“Deixe-me abraçá-lo Pela última vez É a última chance de sentir de novo Mas você me machucou Agora eu não posso sentir nada.”
(BrokenStrings – James Morrison)
∞Relicários de Saudade
1
Lizzie
A vida perfeita com certeza era a minha. A garota mais bonita da escola, com amigos verdadeiros e um namorado perfeito. Na verdade, mais que perfeito. Apesar de todas essas vantagens, não era uma pessoa que se sentia superior às outras, pelo contrário, todos me adoravam e de certa forma, me idolatravam. Era uma ótima aluna – até com méritos – e era da equipe de ginástica, mas isso tudo agora era somente um sonho, já que essa realidade fora tirada de mim.
Há mais ou menos dois anos, eu, Brad (meu namorado), Kimmy, Johnny e Rachel estávamos voltando de carro da festa de formatura e nenhum de nós havia bebido, já que era tarde da noite. Rachel estava no banco de trás comigo, junto de Brad. Éramos melhores amigas. Não me lembro muito o que aconteceu, só sei que um carro bateu no nosso e apaguei por
alguns minutos. A única lembrança viva eram os barulhos da sirene e pessoas falando, consegui abrir meus olhos e percebi o quanto estava imóvel e apertada com Rachel e Brad.
- Brady, minha perna tá doendo! Ai, tá doendo muito! – ele estava imóvel e seu rosto e peito sangravam muito. – Brad? – o sacudi, sem resposta. – Brad, não faz isso comigo, acorda!
Ali foi minha morte. A única diferença é que hoje eu ando e respiro, mas quem eu amava fora embora e me levou tudo, inclusive minha vida.
Foram quase três meses no hospital para cuidar do coágulo que tive no pulmão e minha fratura na perna - que quase perdi. Eu não tinha mais nada. Meus amigos, meu namorado... Queria poder desistir, morrer junto com eles, mas quando pensava nisso, minha mãe vinha e falava que eu tive muita sorte em ter sobrevivido ao acidente, coisa que queria que não tivesse acontecido. Mas infelizmente, nada do que eu pudesse pensar, voltaria até aquele dia. Nada que
eu sentisse, traria de volta todos aqueles que eu amava, nada.
Estava no segundo período de minha faculdade de jornalismo e depois que saí de minha cidade, me isolei. Falava com meus pais poucas vezes por semana e me entreguei definitivamente à leitura, estudo e música. Não saía mais, mesmo tendo um monte de festas, e me dei ao direito de não fazer verdadeiras amizades, já que os amigos que eu tive nunca seriam substituídos. Às vezes tinha vontade de sair um pouco do meu “casulo”, mas cada vez que lembrava o rosto do meu Brad, percebia que nunca me apaixonaria dessa forma por homem nenhum – e eu também não queria isso. Nosso amor era lindo, coisa de cinema. Lembrar dele ainda me doía o peito, principalmente quando encarava a parede de minha “casa” com inúmeras fotos minhas, dele e dos meus amigos quando eram vivos. O bom era que eu podia sofrer livremente sozinha. Aqui, os dormitórios eram espécies de casas; um quarto com duas camas, sala, cozinha e banheiro e, felizmente, não tinha ninguém para
ocupar a outra vaga e acabei deixando tudo do meu jeito. Colei fotos nas paredes, juntei as camas de solteiro, coloquei um sofá com abajur na sala, junto de um pequeno som e na cozinha, só um fogão, micro-ondas e armário. Era o necessário para mim.
A noite se iniciou e por mais uma vez, fiquei lendo um livro na sala. Amanhã seria sábado e, por incrível que pareça, os finais de semana eram os piores dias para mim. Pelo menos de segunda à sexta, eu ia para a faculdade. Agora, minha solidão tinha hora marcada para acabar. Heather, a responsável pela distribuição de dormitórios me disse que uma garota foi transferida de faculdade e ficaria comigo. Vamos esperar para ver. Desliguei o abajur, coloquei meu livro na mesa e fui para o quarto.
Barulhos na sala me fizeram acordar. A nova garota deveria ter chegado. Tomara que ela não seja uma daquelas patricinhas que fui um dia. Levantei, coloquei meu hobby branco e passei silenciosamente até o corredor para ir ao banheiro. Escovei os dentes e os cabelos, prendendo-os, em seguida, fui até à sala. Estranho, vi um garoto – na verdade um homem- mais ou menos da minha idade, cabelos em um tom castanho e pele clara. Era um pouco mais alto que eu e falava ao celular, olhando minhas fotos. Ele desligou quando me ouviu chegar.- Ah..oi. – fiquei meio sem graça por causa de minhas roupas.- Oi! – ele me olhou diretamente nos olhos. – Estou no dormitório certo? &ndas
GregQuando estava indo até o quarto para falar com ela, vi a porta entreaberta e olhei bem devagar, evitando fazer barulho. Ela estava sentada na cama, lendo alguma coisa meio antiga e depois da frase que disse e o choro repentino, consegui mais ou menos entender o que se passava com ela. O namorado tinha morrido. Vê-la daquele jeito me partiu o coração, mas o que eu poderia fazer? Lizzie era muito fechada e isso só poderia ser mudado aos poucos. Ela realmente deve precisar de um amigo para apoiá-la e ouvi-la, mas onde será que estão seus amigos? Essa solidão também era obra dela ou todos que ela amava tinham a abandonado? Voltei para a sala e “tentei” ignorar o que se passava naquele quarto. Tentei.
Ela dormiu muito bem depois que praticamente a obriguei. Lizzie realmente parecia um anjo, e um anjo bem triste. Sabia só que ela tinha perdido o namorado, mas como, não tinha a mínima ideia. Aquelas fotos mostravam uma Elizabeth que não era essa que eu via. Desde o início, me identifiquei com ela e sei lá como, me senti bem. Queria poder ajudá-la a voltar a viver e, pela primeira vez, consegui que falasse pelo menos poucas palavras. Virei para o lado, coloquei o despertador do meu celular e dormi.LizziePela primeira vez, falei algo do meu passado para uma pessoa... o estranho é que me sentia bem depois dessa situação. Muita gente tentou se aproximar de mim, ma
GregNão sabia o motivo, mas gostei muita de Lizzie desde o início. Minha amizade com ela poderia ser comparada com uma de vários anos. Ela dormiu em meu colo e não fui nem capaz de me afastar. Em nenhum momento senti pena dela, só achei injustiça da vida ter lhe tirado tantas coisas em um único dia. Ela literalmente abandonou tudo desde o dia que seus amigos morreram. Só Deus sabe a vontade que eu tinha de ajudá-la. Lizzie virou de lado e tirou a cabeça do meu colo, continuando em seu sono. E a deixei ali e fui estudar na sala, para repor o dia perdido.Algumas semanas passaram desde o dia que ela me revelou o que abalava seu coração. Percebi que r
GregFiquei por vários minutos encarando a porta depois que ela saiu. Qual o motivo dessa briga toda? Eu sei que vacilei de ter chamado Tess para ficar aqui comigo, mas aquelas palavras não eram necessárias. Não para mim, que faço de tudo para vê-la feliz. Faço mesmo? Essa era a pergunta que eu me fazia agora. Sim, faço sim! Quem não quer se ajudar agora é ela! Já perdi as contas das vezes que a chamei pra sair, fazer alguma coisa simples, mas ela sempre mantém essa armadura presa no corpo, que repele qualquer pessoa que tenta se aproximar. Troquei minha roupa e fui até à cozinha beber um pouco d’água. Quando passei, ela não me olhou, mas eu reparei. Estava enrolada no edredom e lendo, mas dessa vez, chor
GregPelo menos tudo tinha se acertado em relação a nós dois e aquela briga horrível foi esquecida. Ela me prometeu que tentaria voltar a viver, mas só se eu tivesse a seu lado para servir de apoio. Ao longo da semana, ela tentou fazer algumas mudanças e eu, como sempre, dei meu apoio. Lizzie comprou um notebook e um iPod. Por várias vezes, sem querer a vi cantando alto ou até mesmo, dançando. Sua mudança estava fazendo bem para ela e até mesmo para nosso relacionamento. Hoje, ela teria que ficar no dormitório para terminar um de seus trabalhos. Acordei cedo, tomei banho, café da manhã e fui para a aula. O “relacionamento” que eu tinha com a Tess estava ficando meio sério pela parte dela. Toda hora ela vinha ficar de mãos dadas comigo, me dar um beijo ou até mesmo me fazer carinho. Ela é uma mulher linda, que qualquer cara adoraria ter. Mas
LizzieNão estava entendendo nada dessa aproximação súbita. O que ele queria de mim? Percebi que quem era no telefone era a “namorada” dele, e logo em seguida, Greg foi para o quarto. Cada vez que ela ligava, eu sentia uma coisa estranha dentro de mim, como uma vontade enorme de tirar o telefone das mãos dele.Algumas semanas passaram. Depois daquela nossa dança, nada comparado àquilo aconteceu. Acho que ele queria se manter distante. Tentei parecer indiferente da mesma forma que ele. Aquele sentimento que estava tendo em relação a ele com Tess, piorava a cada dia. Toda vez que os encontrava na faculdade, estavam se beijando ou de mãos dadas. Tentava
LizzieNão estava suportando Gregory daquela forma. A noite demorou a passar, mas percebi que ele dormia tranquilamente. Não tinha cabeça para ir à aula hoje. Sete horas da manhã e eu já estava de pé sem o mínimo sono e muito chateada com a briga de ontem. Toda vez que eu descobria algo sobre ele e a Tess, meu coração entrava em chamas, carne viva. Não suportava saber que toda sexta à noite ele estaria com ela, beijando ela, abraçando seu corpo e não o meu. É isso, entendi perfeitamente. Eu estou apaixonada pelo Greg. Sim, como não estaria? Desde o início, me apoiou, me deu sua mão, carinho, tudo. Eu simplesmente não suportava pensar que ele ficaria com a Tess e não comigo. Ele era