ANNA NARRANDO.
Depois de um tempo observando o mar, finalmente o navio atracou na ilha. Respirei fundo e caminhei lentamente ao lado da Tânia. Entramos no grande salão, e logo pude sentir os olhares sobre mim. Senti borboletas no estômago, prestes a ter um colapso nervoso. Avistei meu pai sentado em uma das mesas de jogos. Tânia foi falar com minha avó, e eu caminhei devagar até a mesa onde ele estava. Chegando perto, reconheci Eduardo Mallardo, a quem havia visto pessoalmente apenas uma vez e em algumas fotos na pasta do escritório do meu pai. Junto a ele estavam mais três homens, todos mais velhos, exceto dois que pareciam um pouco mais jovens. Um deles, até que era bem apresentável, tinha porte de atleta, olhos claros, cabelo bem penteado, parecia até um fantoche. Ao me aproximar da mesa, notei algumas mulheres por ali. Sabia bem o que estavam fazendo. Elas são usadas para distrair os jogadores e fazê-los perder. Uma das maneiras da máfia ganhar dinheiro, chamada exploração de jogos de azar. Aproximei-me do meu pai e coloquei minhas mãos em seus ombros. Ele pegou uma de minhas mãos e a beijou. — Você demorou, filha! — ele disse, sem tirar os olhos do jogo. — Estava observando o mar… — respondi, tentando disfarçar meu nervosismo. — Que bela moça, Angelo — um dos senhores me elogiou. — Obrigada! — sorri de canto. — Minha futura nora! — respondeu o homem que deduzi ser Eduardo. — Homem de sorte! — o senhor replicou, olhando em direção ao homem que havia chamado minha atenção. — Filha, vá com sua avó… quando eu terminar essa partida, nos encontraremos — papai falou mais sério. Pude sentir os olhos do homem sobre mim, observando cada detalhe do meu corpo, o que me deixou um pouco constrangida. Um garçom passou com taças de champanhe, e eu peguei uma, virando-a de uma vez. Todos me olharam espantados, além de eu ser menor de idade, ninguém imaginava que eu apreciava bebida alcoólica. — Claro, papai — falei, virando as costas. — Uma dama não deveria beber dessa forma — o homem comentou, me reprovando com o olhar. — Que bom que não sou uma dama — revirei os olhos e me afastei. Já sei que meu pai vai falar até meus ouvidos não aguentarem mais, mas quem manda se meter onde não foi chamado? Só ficando bêbada mesmo para aguentar essa loucura toda. — Vai com calma, filha — minha avó falou. — Não precisa descontar na bebida. — Isso é karma, avó… — Já falei que estamos do seu lado, amiga! — Tânia disse, segurando minha mão. — Sorria, filha, seja gentil — minha avó pediu, até com o olhar. — Seu pai está vindo acompanhado. Olhei para trás e vi papai vindo com Eduardo, outro homem, e uma senhora um pouco mais velha do que minha mãe seria, se estivesse viva. — Dá tempo de correr? — perguntei, com os olhos cheios de lágrimas. — Estamos contigo — Tânia falou mais uma vez. Papai chegou perto de nós com os convidados. O homem, cujo nome eu ainda não sabia, me estendeu uma taça de champanhe e sorriu. — Para quem gosta de champanhe, com certeza aprecia o melhor — ele falou, entregando a taça para mim. — Qualquer coisa que me deixe bêbada hoje, eu vou virar — disse, pegando a taça e dando um gole enorme. — Filha, este é Eduardo Mallardo, seu futuro sogro, esta é Carmen, sua futura sogra, e este é Viktor Mallardo, seu futuro marido — papai falou, me apresentando. Então ele se chama Viktor… Fico pensando como um homem de 28 anos se coloca nessa situação, casar por contrato… — Que infelicidade a minha — dei outro gole no champanhe e senti o olhar reprovador do meu pai. — Brincadeira… Encantada. Revirei os olhos, e a mulher, Carmen, me olhou de cima a baixo. — Devia ensinar bons modos a essa moça, Contini. — Devia aprender a segurar a língua, futura sogra — cruzei os braços. — Chega, filha! — papai falou, nervoso. — Não adianta você tentar ser mal-educada. A decisão já foi tomada. — Não se preocupe, em um ano consigo ensinar bons modos à adolescente rebelde — Viktor disse. — Não se atreva… — comecei, mas minha avó me interrompeu. — Anna querida, vamos ao toalete por um minuto? — minha avó fez sinal, e eu virei as costas. — Com licença — disse, seguindo minha avó e Tânia até o toalete. Nós entramos, e ela fechou a porta. Me encostei no lavatório, me olhando no espelho. Minha vontade era de sair dali gritando, quebrar tudo, ou até cometer uma loucura. — Filha, tenha calma! — minha avó pediu. — Não dá, eu não consigo… estou muito mal! — limpei algumas lágrimas. — Anna, pense na sua mãe… neste momento ela estaria te dando forças — Tânia falou. — Faça isso por ela. — É fácil para vocês falarem quando não estão no meu lugar — cruzei os braços. — Não vou conseguir deixar o Carlos, avó… — Será necessário, querida. — Ele tem que entender, Anna… Vai dar tudo certo! — Tomara… — falei, me virando para o espelho e retocando a maquiagem. — Seja forte, filha — minha avó me abraçou forte. — O que seria de mim sem vocês? — sorri. — Nada, né, gata? — Tânia brincou. Voltamos ao salão principal. Os jogos estavam sendo encerrados para o pronunciamento de papai e o tão esperado anúncio de casamento para os outros convidados. Para mim, tudo isso é uma loucura, estressante e desgastante. Minha vontade é de fugir, mas não consigo. O jeito é encarar os fatos. A tortura começou. Papai chamou a mim e ao “velhote” para a frente, para consumar nosso noivado. Parece que todos os chefes dos clãs espanhóis estão presentes, e se eu fizer uma cena agora, irei prejudicar todos. Sem contar que o líder da máfia Carroma veio direto da Itália para prestigiar nossa união, coitado, achando que estou de acordo com tudo, quando não passa de um contrato. Estou exausta. Todos esses olhares e sorrisos forçados estão me sufocando. Forcei-me a ficar ao lado do meu pai. De repente, vi uma figura inesperada na multidão. Era ele!VIKTOR NARRANDO. Eu não sou um homem muito cativante. Sou tranquilo e não gosto de me meter nos problemas dos outros, especialmente nos do meu irmão, Nathan. Esses últimos dias têm sido cansativos. Meu pai descobriu que está com câncer em fase terminal e precisa que eu me case urgentemente para assumir a direção da máfia Mallardo. Mas há um detalhe: ele fez um pacto com os Contini. Em troca de assumir a liderança, devo me casar com a filha deles, uma virgem, por um contrato de um ano. Não estou feliz com isso, mas farei o que for necessário para garantir meu lugar. Curiosamente, meu irmão não quis disputar a cadeira comigo, sabe que a preferência é sempre do filho mais velho. Contudo, o que mais me incomoda é ter que me casar com uma garota de apenas 18 anos. Hoje pela manhã, pedi à minha secretária que comprasse um vestido para presentear a moça. Como hoje é o dia da troca das alianças, ela precisava estar com algo que eu escolhesse. O dia passou depressa. Quando cheguei ao cass
Anna narrando.A tortura começou. Meu pai chamou a mim e ao velho à frente para consumar nosso noivado. Parece que todos os chefes dos clãs espanhóis estão presentes, e se eu fizer uma cena agora, vou prejudicar todos. Sem contar o líder da máfia Carroma, que veio direto da Itália para prestigiar nossa união, achando, coitado, que estou de acordo com tudo, e que isso não passa de um contrato.— Boa noite a todos. Estamos aqui para comemorar o noivado da minha filha Anna Contini com Viktor Mallardo. Através deste casamento, as duas máfias se unirão para evitar ataques e ajudar todos aqueles que precisam de nós. Estou muito feliz em receber Viktor Mallardo como meu genro — disse meu pai ao microfone. — Venham até aqui, Viktor e Anna…Assim que ele nos chamou à frente, caminhei devagar, contra minha vontade. Meu rosto estava tão fechado que qualquer pessoa sensata fugiria ao passar por mim.O velho, Viktor, veio caminhando com um sorriso de lado. Que vontade de dar um tapa bem no meio d
Anna narrandoDesci as escadas devagar. Quando cheguei ao fim, pude ouvir vozes masculinas conversando na sala de jantar. Fiquei com medo do que Viktor estava contando para o meu papá, pois ele ouviu parte da minha discussão com Carlos e, com certeza, estava revelando tudo o que aconteceu.O pior de tudo nessa história seria meu papá descobrir que menti para ele esse tempo todo. Eu não sei o que vai acontecer daqui para frente, mas espero que ele não vá atrás do Carlos. Eu sei que erramos, principalmente eu. De certa forma, ele não teve culpa, fui eu quem mentiu.O pior é que meu papá pode achar que estou mentindo até sobre a minha virgindade. Sei que isso pode prejudicar a vida dele e, pior ainda, colocar a vida da Abuela em risco. A Tânia me avisou desde o início, e eu deveria ter ouvido. Como pude me deixar levar pelos meus sentimentos e acreditar que meu papá um dia aceitaria tudo isso?Quando entrei na sala, todos me olharam surpresos. Lá estavam papai, Viktor e minha abuela.— N
Anna narrando:Eu desci do carro com as pernas trêmulas, estavam tão bambas que eu estava vendo a hora de cair no chão. Parei em frente ao portão e toquei o interfone diversas vezes até ouvir um barulho na porta. Alguém estava abrindo, o que me fez suar frio e, ao mesmo tempo, encher meu coração de esperança.— O que está fazendo aqui? — Ele perguntou ao abrir a porta.— Precisamos conversar, me escuta… Por favor… Somente dez minutos. — Praticamente implorei com o olhar.— Não sei se é uma boa hora. — Ele falou, abrindo um pouco mais a porta, me dando a visão de uma garota sentada no sofá.— Você é um cretino, usurpador! — Falei com os olhos cheios de lágrimas.— Anna, você achou mesmo que eu te amava? — Ele falou sorrindo, e eu olhei sem entender. — Entenda, você é rica, bonita, tem empresas em seu nome… Qual homem não se interessaria por você?— Você é nojento, como todos os outros! — Falei, dando um tapa em seu rosto. — Eu te odeio!Virei as costas e saí de lá chorando, entrei no p
ANNA NARRANDOUma semana se passou desde o acontecimento no cassino. Eu não vi mais o Carlos, nem ouvi falar dele até hoje. Também não tenho muitos amigos além da Tânia. Sempre que ela vem aqui, evita falar sobre a escola ou sobre o Carlos.Eu não voltei mais para a escola. Meu pai, com suas influências, conseguiu que eu fosse aprovada no último ano sem fazer as provas finais. Enquanto isso, estou sendo instruída sobre a máfia e tudo o que envolve o casamento que terei que cumprir. Após o casamento, seremos obrigados a ir para a Itália. O casamento precisará ser consumado lá.— Está pronta, filha? — Meu pai perguntou.— Sim, papai — respondi de forma seca.Peguei minha bolsa e fiz sinal para que a Tânia me acompanhasse. Eu não queria ir no mesmo carro que meu pai, então, como a Tânia veio dirigindo, era melhor irmos no carro dela. Descemos as escadas, cada um foi para o seu carro. Entrei no banco da frente e coloquei o cinto de segurança. Tânia entrou e deu partida no carro.— Isso tu
ANNA NARRANDO.Amanhã é o meu casamento, e estou completamente desanimada e triste. Mal tenho saído de casa, e desde o jantar, não vi mais o Viktor, nem qualquer pessoa daquela família, o que, pelo menos, é um ponto positivo.Hoje será o último ajuste do vestido. Amanhã é o casamento, e já está tudo pronto: malas arrumadas, passagens compradas. A cerimônia será simples, apenas na igreja, e depois vamos para a Itália. Eu escolhi não fazer recepção ou qualquer outra comemoração que pudesse fingir que estou feliz, e pelo menos dessa vez, meu pai me ouviu.Levantei por obrigação, tomei um banho rápido e vesti um vestido leve. Desci para o café da manhã, e felizmente não havia ninguém lá, nem mesmo a minha avó. Comi rápido e voltei para o quarto. Fazia dias que eu não olhava o celular ou as redes sociais.Quando abri o Instagram, vi uma mensagem no direct. No início, não liguei muito, até notar comentários na minha foto com a Tânia, tirada no jantar na casa dos Mallardo. Resolvi abrir o di
ANNA NARRANDO. Viktor abriu a porta do carro para mim, e eu entrei. Ele logo veio em seguida, ligou o carro e começou a dirigir, sem que eu soubesse para onde estávamos indo. Encostei minha cabeça no vidro, observando a rua passar. Eu não sei o que estou sentindo. Fui violada pelo meu papá, estou sendo tratada como mercadoria por um homem que nem conheço e ainda vou ser obrigada a ficar longe da minha abuela. Tantas coisas foram perdidas nesse tempo… Meu namoro acabou, minhas aulas foram cortadas, e fui aprovada sem nem ao menos fazer uma prova. Agora, estou indo morar longe da minha melhor amiga e da mulher que me criou, que me fez ser quem sou. As lágrimas começaram a escorrer pelos meus olhos. Um peso enorme se acumulava dentro de mim, um desespero que não consigo explicar. Limpei as lágrimas e tentei me focar no que preciso fazer agora: deixar esse homem tirar minha virgindade e assumir a Máfia. – Você quer passar em casa para trocar de roupa? – Viktor perguntou. – Onde estão
ANNA NARRANDO. Depois que comemos a pizza, ficamos deitados juntos assistindo à série que eu estava vendo. De vez em quando, Viktor olhava o celular, parecia que esperava uma ligação ou mensagem de alguém. Eu estava agoniada com a situação, sem saber se ele iria tomar a iniciativa para transarmos ou se eu deveria fazer isso. Estava completamente perdida, e a única coisa que eu queria era que aquilo acabasse logo. Viktor tirou a roupa e deitou-se novamente. Não pude deixar de notar o quanto ele era bonito e seu corpo bem definido. Ele percebeu que eu o estava observando, então se virou para mim e acariciou meu rosto, me fazendo fechar os olhos ao sentir seu toque. — Pele macia— Viktor sussurrou, me fazendo arrepiar. — Não precisa ter medo de mim, eu não quero te machucar. — Acaba com essa tortura de uma vez, por favor. — pedi, de olhos fechados. Viktor se levantou um pouco e me puxou para mais perto de seu corpo, tirando lentamente minha camisola de seda preta, revelando meu corp