Capítulo 02/ Cassino

ANNA NARRANDO.

Depois de um tempo observando o mar, finalmente o navio atracou na ilha. Respirei fundo e caminhei lentamente ao lado da Tânia. Entramos no grande salão, e logo pude sentir os olhares sobre mim. Senti borboletas no estômago, prestes a ter um colapso nervoso.

Avistei meu pai sentado em uma das mesas de jogos. Tânia foi falar com minha avó, e eu caminhei devagar até a mesa onde ele estava. Chegando perto, reconheci Eduardo Mallardo, a quem havia visto pessoalmente apenas uma vez e em algumas fotos na pasta do escritório do meu pai. Junto a ele estavam mais três homens, todos mais velhos, exceto dois que pareciam um pouco mais jovens. Um deles, até que era bem apresentável, tinha porte de atleta, olhos claros, cabelo bem penteado, parecia até um fantoche.

Ao me aproximar da mesa, notei algumas mulheres por ali. Sabia bem o que estavam fazendo. Elas são usadas para distrair os jogadores e fazê-los perder. Uma das maneiras da máfia ganhar dinheiro, chamada exploração de jogos de azar. Aproximei-me do meu pai e coloquei minhas mãos em seus ombros. Ele pegou uma de minhas mãos e a beijou.

— Você demorou, filha! — ele disse, sem tirar os olhos do jogo.

— Estava observando o mar… — respondi, tentando disfarçar meu nervosismo.

— Que bela moça, Angelo — um dos senhores me elogiou.

— Obrigada! — sorri de canto.

— Minha futura nora! — respondeu o homem que deduzi ser Eduardo.

— Homem de sorte! — o senhor replicou, olhando em direção ao homem que havia chamado minha atenção.

— Filha, vá com sua avó… quando eu terminar essa partida, nos encontraremos — papai falou mais sério.

Pude sentir os olhos do homem sobre mim, observando cada detalhe do meu corpo, o que me deixou um pouco constrangida. Um garçom passou com taças de champanhe, e eu peguei uma, virando-a de uma vez. Todos me olharam espantados, além de eu ser menor de idade, ninguém imaginava que eu apreciava bebida alcoólica.

— Claro, papai — falei, virando as costas.

— Uma dama não deveria beber dessa forma — o homem comentou, me reprovando com o olhar.

— Que bom que não sou uma dama — revirei os olhos e me afastei.

Já sei que meu pai vai falar até meus ouvidos não aguentarem mais, mas quem manda se meter onde não foi chamado? Só ficando bêbada mesmo para aguentar essa loucura toda.

— Vai com calma, filha — minha avó falou. — Não precisa descontar na bebida.

— Isso é karma, avó…

— Já falei que estamos do seu lado, amiga! — Tânia disse, segurando minha mão.

— Sorria, filha, seja gentil — minha avó pediu, até com o olhar. — Seu pai está vindo acompanhado.

Olhei para trás e vi papai vindo com Eduardo, outro homem, e uma senhora um pouco mais velha do que minha mãe seria, se estivesse viva.

— Dá tempo de correr? — perguntei, com os olhos cheios de lágrimas.

— Estamos contigo — Tânia falou mais uma vez.

Papai chegou perto de nós com os convidados. O homem, cujo nome eu ainda não sabia, me estendeu uma taça de champanhe e sorriu.

— Para quem gosta de champanhe, com certeza aprecia o melhor — ele falou, entregando a taça para mim.

— Qualquer coisa que me deixe bêbada hoje, eu vou virar — disse, pegando a taça e dando um gole enorme.

— Filha, este é Eduardo Mallardo, seu futuro sogro, esta é Carmen, sua futura sogra, e este é Viktor Mallardo, seu futuro marido — papai falou, me apresentando.

Então ele se chama Viktor… Fico pensando como um homem de 28 anos se coloca nessa situação, casar por contrato…

— Que infelicidade a minha — dei outro gole no champanhe e senti o olhar reprovador do meu pai. — Brincadeira… Encantada.

Revirei os olhos, e a mulher, Carmen, me olhou de cima a baixo.

— Devia ensinar bons modos a essa moça, Contini.

— Devia aprender a segurar a língua, futura sogra — cruzei os braços.

— Chega, filha! — papai falou, nervoso. — Não adianta você tentar ser mal-educada. A decisão já foi tomada.

— Não se preocupe, em um ano consigo ensinar bons modos à adolescente rebelde — Viktor disse.

— Não se atreva… — comecei, mas minha avó me interrompeu.

— Anna querida, vamos ao toalete por um minuto? — minha avó fez sinal, e eu virei as costas.

— Com licença — disse, seguindo minha avó e Tânia até o toalete.

Nós entramos, e ela fechou a porta. Me encostei no lavatório, me olhando no espelho. Minha vontade era de sair dali gritando, quebrar tudo, ou até cometer uma loucura.

— Filha, tenha calma! — minha avó pediu.

— Não dá, eu não consigo… estou muito mal! — limpei algumas lágrimas.

— Anna, pense na sua mãe… neste momento ela estaria te dando forças — Tânia falou. — Faça isso por ela.

— É fácil para vocês falarem quando não estão no meu lugar — cruzei os braços. — Não vou conseguir deixar o Carlos, avó…

— Será necessário, querida.

— Ele tem que entender, Anna… Vai dar tudo certo!

— Tomara… — falei, me virando para o espelho e retocando a maquiagem.

— Seja forte, filha — minha avó me abraçou forte.

— O que seria de mim sem vocês? — sorri.

— Nada, né, gata? — Tânia brincou.

Voltamos ao salão principal. Os jogos estavam sendo encerrados para o pronunciamento de papai e o tão esperado anúncio de casamento para os outros convidados. Para mim, tudo isso é uma loucura, estressante e desgastante. Minha vontade é de fugir, mas não consigo. O jeito é encarar os fatos.

A tortura começou. Papai chamou a mim e ao “velhote” para a frente, para consumar nosso noivado. Parece que todos os chefes dos clãs espanhóis estão presentes, e se eu fizer uma cena agora, irei prejudicar todos. Sem contar que o líder da máfia Carroma veio direto da Itália para prestigiar nossa união, coitado, achando que estou de acordo com tudo, quando não passa de um contrato.

Estou exausta. Todos esses olhares e sorrisos forçados estão me sufocando. Forcei-me a ficar ao lado do meu pai. De repente, vi uma figura inesperada na multidão. Era ele!

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