Capítulo 2 - Lia

Dias depois...

Dias depois que perder meu pilar, minha vida ainda se encontra em grangalhos, ainda não conseguir entrar em casa, mesmo tendo dona Flor e o delegado Tavares ao meu lado, não consigo entrar, não consigo nem chegar perto de lá, o delegado ainda não descobriu nada sobre o homem que ofereceu proposta de compra do sítio, segundo ele, esse homem deve ter alguma ligação com o assassinato de minha avó e se realmente ele estiver certo, em algum momento ele aparecerá com uma nova proposta.

Seguindo esse rumo, ele realmente deve está certo, a casa já está limpa, doei todos os movéis, inclusive os animais, alguns fazendeiros não quiseram aceitar e sim comprar, segundo eles não era justo comigo e o dinheiro poderia me ajudar. Aceitei, mas por que eles insistiram muito, mesmo dizendo que tinha uma poupança razóavel, ainda assim eles se dividiram e compraram todos os animais.

Decidir que essa cidade não me cabe mais, não há mais nada para mim aqui, prometi a minha avó que iria me cuidar e que ela se orgulharia de mim, é isso que vou fazer, vou deixar tudo para trás, vou embora. Não falo com ninguém, nem mesmo com o delegado ou dona flor, deixo apenas uma carta explicando os motivos de ir embora, digo que não consigo mais ficar, deixo que claro que ele me prometeu que o assassinato de minha avó não ficaria impune e iria cobrá-lo de onde quer que esteje.

Arrumo minha pequena mala, ainda sem rumo, acho que vou para o Rio de Janeiro, minha avó amava o mar, sempre que podíamos íamos dá um mergulho no mar, a viagem era longa, porém satisfatória, voltávamos renovadas. E é com o sentimento de esperança que embarco nesse ônibus, pretendo nunca mais voltar nessa cidade onde meu coração foi desdaçado mais de uma vez.

A viagem até a rodoviária não é longa, leva apenas 30 minutos, de lá viajo por 8 horas até o aeroporto de Aracaju, e viajo mais 2 horas e 25 minutos até a cidade maravilhosa. Durante todo o trajeto choro, algumas pessoas pergunto se estou bem, ai tenho que explicar o motivo do choro, acabando fazendo outras pessoas chorarem também.

Por volta de 6 da tarde chego no Rio, sem rumo, pois não sei pra onde ir. Apanho celular da bolsa e pesquiso (lugares seguros para se ficar no Rio de janeiro) parece até leseira da minha parte, mas aparecem tantos hotéis, pelas imagens são hotéis caros, apesar de ter algum dinheiro, não posso me dá ao luxo de sair esbanjando, como dizem ''o dinheiro não aguenta desaforo'' e é exatamente isso que faço procuro por pensões e pousadas, nessas pesquisas acabo por achar uma pousada bem charmosa, e com preço acessível, rapidamente baixo o app da Uber, coloco o endereço da pousada e torço para que dê tudo certo.

Logo o motorista do app chega, a viagem é um pouco longa mais por conta do trânsito, em pouco mais de 40 minutos estamos em Copacabana, no Solar Hostel, aparece aconchegante, já havia feito a reserva pelo internet, e agradeci aos céus por isso, pois assim que coloquei os pés na recepção a moça diz que não há mais vagas, o que não me surpreende pois estamos em Dezembro, o natal é daqui a três dias, então os hotéis, pousadas ou pensões com certeza estarão lotadas.

- Desculpe moça, mas já tenho reserva - explico ela assente.

- Identidade - pede.

- Entrego a ela meu Rg, ela digita no computador e olha pra mim, já sei o que vai dizer.

- Você é menos - conclui.

- Sou emancipada, pode vericar, cpf - digo e assim ela faz, no instante seguinte ela me entrega uma chave.

- Café da manhã é as 7 até 8, nesse folheto contém informações sobre refeições e condutas, se for ficar mais dias além do reservado, informar com 1 dia de antecedência por favor - diz me entregando um papel.

- Ok.

A moça me guia até meu quarto, ao entrar me deparo com um quarto até que aconchegante, guardo minha mochila em um armário que há ali, não trouxe muita coisa apenas algumas peças de roupas, documentos importantes e um par de sapato,

Me sinto muito cansada, estou com fome, mas sem forças para procurar algo pra comer, então o que me resta é tomar um banho e me jogar na cama, durmo a noite inteira e quase o dia inteiro seguinte, só acordo por que a moça da recepção vem verificar se estou viva, pois apenas entrei no quarto, ela não me viu sair nem pra comer.

- Oi - digo ao abrir a porta e me deparar com a moça da recepção.

- Graças - ela diz aliviada - olha garota aqui não é permitido uso de drogas ouviu bem? - por um momento acho que não ouvi direito.

- Oi?

- Vim verificar se você estava viva, já são quase 20 horas, e em nenhum momento vimos você descer pra comer - explica, agora entendo, ela acha que passei a noite de ontem e hoje me drogando, pelo amor de Deus, será que não se pode nem mais dormi.

- Pode ficar despreocupada, não sou usuária de drogas, só estava dormindo mesmo, se quiser pode entrar e verificar - abro caminho para que entre e assim ela faz, atestando que realmente estou dizendo a verdade.

- Desculpa - pede meio envergonhada - mas estava realmente preocupada.

- Sem problemas entendo seu ponto.

- Olha se quiser comer o jantar ainda está sendo servido - diz e minha barriga ronca alto no mesmo momento, nós duas rimos.

- Ok, já desço -  digo e fecho a porta.

Não consegui ficar brava com ela, pois realmente a deixei preocupada e gostei do gesto de vir me verificar. Sigo seu conselho, tomo um banho rápido e desço para comer algo, a comida estava boa, nunca tive frescura para comer, minha avó me ensinou a comer de tudo, só de pensar nela, meus olhos enchem de água, respiro fundo e termino meu jantar.

Dormir por quase dois dias e ainda me sinto cansada e com sono, por isso subo novamente e volto a dormi, dessa vez acordo cedo, as 6 estou de pé, admirando o dia, que por sinal vai ser ensolarado, RJ é uma cidade de clima tropical, não sei muito o que fazer por aqui, por isso decido ir perguntar a moça da recepção.

- Olá Bom dia - digo ao me aproximar dela.

- Bom dia mocinha, acordou cedo hoje, achei que fosse ibernar novamente -  e com esse comentário ela me arranca uma risada sincera, a primeira de muito tempo.

- Também pensei - rio - mas não, o que se tem pra fazer nessa cidade em fim de semana? - pergunto ela me olha de cima a baixo, faço o mesmo que ela em mim mesma.

- Bom você precisa de um solzinho, tá parecendo a mortiçia adamms - gargalho - nunca veio ao Rio?

- Já - recordo-me de quantas vezes estivemos aqui, a moça percebe algo.

- Você está bem?

- Sim -  a moça assente.

- A propósito me chamo Carolina, mas pode me chamar de carol - apresenta-se.

- Lia - aperto sua mão.

- Vou seguir seu conselho - digo já ajeitando a mochila na costa.

- Certo, vá em segurança - diz e aceno em concordância - ei... - grita já longe - não esqueça de se alimentar, vi que não tomou café da manhã - diz e sorrio de seu zelo, ainda se pode encontrar pessoas gentis nesse mundo.

Estou perto da praia de Copacabana, o lugar onde minha avó amava visitar, como é nostálgico estar neste lugar, luto contra a vontade de chorar, preciso parar de ser maria chorona e chorar em todos os lugares, compro uma água de coco, sento-me na areia e contemplo o mar revolto.

- Lindo não acha? - me assusto com a pergunta, pois estava tão perdida em pensamentos que não percebi alguém sentar ao meu lado - desculpa pelo susto, não foi minha intenção - levo minha mão ao peito.

- Que susto - digo, o homem parece sem graça.

- Desculpa.

- Sem problemas, estava distraída mesmo, e sim, essa vista é linda - continuo comtemplando o mar sem olhar para o lado.

Acho que o homem percebe que não quero conversa, pois se retira. Fico mais alguns minutos somente eu e o mar, até decidir ir embora. Volto para o hostel já quase na hora do almoço Carol está no seu lugar de sempre.

- Olha quem voltou, agora mais coradinha - ri - almoço já está sendo servido - aviso e me encaminho para o restaurante.

- Indo - falo fazendo continência.

Como, como se não houvesse o amanhá, a comida estava muito boa novamente, agora de buchinho cheio, passo pela recepção e dou duas batidinhas na barriga para Carol vê o quanto comi.

- É isso garota - diz e faz um sinal de legal, apenas sorrio.

Subo as escadas rumo ao meu quarto, ao tirar o celular da bolsa percebo várias ligações do delegado e resolvo retornar, ele atende no segundo toque.

- Oi Delegado, me ligou?

- Sim Lia, encontramos o homem, vou lhe enviar uma foto e preciso que você me confirme se esse o mesmo homem que esteve em sua casa meses atrás.

- Ok.

Logo em seguida o w******p toca, abro a mensagem e meu sangue gela, esse é o homem.

- Sim delegado este é o mesmo homem que esteve em minha casa - confirmo.

- Ok Lia, fique no aguardo de mais informações, lhe manterei informada.

- Ok delegado.

- E como você está?

- Bem.

- Ok então, ah... tem algumas pessoas perguntando se você vai vender seu sítio.

- Diga que não delegado, não está a venda. Só preciso que se o senhor puder ache alguém para manter o local preservado, não se preocupe pagarei - digo.

- Ok Lia - diz e desliga.

Não é segredo para a cidade que minha familia tinha algum dinheiro, depois do falecimento do meus pais, eles me deixaram uma pequena herança, que só pude mexer quando pedir minha emancipação, boa parte investi no sítio e era mais uma fazenda, era daquelas terras que vinha nosso sustento, o meu e de minha avó, tínhamos três funcionários que nos ajudavam, e nós cinco tocávamos aquilo tudo, eu entre estudo e cursinhos também ajudava na lida e amava aquela vida, não pensava nunca deixar aquele lugar.

Com a venda dos animais, tenho dinheiro o suficiente para viver por um tempo, sem me preocupar, mas como ja diziam ''dinheiro não aguenta desafaro'' dinheiro acaba se gastar inconsequentemente, vou esperar acabar esse ano e decidir o que vai ser da minha em janeiro.

É isso!

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo