Ela dormiu muito bem depois que praticamente a obriguei. Lizzie realmente parecia um anjo, e um anjo bem triste. Sabia só que ela tinha perdido o namorado, mas como, não tinha a mínima ideia. Aquelas fotos mostravam uma Elizabeth que não era essa que eu via. Desde o início, me identifiquei com ela e sei lá como, me senti bem. Queria poder ajudá-la a voltar a viver e, pela primeira vez, consegui que falasse pelo menos poucas palavras. Virei para o lado, coloquei o despertador do meu celular e dormi.
Lizzie
Pela primeira vez, falei algo do meu passado para uma pessoa... o estranho é que me sentia bem depois dessa situação. Muita gente tentou se aproximar de mim, mas eu sabia que era somente por pena. Gregory me conheceu sem saber da
minha história e de minhas perdas, por isso senti confiante em relação a ele. Quando meu despertador tocou, ele ainda dormia. Caminhei pelo quarto bem de leve para não o acordar e acabei não resistindo e reparei em como dormia. Uma mão estava atrás da cabeça, apoiada no travesseiro e a outra sobre o peito. Pela sua face, parecia estar cansado da saída de ontem. Peguei um dos meus vestidos, as velhas sandálias sem salto e fui para o banho. Meus cabelos estavam tão grandes que estavam quase chegando na minha cintura. Não cortara desde o incidente. Me arrumei, prendi minhas madeixas em um rabo de cavalo e preparei um rápido café da manhã – para mim e para ele. Teria inúmeras aulas até duas da tarde.
Greg
Dormi tão bem... mas, meu bom humor acabou quando vi que era quase uma hora da tarde e eu tinha perdido uma aula... Que ótimo. Olhei para a cama desarrumada de Lizzie e percebi que
ela tinha saído há muito tempo e se bobear, já estaria chegando. Fui até á cozinha beber um copo d’água e vi que ela tinha feito café da manhã para mim. Sem pestanejar, comi tudo e fui para a sala ver um pouco de TV. Quando enjoei, desliguei tudo e fui tomar um banho. Minha cabeça estava doendo um pouco por causa da bebida. Fiquei bastante tempo relaxando. Enrolei a toalha na cintura e fui para o quarto.
- Lizzie! – tomei um susto e ela também.
- Desculpa, Gregory. – ela se virou de costas, completamente envergonhada. – Não sabia que você estava em casa.
- Estava no banho. – peguei rapidamente minha cueca e bermuda e coloquei. – Já estou vestido. – ela se virou e deu uma pequena olhada para meu abdômen, mas deslocou seu olhar para meus olhos.
- Não foi para a aula hoje?
- Perdi a hora. Não era pra isso ter acontecido.
-Entendi... está com fome?
- Não, acabei de tomar o café da manhã que você fez pra mim. Obrigado.
- Não foi nada... Já te falei que tenho que fazer pra mim também, então não se preocupe com isso. Eu trouxe pizza de almoço, não tava com vontade de cozinhar.
- Deixa eu pegar dinheiro pra te pagar.
- Que pagar nada, Greg. Eu comprei aqui perto e quem faz faculdade aqui, tem desconto. Peguei de quatro queijos porque não sabia o sabor que você gostava.
- Adoro a de quatro queijos. Fiquei com fome agora. – ela riu.
- Você é engraçado.
- Essa é a primeira vez que te vi sorrir.
- Isso não é muito comum.
- Então meu passatempo será fazer você sorrir. – olhei no fundo dos seus olhos e percebi certo medo. Recuei.
Enquanto comíamos, conversamos sobre várias coisas, menos seus
problemas. Contei sobre onde eu morei, o porquê que saí da outra faculdade e dos meus sonhos. Ela também revelou o que queria para o futuro e a vi sorrir por mais algumas poucas vezes. Lavei a louça e ela sentou no sofá com o mesmo livro que estava lendo ontem.
- O que você anda lendo?
- Só um romance, água com açúcar.
- Posso ligar a TV?
- Pode, claro.
Lizzie
À tarde com ele foi bem agradável. Consegui rir de certas coisas pela primeira vez em anos. Greg era um bom amigo e me surpreendi com o pouco tempo que tínhamos nos conhecido e transformamos isso num início de uma boa amizade. Com livros daquele gênero, conseguia me transportar para o lado do Brad e isso me fazia bem. Gregory ficou vendo um filme e, depois de um tempo, o
acompanhei. Me deu uma angústia de lembrar que amanhã faria mais um mês desde a tragédia, mas nessa data, aparentemente não estaria sozinha. Acho que estava na hora de eu revelar o que tinha me acontecido. Sentia confiança nele o suficiente para desabafar.
- Greg...
- Oi. – ele abaixou o volume da TV.
- Lembra que você perguntou o que tinha acontecido comigo?
- Sim, claro que eu lembro...
- Acho que tá na hora de te contar. – ele desligou a TV e sentou ao meu lado, no chão.
- Se sente bem o suficiente para isso?
- Eu... Acho que sim.
- Não precisa me contar...
- Eu quero te contar. Me sinto bem para isso. Há mais ou menos dois anos, quando eu voltava da formatura do colégio, um cara que estava bêbado e
dirigindo, bateu no carro em que eu estava. Eu não lembro muito bem o que levou o cara a bater e as únicas lembranças que tenho, não são muito boas. – senti meus olhos doerem com as lágrimas.
- Lizzie...
- Não se preocupe, eu estou bem. Lembro que olhei para o lado e vi Brad, meu namorado, sangrando e sem reação. Eu queria poder acordar daquele pesadelo, queria poder correr, sumir dali, mas isso não aconteceu. Dentro desse carro estavam os meus amigos, os mais importantes e ele, o homem que eu mais amava no mundo inteiro. Fiquei meses no hospital para cuidar de um coágulo que tive no pulmão e quase perdi minha perna. Sofri muito, coisa que nunca pensei que pudesse acontecer comigo. Eu era feliz, Greg. Tirava boas notas, tinha bons amigos, um bom namorado e por incrível que pareça, fazia até parte da equipe de ginástica. Depois que eles morreram, a minha vida também acabou. Eu queria ter morrido com eles, queria
estar do lado das pessoas que eu amava. – quando terminei de falar, percebi que estava chorando.
- Não fale isso nunca. Você acha que seus amigos estão bem te vendo assim? Você acha que o Brad está?
- Todos falaram que foi um milagre eu ter sobrevivido, mas pra mim não foi. Depois que eles se foram, me fechei nessa pessoa amarga e que não tem uma vida. Por que tudo que eu amava me foi tirado dessa forma? – ele estendeu o braço sobre meu ombro e encostei minha cabeça em seu peito, chorando.
- Tem coisas na vida que infelizmente não podemos explicar, mas você não pode se culpar por isso. Sei que todos eles serão insubstituíveis na sua vida, mas você não pode parar de viver. Você é nova e tem muita coisa para fazer, muita coisa pra aprender e tem que ser feliz. Eles não querem ver você triste, disso posso ter certeza.
- Eu não quero amar outro homem a não ser o Brad, Greg. Eu não consigo. Simplesmente não dá.
- Você é linda Lizzie, não pode pensar nessas coisas. Você precisa de alguém para te apoiar e tendo outra pessoa, você não estará traindo o Brad. Ele sempre será importante pra você e qualquer homem que esteja ao seu lado, terá que entender isso. Obrigado por ter confiado em mim. O que eu puder fazer para te deixar feliz, vou fazer. Isso eu te prometo.
- Eu tenho medo. Medo de me apegar a alguém e ela me deixar de alguma forma. Eu não aguento mais uma perda, não aguento. – chorei mais e ele me abraçou forte.
- Eu não vou te abandonar nunca. Eu te prometo.
- Ele também tinha me prometido isso... – chorei mais.
- Vem, vou levar você pro quarto. – ele levantou enquanto eu secava minhas lágrimas e me pegou no colo com muita facilidade.
- Greg... – queria dizer que isso não era necessário, mas ele me interrompeu.
- Vou cuidar de você.
- Greg...
- Shhh. Para de se preocupar.
Gregory me colocou na cama e sentou ao meu lado, pondo minha cabeça em seu colo, distribuindo carinhos no meu longo cabelo e em minha face. Essa proximidade não era uma coisa que eu estava acostumada. Eu nunca quis receber carinho de ninguém. Me fechei em um casulo imperfurável, um casulo em que viviam somente eu e minhas lembranças. Senti minhas lágrimas serem cessadas e comecei a me sentir mais confortável naquela situação. Me sentia confusa em me apegar a outra pessoa como um amigo. Eu mesma optei por não me aproximar de ninguém, mas com ele eu me sentia bem o suficiente para tentar esquecer o que me fazia sofrer.
GregNão sabia o motivo, mas gostei muita de Lizzie desde o início. Minha amizade com ela poderia ser comparada com uma de vários anos. Ela dormiu em meu colo e não fui nem capaz de me afastar. Em nenhum momento senti pena dela, só achei injustiça da vida ter lhe tirado tantas coisas em um único dia. Ela literalmente abandonou tudo desde o dia que seus amigos morreram. Só Deus sabe a vontade que eu tinha de ajudá-la. Lizzie virou de lado e tirou a cabeça do meu colo, continuando em seu sono. E a deixei ali e fui estudar na sala, para repor o dia perdido.Algumas semanas passaram desde o dia que ela me revelou o que abalava seu coração. Percebi que r
GregFiquei por vários minutos encarando a porta depois que ela saiu. Qual o motivo dessa briga toda? Eu sei que vacilei de ter chamado Tess para ficar aqui comigo, mas aquelas palavras não eram necessárias. Não para mim, que faço de tudo para vê-la feliz. Faço mesmo? Essa era a pergunta que eu me fazia agora. Sim, faço sim! Quem não quer se ajudar agora é ela! Já perdi as contas das vezes que a chamei pra sair, fazer alguma coisa simples, mas ela sempre mantém essa armadura presa no corpo, que repele qualquer pessoa que tenta se aproximar. Troquei minha roupa e fui até à cozinha beber um pouco d’água. Quando passei, ela não me olhou, mas eu reparei. Estava enrolada no edredom e lendo, mas dessa vez, chor
GregPelo menos tudo tinha se acertado em relação a nós dois e aquela briga horrível foi esquecida. Ela me prometeu que tentaria voltar a viver, mas só se eu tivesse a seu lado para servir de apoio. Ao longo da semana, ela tentou fazer algumas mudanças e eu, como sempre, dei meu apoio. Lizzie comprou um notebook e um iPod. Por várias vezes, sem querer a vi cantando alto ou até mesmo, dançando. Sua mudança estava fazendo bem para ela e até mesmo para nosso relacionamento. Hoje, ela teria que ficar no dormitório para terminar um de seus trabalhos. Acordei cedo, tomei banho, café da manhã e fui para a aula. O “relacionamento” que eu tinha com a Tess estava ficando meio sério pela parte dela. Toda hora ela vinha ficar de mãos dadas comigo, me dar um beijo ou até mesmo me fazer carinho. Ela é uma mulher linda, que qualquer cara adoraria ter. Mas
LizzieNão estava entendendo nada dessa aproximação súbita. O que ele queria de mim? Percebi que quem era no telefone era a “namorada” dele, e logo em seguida, Greg foi para o quarto. Cada vez que ela ligava, eu sentia uma coisa estranha dentro de mim, como uma vontade enorme de tirar o telefone das mãos dele.Algumas semanas passaram. Depois daquela nossa dança, nada comparado àquilo aconteceu. Acho que ele queria se manter distante. Tentei parecer indiferente da mesma forma que ele. Aquele sentimento que estava tendo em relação a ele com Tess, piorava a cada dia. Toda vez que os encontrava na faculdade, estavam se beijando ou de mãos dadas. Tentava
LizzieNão estava suportando Gregory daquela forma. A noite demorou a passar, mas percebi que ele dormia tranquilamente. Não tinha cabeça para ir à aula hoje. Sete horas da manhã e eu já estava de pé sem o mínimo sono e muito chateada com a briga de ontem. Toda vez que eu descobria algo sobre ele e a Tess, meu coração entrava em chamas, carne viva. Não suportava saber que toda sexta à noite ele estaria com ela, beijando ela, abraçando seu corpo e não o meu. É isso, entendi perfeitamente. Eu estou apaixonada pelo Greg. Sim, como não estaria? Desde o início, me apoiou, me deu sua mão, carinho, tudo. Eu simplesmente não suportava pensar que ele ficaria com a Tess e não comigo. Ele era
Quando cheguei à boate, meu desespero fez com que eu sentisse vontade de sair correndo, mas não podia ser covarde. A batida da música eletrônica ecoava em meus ouvidos, mas só até avistar Greg conversando com os amigos. Troquei o caminho para lhe tapar os olhos.- Quem é? – tirei as mãos e ele me olhou surpreso.- Feliz Aniversário.- Lizzie?- Acho que sim.- Nossa... Não estou acreditando. Q
A boate não era longe do nosso dormitório, então pedi para irmos caminhando até ele. De mãos dadas e aconchegada no peito dele... como eu poderia estar além de “pessoa mais feliz do mundo”? Perdi a conta de quantas vezes ele beijou minha cabeça e também de quantas vezes suspirei com essa carícia. Chegamos ao nosso campus e em poucos minutos estávamos passando pela porta. Foi o primeiro momento que soltamos nossas mãos. Eu não sei o que aconteceria conosco ali, depois do que aconteceu, mas se ele tomasse o primeiro passo, eu não conseguiria resistir.- Eu... Vou trocar de roupa...- Te espero aqui, então. – ele se apro
∞ Amor12As coisas foram se complicando ao longo das semanas... Ela começou a fazer amizades – afinal cada vez que eu a via estava mais linda e com roupas novas -, sair e ser popular com quem queria. Perdi as contas de quantas vezes a vi na mesma boate que eu estava, dançando com a Helena e o povo de Jornalismo. Tínhamos nos tornado estranhos um para o outro desde o dia do meu aniversário. Fazíamos nossas refeições juntos, trabalhos, víamos filmes, mas nada acontecia, muito menos nossas antigas conversas.Meus amigos tinham marcado para irmos novamente à boate. N&atild