Capítulo 5

Greg

Não sabia o motivo, mas gostei muita de Lizzie desde o início. Minha amizade com ela poderia ser comparada com uma de vários anos. Ela dormiu em meu colo e não fui nem capaz de me afastar. Em nenhum momento senti pena dela, só achei injustiça da vida ter lhe tirado tantas coisas em um único dia. Ela literalmente abandonou tudo desde o dia que seus amigos morreram. Só Deus sabe a vontade que eu tinha de ajudá-la. Lizzie virou de lado e tirou a cabeça do meu colo, continuando em seu sono. E a deixei ali e fui estudar na sala, para repor o dia perdido.

Algumas semanas passaram desde o dia que ela me revelou o que abalava seu coração. Percebi que realmente criamos o vínculo da amizade. Passamos várias horas conversando e trocando

ideias sobre a matéria de cada um. Também tinha feito uns amigos de balada; Ben, Tess, Madison (mais conhecida como Mady), Peter e Mark. Às sextas-feiras saíamos para tomar umas cervejas e conversar. Sempre convidava Lizzie, mas ela me dava a desculpa que queria ficar lendo e que meus amigos não gostavam dela. Fique apoiado na árvore ao lado deles. Tess se aproximou de mim.

- E aí Greg, você vai com a gente na boate hoje?

- Vou, claro! Hoje é sexta.

- Então te encontro no seu dormitório. – ela me deu um beijo na boca. Já tínhamos ficado umas vezes, então era meio que normal. Lizzie apareceu em minha frente e fiquei um pouco sem graça. Ela viu o beijo que Tess me deu?

- Oi Greg, tava te procurando. – ela não me encarou nos olhos. Tossi sem jeito.

- Ah... oi, Lizzie.

- Posso falar com você?

- Tess, depois falo com vocês sobre hoje.

- Tá bom, depois a gente se fala. – ela me deu mais um selinho e foi embora. Ela realmente tinha que ter feito isso?

- Oi, desculpa.

- Não sabia que você estava namorando...

- Não estou...

- Bom, mas isso não importa. Ia te pedir ajuda para um trabalho sobre teoria da comunicação, mas vi que você vai sair.

- Eu não preciso sair. Você é que é minha amiga.

- Não, vá se divertir. A que fica em casa sou eu.

- Fica porque quer... já te chamei várias vezes.

- Vamos com calma. Ainda não quero me aproximar de outras pessoas.

- Sabe por quê, né? – ela me olhou, tentando entender o que eu estava falando. – Porque sou o único amigo que

você confia. – dei um super beijo estalado em sua bochecha e ela deu um pequeno gritinho de surpresa, junto de um sorriso.

- Você é louco. – ele pousou a mão onde eu beijei.

- Você tem mais aula hoje?

- Não, não mais hoje.

- Tem alguma coisa pra fazer agora?

- Não, por quê?

- Descobri um restaurante ótimo aqui perto. Vamos?

- Não trouxe dinheiro hoje, esqueci.

- Não estou dividindo a conta, estou te convidando.

- Você não presta.

- Presto sim. Vamos?

- Podemos deixar as coisas no dormitório?

- Claro.

O almoço foi muito agradável. Ela me falou poucas coisas sobre sua

faculdade e eu tentava ignorar as inúmeras mensagens que estava recebendo para a saída de hoje. Queria que ela entendesse que só queria o bem dela e que ela vivesse de novo, mas para Bella, isso era inaceitável. Depois que comemos, ficamos umas horas a mais conversando e voltamos para o dormitório. Fui direto para o banho, me arrumar para ir à boate com os outros. Me senti mal em vê-la sentada, lendo mais um de seus inúmeros romances. Lizzie me deu uma pequena olhada e se voltou para a leitura.

- Você volta tarde?

- Não, mas não me espere acordada, ok?

- Eu sei, vou ler um pouco mais e dormir. Divirta-se.

- Tem certeza que não quer ir comigo?

- Não, Greg. Obrigado. Cuide-se, tá bom?

- Você também. – cruzei a sala e dei um beijo em sua testa.

Lizzie

Saber que Gregory estava namorando a Tess me deixou com um pouco de medo. Ele também me abandonaria? Me sentia um pouco mais segura do que eu era antes quando estávamos juntos, mas e se ele se guiasse pela cabeça dos novos amigos? E se eles fossem melhores que eu? Se fizessem mal a ele? Sua vida não era meu poder e eu nada conseguiria fazer. É errado querer sua atenção única e exclusiva para mim. Eu optei pela minha vida solitária e se hoje estou um pouco melhor, foi porque Gregory me ajudou. Não tenho direitos sobre ele; nunca tive.

Terminei mais um capítulo do livro e fui para um banho quente tentar me acalmar um pouco. Era a primeira vez que me sentia dessa forma estranha, depois de anos. Meu coração sempre esteve ferido, mas estava cicatrizando aos poucos e pelos cantos. Eu ainda amava o Jacob e não teve um dia que eu não lembrasse como era bom tê-lo para mim... É estranho quando se tem uma realidade

e ela é tirada de você de uma forma tão bruta e brusca. Quando meus pensamentos voltavam para aquela cena, era difícil segurar as malditas lágrimas mais uma vez. Encostei na parede e fui descendo até chegar ao chão, deixando a água escorrer pelo meu corpo. Não posso criar dependência de uma pessoa como estou criando agora, por mais uma vez. Faz tanto tempo isso tudo que qualquer sentimento que eu tenha se torne novo; desconhecido. Saí do banho enrolada na toalha, peguei meu antigo pijama e me vesti. A noite estava fria e a única coisa que eu queria era poder dormir e por uma noite, tentar esquecer do pesadelo que vivia há anos.

Alguns barulhos me fizeram despertar do pouco sono que eu tinha conseguido. Vozes e mais vozes vinham da sala. Bem devagar, fui andando e encontrei Gregory aos beijos com a Tess. Quando ele me ouviu, logo interrompeu seu “pseudo” amasso. Nós dois tomamos um susto com a cena.

- Lizzie...! – ele tentava acertar sua blusa.

- Desculpem. Continuem o que estavam fazendo. Só por favor, não façam barulho porque eu quero dormir até tarde amanhã.

- A Tess já estava de saída.

- Estava? – ela perguntou para Gregory.

- Não precise se preocupar. Vou ficar no quarto. Boa noite. – corri para o quarto e tranquei a porta. Ouvi mais vozes e Gregory começou a bater na porta.

- Lizzie, ela já foi. Por favor, abra.

- Só quero dormir. Por favor, não faça barulho.

- Ela já foi.

- Não precise se importar comigo. Vá curtir sua namorada.

- Ela não é minha namorada. Abra, por favor.

- Pior ainda! Está a usando.

- Ela não é santa. – aquilo foi demais para mim.

- Não quero saber da sua vida sexual, Gregory, só quero dormir. Você pode me respeitar?

- Tudo bem. Mas posso pelo menos pegar minha roupa e travesseiros? – com um pouco de raiva, levantei e abri a porta rapidamente. – Obrigado.

- Feche a porta quando sair.

- Qual é a necessidade disso? Eu também tenho direitos de ficar nesse quarto, sabia?

- É esse o problema? Pode ficar com ele então. Durmo na sala a partir de hoje. – novamente me levantei com raiva e ele segurou em meu pulso, me trazendo para perto de seu rosto.

- Qual é o problema, Elizabeth?– meus olhos ardiam e eu conhecia essa familiar dor. Elizabeth?

- Não tem problema nenhum, mas pelo que eu saiba, não preciso ver qualquer cena de amasso entre você e a Tess!

- Eu não estava fazendo isso! Estávamos nos beijando! E eu achei que você estivesse dormindo.

- Pior ainda! Você ia transar com ela na cama ao lado da minha? – a primeira lágrima escorreu e ele recuou.

- Eu não ia fazer isso...

- Da próxima vez, pague um motel para vocês dois. – saí do quarto, batendo a porta.

Era a primeira vez que brigávamos, e já foi logo por uma mulher. Depois de tudo isso, o que eu menos tinha era sono. Voltei para meu livro, esperando amanhecer. Faltava pouco.

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