— Steph, vem comer alguma coisa. – Jarbas me chamou, mas eu neguei.
— Quero apenas um suco de laranja com mel. – Respondi e fechei os olhos.
Um tempo depois, Carol se aproximou e me entregou o copo. Ela disse que eu precisava comer algo, mas mais uma vez disse que não estava com fome. Tomei o suco e entreguei o copo de volta a ela. Peguei meu celular para enviar uma mensagem para João, mas ele disse que não podia falar no momento, pois estava em reunião. Pensei em ligar para minha amiga, mas ela estava tão feliz com a oportunidade que não queria incomodá-la. Felizmente, tenho Jarbas e Carol comigo, senão me sentiria ainda mais sozinha. Olhava para o teto quando Manuella chegou, jogou a bolsa na cama e antes de sair se virou para mim, surpresa.
— O que você está fazendo aqui? – Ela perguntou, fazendo careta.
— Pelo que sei, agora moro aqui – respondi, mas Manuella saiu batendo a porta do quarto e logo ouvi sua voz alta brigando com seus pais.
Levantei-me e fui para a sala, onde ela estava brigando com eles, dizendo que eu não deveria ficar em sua casa e que eu deveria ir para outro lugar.
— Não me interessa se ela não tem lugar para ficar, eu não quero dividir o meu quarto com ela. – Manu me olhava com os olhos faiscando de ódio.
— Filha, pare de ser teimosa. Steph perdeu tudo e não tem para onde ir. Ela ficará o quanto for necessário – Jarbas disse pacientemente.
— Vocês sempre agem como se fossem os pais dela. Se ela perdeu tudo, como vai pagar vocês? – Manuella perguntou revoltada.
— Manuella, chega com isso agora. Steph vai ficar aqui e já está decidido – Carol encerrou a discussão.
Manuella saiu pisando duro e eu dei de ombros, voltando para o quarto. Na manhã seguinte, fui tomar banho. Assim que abri a água, soltei um grito. Jarbas e Carol correram para me ajudar, mas começaram a rir.
— Parem de rir, como vocês não têm água quente? – Perguntei.
— Princesinha, anda logo. Eu tenho que tomar banho para ir trabalhar – Manuella me disse, revirando os olhos. Saí do banheiro, recusando-me a tomar banho frio.
— Não temos água quente aqui. Se quiser, posso esquentar um pouco de água e você toma banho de caneca – Carol sugeriu, e olhei para ela chocada.
— Você quer que eu tome banho de caneca? Eu?
— Bem-vinda à vida comum de uma pessoa comum – Manuella saiu do banheiro, secando o cabelo.
Me sentei no sofá e, como eu precisava ir para a companhia de dança, tive que escolher entre tomar banho quente de caneca ou tomar banho gelado no chuveiro. Optei por tomar banho frio no chuveiro, pois me recusava a jogar água com um caneco.
Depois de pronta, peguei minha roupa de ensaio e a sapatilha. Jarbas perguntou se eu tinha certeza de que iria para o ensaio. Minha vontade era de ficar na cama e chorar, mas tenho um recital em breve e preciso ensaiar. Ele se ofereceu para me levar em seu carro. Embora esteja acostumada a andar em carros diferentes, neste momento não tenho opção.
Enquanto Jarbas me deixava, ele foi procurar emprego, já que não tenho como pagar por nada no momento. Ele me disse que precisamos encontrar um bom advogado para tentar recuperar meu dinheiro. Agradeci a ele e fui para o ensaio. Ao chegar lá, Jully cochichou algo com seu grupo e começaram a rir na minha direção. Aquilo me irritou profundamente. Ensaiamos com afinco, e a professora Lyia parabenizou meu esforço.
Assim que o ensaio acabou, saí da companhia, mas ao colocar o pé na rua, os flashes das câmeras me cegaram e os repórteres me cercaram, pedindo para dar uma entrevista. Perguntaram como me sentia ao descobrir que não tinha mais dinheiro. Eles me cercaram, e eu tive uma crise nervosa, começando a chorar. Jarbas apareceu ao meu lado, mandou todos os repórteres se afastarem e me levou para o carro, partindo rapidamente.
— Desculpe, Steph. Eu deveria ter ficado ao seu lado – Jarbas pedia desculpas, mas eu só abraçava meu joelho, chorando.
Quando meus pais faleceram, eu estava voltando da escola e os repórteres me cercaram, perguntando como me sentia com a morte deles, quando eu sequer sabia sobre o acidente. Jarbas me olhava pelo retrovisor e perguntava se eu estava bem, e eu dizia que sim. Chegamos à casa dele, e fui direto para o quarto, cobrindo-me dos pés à cabeça. Carol tentou conversar comigo, mas eu não queria falar com ninguém. Peguei meu celular para falar com João, mas o que encontrei foram várias manchetes sobre minha ruína. E para piorar, João anunciou o noivado com July. Como assim? Ele nem teve a decência de terminar comigo. As lágrimas inundaram meus olhos, e as deixei cair livremente. Minha vida está desmoronando toda de uma vez, ainda bem que ainda tenho a dança para me dar conforto.
Já se passou um mês desde o golpe que sofri, e eu permanecia na cama, mal comia, mal dormia. Perdi todas as minhas amizades, exceto Luanna, que queria voltar para ficar comigo, mas eu recusei. Disse a ela que deveria seguir seu sonho, afinal, ela lutou muito para consegui-lo. Carol e Jarbas tentavam me animar, mas nada que eles falavam parecia surtir efeito. Jarbas conseguiu um novo emprego como motorista, e Carol continuava procurando emprego, me sinto tão culpada por tê-los deixado sem emprego, sabe, os dois sempre foram maravilhosos comigo e agora aconteceu isso com eles, minha vida está um verdadeiro caos, tenho vontade de jogar tudo para alto e xingar tudo e a todos, logo mudei meu pensamento, pois lembrei que meus pais diziam que por mais que as coisas estivem difíceis não poderia ser hostil com as pessoas, vocês me fazem tanta falta, tenho certeza que se estivessem aqui nada disso estaria acontecendo. Estava deitada quando Carol tocou meu ombro e pediu para eu buscar pão. Ela m
Guilhermo (Gui)*Aí, patrão, o morro tá sussa, os canas já levaram o dinheiro.* – Rak me avisou e o mandei ir para uma biqueira fazer a cobrança. As pessoas acham que ser dono de um morro e líder de uma facção criminosa é fácil, mas isso é fácil. Há quem me estereotipe pensando que sou um criminoso que não sabe falar português, mas, ao contrário do que pensam, sou alguém que estudou muito. No começo, tentei não me envolver com essas coisas, mas quando um morro rival matou covardemente meu pai, soube que esse era o meu destino.Meu pai batalhou muito por este morro, e eu não posso simplesmente deixá-lo para qualquer filho da puta tomar. Minha mãe era uma vadia qualquer que nos abandonou a mim e a minha irmã sem pensar duas vezes. Meu pai, mesmo sendo traficante, cuidou de nós e foi um pai bom e presente. Ele amava este morro mais do que a própria vida.Estudei, fiz cursos, faculdade. Enfim, sou alguém bem preparado. Hoje estou animado, pois minha irmã finalmente está voltando após doi
Stephanny GiacomelliColoquei todas as minhas dores para fora, sentada em um meio-fio com um cara completamente estranho. Olhei para a camiseta dele, molhada pelas minhas lágrimas, e me desculpei.— Não sei por que tudo isso está acontecendo comigo. Sou uma boa pessoa, nunca ri de pessoas pobres, sempre ajudei os menos favorecidos, fiz doações para o Criança Esperança e o Teleton. Por que estou sendo punida pelo universo? Não posso ser tão ruim assim, não é? – Perguntei, percebendo que estava falando demais, e me desculpei mais uma vez.— Não tem problema, gata. Me chamo Guilhermo Fernandes.— Muito prazer, sou Stephanny Giacomelli Duarte. – Limpei minhas lágrimas com as costas da mão. — Devo estar parecendo um urso panda, não é?Perguntei a ele, que negou, mas tinha certeza de que estava mentindo. Proibi minhas lágrimas de rolarem e me levantei, mas logo senti uma dor no joelho e me sentei novamente. Quando percebi, meu joelho estava ralado, assim como meus braços. Senti dor em algum
— Sei que você é dono do morro, mas tem que trazer esse trambolho para a mesa – Ju diz soltando uma lufada de ar, e nesse momento fico ainda mais perdida. — Acho que meu irmão esqueceu de te contar que ele é dono do morro.— Você é o tal do Gui que todos falam? – Pergunto surpresa e ele confirma. — Você é muito diferente do que imaginei.— Pois é, as pessoas acham que todo dono de morro usa correntes de ouro gigantescas e não sabem falar o português de maneira correta. – Nesse momento, fiquei muito sem jeito, pois era exatamente isso que eu pensava, Julia viu o meu semblante e soltou uma gargalhada o que me deixou ainda mais desconfortavel. — Relaxa, Steph, você está acostumada ao que vê nos filmes, é normal e compreensível. — Minha irmã está certa. – Gui sorriu para mim o que me deixou um pouco mais tranquila, imagina se eu falo algo inapropriado e ele me mata? Realmente não dá para julgar um livro pela capa. — Você também não é o tipo de patricinha que os filmes retratam. – Ju, d
Estava conversando animadamente com Giovanna quando Júlia chegou em sua moto. Ela me pediu desculpa por ter esquecido de passar seu número, e eu disse que estava tudo bem. Ju me passou um capacete e me mandou subir em sua moto, e foi o que eu fiz. Rapidamente chegamos à loja, que era bem grande. Contei toda a minha história a Fabiana, que foi super legal e me deu um emprego. Agradeci muito às duas e voltei para casa animada. Contei a novidade a Carol, que ficou feliz por mim. Pedi a ela que me ensinasse a varrer a casa, e ela me mandou trocar de roupa e pôr algo bem confortável. Então, peguei uma roupa emprestada de Manu, torcendo para que ela não achasse ruim.— Segura a vassoura desse jeito e varre assim. – Carol me dava instruções, e eu me sentia uma idiota, mas ela me tranquilizou, dizendo que é assim mesmo.Depois de quebrar um bibelô, olhei para a sala varrida e me senti orgulhosa. Nem acredito que consegui fazer isso. Carol olhou para mim orgulhosa e me chamou para seu quarto.
Manuella me acordou, e levantei com a maior preguiça do mundo. Fui tomar banho, já de banho tomado e devidamente vestida, Carol preparou o café para nós. Jarbas, Manu e eu nos despedimos e fomos para nossos destinos. Jarbas me ofereceu uma carona, e eu sabia que se aceitasse, ele se atrasaria, já que ainda levaria a Manu.Fui para o ponto de ônibus, que estava repleto de pessoas. Fiquei aguardando até aparecer o ônibus que precisava pegar, e neste momento me arrependi de não ter aceitado a carona oferecida por Jarbas. Só espero que ninguém me reconheça, ou será um grande problema. Agora sei como as sardinhas se sentem dentro da lata, pois me sinto exatamente igual. As pessoas me empurravam ao passar e olhavam para mim irritadas. Assim que chegou o meu ponto, gritei para o motorista parar, mas ele passou direto. Gritei mais uma vez, e uma senhora simpática me disse que eu deveria ter apertado a cigarra. Perguntei a ela o que era isso, e ela me apontou a cordinha. Outra menina olhou par
Hoje é sexta-feira e, depois de um dia cansativo de trabalho, estava me arrumando para o baile. Manu e eu estávamos prontas para sair quando Jarbas e Carol nos chamaram e nos deram uma série de recomendações. Eles me mandaram ficar atenta e jamais abandonar o meu copo sozinho.— Pai, mãe, relaxem. Eu vou cuidar da Steph. Agora temos que ir, beijos. – Manu cortou os pais, e antes de sairmos, nos despedimos.Giovanna estava agarrada com um cara que descobri ser D.L., seu namorado e sub-dono do morro. Pensei que iríamos a pé, mas logo duas motos apareceram, e os meninos nos mandaram subir. Durante o breve trajeto, conheci Patrick, um cara bem legal que me fazia rir. Quando chegamos à entrada do evento, ele me deu um beijo no rosto e disse que me encontraria na pista. Não sou uma garota de baladas e festas com música alta. Só fui à balada duas vezes na vida. Ao entrar no local, o choque de realidade tomou conta de mim, e me perguntei o que estava fazendo ali.Manuella e Giovanna me puxara
Guilhermo Montenegro (Gui)Hoje o morro estava agitado por conta do baile. Meu pessoal arrumou tudo, e deixei D.L. encarregado enquanto fui para a empresa. Cheguei cumprimentando os funcionários e fui direto para a minha sala. Um tempo depois, minha secretária avisou que o advogado estava à minha espera, e agradeci a ela. Assim que o doutor entrou, pedi para que ele se sentasse.— Aconteceu alguma coisa, Guilhermo? – Doutor Lucius era advogado do meu pai e agora trabalha para mim.— Doutor, o chamei aqui porque eu necessito de um esclarecimento em uma questão. Conheço uma pessoa que teve os bens roubados por um familiar antes que completasse a maioridade. Gostaria de saber se há alguma forma dela reaver os seus bens?— Se o tio da vítima se apropriou dos seus bens, configura-se em apropriação indébita. Mas, para entender o caso, precisarei conversar com a vítima.— Vou conversar com ela e procuro o senhor. – Doutor Lucius se levanta e diz que ficará no aguardo da minha ligação.Olho p