Um mês passou desde minha apresentação. Meu tio estava viajando com mais frequência ultimamente. Tomei meu café e avisei a Jarbas que não precisava me acompanhar, pois sairia com Luanna. Assim que ela buzinou, corri me despedindo de Carol.
— O que vamos fazer, gata? — Luanna perguntou, e me afundei em seu banco.
— Miga, já estou sentindo sua falta. Não acredito que você vai passar um ano na França. — Disse, emburrada.
— Steph, um ano passa rapidinho, você vai ver.
Fomos ao clube, chamamos nossos namorados, que chegaram rapidamente. Trocamos de roupa e fomos para a área da piscina pegar um bronzeado. Na hora do almoço, meu celular vibrou, mas João Miguel não me deixou atender, insistindo que eu desse atenção a ele. No final da tarde, fomos para uma loja da Tiffany, onde comprei algumas coisas que estava precisando, incluindo sapatos exclusivos. Voltei para casa contente.
Me despedi da minha amiga e prometi levá-la para o aeroporto mais tarde. Enquanto estava na área de embarque, brincando com minha amiga, desequilibrei-me e estava prestes a cair quando alguém me segurou. Olhei para a pessoa e o moreno me deu um sorrisinho.
— Obrigada. — Disse, de forma sucinta.
— Não precisa agradecer, gata. — Ele respondeu com um sorriso.
Não sei por que, mas tenho a sensação de que conheço esse cara.
— Amiga, que gato. — Luanna disse, abanando-se.
— Verdade, mas nós duas não deveríamos estar olhando outros caras, porque já estamos comprometidas.
— Quero falar com você sobre isso, amiga. Sei que você ama o João Miguel, mas pense bem.
— Por que está me dizendo isso?
— Sinto que você se entrega demais nesse relacionamento, e não vejo reciprocidade da parte dele.
Olhei para minha amiga, e ela me abraçou, dizendo que eu deveria apenas pensar. A hora de embarque dela chegou, e uma lágrima caiu dos meus olhos. Nem acredito que vou ficar sem minha melhor amiga.
Tenho fé de que um ano vai passar rapidinho e logo estaremos juntas novamente. Cheguei em casa, mas Jarbas e Carol não estavam. Eu precisava dos conselhos dela, então liguei para um restaurante chinês e pedi comida. Após me alimentar bem, fui dormir. No dia seguinte, acordei com Carol me chamando. Ela disse que algumas garotas vieram me procurar para fazer compras, e me arrumei às pressas.
— Onde você pensa que vai com tanta pressa, mocinha? — Carla perguntou.
— Esqueci que hoje é o lançamento da nova coleção do Jean Paul.
— Sente-se e tome café, mocinha. — Disse ela, mas eu não estava com fome. Não adiantou, Carol me fez comer.
Após o café, dei um beijo nela e chamei Jarbas para me levar. Durante o trajeto, ele me deu uma bronca, e eu fiquei quieta, apenas ouvindo. Quando finalmente chegamos, me despedi e entrei. Me sentei com minhas amigas e assistimos ao desfile que era perfeito. Assim que terminou, corri para garantir algumas peças exclusivas.
— Você tem outro cartão? — A atendente perguntou. — Sim, mas o que há de errado com esse?
Ela não respondeu, entreguei o outro cartão, e ela me devolveu.
— Desculpe, mas está dando como não autorizado. — Ela disse, e eu a olhei em choque.
Pedi a ela que tentasse passar o cartão mais três vezes, mas o resultado foi o mesmo. As meninas olharam para mim sem entender, e eu estava prestes a ligar para Jarbas quando meu celular tocou e Carol me mandou voltar para casa imediatamente.
Ao chegar, me deparei com a polícia e algumas pessoas que não conhecia.
— O que está acontecendo aqui? — Perguntei, confusa.
— Ainda bem que você chegou, meu bem. Esses homens vieram te expulsar da casa, pois ela foi vendida.
— Como assim? Moço, me explique melhor. Como minha casa pode ter sido vendida se eu não coloquei nenhum anúncio?
Um advogado me entregou um papel que mostrava a venda da casa. Olhei para a assinatura e vi que era do meu tio.
— Eu sou o representante legal. O senhor Arthur Duarte vendeu a casa, a empresa e os carros. Além disso, você não pode levar nada além das roupas.
— Isso é uma piada, tio Arthur. Onde estão as câmeras? Isso deve ser uma pegadinha.
— Isso não é uma pegadinha. Você tem meia hora para pegar suas roupas. Um policial irá acompanhá-la para garantir que você não leve nada a mais.
Isso parece um verdadeiro pesadelo. Como meu tio pôde fazer algo assim? Meus pais confiaram minha tutela a ele.
Carol me levou para meu quarto e me ajudou a fazer a mala. O policial disse que eu não poderia levar minhas joias, pois elas estavam anexadas à venda. Jarbas distraiu o policial, e eu consegui colocar algumas joias na mala. Quando terminamos, eles pediram que entregasse as chaves e saísse de casa. Jarbas colocou minhas coisas em seu carro, e eu comecei a chorar, pois não tinha para onde ir.
— Jarbas, Carol, para onde vou? Não tenho parentes, o que farei da minha vida? — Abraçei Carol, que retribuiu o abraço.
— Claro que você tem para onde ir. Vamos levá-la para nossa casa.
— O quê? Qualquer coisa, menos morar na favela. — Disse, afastando-me dela.
— Stephanny, você não tem outra opção. Ou você vem conosco, ou fica na rua. A decisão é sua.
— Mas na favela só tem bandidos, tirando vocês, é claro.
— Isso não é verdade, mocinha. Na comunidade também há pessoas de bem, assim como nós. Não seja preconceituosa.
Carolina me repreendeu, e Jarbas a apoiou. Como não tinha outra opção, resolvi ficar na casa deles.
Assim que chegamos à subida do morro, um homem estranho olhou para dentro do carro, e eu me agarrei a Jarbas e Carol. Ele perguntou meu nome, e Carol respondeu por mim, dizendo que eu ficaria em sua casa. O homem olhou para mim novamente e deu um sorriso.
— Bem-vinda ao morro, só Sapoti, princesa. — Ele piscou para mim, e eu me agarrei ainda mais a Carol.
— Sardinha, quero que você respeite a Steph, assim como respeita minha filha. Entendido? — Jarbas disse, sério, e o homem levantou as mãos em sinal de rendição.
Enquanto subíamos, as pessoas olhavam para mim como se eu fosse o novo "bichinho" da família. Isso realmente me amedrontava. Carol disse que eu não precisava ter medo, mas é difícil ficar bem nesse lugar. Como eu, Stephanny Giacomelli Duarte, imaginei que viveria em um lugar assim?
Chegamos e retiramos todas as malas. Jarbas me chamou, e quando entrei, olhei ao redor e sinceramente não sei o que dizer. A sala deles era bem menor que o meu quarto. Perguntei onde seria o meu quarto, e Carol olhou para Jarbas.
— Você vai dividir o quarto com a Manuella. Por favor, Steph, não arrume confusão com ela.
Dei de ombros e disse que tudo bem.
Carol me levou até o quarto, que era minúsculo. Vi uma beliche e ela avisou que eu poderia ficar com a cama de cima. Perguntei onde poderia colocar minhas coisas, e ela arrumou um espaço no guarda-roupa. Eu sabia que só conseguiria colocar algumas roupas ali. Carol, sendo a boa pessoa que é, arrumou minhas coisas enquanto eu ia tomar banho. Coloquei um roupão e me deitei para descansar. Este dia não poderia ter ficado pior?
— Steph, vem comer alguma coisa. – Jarbas me chamou, mas eu neguei. — Quero apenas um suco de laranja com mel. – Respondi e fechei os olhos.Um tempo depois, Carol se aproximou e me entregou o copo. Ela disse que eu precisava comer algo, mas mais uma vez disse que não estava com fome. Tomei o suco e entreguei o copo de volta a ela. Peguei meu celular para enviar uma mensagem para João, mas ele disse que não podia falar no momento, pois estava em reunião. Pensei em ligar para minha amiga, mas ela estava tão feliz com a oportunidade que não queria incomodá-la. Felizmente, tenho Jarbas e Carol comigo, senão me sentiria ainda mais sozinha. Olhava para o teto quando Manuella chegou, jogou a bolsa na cama e antes de sair se virou para mim, surpresa.— O que você está fazendo aqui? – Ela perguntou, fazendo careta.— Pelo que sei, agora moro aqui – respondi, mas Manuella saiu batendo a porta do quarto e logo ouvi sua voz alta brigando com seus pais.Levantei-me e fui para a sala, onde ela es
Já se passou um mês desde o golpe que sofri, e eu permanecia na cama, mal comia, mal dormia. Perdi todas as minhas amizades, exceto Luanna, que queria voltar para ficar comigo, mas eu recusei. Disse a ela que deveria seguir seu sonho, afinal, ela lutou muito para consegui-lo. Carol e Jarbas tentavam me animar, mas nada que eles falavam parecia surtir efeito. Jarbas conseguiu um novo emprego como motorista, e Carol continuava procurando emprego, me sinto tão culpada por tê-los deixado sem emprego, sabe, os dois sempre foram maravilhosos comigo e agora aconteceu isso com eles, minha vida está um verdadeiro caos, tenho vontade de jogar tudo para alto e xingar tudo e a todos, logo mudei meu pensamento, pois lembrei que meus pais diziam que por mais que as coisas estivem difíceis não poderia ser hostil com as pessoas, vocês me fazem tanta falta, tenho certeza que se estivessem aqui nada disso estaria acontecendo. Estava deitada quando Carol tocou meu ombro e pediu para eu buscar pão. Ela m
Guilhermo (Gui)*Aí, patrão, o morro tá sussa, os canas já levaram o dinheiro.* – Rak me avisou e o mandei ir para uma biqueira fazer a cobrança. As pessoas acham que ser dono de um morro e líder de uma facção criminosa é fácil, mas isso é fácil. Há quem me estereotipe pensando que sou um criminoso que não sabe falar português, mas, ao contrário do que pensam, sou alguém que estudou muito. No começo, tentei não me envolver com essas coisas, mas quando um morro rival matou covardemente meu pai, soube que esse era o meu destino.Meu pai batalhou muito por este morro, e eu não posso simplesmente deixá-lo para qualquer filho da puta tomar. Minha mãe era uma vadia qualquer que nos abandonou a mim e a minha irmã sem pensar duas vezes. Meu pai, mesmo sendo traficante, cuidou de nós e foi um pai bom e presente. Ele amava este morro mais do que a própria vida.Estudei, fiz cursos, faculdade. Enfim, sou alguém bem preparado. Hoje estou animado, pois minha irmã finalmente está voltando após doi
Stephanny GiacomelliColoquei todas as minhas dores para fora, sentada em um meio-fio com um cara completamente estranho. Olhei para a camiseta dele, molhada pelas minhas lágrimas, e me desculpei.— Não sei por que tudo isso está acontecendo comigo. Sou uma boa pessoa, nunca ri de pessoas pobres, sempre ajudei os menos favorecidos, fiz doações para o Criança Esperança e o Teleton. Por que estou sendo punida pelo universo? Não posso ser tão ruim assim, não é? – Perguntei, percebendo que estava falando demais, e me desculpei mais uma vez.— Não tem problema, gata. Me chamo Guilhermo Fernandes.— Muito prazer, sou Stephanny Giacomelli Duarte. – Limpei minhas lágrimas com as costas da mão. — Devo estar parecendo um urso panda, não é?Perguntei a ele, que negou, mas tinha certeza de que estava mentindo. Proibi minhas lágrimas de rolarem e me levantei, mas logo senti uma dor no joelho e me sentei novamente. Quando percebi, meu joelho estava ralado, assim como meus braços. Senti dor em algum
— Sei que você é dono do morro, mas tem que trazer esse trambolho para a mesa – Ju diz soltando uma lufada de ar, e nesse momento fico ainda mais perdida. — Acho que meu irmão esqueceu de te contar que ele é dono do morro.— Você é o tal do Gui que todos falam? – Pergunto surpresa e ele confirma. — Você é muito diferente do que imaginei.— Pois é, as pessoas acham que todo dono de morro usa correntes de ouro gigantescas e não sabem falar o português de maneira correta. – Nesse momento, fiquei muito sem jeito, pois era exatamente isso que eu pensava, Julia viu o meu semblante e soltou uma gargalhada o que me deixou ainda mais desconfortavel. — Relaxa, Steph, você está acostumada ao que vê nos filmes, é normal e compreensível. — Minha irmã está certa. – Gui sorriu para mim o que me deixou um pouco mais tranquila, imagina se eu falo algo inapropriado e ele me mata? Realmente não dá para julgar um livro pela capa. — Você também não é o tipo de patricinha que os filmes retratam. – Ju, d
Estava conversando animadamente com Giovanna quando Júlia chegou em sua moto. Ela me pediu desculpa por ter esquecido de passar seu número, e eu disse que estava tudo bem. Ju me passou um capacete e me mandou subir em sua moto, e foi o que eu fiz. Rapidamente chegamos à loja, que era bem grande. Contei toda a minha história a Fabiana, que foi super legal e me deu um emprego. Agradeci muito às duas e voltei para casa animada. Contei a novidade a Carol, que ficou feliz por mim. Pedi a ela que me ensinasse a varrer a casa, e ela me mandou trocar de roupa e pôr algo bem confortável. Então, peguei uma roupa emprestada de Manu, torcendo para que ela não achasse ruim.— Segura a vassoura desse jeito e varre assim. – Carol me dava instruções, e eu me sentia uma idiota, mas ela me tranquilizou, dizendo que é assim mesmo.Depois de quebrar um bibelô, olhei para a sala varrida e me senti orgulhosa. Nem acredito que consegui fazer isso. Carol olhou para mim orgulhosa e me chamou para seu quarto.
Manuella me acordou, e levantei com a maior preguiça do mundo. Fui tomar banho, já de banho tomado e devidamente vestida, Carol preparou o café para nós. Jarbas, Manu e eu nos despedimos e fomos para nossos destinos. Jarbas me ofereceu uma carona, e eu sabia que se aceitasse, ele se atrasaria, já que ainda levaria a Manu.Fui para o ponto de ônibus, que estava repleto de pessoas. Fiquei aguardando até aparecer o ônibus que precisava pegar, e neste momento me arrependi de não ter aceitado a carona oferecida por Jarbas. Só espero que ninguém me reconheça, ou será um grande problema. Agora sei como as sardinhas se sentem dentro da lata, pois me sinto exatamente igual. As pessoas me empurravam ao passar e olhavam para mim irritadas. Assim que chegou o meu ponto, gritei para o motorista parar, mas ele passou direto. Gritei mais uma vez, e uma senhora simpática me disse que eu deveria ter apertado a cigarra. Perguntei a ela o que era isso, e ela me apontou a cordinha. Outra menina olhou par
Hoje é sexta-feira e, depois de um dia cansativo de trabalho, estava me arrumando para o baile. Manu e eu estávamos prontas para sair quando Jarbas e Carol nos chamaram e nos deram uma série de recomendações. Eles me mandaram ficar atenta e jamais abandonar o meu copo sozinho.— Pai, mãe, relaxem. Eu vou cuidar da Steph. Agora temos que ir, beijos. – Manu cortou os pais, e antes de sairmos, nos despedimos.Giovanna estava agarrada com um cara que descobri ser D.L., seu namorado e sub-dono do morro. Pensei que iríamos a pé, mas logo duas motos apareceram, e os meninos nos mandaram subir. Durante o breve trajeto, conheci Patrick, um cara bem legal que me fazia rir. Quando chegamos à entrada do evento, ele me deu um beijo no rosto e disse que me encontraria na pista. Não sou uma garota de baladas e festas com música alta. Só fui à balada duas vezes na vida. Ao entrar no local, o choque de realidade tomou conta de mim, e me perguntei o que estava fazendo ali.Manuella e Giovanna me puxara