Capítulo 2

Barulhos na sala me fizeram acordar. A nova garota deveria ter chegado. Tomara que ela não seja uma daquelas patricinhas que fui um dia. Levantei, coloquei meu hobby branco e passei silenciosamente até o corredor para ir ao banheiro. Escovei os dentes e os cabelos, prendendo-os, em seguida, fui até à sala. Estranho, vi um garoto – na verdade um homem- mais ou menos da minha idade, cabelos em um tom castanho e pele clara. Era um pouco mais alto que eu e falava ao celular, olhando minhas fotos. Ele desligou quando me ouviu chegar.

- Ah..oi. – fiquei meio sem graça por causa de minhas roupas.

- Oi! – ele me olhou diretamente nos olhos. – Estou no dormitório certo? – ele pegou um papel no bolso.

- Pra qual você foi indicado?

- Ala Sul, dormitório três.

- Bom, então é esse, mas pelo que eu saiba, hoje uma garota vinha para este aqui. Pediu transferência de faculdade.

- Eu pedi transferência. – ele deu um sorriso sem graça.

- Devem ter trocado as chaves de vocês. – retribuí o sorriso.

- Prazer, eu sou Gregory. – ele esticou a mão para apertar a minha e eu o fiz.

- Lizzie.... Elizabeth na verdade.

- Prazer, Lizzie. Tem problema de eu deixar minhas malas aqui enquanto resolvo esse problema dos dormitórios? Acabei de fazer cinco horas de viagem e estou meio cansado para levar essa tralha toda de um lado para outro.

- Tudo bem, Gregory. Depois você volta aqui para pegar.

- Tem algum lugar para comer por aqui perto?

- É meio longe...

- Então vou ter que esperar.

- Faz o seguinte, resolve as coisas e tome o café da manhã aqui. Já teria que fazer para mim mesmo.

- Não vai te atrapalhar?

- Não, não tem problema nenhum.

- Obrigado, Lizzie. – ele sorriu para mim e saiu. Parecia ser simpático.

Fui para a cozinha, esquentei o leite e fiz café, depois, três omeletes. Deixei tudo na cozinha e levei o que ia comer para a mesa da sala. Acho que não era preciso esperá-lo para comer. Quando acabei, deixei tudo na pia e voltei para o livro que tinha parado de ler à noite. Não deu cinco minutos e o Gregory apareceu com uma cara não muito boa.

- Deixei as coisas na cozinha, tá? – falei com ele olhando para o livro.

-Ah, obrigado. Lizzie, tenho que falar com você. – quando me dei conta, ele estava sentado ao meu lado, no sofá. Aquela proximidade me incomodou um pouco.

- O que foi? – tentei recuar.

- Fui nessa tal de Heather. – ele fez uma pausa. – Ela disse que confundiu meu nome e por isso me colocou nesse dormitório.

- Ah, sim. – não sabia o que dizer.

- Só que esse não é o problema. Ela me disse que não tem nenhum outro dormitório vago, que esse aqui é o último. – peraí, isso quer dizer que...? – Eu terei que dividir aqui com você. Mas não se preocupe, vou dormir aqui na sala porque sei que só tem um quarto e não quero tirar sua privacidade.

- Nossa, como eles se confundiram dessa forma?

- Não sei, mas ela me prometeu que assim que tiver uma vaga em outro, ela me transfere. Me desculpa.

- Você é o menos culpado disso tudo.

- Se ficar incomodada, eu pago um hotel enquanto ela ajeita essa situação.

- Claro que não, Gregory. Como te falei, a culpa não foi sua.

- Me chame de Greg, está bem? Quando me chamam de Gregory, parece que vão brigar comigo por algo que fiz errado.

- Tudo bem, Greg.

Isso definitivamente não estava em meus planos. Dividir meu dormitório com uma pessoa estranha e, ainda mais, homem. Estava insegura com essa proximidade. Depois do acidente, não fiz amigos e minha família se afastou. Gregory foi até à cozinha, comeu o que eu tinha preparado e lavou toda a louça. Pelo menos era prestativo. Continuei na sala, lendo enquanto ele conhecia o dormitório. De vez em quando, o olhava de rabo de olho, mas ele não percebia. Gregory parou na parede, avaliando as fotos. Só queria que ele não me perguntasse.

- Você tá diferente nessas fotos. Tem muito tempo? – é, sabia que ele ia perguntar.

- Dois anos. – mantive os olhos no livro.

- É seu namorado? – a ferida estava sendo aberta novamente.

- Sim... e... não.

- Terminaram? – percebi certa preocupação em sua voz.

- Gregory, me desculpa, mas não me sinto à vontade em conversar sobre isso agora.

- Ok. Vou te atrapalhar se assistir TV?

- Não, fique aí que vou para o quarto.

Greg

Não queria que tivessem errado a situação dos quartos, mas fazer o quê. Pelo menos fui bem recebido pela Elizabeth. Ela parecia ser muito fechada e percebi isso quando questionei suas fotos. Vi que tinha felicidade naquelas imagens, algo que não correspondia com suas feições atuais. Seu cabelo estava bem maior do que tinha visto, ela tinha profundas olheiras, unhas por fazer e olhar cabisbaixo. Acho que deve ter terminado seu relacionamento e se aprofundou em plena tristeza.

Fiquei muito tempo assistindo a programas que nem prestei atenção. Por algumas vezes ela passou ao meu lado e já tinha colocado outra roupa. Agora, estava com uma bermuda bem desbotada, camiseta cinza, bem maior que seu tamanho e os cabelos presos em um coque. Agora fiquei na dúvida. Ela era fechada ou muito triste?

- Greg, você quer almoçar? – ela me gritava da pequena cozinha.

- Não quero te dar trabalho. Depois como alguma coisa.

- Fazer a mais ou a menos não interfere. Vai querer ou não?

- Então sim. Obrigada.

- Sem problemas. – quando ela terminou, me servi e sentamos à mesa. Estava bem quieta.

-Você parece ser bem calada, né? – ela me olhou.

- Não é questão de ser “calada”, é que muitas coisas aconteceram para eu ser da forma que sou hoje.

- Isso está relacionado às fotos da sala?

- Provavelmente... – ela mexeu na comida sem muita vontade. – Sério, obrigado por estar perguntando, nunca ninguém fez isso, mas ainda não me sinto pronta para te contar toda a história.

- É que eu tenho um sério defeito: odeio ver as pessoas tristes. – sorri e bebi o suco.

- Melhor se acostumar a me ver assim então... – ela deu um meio sorriso.

- Não sei o que te aconteceu, mas pode ter certeza que tiro você dessa nostalgia. Te prometo.

- Até eu queria acreditar em você, Greg.

- Pode confiar. – coloquei minha mão rapidamente em sua e ela retirou. Me assustei. – Desculpa.

- Tudo bem. Vou para o quarto. – que situação estranha. Só encostei em sua

mão. Ela não precisava sair assim. De qualquer forma me levantei, peguei o computador e fiquei navegando na internet. Não tinha o que fazer nessa casa.

Lizzie

Fechei a porta de qualquer jeito e me “taquei” na cama. Por que alguém estava se preocupando comigo agora? Definitivamente não queria isso pra mim. Vivia da minha forma e bem sozinha, era o suficiente. Senti a familiar dor em meu peito se aproximar. Tirei minha velha caixa de papelão debaixo da cama e a coloquei em cima do colchão. Mais e mais fotos, cartas, pétalas de rosas secas que Brad tinha me dado... Ali era a vida que tinha ficado. Quando ficava mal da forma que estava agora, sempre lia uma carta dele específica.

“Lizzie Lewis,

Sei que hoje é uma data muito importante para nós dois, o aniversário de

nosso primeiro beijo. Muita coisa mudou ao longo desses anos, mas tenho orgulho de dizer que a única coisa que não mudou foi meu amor por você.

Nós dois passamos por inúmeros momentos juntos, alguns felizes e outros tristes, mas nada foi capaz de abalar o lindo sentimento que temos um pelo outro e hoje, na nossa formatura, quero te dizer que não me arrependo de nada que fizemos... Nada! Você foi minha primeira namorada e quero que isso permaneça assim para sempre, mas se não acontecer, te peço para nunca deixar que nada te abale, que teu sorriso lindo nunca se apague e que seus olhos sempre transmitam esse brilho que me cega cada vez que te vejo .Seu jeito animada de ser me cativa, suas atitudes me fascinam, seus beijos me levam ao delírio.

Lizzie, saiba que estarei ao seu lado para sempre! Você é a pessoa mais importante da minha vida!

Eu te amo.

Beijos, do seu Brad.”

- Me desculpa por não ser tudo isso que você me pediu. – deitei na cama e chorei.

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