Isadora
— Senhorita Dixon? — Uma voz feminina disse assim que atendi a ligação.
— Sim, quem é?
— Eu me chamo Lena. Sou a secretária do Senhor D’Angelo e estou ligando para avisar que estarei enviando um pacote em algumas horas para o seu endereço. — Franzo a testa.
— Que pacote? — procuro saber.
— À noite um motorista irá buscá-la. Esteja pronta! — Que droga, por que eles precisam fazer tanto mistério com tudo?! Solto uma respiração profunda pela boca e quando penso em insistir na minha interrogação a ligação é encerrada. Bando de idiotas! Resmungo mentalmente e volto para o meu banho. Uma hora e meia depois a campainha começa a tocar e ao abrir a porta encaro um homem com uniforme de entregador. Ele apenas me entrega uma caixa branca e grande, e me estende um papel para assinar. Entro em casa e movida pela curiosidade tiro a tampa da caixa e afasto os papéis de seda para encontrar um exuberante vestido longo e preto, e um par de saltos altos. Rio com sarcasmo. Quem ele pensa que é? Observo curiosamente no fundo da caixa um pequeno envelope. O abro e bufo outra vez ao ler a frase:
Esteja pronta às vinte horas.
Ok, não tenho muito o que fazer. Portanto, no final da tarde me dedico a arrumar os meus cabelos, pinto as minhas unhas e faço uma maquiagem. Entretanto, não pus o vestido e nem os saltos que me enviou, e me senti audaciosa com isso.
— Nem tudo precisa ser do seu jeito, Senhor D’Angelo! — ralho fitando a minha imagem no espelho. — Espero que entenda o meu recado — Rio e começo a passar um batom vermelho. Olho para o meu reflexo e encaro o vestido cor de vinho sem mangas e comportado, que abraça com perfeição o meu corpo. Passo a mão pela saia godê que vai até à altura dos meus joelhos e aprecio a sandália de tirinhas negras com um salto não muito alto. Sacudo as madeixas negras e deixo-as cair como uma cascata pelas minhas costas. — Agora estou pronta! — retruco no exato momento que a campainha começa a tocar. Respiro fundo e corro para pegar a minha bolsa. Jogo dentro dela o meu celular, o contrato, as minhas anotações e um batom para o caso de precisar retocar, e saio do quarto. Respiro fundo outra vez e antes que eu consiga abrir a porta a campainha volta a tocar. Um homem alto usando um uniforme preto e um quepe na cabeça me olha com desdém e faz um sutil aceno de cabeça para mim.
— Boa noite, senhorita Dixon! — É, parece que o mundo inteiro já sabe o meu nome!
— Boa noite! Já podemos ir! — Ele se afasta me dando passagem e eu fecho a porta com chave antes de entrar no elegante carro negro extremamente luxuoso.
Enquanto o veículo corre pelo asfalto o meu corpo reclama devido a ansiedade que me envolve a cada quilômetro percorrido. Eu preciso manter a calma e principalmente, preciso ficar atenta ao que eu quero. Não posso deixá-lo simplesmente dominar todas as decisões de um contrato que envolve a minha vida. Minutos depois, o motorista estaciona o carro em frente ao Don Justino Bar e Restaurante, um dos mais requisitados que já ouvi falar.
Não fui uma garota pobre a minha vida toda. Como já mencionei, tive tudo em minhas mãos. Meu pai era um banqueiro bem-sucedido. O que me deixou sem chão quando descobri que ao invés de receber um testamento cheio de propriedades e algumas contas gordas, recebi apenas pastas e mais pastas de dívidas como herança. No entanto, nunca frequentei festas da alta sociedade, ou restaurantes chiques. Eu gostava mais das baladas e de sair com os meus amigos. Portanto, eu sei que ao entrar em um restaurante como esse me sentirei estranha pois não tem nada a ver com a minha personalidade. O motorista abre a porta do carro e eu saio respirando o ar frio da noite, e caminho para dentro do prédio. A hostess me guia até uma sala reservada onde tem uma mesa montada com um jantar para duas pessoas. Meus olhos correram pela sala ampla, decorada com cortinas grossas em tons de dourado e marrom e depois pela mesa no centro dela coberta com toalhas de linho branco e vermelho, e um arranjo floral bem no centro dela. Paro a minha inspeção quando o avisto vestido em um termo Armani negro de três riscas. Seu olhar intenso e sério demais varreram o meu corpo e eu percebo um leve desagrado neles. provavelmente por conta do vestido que estou usando. Sorrio por dentro e caminho para mais perto da mesa.
— Boa noite, Senhorita Dixon! — Ele sibila com um tom seco na voz, puxando uma cadeira para eu me acomodar.
— Boa noite, Senhor D’Angelo! — O assisto dar a volta na mesa com elegância e poderio, e depois sentar-se na cadeira de frente para minha.
— Imagino que leu o contrato?
— Sim, eu li.
— Ótimo! Falaremos sobre ele enquanto comemos. — Ele faz um gesto de mão para dois garçons entrarem na sala, servindo-nos logo em seguida e quando estamos realmente a sós ele começa a falar: — Acredito que tenha algumas observações para fazer.
— Sim, eu tenho. — Ele assente.
— Pode falar. — Eu limpo a garganta, me ajeito em cima da cadeira e tiro o envelope, e as anotações.
— Eu fiz algumas anotações nas cláusulas 15, 23, 28 e 30. Elas precisam ser modificadas. — Vou direto ao ponto e ele arqueia as sobrancelhas abrindo a sua cópia do contrato.
— Vejamos. A cláusula 15 diz que compartilharemos o mesmo quarto. O que há de errado nisso, Dixon?
— Não é um casamento de verdade, D’Angelo. Portanto, não vejo por que dormirmos no mesmo quarto e dividirmos a mesma cama. — Ele abre um sorriso sacana.
— Apesar de ser apenas um contrato precisamos manter as aparências. Tenho muita coisa em jogo nessa nossa brincadeira de faz de conta.
— Bom, deve ter outra maneira resolver isso.
— O que sugere, Dixon? — Dou de ombros.
— Eu não sei! Um quarto acoplado a outro, uma porta adjacente. Qualquer coisa. — Recebo mais um aceno de cabeça.
— Ok, um quarto com porta adjacente. Por mim, tudo bem! Cláusula 23 diz que não pode sair de casa sem mim. Não entendi onde está o problema, a final, estaremos recém-casados e as pessoas esperam que estejamos juntos e apaixonados.
— Não sou sua prisioneira, Senhor D’Angelo! Portanto, preciso de liberdade para sair e visitar a minha mãe sempre que eu quiser. — E antes que ele venha rebater o meu argumento continuo. — E na cláusula 28 lhe dá plena liberdade de ir e vir com seus amigos e, mulheres? Isso é ridículo, Senhor D’angelo! Acabou de falar sobre demonstrar paixão e quer ter acesso a mulheres?
— Vejamos. Você gosta de baladas e de beber com seus amigos, e isso não pegaria bem para a esposa de um magnata. — Que merda ele está falando?!
— Já disse, eu pretendo visitar a minha mãe, quero ver os meus amigos e quero trabalhar também.
— Trabalhar, nem fodendo!
— Isso é machismo da sua parte!
— Que seja, minha esposa não vai trabalhar! — Ele respira fundo. — Olha só, você pode sair, ok? Visite a sua mãe e veja os seus amigos, desde que meu segurança a acompanhe. No entanto, a partir do momento que assinar esse contrato alguns lugares serão restritos para você. — Bufo audivelmente.
— Isso não é justo!
— É pegar ou largar, Dixon! — Merda!
— Cláusula 30. Por que você pode sair com mulheres e eu não possa ter um envolvimento amoroso?
— Simples, Senhorita Dixon. Eu sou homem e tenho as minhas necessidades se é que você me entende. E acredito que não vai querer saciar as minhas vontades em cima de uma cama. — Sinto minhas bochechas queimarem imediatamente. — Eu sou um empresário, viajo muito, participo de eventos e preciso aparecer nas colunas sempre bem acompanhado. Sem falar que não quero boatos em meu nome dizendo que sou chifrudo ou algo assim!
— Você é um babaca, D’Angelo! — rosno e ele ri cinicamente. — Quer sair com as suas prostitutas, ótimo! Mas faça isso de forma que não me atinja porque eu também não quero ser a pobre Senhora D’Angelo traída.
— Combinado! — Ele ergue a sua taça de vinho em um brinde solo. — Mais alguma coisa?
— Não.
— Então vai aceitar o meu acordo?
— Se… eu disse se eu aceitar, quanto tempo terei?
— Um mês.
— Um mês?! — Praticamente grito a pergunta.
— Eu quero isso para ontem, Dixon. — Respiro fundo e esvazio minha taça intocada. O que dizer? Eu preciso desse dinheiro para me reerguer e ajudar a minha mãe.
— Ok, eu aceito!
IsadoraApós assinar o contrato com o Senhor D’Angelo em poucos dias tudo começou a acontecer em minha vida e como um passe de mágica. Um telefonema do banco falando que a hipoteca da casa onde nasci e cresci já estava quitada, os credores que simplesmente sumiram da minha porta e minha mãe que foi transferida para uma clínica particular especializada em oncologia. Finalmente estava respirando aliviada! Os passos seguintes seriam cronometrados. D’Angelo e eu teríamos uma cessão de fotos que contaria a nossa "história de amor" e seu assessor cuidaria dos boatos do casamento do tão cobiçado "Leão dos negócios". No final, ele olhou nos meus olhos e disse: prepare-se para a melhor parte! Perguntei-me se havia algo melhor que deitar a minha cabeça no travesseiro e dormir o sono dos justos sem lágrimas, sem lamentos e sem pensar no dia seguinte? Com certeza não haveria.— Pronto, a sua mãe já está bem acomodada e será que podemos conversar agora? — Doutora Monique Toledo disse ao se aproxim
IsadoraAlguns dias depois…O casamento dos sonhos de qualquer garota. Penso olhando para o longo vestido branco todo em renda francesa, com uma gola alta e delicada, e as mangas que se arrastam por todo o meu braço. Uma linda e delicada coroa cravejada com minúsculas pedrinhas de brilhantes segura um coque cheio que imita lindas pétalas castanhas escuras. Ansiosa, solto um suspiro baixinho e quase imperceptível.— Faz assim com a boca. — O maquiador pede após passar o batom de um tom vermelho suave que combina perfeitamente com a maquiagem para o dia. — Perfeita! — Ele cantarola batendo palmas freneticamente me fazendo abrir um meio sorriso. Não demora muito e estou segurando um buquê de lindos lírios brancos com minúsculos jasmins cor de rosa e entrando em uma igreja toda ornamentada com as mesmas flores, além de tules e laços de seda da mesma cor. Entretanto, nos incontáveis bancos tem um pequeno número de pessoas. Um órgão anuncia a minha entrada e logo todos têm os seus olhos em
Isadora— Acorde, nós já chegamos! — Abro os meus olhos e mesmo desfocados encaro a fachada de uma casa toda de madeira escura, com enormes janelas de vidros transplantes e me ajeito no banco traseiro do carro para ver melhor o perímetro ao nosso redor. Pequenos postes iluminam um pequeno e encantador jardim. Assim que a porta se abre o motorista me ajuda a sair e o perfume das flores-do-campo me envolvem, seguido do vento frio da madrugada.— Onde estamos? — indago, observando a graciosa varanda com um peitoril de madeira escura como o resto da casa e…— Em uma das minhas casas de veraneio. — Ele diz tirando as chaves do bolso da calça. Olho para trás para ter certeza. Árvores altas e juntas demais e pelo barulho que vem lá de trás aqui não tem praias e não vejo piscinas em nenhum lugar.— Isso não me parece uma casa de veraneio — ralho e volto o meu olhar para ele, porém, Heitor não está mais ao meu lado. — Oh, seu idiota, vai me deixar aqui fora? — rosno irritada, quando o vejo den
IsadoraPela manhã acordo um tanto animada e mais cedo do que esperada. Tomo um banho rápido, visto uma minissaia plissada e escolho uma blusa com um nó na altura do meu umbigo e por fim, calço um par de tênis. Amarro os meus cabelos em um rabo de cavalo e ponho os óculos sol. Logo estou saindo do quarto e do corredor também. Na sala encontro o meu "marido" mexendo em uma espingarda. Ele alisa o objeto com bastante esmero e o analisa minuciosamente. Passo meus olhos rapidamente pela calça caqui no seu corpo, pelo coturno negro e subo encontrando uma camisa verde-folha com os três primeiros botões abertos, mostrando parcialmente um peitoral desprovido de pelos. Respiro fundo e adentro a sala chamando a sua atenção para mim. Como esperava o senhor D’angelo para o que estava fazendo e seus olhos percorrem com avidez pelas minhas vestes. É possível notar o brilho em suas retinas e o vejo pressionar os lábios. Mantenho-me séria, mas a minha vontade é de rir com tal provocação. Homens! Con
IsadoraApós um banho longo e quentinho ponho uma roupa confortável e igualmente quente, e saio do quarto de hóspedes. Logo na entrada da sala posso ouvir o som do fogo crepitando na lareira e para a minha surpresa Heitor teve o cuidado de forrar um cobertor grosso e macio no chão e bem próximo ao calor do fogo. Ao me aproximar noto duas taças vazias e uma bandeja com salada, legumes e a carne que caçamos mais cedo. Sofisticado de maneira surpreendente. Penso,— Senta aqui — Ele pede batendo levemente no espaço ao seu lado e em silêncio me acomodo, apreciando o calor bem-vindo. — Você disse que nunca comeu carne de cervo antes. Experimenta, tenho certeza de que você vai gostar. — É difícil não o fitar com admiração. Heitor é o homem extremamente bonito e atraente. E droga a sua pele fica ainda mais bonita com o brilho dourado do fogo. Ele pega uma porção da carne com o auxílio de um garfo e o leva à minha boca.— Hum! — Solto um gemido apreciativo ao sentir o sabor e a maciez da carne
IsadoraTrilhas, banho de cachoeira, escaladas, caças, jantares e brindes ao calor da lareira. Pensando bem direitinho a nossa lua de mel nem foi tão ruim assim. E eu posso até dizer que conheci um lado do Senhor D’angelo que ele faz questão de esconder. Longe dos negócios ele não passa de um jovem surpreendente que tem um bom papo e um sorriso fácil. E que sorriso!— Sairemos em poucos minutos! — Heitor avisa dando duas batidinhas na porta do meu quarto.— Ok! — grito para ele me escutar e foco em arrumar as minhas malas.Então, à primeira vista esse lugar me assustou e muito, e eu fiquei puta da vida só de pensar que ficaria presa aqui sem um celular, TV ou qualquer coisa que pudesse me distrair. Entretanto, confesso que sentirei falta daqui e de toda essa natureza. Dos seus sons e até mesmo da sua companhia, afinal quando voltarmos para a cidade ele voltará a ser o Senhor D’angelo outra vez. Eu sei que sim. — Por Deus, mulher o que está fazendo aí dentro?! — Ele rosna irritado e eu
IsadoraUma semana depois…Deixo o meu corpo cair livremente em cima do colchão macio e solto o ar pela boca de modo audível. Sim, eu estou completa e inteiramente entediada e isso em pouco menos de uma semana! Já conhecia cada andar dessa casa, cada cômodo e cada detalhe da sua decoração como a palma da minha mão, e já não sei mais o que fazer para manter a minha mente ocupada. Desde que voltamos da nossa "lua de mel" Heitor praticamente não para em casa. Salvo na hora de dormir e isso acontece quando eu já estou dormindo e no dia seguinte ele sai antes de eu acordar. Com certeza esse é o contrato perfeito. Nada de cobranças e nada de pegar no meu pé. Simplesmente estou de vida boa e no final de tudo isso ainda recebo uma boa grana pelo meu trabalho. Que saco! O meu celular faz um sinal de mensagem e rapidamente pulo para fora da cama. Um sorriso gigante se abre nos meus lábios quando vejo que se trata da doutora Monique e ansiosa a abro para ler. Na sequência dou alguns pulinhos ani
IsadoraEstaciono o carro na enorme garagem da mansão e, caminho apressada para dentro dela, dando de ombros. Se o mordomo não tiver aberto o bico, D’angelo nem deve estar ciente da minha saída e será como se nunca tivesse saído realmente. E quer saber, não me importo se ele sabe ou não. O fato é que o Senhor D’angelo não se importa comigo. Para ele é como se eu fizesse parte dessa decoração estúpida, apenas mais um troféu para a sua coleção. Abro a porta da sala pronta para subir as escadarias e tomar um banho demorado, mas paro bem no centro do cômodo quando o vejo em seu terno caro e elegante, de costas para mim. D’angelo se vira lentamente e me encara como se pudesse me fuzilar apenas com o olhar. Respiro fundo e sutilmente, e dou mais dois passos para frente, dessa vez sem pressa alguma.— Onde estava, Isadora? — Ele rosna friamente. Meus olhos descem para o copo de uísque em sua mão e depois se erguem para os olhos irritadiços.— Eu fui visitar a minha mãe. — Um sorriso sutil su