ANNA NARRANDO.
Você já foi forçado a fazer algo que não queria? Eu fui. Meu nome é Anna Contini, filha de Angelo Contini, o chefe da máfia. Acabo de completar 18 anos e, para minha surpresa, estou prestes a me casar com um homem onze anos mais velho que eu. Sim, onze anos. E claro, contra a minha vontade. Meu pai insiste que este casamento é necessário, uma forma de unir os clãs Contini e Mallardo e alcançar a tão esperada paz. Mas, sinceramente, isso não me convence. Tudo mudou na minha vida quando minha mãe morreu. Antes disso, eu era feliz, ou pelo menos achava que era. Minha mãe era a única capaz de controlar meu pai, fazer com que ele refletisse melhor sobre suas decisões. Desde que ela se foi, sinto que ele está perdido, tentando desesperadamente manter o controle, não apenas da máfia, mas de mim também. Agora, estou sendo usada como moeda de troca para uma aliança que nunca desejei. Na verdade, nem conheço meu noivo. Nunca vi uma foto, não sei absolutamente nada sobre ele, exceto que ele é mais velho. Parece piada, mas essa é a realidade da minha vida. Enquanto isso, preciso esconder esse casamento de Carlos, meu namorado. Ele não sabe, e como eu poderia contar? Carlos é a única coisa boa que me resta. Ele está focado em conseguir uma bolsa para medicina, e aqui estou eu, prestes a me casar com outro homem. Quando penso em tudo isso, a única pessoa em quem consigo confiar é minha abuela. Ela sempre parece saber o que se passa dentro de mim. Ela me conforta, mas ao mesmo tempo, sei que não pode me tirar dessa situação. “É só um ano, Anna”, ela sempre diz. Um ano. Parece uma eternidade. Barcelona, 6:40 da manhã. Acordei cedo como sempre, tomando uma ducha rápida e me preparando para a escola. Enquanto me olhava no espelho, com o uniforme da Elite School, murmurei para mim mesma: “Só mais duas semanas…” Ao descer as escadas, ouvi vozes na sala de estar. Meu pai e minha avó estavam conversando. — Anna tem que ir à recepção — ouvi meu pai dizer. — Angelo, não force a menina a se casar — retrucou minha avó. — Buenos días, papá, abuela — falei ao entrar. Eles pararam de falar imediatamente, tentando disfarçar a tensão no ar. Depois de um breve café da manhã, meu pai me surpreendeu com um pedido inesperado. — Quero que você vá ao cassino esta noite — ele disse, em um tom que não deixava espaço para discussão. — Por quê? — perguntei. — Você saberá quando chegar lá — ele respondeu, sem dar maiores explicações. “Vista-se com roupas de gala”, ele acrescentou. Algo estava claramente errado. Meu pai estava nervoso, como não o via desde a morte da minha mãe. E, claro, minha avó apenas olhava para mim com aqueles olhos tristes, como se já soubesse o que estava por vir. À noite, vesti o vestido preto que meu noivo desconhecido havia comprado para mim. Me olhei no espelho e, apesar da beleza do vestido, senti como se estivesse me preparando para o meu próprio funeral. Desci as escadas, pronta para enfrentar o que quer que fosse. Meu pai, impaciente, me esperava ao lado da porta. Quando me viu, tentou sorrir, mas sua tensão era evidente. Não consegui disfarçar meu descontentamento. Estava furiosa com ele. — Está linda, filha — ele comentou. — Espero que não esteja desapontando a minha mãe, onde quer que ela esteja — respondi, fria. — Anna, eu sei o que estou fazendo. Não seja ingrata — ele retrucou, visivelmente irritado. — Ingrata? O que mais devo fazer, papá? Além de ser vendida como um objeto? — continuei, desafiando-o. Ele se aproximou, o rosto tomado pela raiva. Por um momento, achei que fosse me bater, mas ele recuou. — Eu nunca encostaria um dedo em você, Anna — ele disse, tentando se recompor. — Mas você precisa entender que isso é para o bem de todos. Não quero te perder. — Está me perdendo de qualquer jeito, papá, entregando-me de bandeja para o inimigo — respondi, com uma dor que parecia cortar minha alma. No fundo, sabia que meu pai não era um homem cruel, mas suas decisões me faziam duvidar. Ele estava desesperado, tentando proteger o legado da família a qualquer custo, mesmo que isso significasse sacrificar minha felicidade. Chegamos ao cassino, localizado em um luxuoso navio que zarpava da costa de Barcelona em direção à ilha de Palma de Maiorca. O ambiente, com todo seu luxo e ostentação, só me lembrava o quão sufocada me sentia. Assim que entramos no salão, vi meu pai e minha avó conversando com outras pessoas. Não consegui suportar. Dei meia volta e saí, precisando de ar. — Anna, onde você vai? — minha amiga Tânia me seguiu, preocupada. — Eu só preciso respirar — respondi, tentando controlar as lágrimas. Nos dirigimos até a parte externa do navio, onde o vento fresco me ajudava a manter o controle. Mas o que eu realmente queria era fugir. — Eu estive pensando… — comecei a falar, hesitante. — E se eu me entregar para o Carlos? Tânia me olhou com olhos arregalados, chocada. — Você está louca, Anna? — ela exclamou. — A máfia te mataria… e ao Carlos também. Isso não é uma solução. — Mas seria o fim desse pesadelo. Pelo menos, eu teria algum controle sobre a minha própria vida — murmurei, tentando encontrar algum sentido em meio ao caos. Tânia balançou a cabeça, tentando me fazer enxergar a realidade. — Isso não vai te salvar, Anna. Só vai piorar as coisas. Você precisa ser forte e enfrentar o que está por vir. Um ano vai passar rápido. Olhei para o horizonte, vendo a ilha se aproximar. Aquele deveria ser o momento mais importante da minha vida, mas tudo o que eu conseguia sentir era revolta. Será que minha virgindade fazia parte desse contrato? E se eu me entregasse para o Carlos?ANNA NARRANDO.Depois de um tempo observando o mar, finalmente o navio atracou na ilha. Respirei fundo e caminhei lentamente ao lado da Tânia. Entramos no grande salão, e logo pude sentir os olhares sobre mim. Senti borboletas no estômago, prestes a ter um colapso nervoso.Avistei meu pai sentado em uma das mesas de jogos. Tânia foi falar com minha avó, e eu caminhei devagar até a mesa onde ele estava. Chegando perto, reconheci Eduardo Mallardo, a quem havia visto pessoalmente apenas uma vez e em algumas fotos na pasta do escritório do meu pai. Junto a ele estavam mais três homens, todos mais velhos, exceto dois que pareciam um pouco mais jovens. Um deles, até que era bem apresentável, tinha porte de atleta, olhos claros, cabelo bem penteado, parecia até um fantoche.Ao me aproximar da mesa, notei algumas mulheres por ali. Sabia bem o que estavam fazendo. Elas são usadas para distrair os jogadores e fazê-los perder. Uma das maneiras da máfia ganhar dinheiro, chamada exploração de jogo
VIKTOR NARRANDO. Eu não sou um homem muito cativante. Sou tranquilo e não gosto de me meter nos problemas dos outros, especialmente nos do meu irmão, Nathan. Esses últimos dias têm sido cansativos. Meu pai descobriu que está com câncer em fase terminal e precisa que eu me case urgentemente para assumir a direção da máfia Mallardo. Mas há um detalhe: ele fez um pacto com os Contini. Em troca de assumir a liderança, devo me casar com a filha deles, uma virgem, por um contrato de um ano. Não estou feliz com isso, mas farei o que for necessário para garantir meu lugar. Curiosamente, meu irmão não quis disputar a cadeira comigo, sabe que a preferência é sempre do filho mais velho. Contudo, o que mais me incomoda é ter que me casar com uma garota de apenas 18 anos. Hoje pela manhã, pedi à minha secretária que comprasse um vestido para presentear a moça. Como hoje é o dia da troca das alianças, ela precisava estar com algo que eu escolhesse. O dia passou depressa. Quando cheguei ao cass
Anna narrando.A tortura começou. Meu pai chamou a mim e ao velho à frente para consumar nosso noivado. Parece que todos os chefes dos clãs espanhóis estão presentes, e se eu fizer uma cena agora, vou prejudicar todos. Sem contar o líder da máfia Carroma, que veio direto da Itália para prestigiar nossa união, achando, coitado, que estou de acordo com tudo, e que isso não passa de um contrato.— Boa noite a todos. Estamos aqui para comemorar o noivado da minha filha Anna Contini com Viktor Mallardo. Através deste casamento, as duas máfias se unirão para evitar ataques e ajudar todos aqueles que precisam de nós. Estou muito feliz em receber Viktor Mallardo como meu genro — disse meu pai ao microfone. — Venham até aqui, Viktor e Anna…Assim que ele nos chamou à frente, caminhei devagar, contra minha vontade. Meu rosto estava tão fechado que qualquer pessoa sensata fugiria ao passar por mim.O velho, Viktor, veio caminhando com um sorriso de lado. Que vontade de dar um tapa bem no meio d
Anna narrandoDesci as escadas devagar. Quando cheguei ao fim, pude ouvir vozes masculinas conversando na sala de jantar. Fiquei com medo do que Viktor estava contando para o meu papá, pois ele ouviu parte da minha discussão com Carlos e, com certeza, estava revelando tudo o que aconteceu.O pior de tudo nessa história seria meu papá descobrir que menti para ele esse tempo todo. Eu não sei o que vai acontecer daqui para frente, mas espero que ele não vá atrás do Carlos. Eu sei que erramos, principalmente eu. De certa forma, ele não teve culpa, fui eu quem mentiu.O pior é que meu papá pode achar que estou mentindo até sobre a minha virgindade. Sei que isso pode prejudicar a vida dele e, pior ainda, colocar a vida da Abuela em risco. A Tânia me avisou desde o início, e eu deveria ter ouvido. Como pude me deixar levar pelos meus sentimentos e acreditar que meu papá um dia aceitaria tudo isso?Quando entrei na sala, todos me olharam surpresos. Lá estavam papai, Viktor e minha abuela.— N
Anna narrando:Eu desci do carro com as pernas trêmulas, estavam tão bambas que eu estava vendo a hora de cair no chão. Parei em frente ao portão e toquei o interfone diversas vezes até ouvir um barulho na porta. Alguém estava abrindo, o que me fez suar frio e, ao mesmo tempo, encher meu coração de esperança.— O que está fazendo aqui? — Ele perguntou ao abrir a porta.— Precisamos conversar, me escuta… Por favor… Somente dez minutos. — Praticamente implorei com o olhar.— Não sei se é uma boa hora. — Ele falou, abrindo um pouco mais a porta, me dando a visão de uma garota sentada no sofá.— Você é um cretino, usurpador! — Falei com os olhos cheios de lágrimas.— Anna, você achou mesmo que eu te amava? — Ele falou sorrindo, e eu olhei sem entender. — Entenda, você é rica, bonita, tem empresas em seu nome… Qual homem não se interessaria por você?— Você é nojento, como todos os outros! — Falei, dando um tapa em seu rosto. — Eu te odeio!Virei as costas e saí de lá chorando, entrei no p
ANNA NARRANDOUma semana se passou desde o acontecimento no cassino. Eu não vi mais o Carlos, nem ouvi falar dele até hoje. Também não tenho muitos amigos além da Tânia. Sempre que ela vem aqui, evita falar sobre a escola ou sobre o Carlos.Eu não voltei mais para a escola. Meu pai, com suas influências, conseguiu que eu fosse aprovada no último ano sem fazer as provas finais. Enquanto isso, estou sendo instruída sobre a máfia e tudo o que envolve o casamento que terei que cumprir. Após o casamento, seremos obrigados a ir para a Itália. O casamento precisará ser consumado lá.— Está pronta, filha? — Meu pai perguntou.— Sim, papai — respondi de forma seca.Peguei minha bolsa e fiz sinal para que a Tânia me acompanhasse. Eu não queria ir no mesmo carro que meu pai, então, como a Tânia veio dirigindo, era melhor irmos no carro dela. Descemos as escadas, cada um foi para o seu carro. Entrei no banco da frente e coloquei o cinto de segurança. Tânia entrou e deu partida no carro.— Isso tu
ANNA NARRANDO.Amanhã é o meu casamento, e estou completamente desanimada e triste. Mal tenho saído de casa, e desde o jantar, não vi mais o Viktor, nem qualquer pessoa daquela família, o que, pelo menos, é um ponto positivo.Hoje será o último ajuste do vestido. Amanhã é o casamento, e já está tudo pronto: malas arrumadas, passagens compradas. A cerimônia será simples, apenas na igreja, e depois vamos para a Itália. Eu escolhi não fazer recepção ou qualquer outra comemoração que pudesse fingir que estou feliz, e pelo menos dessa vez, meu pai me ouviu.Levantei por obrigação, tomei um banho rápido e vesti um vestido leve. Desci para o café da manhã, e felizmente não havia ninguém lá, nem mesmo a minha avó. Comi rápido e voltei para o quarto. Fazia dias que eu não olhava o celular ou as redes sociais.Quando abri o Instagram, vi uma mensagem no direct. No início, não liguei muito, até notar comentários na minha foto com a Tânia, tirada no jantar na casa dos Mallardo. Resolvi abrir o di
ANNA NARRANDO. Viktor abriu a porta do carro para mim, e eu entrei. Ele logo veio em seguida, ligou o carro e começou a dirigir, sem que eu soubesse para onde estávamos indo. Encostei minha cabeça no vidro, observando a rua passar. Eu não sei o que estou sentindo. Fui violada pelo meu papá, estou sendo tratada como mercadoria por um homem que nem conheço e ainda vou ser obrigada a ficar longe da minha abuela. Tantas coisas foram perdidas nesse tempo… Meu namoro acabou, minhas aulas foram cortadas, e fui aprovada sem nem ao menos fazer uma prova. Agora, estou indo morar longe da minha melhor amiga e da mulher que me criou, que me fez ser quem sou. As lágrimas começaram a escorrer pelos meus olhos. Um peso enorme se acumulava dentro de mim, um desespero que não consigo explicar. Limpei as lágrimas e tentei me focar no que preciso fazer agora: deixar esse homem tirar minha virgindade e assumir a Máfia. – Você quer passar em casa para trocar de roupa? – Viktor perguntou. – Onde estão