— Está tudo bem, Lucas? — perguntou Clara, notando a mudança repentina na expressão dele.
Lucas piscou, tentando disfarçar o nervosismo. Guardou o telemóvel no bolso e forçou um sorriso.
— Sim, claro. Só... só me lembrei de algo que preciso resolver. Desculpa, Clara, mas tenho que ir — disse ele, tentando manter a voz estável.
— Oh... claro, entendo. Se precisares de alguma coisa, estou aqui — respondeu Clara, um pouco confusa e desapontada com a súbita mudança.
Lucas inclinou-se para dar um beijo rápido na bochecha de Clara e saiu apressadamente do estúdio, o coração a bater descontroladamente. A mensagem trouxe à tona todos os seus medos e inseguranças, e ele sabia que precisava de encontrar uma maneira de lidar com isso antes que o passado o consumisse novamente.
Enquanto descia as escadas do prédio, Lucas sentiu um nó no estômago. Não podia deixar que isso arruinasse o que estava a começar com Clara, mas sabia que tinha que ser honesto consigo mesmo e enfrentar os seus demónios. E, por agora, isso significava afastar-se antes que a situação se tornasse ainda mais complicada.
Ao chegar à rua, Lucas respirou fundo, tentando acalmar-se. Ele precisava de pensar, precisava de encontrar uma solução. E, mais importante, precisava de proteger Clara de qualquer drama que pudesse surgir. Decidido, começou a caminhar rapidamente, procurando um lugar tranquilo onde pudesse refletir e planear os próximos passos.
No estúdio, Clara ficou a olhar para a porta fechada, preocupada com o que poderia ter acontecido. Sentia que algo estava errado, mas não sabia o que. Com um suspiro, voltou-se para a encomenda, tentando afastar os pensamentos negativos. No fundo, esperava que Lucas encontrasse uma maneira de lidar com o que quer que fosse que o estivesse a atormentar e que eles pudessem retomar de onde tinham parado.
Enquanto abria a caixa, não conseguia afastar a sensação de inquietação. As mãos de Clara tremiam ligeiramente enquanto tirava o conteúdo da encomenda. Tentou concentrar-se nas fotografias e nos novos acessórios de câmara que tinha encomendado, mas os pensamentos continuavam a voltar para Lucas e para a súbita mudança no seu comportamento.
"O que será que ele estava a esconder?", perguntou-se Clara. A imagem de Lucas ao ler a mensagem, o pânico nos seus olhos, não lhe saía da cabeça. "Será que ele está a fugir de algo? Ou talvez de alguém?"
Clara lembrou-se das suas próprias experiências passadas, da desilusão e dor que sofreu com Pedro. O que mais a magoava era a sensação de ter sido enganada, de ter confiado em alguém que a desiludiu profundamente. A ideia de passar por algo semelhante com Lucas era assustadora.
"Não posso envolver-me noutro relacionamento complicado," pensou Clara, a dúvida crescendo dentro dela. "Eu prometi a mim mesma que não iria deixar-me levar novamente por alguém que pudesse magoar-me. E se o Lucas for como Pedro? E se ele estiver a esconder algo que possa destruir tudo?"
Sentia uma mistura de tristeza e frustração. Clara queria acreditar que Lucas era diferente, que ele poderia ser a exceção, mas as dúvidas eram inevitáveis. A sua mente corria com cenários e suposições, cada um mais sombrio que o outro.
Talvez fosse melhor afastar-se agora, antes que as coisas se complicassem ainda mais. "Preciso de me proteger," disse a si mesma, tentando convencer-se de que era a decisão certa. "Não posso voltar a perder-me num relacionamento que pode acabar mal. Talvez seja melhor terminar isto agora, enquanto ainda tenho controlo sobre a situação."
No entanto, havia uma parte de Clara que resistia a essa ideia. Lembrava-se do olhar sincero de Lucas, da maneira como ele a fez sentir-se viva e inspirada. Mas essa parte estava a ser abafada pelo medo e pela desconfiança. Clara sabia que precisava de tempo para pensar, para decidir o que era melhor para ela.
Com um último olhar para a porta, Clara voltou-se para a sua câmara, tentando encontrar consolo naquilo que sempre lhe trouxe paz: a fotografia. Enquanto preparava o equipamento para uma sessão de fotos, decidiu que precisava de clareza. Precisava de respostas antes de tomar qualquer decisão final sobre o que fazer em relação a Lucas.
Lucas saiu apressadamente do estúdio de Clara, o coração ainda a bater descontroladamente. Caminhava pelas ruas de Málaga, perdido em pensamentos, a angústia a apertar-lhe o peito. A mensagem de Rita tinha-lhe trazido uma onda de pânico que ele não conseguia controlar.Sabia que não se conseguiria esconder para sempre e que, mais cedo ou mais tarde, voltaria a encontrar Rita. Mas tinha esperança de que, quando esse momento chegasse, ela já tivesse encontrado outro alvo para a sua vida louca. Rita não era mulher de viver dependente de ninguém e nem iria ficar tanto tempo sozinha sem alguém que ajudasse a alimentar as suas fantasias.Mas Lucas conhecia bem o lado sombrio de Rita. Ela estava tão habituada ao poder e a ganhar que não devia conseguir lidar com o facto de ele a ter deixado. As tentativas de lhe explicar que não conseguia continuar a viver naquele ritmo tinham sido inúteis. Foram tantas as conversas, tantas as noites em que ele tentava fazê-la entender que, embora a experiên
Rita era uma mulher dominadora em todos os aspectos da sua vida, quer no mundo dos negócios, quer na sua vida pessoal. Para ela, era impensável sentir que não era a melhor ou que alguém a deixaria. O poder e o controle eram as suas maiores armas, e ninguém ousava desafiá-la. No entanto, a recente rejeição de Lucas tinha acendido um rastilho na sua pólvora interna, algo que ela não estava disposta a tolerar.A relação com Lucas já estava a esgotar a sua paciência. Ele era uma peça interessante no seu jogo, um desafio que havia dominado com maestria. Mas, como tudo na vida de Rita, ela sempre precisava de novos desafios, de novas conquistas para manter a sua mente e corpo estimulados. Quando Lucas começou a afastar-se, a rejeitar as suas investidas, sentiu uma fúria que há muito não experimentava.Para Rita, a rejeição de Lucas não era apenas um insulto pessoal; era uma afronta ao seu domínio. Ela é que decidia quando e como uma relação terminava. A ideia de que Lucas, ou Ricardo, como
Quando Lucas entrou, ela observou-o por um momento antes de acenar-lhe para que se juntasse a ela. Ele parecia tenso, mas determinado. Exatamente como ela esperava. Levantou-se para cumprimentá-lo, os seus olhos fixos nos dele. No cumprimento, colou o seu corpo ao dele, fazendo a sua mão deslizar pelo peito de Lucas e descer até o sentir mais intimamente. Lucas ficou tenso e afastou-a, o desconforto evidente no seu rosto.— Parece que não tens saudades — disse Rita, sorrindo friamente, a voz carregada de insinuações.Sentaram-se à mesa, a tensão entre eles quase palpável. O jantar foi um jogo de guerrilha, cada movimento de Rita calculado para provocar e desestabilizar Lucas. Ela tocava-lhe levemente no braço ao falar, os dedos deslizando provocativamente, quer no corpo dele, quer dela. De vez em quando, deixava escapar comentários duplos, repletos de significados ocultos e fazia movimentos erotizados que faziam qualquer homem corar e trepar de desejo. Ela sabia como ninguém ser subti
Quando Rita percebeu a determinação nos olhos de Lucas, soube que precisaria mudar de estratégia. Não podia permitir que ele fosse embora sem que ela tivesse um trunfo. A sua mente ágil e manipuladora rapidamente formulou um plano. Decidida, terminou o jantar com um sorriso calculado e começou a convencê-lo a subir à suite.— Vamos subir para a minha suite. Lá teremos mais privacidade para falar — disse ela, levantando-se da mesa com uma graça confiante.Lucas, hesitante, balançou a cabeça.— Não, Rita. Já dissemos o que precisávamos dizer. Eu vou embora.Rita aproximou-se, o olhar frio e calculista.— Se te fores embora agora, faço um escândalo aqui mesmo. Ou, melhor ainda, envio uma mensagem à tua nova amiga. A Clara adoraria saber mais sobre o teu passado, não achas?A ameaça surtiu efeito imediato. Lucas sentiu-se encurralado e impotente. Respirou fundo, tentando manter a calma.— Está bem, subimos. Mas acabamos com isto de uma vez por todas — disse ele, a voz carregada de resigna
Era meio da tarde e Clara tinha programado uma sessão de fotos no mercado local. A cor das frutas, o movimento das pessoas e a arquitetura pitoresca deviam ser inspiradores, mas Clara não conseguia afastar os pensamentos sobre Lucas.Enquanto ajustava a lente para capturar uma senhora idosa vendendo flores, os pensamentos invadiram sua mente. "Por que Lucas foi embora tão de repente? O que o estava a atormentar tanto que ele mal conseguiu despedir-se?" A frustração e a incerteza estavam a corroer-lhe a calma habitual.Após a sessão de fotos no mercado, Clara dirigiu-se ao café favorito para editar algumas imagens. Sentou-se numa mesa junto à janela, onde a luz natural era perfeita para trabalhar. Mas, enquanto ajustava a exposição e o contraste das fotos, encontrava-se a olhar fixamente para a tela sem realmente ver as imagens. As mãos moviam-se automaticamente, mas a mente estava longe, perdida nas lembranças da última vez que viu Lucas."Ele parecia tão perturbado... O que será que
Rita percebeu que não voltaria a ter Lucas em pleno, mesmo que ele voltasse a ficar com ela já não seria o mesmo. Na verdade, nem ela queria ficar com ele, só queria ser dona da última palavra. Assim, elaborou um plano que passou à prática, tudo vivido naquele quarto enquanto Lucas dormia profundamente e sem imaginar o que viria depois.Rita acordou cedo e viu que Lucas ainda dormia profundamente. Levantou-se silenciosamente e ouviu o telemóvel dele tocar. Não resistiu a ver quem era e viu uma mensagem de Clara que dizia: "Bom dia Lucas! Espero que esteja tudo bem. Hoje teremos oportunidade de continuar o assunto de ontem?"Rita ponderou responder, mas pensou melhor e definiu outra estratégia. Guardou o número de Clara e apagou a mensagem. Partilhar a informação agora era demasiado fácil e rápido... a seu tempo voltaria a dar ar da sua graça e, quando lhe apetecesse, faria a sua magia para acabar com aquele casalinho sem sal. Voltou para a cama e fez que dormia à espera que Lucas acor
Lucas saiu desesperado e confuso do hotel, tentando afastar os pensamentos sombrios que o atormentavam. O que teria acontecido na noite passada? As marcas no seu corpo e a desordem do quarto deixavam claro que algo tinha ocorrido, mas ele não conseguia lembrar-se de nada. E, para complicar ainda mais, tinha um evento de escrita no Museu Picasso dentro de uma hora. Não havia muito tempo para pensar no que fazer ou para entrar em contacto com Clara."Clara deve estar confusa," pensou Lucas enquanto corria pelas ruas de Málaga em direção ao seu apartamento. "Depois do que aconteceu entre nós, e depois de eu desaparecer assim, ela deve estar a pensar que sou doido."Ele queria falar com ela, explicar-se, mas sabia que precisava de mais tempo para refletir sobre tudo e encontrar a melhor maneira de abordar a situação. Decidiu que, por enquanto, esperaria um pouco mais antes de procurá-la. Tinha que estar calmo e claro de mente, algo que naquele momento não era possível.Chegando ao apartam
Clara resolveu ignorar as sensações. "Não passam de sonhos e más recordações", pensou. "De certeza que o futuro será muito melhor." Decidida a começar o dia com uma atitude positiva, levantou-se e foi tomar um banho para afastar a inquietação.Enquanto se vestia, o telemóvel tocou. Clara sentiu um aperto de esperança que fosse Lucas, mas, ao olhar para o ecrã, viu que era a sua amiga Inês. Atendeu o telefone, tentando disfarçar a decepção na voz.— Olá, Inês!— Clara! Não vais acreditar no que acabei de ver! — disse Inês, toda entusiasmada e eufórica. — Estou cheia de inveja! Acabei de ver que hoje o meu escritor preferido está em Málaga num evento no Museu Picasso! RR, Ricardo Ramos, o escritor de romances eróticos famoso! No último ano, não tem havido notícias sobre ele e, hoje, vai estar aí!Clara ficou entusiasmada com a ideia e disse à amiga que iria ver e que tentaria arranjar um autógrafo. Só não lhe disse que ficou ainda mais entusiasmada por ter esperança de encontrar Lucas.