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— Bom dia, eu me chamo Isadora! O Senhor D’na...

— É claro! O Senhor D’Angelo está lhe aguardando. — Não retribuo a cordialidade do sorriso da secretária que gentilmente abre a porta para mim, pois estou tão nervosa que nem sei como reagir nessa hora. O que eu poderia fazer, suplicar que não me demita? Humilhar-me para que ele tenha piedade de mim? Não! O meu pai sempre nos ensinou que devemos ter um pouco de integridade e se eu tiver que permanecer neste emprego será aceitando os meus erros e consertando-os da maneira que puder. E por fim, se ele não me aceitar em sua empresa eu encontrarei outro emprego, certo? Droga, a coisa não é tão fácil assim, Isadora! Você está desesperada e isso é um fato! Adentro um escritório extremamente espaçoso e bem iluminado, e não consigo evitar de observar os detalhes dos móveis claros em um contraste perfeito com o preto e o cinza chumbo da decoração. Atrás de uma mesa de mogno imponente está um homem jovem demais para um cargo tão importante. Moreno, rosto quadrado e uma barba por fazer que o deixava másculo e penetrante. Seus olhos de um tom escuro me fitam de maneira firme e indecifrável. Contudo, não me deixo abalar... ou finjo não me abalar porque o meu corpo inteirinho está trêmulo por dentro. Paro de frente para a sua mesa ainda observando os seus mínimos detalhes, mas de maneira sutil. Seus cabelos têm um corte curto bem rente a sua nuca, porém, algumas mechas insistem em cair na sua testa. Uma lembrança passou como um relâmpago em minha cabeça. É ele! O homem que evitou a minha queda na sala de reuniões há alguns dias. Você precisa falar algo, Isadora. Rosno para mim mesma e engulo em seco.

— Ah... bom dia, Senhor D’Angelo! — Forço minha voz sair natural o mais natural possível, pois não quero que ele percebesse o meu nervosismo.

— Sente-se, Senhorita Dixon! — Ele aponta para uma cadeira na minha frente, ignorando completamente a minha cordialidade. Sem contestar-lhe, sentei-me, mas não espero que falasse qualquer coisa.

— Senhor, eu não sei se fiz algo que o desagradou, mas peço desculpas de antemão! Esse é o meu primeiro emprego e eu preciso muito dele…  — Merda, isso é uma súplica com certeza e eu jurei que não faria isso! Respiro fundo e espero que diga algo, porém, ele não faz, apenas me olha com um silêncio incômodo. Seus olhos passeiam pelo meu rosto como se me estudasse, analisando cada gesto meu. Incomodada, me ajeito na cadeira, limpo a minha garganta e continuo.  — Olha, se eu quebrei algo o Senhor pode descontar do meu salário. Se foi algo que esqueci eu peço uma segunda oportunidade. É que… é que eu tenho uma mãe e ela…

— Eu sei! — Paro de falar quando um som grave sai da sua boca.

— Sabe?

— Sim. Eu sei tudo que preciso saber sobre você, Senhorita Dixon. — Volto a me ajeitar em cima da cadeira, porém, fico em silêncio apenas o olhando atônita e curiosa. D’angelo continua. — Isadora Dixon, filha de Andrew Dixon falecido a pouco mais de duas semanas devido a um trágico acidente de carro. Seu irmão John Dixon é um típico filhinho de papai que sempre teve a benção da sua mãe para fazer o que bem quiser e gastar o dinheiro da família com futilidades e farras. Devo dizer que é o que sabe fazer de melhor devido ao seu histórico — resmunga. — E assim que viu a oportunidade ele saiu de casa deixando a sua irmã caçula – no caso você, para resolver os problemas de falência da família. A sua mãe Sara Dixon atualmente está em uma casa de repouso tratando de uma suposta depressão pós-traumática, que você acha que ela tem, porém, o que ela tem mesmo é um grave tumor no cérebro descoberto há cerca de sete meses. — Franzo o cenho em confusão para esse minucioso relatório da minha vida e confesso que estou estupefata também.

— Como sabe de tudo isso? — inquiro engolindo com dificuldade.

— Como eu disse, eu sei tudo que preciso saber de você, Isadora. — Encosto-me na cadeira. O que devo pensar? Por que ele investigou a minha vida assim? Qual é o propósito disso tudo?

— Ok, que palhaçada é essa? — questiono um tanto irritada, levantando-me da cadeira para fitá-lo de pé.  

— Sente-se! — Ele ordena e eu me pego obedecendo. — Eu preciso de você para um trabalho em especial e você com certeza precisa desse trabalho para cuidar da sua mãe e livra-se das dívidas que o seu pai deixou. — O encaro em silêncio sem saber ao certo o que dizer.

— Que tipo de trabalho? — Por uma fração de segundos o meu coração acelerou no peito e eu pensei, seria a minha grande chance? Provavelmente o Senhor D’Angelo descobriu o meu currículo e resolveu me dar a oportunidade de trabalhar na minha área. Oh, Deus isso seria o céu!

— Antes, eu preciso te falar sobre os benefícios desse trabalho. Se aceitar a minha proposta tiro a sua mãe da casa de repouso e a ponho em uma clínica especializada no tratamento do câncer. Pago todas as suas dívidas e no final de tudo você leva um cheque com um valor estimado de dois milhões de dólares. — Estarrecida balbuciei, mas as palavras pareciam entaladas em minha garganta. O que de especial esse trabalho tem para valer tanto dinheiro assim?

— Que tipo de trabalho? — insisto. O homem solta uma respiração pela boca e tira um papel da sua gaveta o estendendo para mim em seguida.

— Antes, eu preciso que assine esse termo de confidencialidade, Senhorita Dixon. Nada, exatamente nada do que conversarmos nessa sala deve sair daqui, nem mesmo para o seu cãozinho de estimação. — Fito o papel e depois a caneta prateada que ele segura na minha frente, e hesito por alguns instantes. Vamos lá, Isadora, é só um termo de confidencialidade, não é uma prisão perpétua! E de qualquer forma, você não é obrigada a nada, certo? Com a mão trêmula seguro a caneta e assino o documento passando-o de volta para ele.

— Ótimo! — Ele sibila.

— E então?

— Eu tenho uma proposta para a Senhorita. Já lhe passei os benefícios e imagino que despertei algum interesse.

— Pode ir direto ao ponto por favor, Senhor D’Angelo? — Ele arqueia as sobrancelhas e um sorrisinho surge no canto da sua boca.

— Eu quero que seja a minha esposa por um ano, Senhorita Dixon.

— Como?! — Quasse grito a indagação.

— A Senhorita ouviu, preciso que seja minha esposa por um ano. — Ok, isso é algum tipo de brincadeira! Penso e me começo a rir diante do homem que me olha confuso, porém com impetuosidade.

— Entendi, isso é uma brincadeira, não é? Tem alguma câmera escondida nessa sala? Sim, deve ter uma câmera aqui em algum lugar.

— Não, não tem! — Ele rebate tão sério e rude de um jeito que me fez parar de ri. Respiro fundo. Sinceramente eu não sabia o que dizer e menos ainda como agir diante de uma proposta tão absurda como essa. — Acredita mesmo que eu sou o tipo de homem brincaria com algo assim? — Puxo outra respiração.

— Ah, não... eu acho! É que... foi inesperado. Quer dizer, não todo dia que saio da minha para trabalhar e recebo uma proposta dessa! — Ele continua me olhando firme e eu continuo bagunçada. Entretanto, preciso saber dos detalhes disso. — E, como isso funcionaria? — pergunto sem jeito.

— Eu tenho um contrato que você pode levar para casa, claro. Poderá ler com calma, estudar cada cláusula e entender exatamente como as coisas funcionarão entre nós. Claro, que você pode apontar o que não gostar e nós podemos chegar a um senso comum.

— E, se eu não aceitar? — Seu sorriso cresce consideravelmente.

— Você vai aceitar. — Ele diz convicto. Presunçoso! Rosno internamente. — Leve o contrato para casa, Dixon, leia quantas vezes quiser e quando estiver pronta ligue para mim. — Ele me estende um envelope branco e um cartão junto com ele. — Lembre-se, ninguém pode saber sobre essa conversa! — Ergo um dedo em riste.

— Só mais uma coisa, como soube sobre a doença da minha mãe? — Ele faz um gesto desdenhoso.

— Foi fácil puxar toda a ficha da família Dixon.

— Eu não entendo. Se a minha mãe tivesse câncer ela teria me contado, certo? Quer dizer, não é algo que se guarda apenas para si!

— Bom, isso é algo que terá que perguntar diretamente a ela. — Respiro fundo. — Está dispensada, Senhorita Dixon. Já pode voltar para o seu trabalho. — Ele diz com frieza e apenas aceno com a cabeça lhe dando as costas, e caminho para a porta. Ao abri-la as lágrimas preenchem os meus olhos e eu passo como um raio pelo corredor.

— Senhorita Dixon, está tudo bem? — Escuto a sua secretária perguntar, porém, não lhe respondo, apenas entro no elevador. Câncer, por que ela esconderia isso de mim? Pergunto-me consternada encostando-me na parece camurçada.

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