Já se passou um mês desde o golpe que sofri, e eu permanecia na cama, mal comia, mal dormia. Perdi todas as minhas amizades, exceto Luanna, que queria voltar para ficar comigo, mas eu recusei. Disse a ela que deveria seguir seu sonho, afinal, ela lutou muito para consegui-lo. Carol e Jarbas tentavam me animar, mas nada que eles falavam parecia surtir efeito. Jarbas conseguiu um novo emprego como motorista, e Carol continuava procurando emprego, me sinto tão culpada por tê-los deixado sem emprego, sabe, os dois sempre foram maravilhosos comigo e agora aconteceu isso com eles, minha vida está um verdadeiro caos, tenho vontade de jogar tudo para alto e xingar tudo e a todos, logo mudei meu pensamento, pois lembrei que meus pais diziam que por mais que as coisas estivem difíceis não poderia ser hostil com as pessoas, vocês me fazem tanta falta, tenho certeza que se estivessem aqui nada disso estaria acontecendo. Estava deitada quando Carol tocou meu ombro e pediu para eu buscar pão. Ela me deu duas moedas de um real, o que me fez me levantar e ir até a padaria.
Na padaria, pedi pão à atendente, que sorria animadamente.
— Você é a menina que mora na casa da Manu, não é? A ex ricaça. – Ela perguntou e eu confirmei. — Só vi você uma vez. Sou amiga da Manuella. Você está com uma cara muito abatida. Deveria sair conosco amanhã. Vamos para o baile funk daqui, o baile do Sapoti, é um dos melhores, você deveria vir conosco.
— Não danço mais. – Respondi simplesmente e peguei a sacola de pão para sair.
Quando estava saindo, esbarrei em alguém. Levantei a cabeça para pedir desculpas e logo fiquei sem palavras ao perceber que o cara era o mesmo com quem tinha esbarrado na joalheria e no aeroporto.
— Cuidado, linda. – Ele disse, e eu forcei um sorriso. — Essa é a terceira vez que nos esbarramos.
— Pois é, parece que estamos sempre nos mesmos lugares.
Ele sorriu e entrou na padaria, enquanto eu retornava à casa de Carol. Entreguei a sacola para ela e voltei para o quarto. Um tempo depois, Manuella chegou do seu trabalho de meio período e foi se arrumar para seu curso. Ela me ignorava completamente, e eu achava até melhor assim, Carol fez de tudo para que eu me alimentasse, mas disse a ela que não sentia vontade, tenho certeza que já perdi uns cinco quilos, Carol.
— Meu bem, você precisa se alimentar, daqui a pouco você vai sumir.
— Obrigada Ca, mas não sinto a menor vontade de fazer nada.
— Está na hora de se levantar, você sempre foi tão alegre e divertida, não pode ficar assim.
Apenas sorri e voltei a me cobrir, a noite, Jarbas chegou e me chamou para a sala. Ele me entregou um copo do Starbucks e um donut.
— Sei que esse é o seu favorito. – Ele sorriu, e eu agradeci.
— Se não fossem você e Carol, não sei o que seria de mim. – Disse, e Jarbas me abraçou.
Nesse momento, Manuella chegou e me olhou com cara feia.
— Até quando você vai ficar aqui como se fosse uma hóspede? Minha filha, está na hora de arrumar um emprego e começar a contribuir com a casa. Você gera muitas despesas. Meus pais não falam nada, porque te tratam como filha, mas como você não é nada para mim, eu posso dizer.
— Manuella, pare com isso – Carol repreendeu a filha e saiu da cozinha.
— Se vocês não falam, eu falo. Já estou cansada dessa folgada. Vocês fazem tudo por ela. Está na hora dela ser colocada no lugar. Você não é uma hóspede, é uma pessoa que era rica e, há um mês, é uma falida, sem dinheiro e sem moral. Além de ser uma corna, já que seu namorado nem se deu ao trabalho de terminar com você quando te trocou por outra. Você não é ninguém, então pare de querer ser tratada como alguém especial. Outra coisa: eles são os meus pais, entendeu, meus pais, já que os seus pais estão mortos.
Jarbas e Carol gritaram com a filha para ela parar de falar aquelas coisas, mas eu estava tão nervosa que dei um tapa em seu rosto. Manuella olhou para mim com ódio e me deu um tapa de volta. Quando dei por mim, já estávamos brigando no chão. Jarbas e Carol nos separaram, e eu corri daquela casa. Eu precisava arrumar um jeito de sair daquele lugar que não me pertencia, então sai correndo pelo morro, acabei tropeçando e rolando, até finalmente parar. Sentei-me toda ralada e chorando. Uma moto apareceu, e era o mesmo moreno que eu havia esbarrado outras vezes.
— Hei! É mais fácil pegar um mototáxi do que rolar pelo morro.
O moreno sorriu para mim, mas eu o olhei com zero paciência. Eu queria responder, mas não conseguia, devido às lágrimas.
Guilhermo (Gui)*Aí, patrão, o morro tá sussa, os canas já levaram o dinheiro.* – Rak me avisou e o mandei ir para uma biqueira fazer a cobrança. As pessoas acham que ser dono de um morro e líder de uma facção criminosa é fácil, mas isso é fácil. Há quem me estereotipe pensando que sou um criminoso que não sabe falar português, mas, ao contrário do que pensam, sou alguém que estudou muito. No começo, tentei não me envolver com essas coisas, mas quando um morro rival matou covardemente meu pai, soube que esse era o meu destino.Meu pai batalhou muito por este morro, e eu não posso simplesmente deixá-lo para qualquer filho da puta tomar. Minha mãe era uma vadia qualquer que nos abandonou a mim e a minha irmã sem pensar duas vezes. Meu pai, mesmo sendo traficante, cuidou de nós e foi um pai bom e presente. Ele amava este morro mais do que a própria vida.Estudei, fiz cursos, faculdade. Enfim, sou alguém bem preparado. Hoje estou animado, pois minha irmã finalmente está voltando após doi
Stephanny GiacomelliColoquei todas as minhas dores para fora, sentada em um meio-fio com um cara completamente estranho. Olhei para a camiseta dele, molhada pelas minhas lágrimas, e me desculpei.— Não sei por que tudo isso está acontecendo comigo. Sou uma boa pessoa, nunca ri de pessoas pobres, sempre ajudei os menos favorecidos, fiz doações para o Criança Esperança e o Teleton. Por que estou sendo punida pelo universo? Não posso ser tão ruim assim, não é? – Perguntei, percebendo que estava falando demais, e me desculpei mais uma vez.— Não tem problema, gata. Me chamo Guilhermo Fernandes.— Muito prazer, sou Stephanny Giacomelli Duarte. – Limpei minhas lágrimas com as costas da mão. — Devo estar parecendo um urso panda, não é?Perguntei a ele, que negou, mas tinha certeza de que estava mentindo. Proibi minhas lágrimas de rolarem e me levantei, mas logo senti uma dor no joelho e me sentei novamente. Quando percebi, meu joelho estava ralado, assim como meus braços. Senti dor em algum
— Sei que você é dono do morro, mas tem que trazer esse trambolho para a mesa – Ju diz soltando uma lufada de ar, e nesse momento fico ainda mais perdida. — Acho que meu irmão esqueceu de te contar que ele é dono do morro.— Você é o tal do Gui que todos falam? – Pergunto surpresa e ele confirma. — Você é muito diferente do que imaginei.— Pois é, as pessoas acham que todo dono de morro usa correntes de ouro gigantescas e não sabem falar o português de maneira correta. – Nesse momento, fiquei muito sem jeito, pois era exatamente isso que eu pensava, Julia viu o meu semblante e soltou uma gargalhada o que me deixou ainda mais desconfortavel. — Relaxa, Steph, você está acostumada ao que vê nos filmes, é normal e compreensível. — Minha irmã está certa. – Gui sorriu para mim o que me deixou um pouco mais tranquila, imagina se eu falo algo inapropriado e ele me mata? Realmente não dá para julgar um livro pela capa. — Você também não é o tipo de patricinha que os filmes retratam. – Ju, d
Estava conversando animadamente com Giovanna quando Júlia chegou em sua moto. Ela me pediu desculpa por ter esquecido de passar seu número, e eu disse que estava tudo bem. Ju me passou um capacete e me mandou subir em sua moto, e foi o que eu fiz. Rapidamente chegamos à loja, que era bem grande. Contei toda a minha história a Fabiana, que foi super legal e me deu um emprego. Agradeci muito às duas e voltei para casa animada. Contei a novidade a Carol, que ficou feliz por mim. Pedi a ela que me ensinasse a varrer a casa, e ela me mandou trocar de roupa e pôr algo bem confortável. Então, peguei uma roupa emprestada de Manu, torcendo para que ela não achasse ruim.— Segura a vassoura desse jeito e varre assim. – Carol me dava instruções, e eu me sentia uma idiota, mas ela me tranquilizou, dizendo que é assim mesmo.Depois de quebrar um bibelô, olhei para a sala varrida e me senti orgulhosa. Nem acredito que consegui fazer isso. Carol olhou para mim orgulhosa e me chamou para seu quarto.
Manuella me acordou, e levantei com a maior preguiça do mundo. Fui tomar banho, já de banho tomado e devidamente vestida, Carol preparou o café para nós. Jarbas, Manu e eu nos despedimos e fomos para nossos destinos. Jarbas me ofereceu uma carona, e eu sabia que se aceitasse, ele se atrasaria, já que ainda levaria a Manu.Fui para o ponto de ônibus, que estava repleto de pessoas. Fiquei aguardando até aparecer o ônibus que precisava pegar, e neste momento me arrependi de não ter aceitado a carona oferecida por Jarbas. Só espero que ninguém me reconheça, ou será um grande problema. Agora sei como as sardinhas se sentem dentro da lata, pois me sinto exatamente igual. As pessoas me empurravam ao passar e olhavam para mim irritadas. Assim que chegou o meu ponto, gritei para o motorista parar, mas ele passou direto. Gritei mais uma vez, e uma senhora simpática me disse que eu deveria ter apertado a cigarra. Perguntei a ela o que era isso, e ela me apontou a cordinha. Outra menina olhou par
Hoje é sexta-feira e, depois de um dia cansativo de trabalho, estava me arrumando para o baile. Manu e eu estávamos prontas para sair quando Jarbas e Carol nos chamaram e nos deram uma série de recomendações. Eles me mandaram ficar atenta e jamais abandonar o meu copo sozinho.— Pai, mãe, relaxem. Eu vou cuidar da Steph. Agora temos que ir, beijos. – Manu cortou os pais, e antes de sairmos, nos despedimos.Giovanna estava agarrada com um cara que descobri ser D.L., seu namorado e sub-dono do morro. Pensei que iríamos a pé, mas logo duas motos apareceram, e os meninos nos mandaram subir. Durante o breve trajeto, conheci Patrick, um cara bem legal que me fazia rir. Quando chegamos à entrada do evento, ele me deu um beijo no rosto e disse que me encontraria na pista. Não sou uma garota de baladas e festas com música alta. Só fui à balada duas vezes na vida. Ao entrar no local, o choque de realidade tomou conta de mim, e me perguntei o que estava fazendo ali.Manuella e Giovanna me puxara
Guilhermo Montenegro (Gui)Hoje o morro estava agitado por conta do baile. Meu pessoal arrumou tudo, e deixei D.L. encarregado enquanto fui para a empresa. Cheguei cumprimentando os funcionários e fui direto para a minha sala. Um tempo depois, minha secretária avisou que o advogado estava à minha espera, e agradeci a ela. Assim que o doutor entrou, pedi para que ele se sentasse.— Aconteceu alguma coisa, Guilhermo? – Doutor Lucius era advogado do meu pai e agora trabalha para mim.— Doutor, o chamei aqui porque eu necessito de um esclarecimento em uma questão. Conheço uma pessoa que teve os bens roubados por um familiar antes que completasse a maioridade. Gostaria de saber se há alguma forma dela reaver os seus bens?— Se o tio da vítima se apropriou dos seus bens, configura-se em apropriação indébita. Mas, para entender o caso, precisarei conversar com a vítima.— Vou conversar com ela e procuro o senhor. – Doutor Lucius se levanta e diz que ficará no aguardo da minha ligação.Olho p
— Posso saber o motivo da porra do tumulto? – Cheguei já irritado.— Não acredito que me trocou por essa Barbie vagabunda. – Larissa diz olhando para Stephanny, que não demonstrou, mas eu sabia que estava morrendo de medo.— A única vagabunda que temos aqui é você, que fode com o morro todo e depois vem se fazer de fiel do meu irmão. – Ju fala, olhando para ela. Antes que Larissa pudesse responder e estragar tudo, eu acabei com a discussão e a expulsei do baile. Que merda irritante, ela sabe que não temos nada e fica me incomodando. Respiro fundo e volto para o camarote.Puxei Steph para o meu colo novamente e mandei D.L. pedir uma porção de camarão frito e cerveja. As meninas se aproximaram e ficaram conversando animadas com Steph, que esqueceu os episódios passados e relaxou.— Amiga, acho que o Patrick está afim de você. – Minha irmã diz a ela.— Não estou afim de ninguém, Ju. Minha vida está uma bagunça e a única coisa que preciso é arrumá-la.— Está com saudade da sua vida antiga