Clara
Clara acordou sentindo a luz suave da manhã a invadir o seu quarto em Málaga. O céu estava azul claro e o sol prometia um dia quente e luminoso. Deitada na cama, os pensamentos sobre os encontros com Lucas assombravam-lhe a mente. Será que estava realmente disposta a envolver-se com alguém novamente? A sua última experiência amorosa tinha sido uma grande desilusão, e ela ainda sentia as cicatrizes emocionais.
Ela lembrou-se de Pedro, o homem que pensava ser o seu grande amor. No início, ele parecia perfeito – atencioso, carinhoso e apaixonado por tudo o que ela representava e até pela sua arte. No entanto, ao longo do tempo, ele mostrou-se controlador e ciumento, e acabou daquela forma desastrosa com um cenário de arrepiar que ela nem se queria lembrar. Depois disso, Clara prometeu a si mesma que tão depressa não se deixaria prender numa relação que apagasse a sua essência e dificilmente voltaria a acreditar plenamente em alguém. A desilusão foi profunda e ainda estava a tentar reconstruir a confiança em si mesma e nos outros.
Mas Lucas parecia diferente. Desde o primeiro olhar, havia algo nele que a atraía de uma maneira que ela não conseguia ignorar. Ele era um homem das artes, alguém que talvez a entendesse melhor do que Pedro jamais entenderia. Havia uma sensibilidade e uma paixão em Lucas que despertavam algo dentro dela. Mas, ao mesmo tempo, surgiam dúvidas.
Será que a estadia de Lucas em Málaga era apenas para procurar inspiração ou ele estava também a fugir de algo? A forma como ele mencionou o seu bloqueio criativo e a procura por novas histórias fez Clara questionar as verdadeiras intenções dele. Era muita coincidência ambos procurarem inspiração no mesmo lugar. Talvez ele estivesse a fugir dos seus próprios demónios, assim como ela estava a tentar encontrar um novo caminho para si mesma.
Mas Clara não conseguia negar a energia e tensão que existia entre ambos, aquela sensação física, carnal, era maravilhosa e estava a ser tão difícil fazer parar esse caminho. Deitada na cama, Clara fechou os olhos e deixou-se levar pelas memórias do dia anterior. A forma como os olhares de Lucas penetravam nos seus, como o seu sorriso parecia iluminar toda a sala. Cada gesto dele era carregado de uma intensidade que ela não sentia há muito tempo.
Até o toque dos lençóis deram asas à sua imaginação, a sensação de calor do sol a bater, quase sentia que era Lucas a tocá-la. Lembrou-se do calor do corpo dele quando a segurou na galeria, os seus rostos a centímetros de distância. Como seria sentir os lábios dele nos seus, o toque das suas mãos explorando o seu corpo? A simples ideia fez com que sentisse um arrepio percorrer-lhe a espinha, e uma sensação de calor e desejo começou a tomar conta dela.
Ela permitiu-se imaginar o que aconteceria se não tivessem sido interrompidos pelos turistas. Talvez Lucas a tivesse puxado para mais perto, os seus corpos se encaixando perfeitamente, os lábios dele encontrando os seus num beijo profundo e ardente. Clara imaginou as mãos de Lucas deslizando pelo seu corpo, explorando cada curva, cada contorno, enquanto ela se entregava ao prazer que ele provocava.
O pensamento de Lucas a beijar o seu pescoço, descendo lentamente até aos ombros, fazia com que o seu corpo se arqueasse ligeiramente na cama, a respiração tornando-se mais pesada. Clara passou as mãos pelo seu próprio corpo, tentando recriar a sensação que imaginava ser tocada por ele. Os seus dedos traçaram um caminho suave pelo seu pescoço, descendo até ao peito, os mamilos endurecendo ao menor toque.
Ela mordeu o lábio inferior, tentando conter um gemido, enquanto a sua mente continuava a desenhar cenários de pura paixão com Lucas. Sentiu as mãos descendo pela barriga, cada toque mais urgente, mais necessitado. E se Lucas estivesse ali, ao seu lado, a beijar cada parte do seu corpo, fazendo-a sentir-se desejada e adorada?
Não, não podia continuar a criar uma ilusão, uma fantasia com algo tão desconhecido que embora parecesse muito certo, era ao mesmo tempo tão arriscado… Quando finalmente abriu os olhos, o quarto parecia mais quente, mais cheio de promessas não realizadas. Clara sabia que tinha que manter o foco na sua arte, mas não podia negar a intensidade dos sentimentos que Lucas despertava nela. Talvez fosse possível conciliar os dois mundos – a paixão e a inspiração – numa só história.
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Lucas
Enquanto Clara estava imersa nos seus pensamentos e fantasias, Lucas caminhava pela praia, ouvia o som das ondas a bater suavemente na areia proporcionando-lhe uma sensação de paz que há muito não sentia. O encontro com Clara tinha deixado uma marca indelével na sua mente e no seu coração. Desde o primeiro olhar, sentira uma conexão inegável, algo que o puxava irresistivelmente na direção dela.
Lucas estava feliz pelo novo momento de inspiração. A escrita fluía novamente, e as ideias surgiam como nunca antes. Clara tinha despertado algo nele, que ele pensava estar perdido para sempre. No entanto, juntamente com a excitação e a alegria, vinha o medo. Um medo profundo e persistente de repetir os mesmos erros do passado.
A última musa de Lucas, que deu inspiração para três loucos livros, tão intensos como a relação de ambos, tinha transformado a sua vida num caos. Ela era uma mulher dominadora, habituada a liderar o mundo dela, o relacionamento deles tinha sido marcado por sedução, ciúmes, inseguranças e muitos riscos. O tumulto emocional que se seguiu afetou não só a sua vida pessoal, mas também a sua carreira. Lucas ainda se lembrava do desespero e da necessidade de se afastar. De se sentir completamente preso e sufocado na espiral de uma vida boémia, desregrada e de fantasia louca que tiveram, sentimentos que ele não queria reviver.
Ele não queria ter de se expor e contar a Clara tudo o que acontecera, mas também tinha medo que o passado o voltasse a encontrar, pior, que os mesmos padrões se repetissem e que ele acabasse magoado novamente. Mas havia algo em Clara que o fazia acreditar que ela não era assim. Havia uma sinceridade, uma pureza no seu olhar que o fazia sentir-se seguro e desejado. E ele acreditava que tinha aprendido com os erros.
Lucas sentou-se num banco de madeira, olhando para o horizonte. A imagem de Clara não saía da sua mente. O sorriso dela, o brilho nos seus olhos quando falava da fotografia, a maneira como o toque dela fazia o seu coração bater mais rápido. Ele sabia que a vontade e o desejo de estar com ela eram imensos. Queria conhecê-la melhor, explorar a conexão que tinham sentido, viver agora a intensidade de um relacionamento sereno, com desejo, mas seguro e reservado.
Mas como podia proteger-se e, ao mesmo tempo, deixar-se levar pelo desejo? Lucas sabia que não podia deixar o medo dominar as suas ações. Precisava ser corajoso, enfrentar os seus demónios e dar uma oportunidade a esta nova possibilidade. Clara era diferente, e ele sentia que juntos poderiam criar algo belo, algo que transcendia a dor do passado.
Com esses pensamentos, Lucas pegou no seu caderno e começou a escrever. As palavras fluíam, inspiradas pela imagem de Clara. Ele descreveu os sentimentos de desejo e paixão, a intensidade do olhar dela, a suavidade do toque. Cada palavra era uma homenagem à musa que tinha encontrado em Málaga, uma mulher que, mesmo sem saber, estava a transformar a sua vida.
O sol começava a subir no céu, iluminando a praia e trazendo consigo a promessa de um novo dia. Lucas sabia que tinha que ser honesto consigo mesmo e com Clara. Com determinação renovada, Lucas levantou-se do banco e começou a caminhar de volta para a cidade. Sabia que tinha uma decisão a tomar, uma escolha que poderia mudar tudo. E, no fundo do seu coração, estava pronto para arriscar, pronto para deixar que a paixão e a inspiração se fundissem numa nova história, uma história que ele e Clara escreveriam juntos.
Lucas estava cheio de confiança e expectativa enquanto caminhava pelas ruas de Málaga em direção ao apartamento de Clara. O sol brilhava intensamente, e o ar estava impregnado com o aroma doce das flores dos mercados locais. Ele sabia que desta vez seria diferente. Estava determinado a fazer com que tudo fosse mais leve, sem os dramas que tinham marcado as suas relações passadas. Não podia ser coincidência que ambos tivessem encontrado inspiração no mesmo lugar e ao mesmo tempo. Tudo parecia estar alinhado para que algo melhor acontecesse entre eles.Quando finalmente chegou ao prédio de Clara, Lucas respirou fundo e subiu as escadas com passos decididos. Ao chegar à porta do apartamento, bateu levemente e aguardou. A porta abriu-se quase de imediato, revelando Clara com um sorriso caloroso no rosto.— Olá, Lucas. Entra, fica à vontade — disse ela, movendo-se para o lado para que ele pudesse passar.Mas antes que Clara pudesse dizer mais alguma coisa, Lucas não conseguiu conter a torr
— Está tudo bem, Lucas? — perguntou Clara, notando a mudança repentina na expressão dele.Lucas piscou, tentando disfarçar o nervosismo. Guardou o telemóvel no bolso e forçou um sorriso.— Sim, claro. Só... só me lembrei de algo que preciso resolver. Desculpa, Clara, mas tenho que ir — disse ele, tentando manter a voz estável.— Oh... claro, entendo. Se precisares de alguma coisa, estou aqui — respondeu Clara, um pouco confusa e desapontada com a súbita mudança.Lucas inclinou-se para dar um beijo rápido na bochecha de Clara e saiu apressadamente do estúdio, o coração a bater descontroladamente. A mensagem trouxe à tona todos os seus medos e inseguranças, e ele sabia que precisava de encontrar uma maneira de lidar com isso antes que o passado o consumisse novamente.Enquanto descia as escadas do prédio, Lucas sentiu um nó no estômago. Não podia deixar que isso arruinasse o que estava a começar com Clara, mas sabia que tinha que ser honesto consigo mesmo e enfrentar os seus demónios. E
Lucas saiu apressadamente do estúdio de Clara, o coração ainda a bater descontroladamente. Caminhava pelas ruas de Málaga, perdido em pensamentos, a angústia a apertar-lhe o peito. A mensagem de Rita tinha-lhe trazido uma onda de pânico que ele não conseguia controlar.Sabia que não se conseguiria esconder para sempre e que, mais cedo ou mais tarde, voltaria a encontrar Rita. Mas tinha esperança de que, quando esse momento chegasse, ela já tivesse encontrado outro alvo para a sua vida louca. Rita não era mulher de viver dependente de ninguém e nem iria ficar tanto tempo sozinha sem alguém que ajudasse a alimentar as suas fantasias.Mas Lucas conhecia bem o lado sombrio de Rita. Ela estava tão habituada ao poder e a ganhar que não devia conseguir lidar com o facto de ele a ter deixado. As tentativas de lhe explicar que não conseguia continuar a viver naquele ritmo tinham sido inúteis. Foram tantas as conversas, tantas as noites em que ele tentava fazê-la entender que, embora a experiên
Rita era uma mulher dominadora em todos os aspectos da sua vida, quer no mundo dos negócios, quer na sua vida pessoal. Para ela, era impensável sentir que não era a melhor ou que alguém a deixaria. O poder e o controle eram as suas maiores armas, e ninguém ousava desafiá-la. No entanto, a recente rejeição de Lucas tinha acendido um rastilho na sua pólvora interna, algo que ela não estava disposta a tolerar.A relação com Lucas já estava a esgotar a sua paciência. Ele era uma peça interessante no seu jogo, um desafio que havia dominado com maestria. Mas, como tudo na vida de Rita, ela sempre precisava de novos desafios, de novas conquistas para manter a sua mente e corpo estimulados. Quando Lucas começou a afastar-se, a rejeitar as suas investidas, sentiu uma fúria que há muito não experimentava.Para Rita, a rejeição de Lucas não era apenas um insulto pessoal; era uma afronta ao seu domínio. Ela é que decidia quando e como uma relação terminava. A ideia de que Lucas, ou Ricardo, como
Quando Lucas entrou, ela observou-o por um momento antes de acenar-lhe para que se juntasse a ela. Ele parecia tenso, mas determinado. Exatamente como ela esperava. Levantou-se para cumprimentá-lo, os seus olhos fixos nos dele. No cumprimento, colou o seu corpo ao dele, fazendo a sua mão deslizar pelo peito de Lucas e descer até o sentir mais intimamente. Lucas ficou tenso e afastou-a, o desconforto evidente no seu rosto.— Parece que não tens saudades — disse Rita, sorrindo friamente, a voz carregada de insinuações.Sentaram-se à mesa, a tensão entre eles quase palpável. O jantar foi um jogo de guerrilha, cada movimento de Rita calculado para provocar e desestabilizar Lucas. Ela tocava-lhe levemente no braço ao falar, os dedos deslizando provocativamente, quer no corpo dele, quer dela. De vez em quando, deixava escapar comentários duplos, repletos de significados ocultos e fazia movimentos erotizados que faziam qualquer homem corar e trepar de desejo. Ela sabia como ninguém ser subti
Quando Rita percebeu a determinação nos olhos de Lucas, soube que precisaria mudar de estratégia. Não podia permitir que ele fosse embora sem que ela tivesse um trunfo. A sua mente ágil e manipuladora rapidamente formulou um plano. Decidida, terminou o jantar com um sorriso calculado e começou a convencê-lo a subir à suite.— Vamos subir para a minha suite. Lá teremos mais privacidade para falar — disse ela, levantando-se da mesa com uma graça confiante.Lucas, hesitante, balançou a cabeça.— Não, Rita. Já dissemos o que precisávamos dizer. Eu vou embora.Rita aproximou-se, o olhar frio e calculista.— Se te fores embora agora, faço um escândalo aqui mesmo. Ou, melhor ainda, envio uma mensagem à tua nova amiga. A Clara adoraria saber mais sobre o teu passado, não achas?A ameaça surtiu efeito imediato. Lucas sentiu-se encurralado e impotente. Respirou fundo, tentando manter a calma.— Está bem, subimos. Mas acabamos com isto de uma vez por todas — disse ele, a voz carregada de resigna
Era meio da tarde e Clara tinha programado uma sessão de fotos no mercado local. A cor das frutas, o movimento das pessoas e a arquitetura pitoresca deviam ser inspiradores, mas Clara não conseguia afastar os pensamentos sobre Lucas.Enquanto ajustava a lente para capturar uma senhora idosa vendendo flores, os pensamentos invadiram sua mente. "Por que Lucas foi embora tão de repente? O que o estava a atormentar tanto que ele mal conseguiu despedir-se?" A frustração e a incerteza estavam a corroer-lhe a calma habitual.Após a sessão de fotos no mercado, Clara dirigiu-se ao café favorito para editar algumas imagens. Sentou-se numa mesa junto à janela, onde a luz natural era perfeita para trabalhar. Mas, enquanto ajustava a exposição e o contraste das fotos, encontrava-se a olhar fixamente para a tela sem realmente ver as imagens. As mãos moviam-se automaticamente, mas a mente estava longe, perdida nas lembranças da última vez que viu Lucas."Ele parecia tão perturbado... O que será que
Rita percebeu que não voltaria a ter Lucas em pleno, mesmo que ele voltasse a ficar com ela já não seria o mesmo. Na verdade, nem ela queria ficar com ele, só queria ser dona da última palavra. Assim, elaborou um plano que passou à prática, tudo vivido naquele quarto enquanto Lucas dormia profundamente e sem imaginar o que viria depois.Rita acordou cedo e viu que Lucas ainda dormia profundamente. Levantou-se silenciosamente e ouviu o telemóvel dele tocar. Não resistiu a ver quem era e viu uma mensagem de Clara que dizia: "Bom dia Lucas! Espero que esteja tudo bem. Hoje teremos oportunidade de continuar o assunto de ontem?"Rita ponderou responder, mas pensou melhor e definiu outra estratégia. Guardou o número de Clara e apagou a mensagem. Partilhar a informação agora era demasiado fácil e rápido... a seu tempo voltaria a dar ar da sua graça e, quando lhe apetecesse, faria a sua magia para acabar com aquele casalinho sem sal. Voltou para a cama e fez que dormia à espera que Lucas acor