, que ficou feliz por mim. Pedi a ela que me ensinasse a varrer a casa, e ela me mandou trocar de roupa e pôr algo bem confortável. Então, peguei uma roupa emprestada de Manu, torcendo para que ela não achasse ruim.— Segura a vassoura desse jeito e varre assim. – Carol me dava instruções, e eu me sentia uma idiota, mas ela me tranquilizou, dizendo que é assim mesmo.Depois de quebrar um bibelô, olhei para a sala varrida e me senti orgulhosa. Nem acredito que consegui fazer isso. Carol olhou para mim orgulhosa e me chamou para seu quarto.
Manuella me acordou, e levantei com a maior preguiça do mundo. Fui tomar banho, já de banho tomado e devidamente vestida, Carol preparou o café para nós. Jarbas, Manu e eu nos despedimos e fomos para nossos destinos. Jarbas me ofereceu uma carona, e eu sabia que se aceitasse, ele se atrasaria, já que ainda levaria a Manu.Fui para o ponto de ônibus, que estava repleto de pessoas. Fiquei aguardando até aparecer o ônibus que precisava pegar, e neste momento me arrependi de não ter aceitado a carona oferecida por Jarbas. Só espero que ninguém me reconheça, ou será um grande problema. Agora sei como as sardinhas se sentem dentro da lata, pois me sinto exatamente igual. As pessoas me empurravam ao passar e olhavam para mim irritadas. Assim que chegou o meu ponto, gritei para o motorista parar, mas ele passou direto. Gritei mais uma vez, e uma senhora simpática me disse que eu deveria ter apertado a cigarra. Perguntei a ela o que era isso, e ela me apontou a cordinha. Outra menina olhou par
Hoje é sexta-feira e, depois de um dia cansativo de trabalho, estava me arrumando para o baile. Manu e eu estávamos prontas para sair quando Jarbas e Carol nos chamaram e nos deram uma série de recomendações. Eles me mandaram ficar atenta e jamais abandonar o meu copo sozinho.— Pai, mãe, relaxem. Eu vou cuidar da Steph. Agora temos que ir, beijos. – Manu cortou os pais, e antes de sairmos, nos despedimos.Giovanna estava agarrada com um cara que descobri ser D.L., seu namorado e sub-dono do morro. Pensei que iríamos a pé, mas logo duas motos apareceram, e os meninos nos mandaram subir. Durante o breve trajeto, conheci Patrick, um cara bem legal que me fazia rir. Quando chegamos à entrada do evento, ele me deu um beijo no rosto e disse que me encontraria na pista. Não sou uma garota de baladas e festas com música alta. Só fui à balada duas vezes na vida. Ao entrar no local, o choque de realidade tomou conta de mim, e me perguntei o que estava fazendo ali.Manuella e Giovanna me puxara
Guilhermo Montenegro (Gui)Hoje o morro estava agitado por conta do baile. Meu pessoal arrumou tudo, e deixei D.L. encarregado enquanto fui para a empresa. Cheguei cumprimentando os funcionários e fui direto para a minha sala. Um tempo depois, minha secretária avisou que o advogado estava à minha espera, e agradeci a ela. Assim que o doutor entrou, pedi para que ele se sentasse.— Aconteceu alguma coisa, Guilhermo? – Doutor Lucius era advogado do meu pai e agora trabalha para mim.— Doutor, o chamei aqui porque eu necessito de um esclarecimento em uma questão. Conheço uma pessoa que teve os bens roubados por um familiar antes que completasse a maioridade. Gostaria de saber se há alguma forma dela reaver os seus bens?— Se o tio da vítima se apropriou dos seus bens, configura-se em apropriação indébita. Mas, para entender o caso, precisarei conversar com a vítima.— Vou conversar com ela e procuro o senhor. – Doutor Lucius se levanta e diz que ficará no aguardo da minha ligação.Olho p
— Posso saber o motivo da porra do tumulto? – Cheguei já irritado.— Não acredito que me trocou por essa Barbie vagabunda. – Larissa diz olhando para Stephanny, que não demonstrou, mas eu sabia que estava morrendo de medo.— A única vagabunda que temos aqui é você, que fode com o morro todo e depois vem se fazer de fiel do meu irmão. – Ju fala, olhando para ela. Antes que Larissa pudesse responder e estragar tudo, eu acabei com a discussão e a expulsei do baile. Que merda irritante, ela sabe que não temos nada e fica me incomodando. Respiro fundo e volto para o camarote.Puxei Steph para o meu colo novamente e mandei D.L. pedir uma porção de camarão frito e cerveja. As meninas se aproximaram e ficaram conversando animadas com Steph, que esqueceu os episódios passados e relaxou.— Amiga, acho que o Patrick está afim de você. – Minha irmã diz a ela.— Não estou afim de ninguém, Ju. Minha vida está uma bagunça e a única coisa que preciso é arrumá-la.— Está com saudade da sua vida antiga
Stephanny Giacomelli DuarteO beijo estava delicioso, mas logo me afastei quando senti a mão de Guilhermo em minha parte íntima.— Desculpa, eu nunca... – Não consegui terminar, estava muito sem jeito.— Você nunca fez sexo? – Ele perguntou e eu neguei. — Você namorava e nunca passou nem da primeira base?— Nunca me senti preparada para isso. – Estava muito sem graça. — Desculpe. – Levantei-me e ele me puxou para sentar em sua perna.— Não precisa ficar sem jeito. Não sou o tipo de cara que força uma mulher. Gostei de você e não queria que o que estava rolando entre nós terminasse.Ele é um cara completamente diferente do que sempre achei que um cara de morro seria. Como o clima havia ficado constrangedor, começamos a conversar sobre nossa infância. Me emocionei ao falar sobre meus pais, e aconteceu o mesmo com ele. Percebi que Gui amava muito o pai, o que achei muito fofo.Um tempo depois, um bocejo escapou dos meus lábios e Gui sorriu.— Vamos dormir, Bela Adormecida. – Ele sorri.—