Isadora.
— Ela está dormindo agora. — Mila fala assim que largo minha bolsa em cima do sofá.— Obrigada, Mila! Não sabe o quão me preocupei com ela hoje — sibilo me sentindo cansada.— Sabia que havia saído a procura de emprego e quando percebi que não voltou para casa, supus que havia conseguido algo. — Sorrio.— Sim. Não é muita coisa, mas vai nos ajudar.— Que bom, querida, e como fará com ela? — Solto uma lufada de ar audível.— Ainda não sei, Mila. Será que pode olhá-la enquanto volto para casa?— Posso fazer isso por alguns dias, querida, mas você sabe que a Sara precisa de cuidados especiais.— É, eu sei. Mas com o que receberei mal dará para assumir as contas e nos alimentarmos. Como farei para pagar uma clínica? — resmungo desanimada.— Querida, você pode deixá-la em uma casa de repouso. Só… até as coisas melhorarem. — Me sinto sufocar só de ouvir essa sugestão, mas sei que não terei outra opção.— Prometo que pensarei com carinho, Mila. — A doce Senhora força um sorriso para mim.— Tudo bem, querida! Deixei um pouco de macarronada para você na geladeira. Tome um banho, coma algo e descanse. Amanhã é outro dia.— Sim. Mais uma vez obrigada, Mila! — Ela assente e sai. Após um banho demorado, visto apenas um conjunto curto de pijama de flanela e antes de ir para o meu quarto aproveito para olhá-la. Mamãe dorme tranquila sobre o efeito de medicamentos e em lágrimas sento-me na pequena poltrona, a observando por longos minutos. — Eu sinto muito, mãe! — sussurro. — Não queria ter que levá-la para longe de mim, menos ainda forçá-la a conviver com estranhos. No entanto, não estou vendo outra saída. Só… prometo que será por tempo — sibilo baixinho e seco as lágrimas. Levanto-me e antes de deixar o quarto beijo suavemente a sua testa.***No dia seguinte...— Bom dia, Isadora! Pronta para mais um dia? — Meu chefe me pergunta com uma animação que não dá para entender. Talvez esse seja o seu jeito estabanado demais, ou talvez queira apenas nos animar para mais um dia corrido. Com um sorriso pego meu uniforme e vou me trocar para mais um dia de trabalho. A D’Angelo é um edifício empresarial, porém, a grande maioria das salas comerciais são de escritórios de advocacia e de administração. Ele reúne nomes de empresas renomadas e de grande porte aqui. Pelo que ouvi as meninas comentarem o Senhor Heitor D’Angelo, o proprietário mantém uma de suas empresas aqui mesmo só que na cobertura. Os boatos ainda dizem que nenhuma de nossas copeiras chegou a servir esse andar. Parece que o homem tem manias de grandeza ou um rei na barriga. Enfim, nem mesmo trabalhando na copa do prédio terei a chance de chegar a esse topo também. — Vamos lá, meninas! Anne, terceiro, quinto e sexto andar. Emma, vigésimo, vigésimo terceiro e trigésimo primeiro. Isadora, o andar de empreendedorismo.— Olha, mal chegou e já está perto do céu! — Anne ralha com humor tirando a minha atenção da chamada do nosso chefe e me fazendo olhá-la com curiosidade.— Perto do céu? — Ela faz sim com a cabeça, esbanjando um sorriso largo.— É o andar mais próximo da D’Angelo e o que dá as melhores gorjetas também. — Emma cochicha e eu olho para o meu chefe que continua lendo a enorme lista de afazeres, passando-as para os devidos funcionários. Enquanto ler ele me lança um olhar indecifrável e sorrio para o homem que me sorri sugestivamente para mim. Apenas finjo descaso e saio com os outros funcionários da pequena sala de reuniões.— Acho que Peter está arrastando asas para você, Isadora. — Anne comenta com tom de segredo enquanto arruma o seu carrinho.— Ah, é claro que não! Por que acha isso? — Ela dá de ombros.— Ninguém nunca vai para esse setor no segundo dia de trabalho. Eles costumam ser bem exigentes quanto a isso e Peter sempre procura manter tudo na mais perfeita ordem. Você fez progressos com nosso chefe, menina! — A garota pisca um olho e empurra o seu carrinho. Inevitavelmente olho para as paredes de vidro que separa o escritório do meu chefe da copa e outra vez o encontro me olhando. Suspiro e tento me concentrar no meu carrinho.***Nervosa? Posso dizer que nesse momento essa palavra é um eufemismo para mim. Estou trêmula pra caramba! O fato de saber que a Maden Contabil é o escritório de contabilidade mais requisitado do país e do mundo mexeu com a minha estrutura. E você deve estar se perguntando, por que tanto estresse? Porque contabilidade é o meu mundo. Eu estudei para isso, sonhei com isso a minha vida inteira e principalmente, eu sonhei em trabalhar nessa empresa, mas olha onde estou agora! Exatamente em uma sala de reuniões dos melhores contadores olhando para cada cadeira acolchoada da mesa retangular. Só, que estou do lado errado e não em uma daquelas cadeiras. Ansiosa, passo a mão pelo tecido grosso e azulado de uma delas e chego a suspirar profundamente. Você precisa sair, Isa. Meu subconsciente me alerta e ansiosa pressiono os lábios, afastando-me da mesa, porém, sem lhe dar as costas para ir à porta de saída. No mesmo instante alguém a abre bruscamente e sou empurrada com violência para frente, caindo de quatro no chão de madeira lustroso.— Merda! — xingo baixinho, porém, exasperada pois sei que fiquei mais tempo que devia estar aqui. Eu só tinha que deixar o maldito carrinho na sala e sair logo em seguida. Por que não diz isso, merda?— O que faz aqui?! — Uma voz feminina questiona com irritabilidade me fazendo erguer a cabeça e sem jeito me levanto sibilando um pedido de desculpas.— Eu só… eu só vim trazer o breakfast para a reunião — explico passando as mãos pelo meu uniforme, tentando arrumá-lo da melhor maneira possível.— Você é novata?! — É um nítido tom de insatisfação da mulher. Droga, estou muito ferrada!— S-sim, senhora!— Peter sabe das nossas exigências, como ele se atreve?! — Engulo em seco e penso que não posso me dar ao luxo de perder esse emprego.— I-isso não voltará a se repetir, S-senhora — Garanto entre nervosa e agitada.— Não, não vai! Agora saia daqui!— Claro, Senhora e me desculpe pelo transtorno! — Dou dois passos apressados para sair quanto antes dali, porém, esbarro forte demais contra um corpo alto e sinto que estou sendo lançada ao chão outra vez. Contudo, antes que eu sinta o impacto um par de mãos seguram firmes a minha cintura e encontro imediatamente um par de olhos cor de mel me olhando. Um sorriso de lado surge em seguida no meio de uma barba rala bem delineada.— Só me faltava essa agora! — A mulher resmunga ainda irritada e me fazendo-me afastar do homem imediatamente, e trêmula volta a ajeitar o meu uniforme.— Me desculpe por isso, Senhor! — peço envergonhada, mas não ouso olhar nos olhos de todos que se aglomeram atrás dele devido o maldito incidente.— Eu mesma cuidarei para que isso não se repita, não se preocupe! — A mulher ralha furiosa e eu forço a minha saída entre os empresários.Isadora.Logo mais à noite...Abro a porta de casa ansiosa por um banho demorado, louca para devorar um jantar e depois simplesmente cair na minha cama. Contudo, ao ver Mila em pé na minha sala com um olhar de pena as minhas energias se renovaram e corro para o segundo quarto do pequeno corredor. Paro estática ao ver minha mãe sentada na ponta da sua cama balançando o seu corpo para frente e para trás e com o olhar perdido.— Ela não está nada bem hoje! — Mila comenta parando ao meu lado.— O que houve? — Ela solta um suspiro audível.— Eu não sei. Sara simplesmente se recusou a tomar os seus remédios e começou a dizer que estava vendo seu pai no quarto. Eu quis acalmá-la, mas ela não parava de gritar e quando parou ficou assim.— Droga, Mila, por que não me ligou?— E atrapalhar o seu segundo dia de trabalho?— Mas, Mila, ela é a minha mãe!— Sim, eu sei. E você precisa desse emprego para poder ajudá-la. — Solto uma respiração alta e vou para perto da minha mãe. Ponho as mãos nos seu
Heitor.— Olha ele aí! — Tadeu, o meu assessor pessoal diz entrando em meu escritório. Essa sua alegria espontânea demais me faz revirar os olhos pois eu sei que aguarda boas notícias da minha última reunião em família. Nascer no berço de ouro da D’Angelo traz algumas coisas muito, muito boas: sucesso, dinheiro, mulheres gostosas e a extravagância das festas, embora tenha o seu lado todo ruim também. As mulheres sempre te olham como se você fosse um enorme pote de ouro no final do arco-íris. Você não tem a liberdade de ir e vir, e tem todo o peso de um império sobre os seus ombros. — Então, como foi lá? Está mais milionário do que ontem, ou… — Rio com sarcasmo.— Você não vai acreditar, mas a minha mamãezinha deixou uma exigência no seu testamento. Acredita que ela exigiu um casamento com amor e todas aquelas frescuras possíveis?— Puta merda! — resmunga e puxa uma cadeira para se sentar. — No que ela estava pensando?— Ela quer me castigar, simplesmente impor a sua vontade sobre mim
Heitor.Horas mais tarde...Entro em casa recebendo o seu habitual silêncio e após livrar-me da gravata vou até o bar de canto, e me sirvo uma generosa dose de uísque. Depois, aproximo-me de uma parede de vidro e observo as ruas com suas luzes brilhantes, e suas pontes que parecem enlaçar a cidade. Daqui não se ouve nada, tudo parece calmo demais, mas o trânsito caótico diz o contrário. Bebo mais um gole da minha bebida e decido ir para o segundo andar da cobertura, e em seguida para o quarto principal. Tomo um banho demorado, ponho uma roupa confortável e ligo para o restaurante do hotel para pedir o meu jantar. Enquanto aguardo me tranco no escritório e abro a ata de contabilidade da D’Angelo. Há alguns meses descobrimos que nosso chefe da contabilidade estava realizando alguns pequenos furtos na empresa. Claro que exigi sigilo sobre o assunto, pois não quero o meu nome nas fofocas dos tabloides, menos ainda ser visto como um empresário fraco e desatento. Foi exatamente por isso que
— Bom dia, eu me chamo Isadora! O Senhor D’na...— É claro! O Senhor D’Angelo está lhe aguardando. — Não retribuo a cordialidade do sorriso da secretária que gentilmente abre a porta para mim, pois estou tão nervosa que nem sei como reagir nessa hora. O que eu poderia fazer, suplicar que não me demita? Humilhar-me para que ele tenha piedade de mim? Não! O meu pai sempre nos ensinou que devemos ter um pouco de integridade e se eu tiver que permanecer neste emprego será aceitando os meus erros e consertando-os da maneira que puder. E por fim, se ele não me aceitar em sua empresa eu encontrarei outro emprego, certo? Droga, a coisa não é tão fácil assim, Isadora! Você está desesperada e isso é um fato! Adentro um escritório extremamente espaçoso e bem iluminado, e não consigo evitar de observar os detalhes dos móveis claros em um contraste perfeito com o preto e o cinza chumbo da decoração. Atrás de uma mesa de mogno imponente está um homem jovem demais para um cargo tão importante. Moren
Isadora— Isadora, tudo bem com você? — Emma pergunta preocupada assim que entro na copa. Ignoro a sua preocupação e vou direto para a sala do meu chefe, e assim que entro Peter se levanta da sua cadeira. Ele não esconde um olhar preocupado e imediatamente vem até mim.— Isadora, o que houve?! — Sem pensar duas vezes corro para os seus braços e choro ali por algum tempo até me sentir aliviada. Sinto-o afagar as minhas costas com carinho e quando finalmente me recomponho, me afasto dos seus braços e me sinto constrangida.— Me desculpe por isso, Peter! — digo sem olhar nos seus olhos.— Não precisa se desculpar, querida. Quer me falar sobre o que aconteceu? — Embora eu precise muito desabafar com alguém, faço não com a cabeça.— Será que pode me dispensar por hoje? Desculpe, é que eu não tenho condições de trabalhar! — Ele solta o ar audível.— Só porque estou vendo que você não está nada bem, mas terá que compensar amanhã. — Concordo com outro aceno de cabeça.— Eu prometo! Obrigada,
Isadora— Senhorita Dixon? — Uma voz feminina disse assim que atendi a ligação.— Sim, quem é?— Eu me chamo Lena. Sou a secretária do Senhor D’Angelo e estou ligando para avisar que estarei enviando um pacote em algumas horas para o seu endereço. — Franzo a testa.— Que pacote? — procuro saber.— À noite um motorista irá buscá-la. Esteja pronta! — Que droga, por que eles precisam fazer tanto mistério com tudo?! Solto uma respiração profunda pela boca e quando penso em insistir na minha interrogação a ligação é encerrada. Bando de idiotas! Resmungo mentalmente e volto para o meu banho. Uma hora e meia depois a campainha começa a tocar e ao abrir a porta encaro um homem com uniforme de entregador. Ele apenas me entrega uma caixa branca e grande, e me estende um papel para assinar. Entro em casa e movida pela curiosidade tiro a tampa da caixa e afasto os papéis de seda para encontrar um exuberante vestido longo e preto, e um par de saltos altos. Rio com sarcasmo. Quem ele pensa que é? O
IsadoraApós assinar o contrato com o Senhor D’Angelo em poucos dias tudo começou a acontecer em minha vida e como um passe de mágica. Um telefonema do banco falando que a hipoteca da casa onde nasci e cresci já estava quitada, os credores que simplesmente sumiram da minha porta e minha mãe que foi transferida para uma clínica particular especializada em oncologia. Finalmente estava respirando aliviada! Os passos seguintes seriam cronometrados. D’Angelo e eu teríamos uma cessão de fotos que contaria a nossa "história de amor" e seu assessor cuidaria dos boatos do casamento do tão cobiçado "Leão dos negócios". No final, ele olhou nos meus olhos e disse: prepare-se para a melhor parte! Perguntei-me se havia algo melhor que deitar a minha cabeça no travesseiro e dormir o sono dos justos sem lágrimas, sem lamentos e sem pensar no dia seguinte? Com certeza não haveria.— Pronto, a sua mãe já está bem acomodada e será que podemos conversar agora? — Doutora Monique Toledo disse ao se aproxim
IsadoraAlguns dias depois…O casamento dos sonhos de qualquer garota. Penso olhando para o longo vestido branco todo em renda francesa, com uma gola alta e delicada, e as mangas que se arrastam por todo o meu braço. Uma linda e delicada coroa cravejada com minúsculas pedrinhas de brilhantes segura um coque cheio que imita lindas pétalas castanhas escuras. Ansiosa, solto um suspiro baixinho e quase imperceptível.— Faz assim com a boca. — O maquiador pede após passar o batom de um tom vermelho suave que combina perfeitamente com a maquiagem para o dia. — Perfeita! — Ele cantarola batendo palmas freneticamente me fazendo abrir um meio sorriso. Não demora muito e estou segurando um buquê de lindos lírios brancos com minúsculos jasmins cor de rosa e entrando em uma igreja toda ornamentada com as mesmas flores, além de tules e laços de seda da mesma cor. Entretanto, nos incontáveis bancos tem um pequeno número de pessoas. Um órgão anuncia a minha entrada e logo todos têm os seus olhos em