Greg
Quando estava indo até o quarto para falar com ela, vi a porta entreaberta e olhei bem devagar, evitando fazer barulho. Ela estava sentada na cama, lendo alguma coisa meio antiga e depois da frase que disse e o choro repentino, consegui mais ou menos entender o que se passava com ela. O namorado tinha morrido. Vê-la daquele jeito me partiu o coração, mas o que eu poderia fazer? Lizzie era muito fechada e isso só poderia ser mudado aos poucos. Ela realmente deve precisar de um amigo para apoiá-la e ouvi-la, mas onde será que estão seus amigos? Essa solidão também era obra dela ou todos que ela amava tinham a abandonado? Voltei para a sala e “tentei” ignorar o que se passava naquele quarto. Tentei.
Ela saiu do quarto horas depois, e com os olhos meio inchados, passando
direto por mim e indo até à cozinha. Tive medo de me aproximar, não queria fazê-la sofrer perguntando do passado.
- Lizzie. – disse enquanto ela voltava para o quarto.
- Oi.
- Será que você podia ir comigo até à secretaria para acertar minha primeira aula?
- Gregory, não estou muito bem, me desculpa.
- É que não conheço nada aqui... por favor. – ela ficou um tempo parada, olhando pra mim.
- Tudo bem. Me dá um minuto para colocar uma roupa.
Não a conhecia nem há um dia, mas queria tentar ajudá-la de todas as formas.
Lizzie apareceu pouco tempo depois com um vestido abaixo dos joelhos, uma sandália sem salto e seus cabelos continuavam presos. Fomos andando pelo
campus até chegarmos onde eu precisava. Trocamos poucas palavras, mas sei que a fiz sorrir uma vez. Tentei por mais uma vez descobrir o que tinha acontecido, mas vi que teria que conquistar sua confiança antes de qualquer coisa.
O domingo passou voando. Saí com alguns amigos que tinha lá e ela não quis vir comigo. Respeitei, mas até que foi bom. Só tinha homem e fiquei com uma mulher por lá. Fiquei na boate até onde pude. Minha primeira aula seria às onze da manhã, então cheguei ao dormitório às duas da madrugada. Mal entrei e derrubei algo sem querer no chão. Não era minha intenção acordá-la.
- Greg, é você? – ela apareceu na sala.
- Desculpe, quebrei alguma coisa. Você tirou meus travesseiros do sofá?
-É..é que não acho certo você dormir nesse sofá duro enquanto tem duas camas de solteiro no quarto. – pela primeira vez senti diferença em sua voz.
- Mas não será um incômodo pra você, se eu ficar lá?
- Não, uma hora ou outra alguém teria que dividir o dormitório comigo.
- Mas o problema é que não sou uma mulher.
- Tudo bem. Vou voltar para a cama. Minha aula é às nove. Boa noite.
- Boa noite e obrigado.
Peguei uma roupa na mala e fui direto para o banheiro tomar uma ducha gelada. Precisava. Não sei como seria ficar no mesmo quarto que ela, mas realmente era melhor dormir na cama que no sofá. Coloquei o pijama e fui entrando no quarto bem devagar, com medo de acordá-la. Ela estava com o abajur ligado e lendo um livro. Coloquei a toalha presa na janela.
- Você não tem aula amanhã?
- Tenho. – ela permaneceu com os olhos nas páginas.
- E não está dormindo, por quê?
- São poucas as noites que consigo dormir inteiras. Vou lá pra sala para não te
atrapalhar com a luz. – ela estava retirando o edredom para sair, mas a impedi.
- Não, não precisa disso.
- Não quero te atrapalhar...
- Não esqueça que eu cheguei aqui depois de você. – sorri para ela e a percebi encabulada. Tentei quebrar o gelo. – E aí, o que você está cursando?
- Jornalismo, e você?
- Arquitetura.
- Falta quanto tempo para você se formar?
- Três anos, e pra você?
- A mesma coisa.
- Então, vamos nos formar juntos.
- Acho que sim... – ela voltou a ler enquanto eu me deitava na outra cama.
- Estou te atrapalhando?
- Atrapalhando?
- É, falando feito uma matraca.
- Não está não, é que ainda é estranho ter alguém aqui comigo.
- Sempre ficou sozinha?
- Você deve me achar uma tremenda estranha, mas eu não era assim. – e eu já desconfiava o que seria, mas não poderia perguntar. – Sei lá, muita coisa mudou pra mim.
- O que te aconteceu, Lizzie?
- Não se sinta mal, mas eu ainda não consigo falar isso com ninguém. Nesses anos, me privei de falar e ter amigos, por isso, fiquei dessa forma.
- Mas pode ter certeza que eu sou seu amigo e estarei aqui quando você quiser falar.
- Obrigado, de verdade.
- Bom, mas agora você vai dormir porque tem aula amanhã de manhã, mocinha. – me levantei, tirei o livro de suas mãos e o coloquei na mesa de cabeceira. Passei a mão em sua testa e ela estremeceu meio surpresa. – Boa noite.
- Não vou conseguir dormir.
- Tente. – acariciei bem devagar suas bochechas e ela deu um leve sorriso.
- Vou tentar. Boa noite.
- Pra você também. – anjo.
Ela dormiu muito bem depois que praticamente a obriguei. Lizzie realmente parecia um anjo, e um anjo bem triste. Sabia só que ela tinha perdido o namorado, mas como, não tinha a mínima ideia. Aquelas fotos mostravam uma Elizabeth que não era essa que eu via. Desde o início, me identifiquei com ela e sei lá como, me senti bem. Queria poder ajudá-la a voltar a viver e, pela primeira vez, consegui que falasse pelo menos poucas palavras. Virei para o lado, coloquei o despertador do meu celular e dormi.LizziePela primeira vez, falei algo do meu passado para uma pessoa... o estranho é que me sentia bem depois dessa situação. Muita gente tentou se aproximar de mim, ma
GregNão sabia o motivo, mas gostei muita de Lizzie desde o início. Minha amizade com ela poderia ser comparada com uma de vários anos. Ela dormiu em meu colo e não fui nem capaz de me afastar. Em nenhum momento senti pena dela, só achei injustiça da vida ter lhe tirado tantas coisas em um único dia. Ela literalmente abandonou tudo desde o dia que seus amigos morreram. Só Deus sabe a vontade que eu tinha de ajudá-la. Lizzie virou de lado e tirou a cabeça do meu colo, continuando em seu sono. E a deixei ali e fui estudar na sala, para repor o dia perdido.Algumas semanas passaram desde o dia que ela me revelou o que abalava seu coração. Percebi que r
GregFiquei por vários minutos encarando a porta depois que ela saiu. Qual o motivo dessa briga toda? Eu sei que vacilei de ter chamado Tess para ficar aqui comigo, mas aquelas palavras não eram necessárias. Não para mim, que faço de tudo para vê-la feliz. Faço mesmo? Essa era a pergunta que eu me fazia agora. Sim, faço sim! Quem não quer se ajudar agora é ela! Já perdi as contas das vezes que a chamei pra sair, fazer alguma coisa simples, mas ela sempre mantém essa armadura presa no corpo, que repele qualquer pessoa que tenta se aproximar. Troquei minha roupa e fui até à cozinha beber um pouco d’água. Quando passei, ela não me olhou, mas eu reparei. Estava enrolada no edredom e lendo, mas dessa vez, chor
GregPelo menos tudo tinha se acertado em relação a nós dois e aquela briga horrível foi esquecida. Ela me prometeu que tentaria voltar a viver, mas só se eu tivesse a seu lado para servir de apoio. Ao longo da semana, ela tentou fazer algumas mudanças e eu, como sempre, dei meu apoio. Lizzie comprou um notebook e um iPod. Por várias vezes, sem querer a vi cantando alto ou até mesmo, dançando. Sua mudança estava fazendo bem para ela e até mesmo para nosso relacionamento. Hoje, ela teria que ficar no dormitório para terminar um de seus trabalhos. Acordei cedo, tomei banho, café da manhã e fui para a aula. O “relacionamento” que eu tinha com a Tess estava ficando meio sério pela parte dela. Toda hora ela vinha ficar de mãos dadas comigo, me dar um beijo ou até mesmo me fazer carinho. Ela é uma mulher linda, que qualquer cara adoraria ter. Mas
LizzieNão estava entendendo nada dessa aproximação súbita. O que ele queria de mim? Percebi que quem era no telefone era a “namorada” dele, e logo em seguida, Greg foi para o quarto. Cada vez que ela ligava, eu sentia uma coisa estranha dentro de mim, como uma vontade enorme de tirar o telefone das mãos dele.Algumas semanas passaram. Depois daquela nossa dança, nada comparado àquilo aconteceu. Acho que ele queria se manter distante. Tentei parecer indiferente da mesma forma que ele. Aquele sentimento que estava tendo em relação a ele com Tess, piorava a cada dia. Toda vez que os encontrava na faculdade, estavam se beijando ou de mãos dadas. Tentava
LizzieNão estava suportando Gregory daquela forma. A noite demorou a passar, mas percebi que ele dormia tranquilamente. Não tinha cabeça para ir à aula hoje. Sete horas da manhã e eu já estava de pé sem o mínimo sono e muito chateada com a briga de ontem. Toda vez que eu descobria algo sobre ele e a Tess, meu coração entrava em chamas, carne viva. Não suportava saber que toda sexta à noite ele estaria com ela, beijando ela, abraçando seu corpo e não o meu. É isso, entendi perfeitamente. Eu estou apaixonada pelo Greg. Sim, como não estaria? Desde o início, me apoiou, me deu sua mão, carinho, tudo. Eu simplesmente não suportava pensar que ele ficaria com a Tess e não comigo. Ele era
Quando cheguei à boate, meu desespero fez com que eu sentisse vontade de sair correndo, mas não podia ser covarde. A batida da música eletrônica ecoava em meus ouvidos, mas só até avistar Greg conversando com os amigos. Troquei o caminho para lhe tapar os olhos.- Quem é? – tirei as mãos e ele me olhou surpreso.- Feliz Aniversário.- Lizzie?- Acho que sim.- Nossa... Não estou acreditando. Q
A boate não era longe do nosso dormitório, então pedi para irmos caminhando até ele. De mãos dadas e aconchegada no peito dele... como eu poderia estar além de “pessoa mais feliz do mundo”? Perdi a conta de quantas vezes ele beijou minha cabeça e também de quantas vezes suspirei com essa carícia. Chegamos ao nosso campus e em poucos minutos estávamos passando pela porta. Foi o primeiro momento que soltamos nossas mãos. Eu não sei o que aconteceria conosco ali, depois do que aconteceu, mas se ele tomasse o primeiro passo, eu não conseguiria resistir.- Eu... Vou trocar de roupa...- Te espero aqui, então. – ele se apro